Vasco Gonçalves

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1921-2005
Obras disponíveis

Militar e político português (1921-2005). Inicia a carreira militar em 1946 e no ano seguinte entra para a Escola Prática de Engenharia. Fez comissão na Índia (1955-1957). Em 1959 (11-12 de Março) fica ligado à chamada “Conspiração da Sé”, projecto de golpe militar contra o governo de Salazar, organizado pelo “Movimento Militar Independente” (próximo do general Humberto Delgado) e que contaria com um sector importante de oposicionistas civis.

Segue para Angola, em comissão (1965-1967) e depois para Moçambique em 1970-1972. Volta a Lisboa e é colocado na Direcção da Arma da Engenharia. Integra o Movimento das Forças Armadas (MFA), estando, entre outros lugares, na Comissão de Redacção do Programa do MFA.

A 18 de Julho de 1974, Vasco Gonçalves é empossado pelo presidente da Junta de Salvação Nacional (JSN), general Spínola, no cargo de primeiro-ministro do II Governo Provisório, constituído por representantes do Partido Socialista (PS), Partido Popular Democrático (PPD), Partido Comunista Português (PCP) e independentes.

A 28 de Setembro, já em completa de rota de colisão o presidente da JSN convoca uma manifestação, a da “maioria silenciosa” com o fim de derrubar o governo de Vasco Gonçalves e de repudiar a linha política do MFA. No entanto, os acessos a Lisboa (para onde estava projectada a manifestação spinolista) foram cortados por barricadas populares e controladas por organizações de esquerda e de extrema-esquerda. Algumas pessoas tidas como suspeitas pelas movimentações da direita spinolista são detidas. Entretanto o Comando Operacional do Continente (COPCON, liderado pelo major Otelo Saraiva de Carvalho) - estrutura militar para implementar o poder do MFA e manutenção da ordem, em coordenação com as autoridades civis - afirma-se no controlo da situação e a manifestação não se dá. Spínola demite-se dois dias depois e outros três membros da direita da JSN, são afastados. O general Costa Gomes, membro da JSN, assume a presidência.

A 1 de Outubro toma posse o III Governo Provisório dirigido pelo general Vasco Gonçalves. Em Janeiro de 1975, o governo começa a nacionalização da banca e de companhias de seguros. Nos finais desse mês a JSN começa a dispor de mecanismos legislativos para eliminar instituições fascistas (entre elas a PIDE/DGS e a Legião Portuguesa), fazer saneamentos e lutar contra manobras sabotadoras da economia. A viragem à esquerda, da revolução é nítida.

A 11 de Março desse ano, com as tensões políticas e económicas elevadas, militares afectos ao general Spínola tentam um golpe militar com para-quedistas e outros elementos da Força Aérea, mas são repelidos. Spínola e 18 militares seus seguidores fogem primeiro para Espanha e depois para o Brasil. Na ressaca da derrota golpista as sedes dos partidos da direita (CDS, PPD e PDC) e da Confederação da Indústria Portuguesa (patronato) são assaltados por populares. A radicalização das instituições segue-se: a JSN acaba, dando lugar a um Conselho da Revolução (CR), o MFA afirma-se como movimento de libertação e alguns partidos são ilegalizados (o PDC, à direita e o MRPP e a AOC, à extrema-esquerda). É o “PREC” (“Processo Revolucionário em Curso”), que se inicia.

A 26 de Março toma posse o IV Governo Provisório, liderado por Vasco Gonçalves, integrando o PS, PPD, PCP, MDP (Movimento Democrático Português), ex-MES (Movimento de Esquerda Socialista), independentes e militares, com uma composição mais à esquerda do que os anteriores governos. A 7 de Abril, a Assembleia do MFA confirma a “via socialista da revolução portuguesa”. A 25 é eleita uma Assembleia Constituinte, através de eleições livres por sufrágio universal e secreto, para que as forças partidárias aí representadas desenhassem uma constituição democrática, a primeira em quase 50 anos. A maioria dos lugares é conseguida pelo PS e PPD, partidos de matriz social-democrata. A forte influência do PCP, por seu lado não se traduz senão em cerca de 12,46% dos votos recolhidos.

É da iniciativa de Vasco Gonçalves, em Maio de 1975, a nacionalização dos sectores da celulose e dos tabacos. Em Junho, Vasco Gonçalves lidera a delegação portuguesa na declaração de independência de Moçambique. Em princípios de Julho, o governo de Vasco Gonçalves decide-se pela restituição da Rádio Renascença à Igreja Católica ao mesmo tempo que uma manifestação de operários da cintura industrial de Lisboa censura a decisão do governo e insulta o primeiro-ministro. Vasco Gonçalves quase que cede e pretende demitir-se, o que acaba por não acontecer.

