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Pergunta — Passado um ano depois do grande acontecimento, o Movimento das Forças Armadas em Abril de 1974, como considera agora a situação no que diz respeito ao período actual da luta do povo português?
Resposta — Aplicando o programa do Movimento das Forças Armadas nós liquidámos o colonialismo português em África. No decurso de um ano, todos os territórios que eram considerados territórios dependentes conquistaram a sua independência.
Pusemos fim a 50 anos de governo fascista e devolvemos as liberdades democráticas. Recebemos o apoio do povo para todas as medidas que tomámos em todos os domínios: político, económico e social.
A nossa situação económica tinha-se deteriorado duma maneira grave no curso dos últimos anos fascistas.
O nosso povo era completamente mantido afastado de toda a acção política. As relações sociais distinguiam-se por contradições agudas.
E no momento presente esta operação prossegue e desenvolve-se e esta operação — pelo seu lado económico e social —é o eixo da luta do povo português, e recebe a oposição do grande capitalismo dos monopólios interiores e das forças monopolistas exteriores. Ao longo da luta entre a posição e os interesses do povo português e a posição capitalista monopolista, a situação vai-se esclarecendo cada vez mais, como o demonstraram, por exemplo, os acontecimentos do 28 de Setembro e do 11 de Março.
No momento presente estamos numa posição a partir da qual nós podemos dar passos decisivos e firmes, tomando em consideração todos os factores que influenciam a nossa posição, a fim de construir uma verdadeira sociedade democrática.
Pergunta — Quais são as considerações que se encontram por trás da decisão do vosso governo de fazer eleições tão cedo?
Porque eu sei que há forças da esquerda e da direita no mesmo pé de igualdade, que manifestam o seu receio e a sua oposição em fazer eleições no momento presente.
Resposta — De acordo com o Movimento das Forças Armadas, prometemos ao povo — e trata-se duma questão de respeito pela promessa que fizemos ao povo — fazer eleições no período de um ano da data da primeira comemoração do Movimento que é o 25 de Abril.
Pergunta — Quais são, na vossa ideia, as lições a tirar do golpe de Estado abortado no 11 de Março, assim como o seu alcance afastado, sobretudo se tiver ligações exteriores?
É possível que este movimento se repita no futuro duma maneira ou doutra?
Resposta — No 11 de Março estivemos expostos a um ataque das forças reaccionárias que não estão interessadas no apoio à democracia em Portugal.
Mas a derrota deste ataque demonstrou por sua vez, a união do povo e das suas Forças Armadas. Agora não duvidamos desta unidade e enquanto ela durar não haverá chance para a reacção.
Creio que no futuro é possível que tenhamos que fazer face a uma operação deste tipo. E é necessário que nós nos preparemos com todas as forças para fazer face às forças da contra-revolução. É nesta base que eu creio — por experiência — na necessidade de consolidar a unidade do povo português e das sueis Forças Armadas; e isto faz-se por meio de medidas democráticas, económicas e sociais, e tornar-se-á cada vez mais difícil à reacção trabalhar por meio da contra-revolução, contra a democracia em Portugal. Isto não deve impedir-nos de sermos prudentes e prontos para toda a acção dos nossos inimigos nos domínios económicos e sociais para criar obstáculos ao desenvolvimento.
No que diz respeito à participação de forças exteriores na tentativa de golpe falhada, estamos a fazer um vasto e minucioso inquérito sobre os acontecimentos de 11 de Março. Uma comissão militar foi encarregada deste inquérito.
Pergunta — A mudança revolucionária que teve lugar em Portugal, por acção do MFA, abriu um novo capítulo nas relações do seu pais com os Estados Árabes e sobretudo, com os regimes progressistas desses Estados.
Como imagina V. Ex.ª as vias de estreitamento das relações entre o vosso país e a nação árabe, e os meios de consolidação do apoio mútuo; entre outros, contra as forças hostis?
