A Materialidade do Mundo e as Leis de Seu Desenvolvimento

N. F. Ovtchinnikov


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1955. págs: 215-268. A presente edição foi traduzida do original russo "Materialismo Dialético", Moscou, edição da Academia de Ciências da URSS, Instituto de Filosofia, 1954.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.

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O materialismo filosófico marxista interpreta de maneira científica e materialista os fenômenos da natureza e da sociedade. O materialismo filosófico marxista é, por sua base, diretamente oposto a todas as variedades do idealismo filosófico.

Caracterizando o materialismo filosófico marxista, J. V. Stálin formula suas características básicas, nas quais revela todo o conteúdo da teoria materialista como parte orgânica do materialismo dialético, que é a concepção do mundo do partido marxista-leninista,

O camarada Stálin dá uma formulação clássica da primeira característica básica do materialismo filosófico marxista:

"Em oposição ao idealismo, que considera o mundo como encarnação da ‘ideia absoluta’, do 'espírito universal’, da 'consciência', o materialismo filosófico de Marx parte do princípio de que o mundo é, pela sua natureza, material; de que os múltiplos e variados fenômenos do mundo representam diferentes aspectos da matéria em movimento; de que a conexão mútua e a interdependência entre os fenômenos, revelados pelo método dialético, são as leis do desenvolvimento da matéria em movimento; de que o mundo se desenvolve de acordo com as leis do movimento da matéria e não necessita de nenhum 'espírito universal'."(1)

Durante toda a história da filosofia a questão da materialidade do mundo foi e continua a ser objeto de intensa luta entre o materialismo e o idealismo. O idealismo visa a reduzir a diversidade dos fenômenos do mundo a um certo princípio espiritual, a "ideia absoluta”, a “consciência", as "sensações”, etc.

A questão básica da filosofia, em torno da qual se trava luta intransigente entre o materialismo e o idealismo, é a questão da relação mútua entre o ser e o pensamento, a matéria e a consciência. A justa solução materialista da questão básica da filosofia, solução que afirma a materialidade do mundo e a objetividade das leis de seu desenvolvimento, é demonstrada por toda a marcha do desenvolvimento da filosofia e das ciências naturais.

A primeira característica do materialismo filosófico marxista considera a questão da unidade do mundo, generaliza a doutrina marxista-leninista da matéria, afirma a objetividade das formas de existência da matéria — movimento, espaço e tempo; considera a conexão mútua e a interdependência entre os fenômenos como leis do desenvolvimento da matéria em movimento, inerentes ao próprio mundo material, independentemente de nossa consciência.

A Unidade do Mundo esta em sua Materialidade

Insistindo na existência objetiva do mundo, o materialismo filosófico marxista ressalta sua unidade. A unidade do mundo está em sua materialidade. Somente a matéria em movimento é a base e a fonte de tudo o que existe. No mundo nada há além de matéria em movimento, em suas diversas manifestações.

Os inúmeros fenômenos do mundo que nos cerca têm uma natureza material única, decorrem do movimento da própria matéria e não necessitam de nenhumas forças "espirituais” estranhas à matéria. A própria consciência é um atributo da matéria altamente organizada.

Demonstrando que o mundo é, por sua natureza, material, o materialismo filosófico marxista opõe-se diretamente ao idealismo que considera o mundo como uma encarnação da "ideia absoluta”, do "espírito universal”, da "consciência”, etc. O idealismo vê a unidade do mundo nessa redução de todos os diversos fenômenos à "ideia absoluta”, ao "espírito universal”, à "consciência”. Para os idealistas o mundo é, por sua natureza, ideal e necessita, para existir, de forças particulares, não materiais.

Ao contrário do monismo idealista, a filosofia marxista coloca na base de sua teoria materialista o reconhecimento de um único princípio material para todas as coisas e processos do mundo que nos cerca. Respondendo à pergunta: Que é o mundo por sua natureza?, a filosofia marxista formula uma tese materialista fundamental — o mundo é, por sua natureza, material.

Sendo, por sua base, diretamente oposto ao idealismo, o materialismo filosófico marxista rejeita com firmeza todos os sistemas filosóficos dualistas que partem do reconhecimento de dois princípios, o espiritual e o material. O materialismo filosófico marxista desenvolve, da maneira mais consequente e profunda, o monismo materialista, a ideia da unidade material do mundo.

A filosofia materialista sempre se apoiou e se apoia no desenvolvimento dos conhecimentos alcançados pelas ciências naturais. O insuficiente nível de desenvolvimento da ciência e o estreito ponto de vista de classe dos filósofos materialistas do passado, o caráter contemplativo e metafísico de seu mate- rialismo, sua incapacidade de estender consequentemente a concepção materialista do mundo ao domínio dos fenômenos sociais, condicionam a estreiteza do materialismo anterior a Marx em seu modo de abordar a unidade material do mundo.