Representa Portugal na declaração de independência de Cabo Verde, já em Julho. Entretanto em Portugal, a Norte, sedes do PCP e de outros partidos e organizações de esquerda são saqueadas e incendiadas e alguns militantes espancados. Por outro lado, a extrema-esquerda, em Lisboa e arredores pede um governo popular, o controle operário, a criação de um exército popular revolucionário e também a demissão do governo provisório e dissolução da Assembleia Constituinte. O governo de Vasco Gonçalves começava a ficar refém à esquerda e à direita, com Mário Soares, líder do PS, a exigir em manifestações, a saída de Vasco Gonçalves. Nos fins desse mês, o “Companheiro Vasco” discursa no encerramento do I Congresso da Intersindical, defendendo a Aliança Povo-MFA, a qual efectuaria a ligação entre as comissões de moradores e de trabalhadores e as de quartéis, num impulso do reforço de uma democracia de bases. Nesses dias a Assembleia do MFA inclui Vasco Gonçalves num directório, que concentraria o poder político-militar.

A 8 de Agosto, Vasco Gonçalves integra o V governo provisório, com uma participação do PCP, MDP e de independentes, portanto sem representação partidária à direita dos comunistas. Entretanto, a política de nacionalizações, continua com as empresas vidreiras, mineiras, cervejeiras e depois os estaleiros navais a entrarem para o património e administração do Estado. Os ataques às sedes do PCP e da extrema-esquerda continuam, no centro e norte do país. As ocupações de latifúndios pelos trabalhadores agrícolas, para transformá-los em cooperativas, crescem exponencialmente. A 18, Vasco Gonçalves faz um discurso no comício de Almada que alerta tanto os subscritores do “Documento dos Nove” (que representaria a opinião da esquerda militar moderada e que rejeitaria quer a “ditadura burocrática” quer o “populismo”) como também Otelo Saraiva de Carvalho. A partir daí, Vasco Gonçalves vai sendo afastado da “troika” que constituía com Otelo e com o presidente Costa Gomes. A 25, a esquerda que apoia Vasco Gonçalves, com o PCP à cabeça, une-se numa Frente de Unidade Revolucionária (FUR) para responder às ameaças quer da direita (incluindo o PS) e da extrema-esquerda (com a UDP a liderar).

A 5 de Setembro, o CR é remodelado a favor do grupo “dos Nove”, afastando os elementos “pró-PCP”. A 13, é elaborado o programa do VI governo provisório, que excluía Vasco Gonçalves e que passava a incluir o PS e o PPD, embora a participação do PCP se mantivesse.

Vasco Gonçalves foi passado à reserva compulsivamente, em 1976. A partir daí levou uma vida recatada, distinguindo-se sempre por uma grande lisura. Faleceu em 2005, aos 84 anos, dois dias antes da morte de Álvaro Cunhal.
Fonte: V.A, Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, vol.1, Publicações Alfa, 1990 V.A, História de Portugal em Datas, Círculo dos Leitores, 1994 Revista Visão-História, nº9, Julho 2010.