Resposta — A nação árabe... Nós estamos ligados convosco por relações extremamente sólidas; uma grande parte do território português não foi, em tempos passados, um território árabe? A história não diz isso?
Nós desejamos estabelecer relações sólidas, para cooperar nos domínios culturais, económicos, comerciais, políticos... em todos os domínios, com os países árabes. E agora que executamos a operação de liquidação do colonialismo português em África, julgamos que a porta está aberta para uma tal cooperação. Do mesmo modo julgamos que os países árabes podem ajudar na operação da descolonização por meio do estabelecimento de boas relações de cooperação com os novos países africanos independentes de língua portuguesa.
No momento actual estão dados passos precisos com vista ao estreitamento das relações com o mundo árabe. Certos ministros e responsáveis portugueses visitaram alguns países árabes, e sobretudo a Argélia, onde houve reuniões com o presidente Boumediene, e este país árabe teve um papel importante nas negociações para a independência da Guiné-Bissau.
Também o presidente da República Portuguesa, o general Costa Gomes, teve conversações com as delegações árabes durante a sua presença nas Nações Unidas, no início da última sessão.
Não há dúvida que tiraremos grande proveito das circunstâncias particulares presentes que permitem o estabelecimento de novas relações com o mundo árabe.
Pergunta — A atenção das pessoas progressistas do mundo, vira-se com força para o vosso pais, em estado de expectativa, esperando conhecer o futuro das bases militares americanas sobre o vosso território nacional, assim como as relações de Portugal com a NATO.
Quereríeis explicar-me a posição do vosso Governo a este respeito?
Resposta — O programa do Movimento das Forças Armadas que foi publicado em Abril de 1974, indica a obrigação do Movimento de respeitar os compromissos formados, assim como os tratados a que está ligado.
Assim continuaremos a ser membros da NATO. Mas isto não quer dizer, em nenhum caso, que coisa alguma deva ser imposta ao povo português. O povo português decidirá por ele próprio esta questão através do Parlamento que será eleito por instituições democráticas.
É importante que seja o próprio povo português a tomar esta decisão directamente, porque assim será uma decisão que o próprio povo defenderá, no caso de vir a ser exposto a ameaças contra a sua vontade numa questão de tal gravidade.
Pergunta — Excelência, sabeis que durante a guerra de Outubro de 1978, — seja, algum tempo antes da revolução em Portugal — as bases militares americanas dos Açores, foram utilizadas, sob os olhos do Governo fascista de Caetano, para abastecer Israel na sua expedição guerreira contra os Árabes. Estou certo de que o povo árabe está ansioso por conhecer a política do Governo português a este respeito.
Resposta — Nós não faremos nada contra o povo árabe. E não aceitaremos que qualquer acção seja tomada contra o povo árabe.
Nós não aceitaremos que qualquer acção seja tomada, a partir do nosso país, contra o povo árabe.
Nós desejamos estabelecer as mais sinceras e as mais leais relações com o mundo árabe. E desejamos que seja encontrada uma solução pacífica para os conflitos do Médio Oriente, de modo a salvaguardar os povos da região e sobretudo o povo palestiniano.
Pergunta — Qual o futuro das relações entre Portugal e os países africanos que eram antigas colónias?
Resposta — Nós decidimos estabelecer e desenvolver relações fraternas com todos os povos africanos de língua portuguesa, e no momento actual nós ajudamos e ajudaremos no futuro esses povos, desde que possamos, mesmo que tal exija sacrifícios ao próprio povo português. E julgamos que as relações entre nós em todos os domínios, estreitar-se-ão na base da fraternidade, do interesse mútuo e da igualdade. Jamais recorreremos ao emprego dos meios do neo-colonialismo. É uma questão ligada à honra do Movimento das Forças Armadas, que tomou a firme decisão de estabelecer relações fraternas com todos os povos africanos.
Início da páginaAbriu o arquivo | 05/05/2014 |