Os materialistas da antiguidade, por exemplo, tentavam reduzir todos os variados aspectos da matéria a um dos seus aspectos e manifestações concretas particulares (fogo, ar, água, etc.) tomados ao acaso. O materialismo primeiro e espontâneo dos antigos procura a unidade da natureza

"(...) em algo nitidamente físico, num corpo particular, como Thales na água.”(2)

Nos séculos XVII e XVIII, na época do domínio do mecanicismo, os filósofos materialistas representavam a matéria como átomos imutáveis e sem diferenças qualitativas, cujo movimento se subordinava às leis da mecânica. O materialismo metafísico e ao mesmo tempo mecanicista da filosofia anterior a Marx via a prova da unidade material do mundo na possibilidade, por ele pressuposta, de redução de todos os variados fenômenos da natureza ao simples movimento mecânico de corpos materiais.

No processo de desenvolvimento das ciências naturais foram descobertas e estudadas formas novas, qualitativamente peculiares, do movimento da matéria. Revelou-se a impossibilidade da redução dos fenômenos eletromagnéticos, químicos, biológicos e outros fenômenos do mundo material aos fenômenos mecânicos. Tudo isso levou à necessidade de fundamentar de maneira nova, de acordo com as novas conquistas da ciência, a ideia da unidade material do mundo.

Resolvendo essa tarefa histórica, K. Marx e F. Engels criaram a filosofia materialista monista, que parte de um princípio único para a explicação de todos os fenômenos da natureza e da sociedade.

Elaborando o materialismo dialético, Marx e Engels fundamentaram a compreensão da unidade do mundo, apoiando-se em toda a história da ciência e em particular nas grandes descobertas das ciências naturais do século XIX. Marx e Engels desferiram um golpe esmagador no idealismo, nas tentativas idealistas de procurar a unidade do mundo em certo princípio "espiritual” ou de deduzi-la da capacidade que o pensamento humano tem de unificar as coisas.

Criticando Dühring, Engels demonstra que o simples reconhecimento da existência do mundo está longe de ser suficiente para a solução do problema da unidade do mundo. A unidade do mundo não pode consistir simplesmente em sua existência, porque o conceito de existência pode ter diversos conteúdos, inclusive um conteúdo idealista.

Engels demonstra que a autêntica unidade do mundo está em sua materialidade e que a materialidade do mundo é demonstrada por todo o prolongado e difícil desenvolvimento da filosofia e das ciências naturais.(3) A unidade material do mundo é confirmada pelos resultados das ciências concretas.

Apoiando-se nos dados fornecidos pela ciência de sua época, Engels demonstra que as ciências naturais revelam cada vez mais a unidade entre todos os processos da natureza. A lei da conservação e da transformação da energia expressa uma conexão indissolúvel e única entre diferentes fenômenos físicos. A descoberta da célula serviu de prova da unidade entre os organismos vegetais e animais. A teoria de Darwin descobriu as leis gerais da evolução dos organismos, demonstrando que todos os organismos vivos surgiram como resultado do processo natural e não necessitam, para a explicação de sua origem, da existência de qualquer força divina.

Em novas condições históricas e em ligação com a revolução verificada nas ciências naturais em fins do século XIX e começo do século XX, V. I. Lênin, baseando-se nos novos dados fornecidos pelas ciências naturais, fundamentou a ideia da unidade material do mundo. Desenvolvendo a tese de Engels sobre a unidade do mundo, V. I. Lênin observa que

"só podemos considerar como 'unos' as coisas, propriedades, fenômenos e ações que são unos na realidade objetiva”(4)

Lênin afirma:

"Engels demonstrou, com o exemplo de Dühring, que uma filosofia algo consequente pode deduzir a unidade do mundo ou do pensamentomas então ela é impotente diante do espiritualismo e do fideismo (...) e seus argumentos inevitavelmente se reduzem-na frases de embuste — ou da realidade objetiva que existe fora de nós, há muito tempo em gnosiologia chama-se matéria e é estudada pelas ciências naturais.”(5)

Apoiando-se nos dados da ciência de sua época, V. I. Lênin desenvolve a tese da unidade do mundo, ligando-a ao princípio do desenvolvimento da matéria.

Lênin afirma:

"O principio geral do desenvolvimento precisa ser ligado, unido e coincidido com o principio geral da unidade do mundo, da natureza, do movimento, da matéria, etc."(6)

A unidade do mundo manifesta-se no desenvolvimento das coisas e fenômenos do mundo objetivo, que estão reciprocamente vinculadas e que atuam uns sobre os outros. Em seu desenvolvimento a matéria alcança um grau tão elevado de organização que dá origem à consciência. Sendo uma propriedade da matéria altamente organizada, a consciência reflete e conhece a realidade material.