Obras disponíveis
1974 - jul Discurso na Tomada de Posse do II Governo Provisório
1974 - jul Declarações aos Órgãos de Informação Sobre a Comunicação ao País do Presidente da República Acerca do Direito à Independência dos Povos das Colónias
1974 - jul Entrevista à Revista Brasileira «Manchete»
1974 - ago Discurso na Festa dos Emigrantes
1974 - ago Comunicação ao País na R.T.P.
1974 - set Respostas ao Presidente da Associação de Jornalistas da Roménia
1974 - set Entrevista ao Jornal Húngaro "Nedszabadsag"
1974 - set Resposta à TV Romena
1974 - set Alocução ao Pais na Noite de 29 de Setembro de 1974
1974 - set Extractos da Entrevista Concedida à BBC
1974 - set Discurso no Acto de Posse como Primeiro-Ministro do III Governo Provisório
1974 - set Conferência de Imprensa Após Ter Sido Reempossado nas Funções de Primeiro-Ministro
1974 - out Entrevista à Revista Brasileira «Veja»
1974 - out Resposta à Agência «Tass»
1974 - out Entrevista à Agência «Prensa Latina»
1974 - out Entrevista à Revista Espanhola Triunfo
1974 - out Resposta ao Jornal Jugoslavo «Politiko»
1974 - nov Discurso no Acto de posse do Professor Fernando Dias Agudo, Presidente da Junta de Investigação Científica e Tecnológica
1974 - nov Entrevista ao «Jornal do Brasil»
1974 - nov Entrevista Concedida à R.T.P.
1974 - nov Discurso na Abertura Solene das Aulas, na Academia Militar
1974 - nov Extractos do Discurso na Estação Agronómica de Oeiras
1975 - fev Discurso na Sessão de Dinamização Cultural do M.F.A. no Sabugo
1975 - mar Entrevista para o “Jornal de Noticias”
1975 - mar Discurso na Tomada de Posse do IV Governo Provisório
1975 - mar Entrevista à Revista Espanhola «Cambio 16»
1975- abr Entrevista Concedida ao Jornal Libanês «Al-Massa»
1975- abr Texto Introdutório da Conferência de Imprensa na Gulbenkian
1975- abr Conferência de Imprensa na Gulbenkian
1975- abr Entrevista ao Jornal «Diário de Notícias»
1975- abr Declarações aos Órgãos de Informação no Acto de Votar
1975- abr Entrevista Concedida a «O Século»
1975 - mai Entrevista ao Jornal Grego Rizos-Pastis, Órgão Central do PC Grego
1975 - mai Entrevista ao Jornal Belga “Le Soir”
1975 - mai Discurso no Estádio 1.° de Maio, no dia Comemorativo do Trabalho
1975 - mai Discurso no Teatro S. Luis, na Sessão Comemorativa da Derrota do Nazismo na Europa
1975 - mai Discurso no I Congresso de Escritores Portugueses
1975 - mai Respostas ao Jornal «El Sol de México»
1975 - mai Discurso na Sorefame
1975 - mai Extractos do Discurso na Cimeira da NATO, em Bruxelas
1975 - mai Conferência de Imprensa de Bruxelas
1975 - mai Discurso no Encontro com os Emigrantes no Salão de Festas da Comuna de Ixelles — Bruxelas
1975 - jun Extractos do Discurso à Chegada de Bruxelas, Perante a Manifestação Unitária, no Aeroporto de Lisboa
1975 - jun Discurso Perante a Comissão de Descolonização das Nações Unidas, Reunida em Lisboa
1975 - jun Respostas ao “Jornal de Lafões”
1975 - jun Declarações aos Órgãos de Informação após a Cerimónia da Investidura do Presidente da República Popular de Moçambique
1975 - jun Discurso Proferido no Jantar de Estado, Comemorativo da Proclamação da Independência da República Popular de Moçambique
1975 - jun Declarações ao «Jornal Novo» em Moçambique
1975 - jun Palavras Proferidas à Chegada de Moçambique
1975 - jul Discurso Proferido na Cerimónia da Independência de Cabo Verde
1975 - jul Extractos das Declarações Proferidas à Chegada de Cabo Verde onde Chefiara a Delegação Portuguesa que Procedeu à Transferência de Poderes para os Representantes do Povo de Cabo Verde
1975 - jul Discurso Proferido na Manifestação Promovida pela Intersindical
1975 - jul Intervenção na Assembleia do MFA
1975 - jul Discurso no Congresso dos Sindicatos
1975 - jul Texto da «Análise da Situação Política» Apresentado na Assembleia do MFA, na 2.ª Semana de Julho de 1975
1975 - ago Discurso na Tomada de Posse do V Governo Provisório
1975 - ago Alocução ao País
1975 - ago Palavras Pronunciadas no Pavilhão Gimno-Desportivo da Escola D. António da Costa, em Almada
1975 - ago Extracto do Discurso Proferido na Posse dos Novos Secretários de Estado do V Governo em Resposta ao Discurso do Presidente da República
1975 - ago Palavras Dirigidas à Comissão Nacional de Sargentos que lhe foi Fazer a Entrega de um Cheque de 1 016 contos, Produto de um Dia de Trabalho
1975 - ago Discurso Durante a Manifestação Convocada pela F.U.R., Frente de Unidade Revolucionária
1975 - ago Declarações ao Jornal Francês «Le Monde»
1975 - out Discurso na Câmara do Porto nas Comemorações do 5 de Outubro
1975 - out Extractos das Declarações à Revista Belga “Hebdo 75”
1983 - dez A Revolução de 1383-1385
2000 - abr Os Valores de Abril são Eternos - Entrevista
2002 A Interferência Estrangeira - Uma Revolução Desprotegida
2002 - abr 28 anos depois do 25 de Abril
2003 - jun Anos Setenta - 1974: em Abril, Esperanças mil
2003 - jul Discurso ao ser condecorado com a Ordem "Playa Girón"
2004 - fev A derrubada do governo fascista-colonialista em 25 de Abril de 1974 e a situação de Portugal hoje
2004 - out Cuba e Venezuela são exemplos para todos os que querem um mundo melhor - entrevista a Néstor Kohan
2005 - abr No 31º aniversário da Revolução de Abril
  Documento dos Nove - A Eterna Questão das Vanguardas

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Abriu o arquivo: 05/05/2014
Última atualização: 26/12/2023