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Eu encontro-me bem de saúde. Aliás, sempre me tenho encontrado bem de saúde, tanto física como moral. A saúde física é até a mais fácil de tratar. Quanto à saúde moral, depois do que aconteceu no 25 de Abril, não podia deixar de se fortalecer. Não é mesmo difícil conseguir um bom nível de saúde. Todos sabem que os homens das Forças Armadas têm tido muito trabalho depois do 25 de Abril, mas ainda ninguém se foi abaixo. Qualquer pessoa que perceba um bocadinho de medicina — e eu não sou médico, evidentemente — sabe que com os tónicos e uma vigilância médica regular é possível o corpo, o cérebro humano, produzir muito mais do que o habitualmente costuma. A prova é que aqui estou, apesar desse imenso esforço depois do 25 de Abril. Sinto-me muito bem de saúde. Não tenho dúvidas de que se trata mais uma vez, de boatos dirigidos.
A quem é que interessa que o primeiro-ministro não tenha boa saúde? É à reacção. Evidentemente que essa gente não é de ânimo leve que diz que o primeiro-ministro não está de boa saúde, que vai resignar, etc. A reacção ataca-nos em todas as frentes. Mas ela pode ter a certeza de que nós estamos a fazer esforços desesperados. Ela não passará. Pode ter a certeza de que não passará. O Movimento das Forças Armadas e a unidade Povo-Forças Armadas combaterão em todas as frentes em que ela nos move luta — e vencê-la-emos nessas frentes todas. Simplesmente, se ela consegue abrir uma brecha num sítio ou noutro, isso poderá ser para ela um meio de penetrar por essa brecha e até explorar o sucesso, como a gente diz em linguagem militar. Assim, ela ataca em todas as frentes, cria os boatos mais inverosímeis e seria, talvez, preciso criar a nível nacional um serviço antiboato, para esclarecer permanentemente as pessoas. Contudo, as pessoas devem, também, habituar-se a resistir à influência desses boatos. A lucidez política e ideológica, o próprio senso comum, deve levar as pessoas a não acreditarem em tudo que lhes dizem, a raciocinarem, quer dizer, a verificarem na prática, pelos actos quotidianos, se determinados boatos correspondem ou não à realidade, e, então, com tanta frequência, mas não correspondem à realidade porque são boatos. A primeira atitude a ter é não acreditar no boato, até prova em contrário. Essa é que é a atitude científica. Primeiro a gente não acredita de facto nele, porque a experiência mostra-nos que 99,9 por cento dos boatos são mentiras: trata-se de lançar essas mentiras com objectivos determinados. E não só aqui. São boatos também em Angola, em Moçambique. Ainda outro dia, o Almirante Crespo denunciava uma tremenda campanha de boatos que houve em Moçambique, etc.
As nossas frentes de combate são múltiplas, um combate político, um combate ideológico e, por vezes, chega mesmo a ser um combate real, como foi agora a questão da F. L. E. C. em Cabinda. Portanto temos muitos problemas e difíceis de resolver. Mas nós estamos habituados às dificuldades e não pensamos assim: «pronto, acabaram-se as dificuldades uma vez resolvido um problema». Não, resolvido um, vamos ter logo outro e assim sucessivamente. Nós sabemos que a nossa vida é uma vida de dificuldades, mas que é preciso enfrentá-las. Estamos dentro das dificuldades, vivemos dentro das dificuldades, como se estivéssemos num ambiente muito mais calmo. Nós temos problemas: da descolonização, na frente económica, na frente do trabalho, na frente do desemprego, na frente da cultura, na frente dos estudantes e aproveito a oportunidade para fazer um apelo aos estudantes para que aqueles que são mais lúcidos, que têm mais consciência destes processos históricos, que se dediquem de facto ao trabalho, que elucidem os outros, esses grupúsculos esquerdistas e de tipo anarquista que perturbam a actividade no seio das escolas. Os estudantes têm de ser um exemplo de trabalho. O estudante não pode dizer assim: «Eu não trabalho como estudante porque isto é o ensino da burguesia, é o ensino do capital, portanto eu não vou estudar porque isto é o ensino do capital. Por outro lado eu não trabalho como trabalhador porque se vou trabalhar como trabalhador eu vou trabalhar para o patrão e então eu estou também a trabalhar para o capitalismo». Então, um estudante que pensa assim, o que é que ele faz? Parece-me que não é esta a posição correcta. Se se quer de facto fazer progredir um país, fazer progredir o curso da democracia — económica e política — em todos os seus aspectos, as pessoas têm é que ser cada vez mais conscientes, mais lúcidas, mais trabalhadoras, para que possam transmitir essa lucidez, essa aplicação no trabalho aos outros e, assim, engrossar as suas fileiras, engrossar o campo daqueles que defendem verdadeiramente a democracia. Não são aqueles que fazem distúrbios nas Universidades, que impedem os exames de aptidão, etc., não são esses que estão a defender a democracia, esses estão a combatê-la conscientemente, porque eles, que têm mais de 18 anos, eles amanhã vão votar e sabem muito bem o que estão a fazer. Esses homens estão a combater a democracia conscientemente. É claro que é fácil arrastar os menos conscientes, os menos lúcidos. Se a gente lhes diz assim: «Eh malta, não vamos aos exames, vocês vão passar todos com passagens administrativas», é difícil resistir a isto, é um campo fácil de actuação.
Mas é preciso, da parte daqueles que são mais conscientes, daqueles homens que de facto pensam que o trabalho é fundamental e que se seja um trabalhador para que se possa ter um pensamento coerente, é preciso que da parte desses haja uma luta ideológica e política quotidiana. É preciso que os estudantes, em lugar de, por vezes, se meterem no cinema a ver essa pornografia que por aí há, combatam antes, no seio das suas escolas, esses desvios desses rapazes pseudo-esquerdistas, tipo anarquistas, etc., e que em grande parte são recuperáveis. Nós não podemos combater esses rapazes senão ou sobretudo com as armas ideológicas, com as armas políticas, trazendo-os ao seio dos verdadeiros democratas, porque eles, parte das vezes, estão é a ser ludibriados por outros que conscientemente os querem levar para esses caminhos da ruptura com os verdadeiros processos democráticos.
Início da páginaAbriu o arquivo | 05/05/2014 |