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Representantes dos resistentes anti-fascistas que vieram até nós.
Resistentes anti-fascistas portugueses.
Camaradas do Conselho da Revolução e do MFA.
Membros do Governo.
Representantes Diplomáticos.
Conselho Português para a Paz e Cooperação.
Minhas senhoras e meus senhores.
Ao comemorar a derrota do fascismo na Europa não quero deixar de exprimir um sentimento de alegria reconfortante pela presença dos resistentes que vieram e que quiseram trazer ao MFA e a Portugal o seu apoio e a sua experiência.
Uma referência muito particular quero também fazer a Maria Lamas, fidelíssima combatente anti-fascista e símbolo da luta da mulher portuguesa pela sua libertação total.
Há 30 anos a Europa respirava aliviada do pesadelo fascista, renascia a esperança do homem no futuro. Esse renascimento cimentava-se na luta e no sacrifício de milhões de pessoas originárias de todos os Continentes; tal devia bastar para que a Humanidade rejeitasse duma vez por todas aquela aberração. Sítios houve, porém, onde a derrota de 1945 foi por longo tempo inconsequente. A Portugal, as liberdades conquistadas pelos povos europeus, só chegaram na madrugada de 25 de Abril de 74. O Povo Português tem, em relação à Europa, um crédito de 30 anos de liberdade a lançar na conta do fascismo.
A neutralidade na guerra de 39-45, para além dos benefícios imediatos, custou ao Povo Português um preço demasiado caro. A não participação no tremendo conflito foi ignobilmente explorada pelo governo fascista no sentido de criar num povo, mantido num estado da atraso material e intelectual deplorável, a ideia do guia esclarecido e incontestável na defesa dos interesses da Pátria.
A partir daqui todas as conquistas dos povos na sua marcha para a liberdade foram classificadas e apresentadas como passos na degradação dos valores tradicionais, como maquinações de diabólicos inimigos, fomentando-se o individualismo pessoal e o isolamento nacional como últimos baluartes da dignidade Humana.
À sombra desta enorme mistificação incentivou-se e desenvolveu-se o capitalismo mais retrógrado, num proteccionismo feroz, na exploração desenfreada das massas trabalhadoras e no comprometimento da Independência Nacional.
O fascismo português atingiu um tal grau de contradições que, criado pelo capitalismo, para seu serviço, acabou por se tomar um obstáculo ao desenvolvimento desse mesmo capitalismo, ao ponto de originar uma boa aceitação do 25 de Abril pelos seus sectores mais avançados.
Nesta perspectiva há que estar atento à realidade de que, se o fascismo foi derrubado em Portugal, as forças capitalistas não desistiram nem desistirão facilmente de tentar recuperar as suas condições de expansão.
Perdidas as esperanças no 25 de Abril como factor de readaptação a novos condicionamentos, o ataque desencadeou-se, como o provam as diversas crises atravessadas até ao 11 de Março, e continuará a desenvolver-se utilizando formas mais subtis e menos detectáveis ao nível do Povo Português.
É preciso que as classes trabalhadoras estejam conscientes dos novos perigos, que olhem a realidade de frente para além dos programas aliciantes e das propostas brilhantemente demagógicas. Os amigos, bem como os inimigos, revelam-se na prática diária e não através de verbalismos estéreis. A marcha dura dum processo político difere substancialmente do deslizar dos sonhos.
A nossa luta desenvolve-se em torno do que «é» e não do que gostaríamos que fosse. Os povos só se libertam pela luta intensa, incansável e de todos os dias contra a opressão. Quando se cansam perdem. Para que a luta triunfe é necessário que o povo tenha consciência da sua exploração e também de quem o explora e como o explora. Só assim são aceitáveis os sacrifícios que a revolução pede, só assim aparece claramente projectado o inimigo do Povo.
Sob pena de que a revolução se perca, o Povo Português tem de saber distinguir as suas verdadeiras opções e estas são:
— Revolução ou reacção.
Não se põem neste momento, tal como desde o início, questões de pormenor. Não estamos perante problemas que digam respeito à roupagem da via para o socialismo. Tais questões podem levantar-se para camuflar o problema de fundo, para criar divisões entre os trabalhadores, para confundir as mentes. Mas o problema é ainda:
— Socialismo ou capitalismo.
O MFA não faz revoluções contra o Povo, nunca na História se fizeram revoluções contra a vontade do Povo; o que por vezes aconteceu foi classificar-se de revoluções as readaptações das classes dominantes, mas é preciso que a vontade do Povo coincida com os interesses do Povo, sem o que, essa vontade pode tornar-se objectiva e inconscientemente contra-revolucionária.
Os trabalhadores portugueses foram desde 25 de Abril de 1974 os grandes geradores da energia da revolução, sem a qual nunca se teria materializado a união POVO-MFA. Seria trágico que esses mesmos trabalhadores comprometessem todo o processo, admitindo no seu seio o divisionismo, deixando galopar o oportunismo político, lutando entre si por questões de pormenor ampliadas artificialmente para servir interesses que não são os interesses do Povo Português.
Uma revolução, por mais pura que seja a linha teórica, não sobrevive à completa degradação económica e, particularmente, a economia portuguesa não comporta mais encontrões. Quem são as vítimas principais e quem recolhe os benefícios da desintegração económica do País? É suficientemente claro, e os trabalhadores devem analisá-lo com a cabeça fria.
A consciência revolucionária do Povo, demonstrada em 28 de Setembro e em 11 de Março não deve permitir que se deixe espartilhar a revolução por baias imediatas e exclusivamente utilitárias.
Uma revolução no sentido do socialismo, como a nossa, implica o controlo progressivo dos meios de produção pelos trabalhadores bem como a garantia de que as mais-valias criadas se aplicam em benefício da colectividade. Implica também a existência duma democracia real, aberta a todas as liberdades, excepto à liberdade de explorar. Nenhuma via socialista pode assentar em benefícios salariais imediatos, nenhum povo revolucionariamente consciente pode centrar a sua luta sobre o empolamento reivindicativo de tais benefícios.
Temos uma necessidade premente de construir um aparelho produtivo sólido e o MFA tem dado sobejas provas de que esse aparelho não será posto ao serviço classes privilegiadas mas sim ao serviço da colectividade.
A conjugação da vontade do MFA com a iniciativa criadora dos trabalhadores permitirá caminhar seguramente e eliminar à partida qualquer equívoco sobre o processo.
Para além disto, reivindicar o que a economia nacional hão tem capacidade para conceder, e a economia nacional é, fundamentalmente, o somatório da economia das empresas; só poderá conduzir à contra-revolução em detrimento dos trabalhadores. E a contra-revolução, perante uma economia deteriorada, não pode deixar de desembocar no totalitarismo fascista, esse mesmo fascismo que a Europa varreu em 1945 e que não queremos que regresse à nossa Pátria.
Vivam os resistentes portugueses anti-fascistas! Vivam os resistentes anti-fascistas dos países amigos que vieram até nós!
Vivam a Paz e a Amizade entre os Povos de todo o mundo!
Início da páginaAbriu o arquivo | 05/05/2014 |