Em seu trabalho Anarquismo ou Socialismo?, J. V. Stálin frisa que a natureza é una e indivisível. Embora sendo una e indivisível, existe em duas formas diferentes, a material e a ideal. Todavia, ambas essas formas são manifestação da matéria una. Ao contrário dos dualistas que separam o ideal do material e negam sua estreita ligação, J. V. Stálin ressalta o monismo da teoria materialista. O camarada Stálin afirma:

"A natureza una e indivisível expressa-se em duas formas diferentes: a material e a ideal; a vida social una e indivisível se expressa em duas formas distintas: a material e a ideal; eis como devemos considerar o desenvolvimento da natureza e da vida social. Tal é o monismo da teoria materialista.”(7)

No trabalho Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico, J. V. Stálin apresenta uma formulação clássica das características básicas do materialismo filosófico marxista, particularmente da tese inicial do materialismo filosófico marxista — sua primeira característica. J. V. Stálin liga diretamente a primeira característica do método dialético marxista à primeira característica do materialismo filosófico marxista, à tese da unidade material do mundo, fazendo a demonstração de que:

"a conexão mútua e a interdependência dos fenômenos, reveladas pelo método dialético, são as leis do desenvolvimento da matéria em movimento; de que o mundo se desenvolve de acordo com as leis do movimento da matéria e não necessita de nenhum ‘espírito universal'."(8)

Todo o acervo de fatos fornecidos pela ciência moderna confirma a tese da unidade material do mundo. A astronomia moderna demonstra que a Terra é um dos planetas do sistema solar. Os corpos celestes — planetas, cometas, asteroides — estão subordinados às mesmas leis do movimento que regem o movimento da Terra. Nas condições vigentes na superfície da Terra atuam leis que operam também em todo o sistema solar. O fenômeno da queda de uma pedra, por exemplo, verifica-se sob a influência da mesma força de gravitação que condiciona as leis do movimento dos planetas em torno do Sol.

A astronomia moderna revelou não só a unidade das leis do movimento dos corpos celestes como também, por meio da análise espectral e outros modernos métodos científicos, a unidade de sua composição química.

Está provado que em todos os corpos celestes conhecidos pela astronomia não há nenhum elemento químico que não exista na Terra. Acha-se também estabelecido que os meteoritos que caem sobre a Terra compõem-se dos mesmos elementos químicos que existem na Terra.

Se a ciência vier a descobrir nos corpos celestes novos elementos químicos, desconhecidos até agora, isso de forma alguma abalaria o princípio da unidade material do mundo e significaria apenas a ampliação de nossos conhecimentos a respeito da estrutura da matéria. A ciência moderna dispõe de meios suficientes para explicar as condições físico-químicas concretas de existência dos elementos e sempre poderá descobrir novos elementos na Terra ou consegui-los artificialmente, nas condições de laboratório.

A unidade do mundo manifesta-se também em que as leis de estrutura dos átomos dos elementos químicos são, em suas características essenciais, idênticas em toda parte.

A química moderna esclareceu a estrutura dos átomos dos elementos químicos e demonstrou que podem transformar-se um no outro. O sistema periódico de Mendelêiev demonstrou que os diferentes elementos químicos estão unidos por uma lei única, que governa sua modificação e transformação recíprocas. Nessa modificação dos elementos químicos revela-se claramente a unidade material do mundo, porque o próprio fato da transformação recíproca de objetos materiais atesta que na base de todas essas transformações está a matéria una.

Toda a inesgotável variedade dos diferentes aspectos da matéria e das diferentes formas de seu movimento representa um sistema único e regular, no qual as ciências naturais descobrem não só leis específicas, mas também as leis gerais do movimento. Uma lei que tem caráter geral é, por exemplo, a lei da conservação e da transformação da energia, que V. I. Lênin chama de "confirmação das teses básicas do materialismo (...)"(9). Esta lei demonstra que os diferentes fenômenos físicos (eletricidade, calor, movimento mecânico, etc.) são formas específicas do movimento da matéria una em sua base, porque essas formas passam por eternas e ininterruptas transformações qualitativas, transformações em que há conservação quantitativa do movimento da matéria.

A lei da conservação e da transformação da energia vigora também no domínio dos fenômenos biológicos. Com seus trabalhos sobre a fotossíntese vegetal, K. A. Timiriázev demonstrou a aplicabilidade dessa lei às plantas. Demonstrou, assim, que a lei da conservação e da transformação da energia vigora tanto no mundo inorgânico como no mundo orgânico. Embora possuam suas leis específicas de desenvolvimento, os organismos químicos subordinam-se às leis gerais do desenvolvimento da matéria. Essa descoberta desferiu rude golpe nas concepções idealistas sobre os diferentes gêneros de "forças vitais” que pretensamente governariam o desenvolvimento dos organismos vivos.

A biologia mitchuriniana demonstrou que o desenvolvimento dos organismos vivos não necessita de nenhuma força espiritual, da "substância hereditária” imaterial. As particularidades qualitativas específicas dos organismos consistem em sua capacidade de exigir determinadas condições necessárias, em sua propriedade de reagir de determinada maneira sobre essas condições e reelaborá-las. Os organismos vivos existem em unidade indissolúvel com as condições ambientes, que incluem a natureza inanimada e representam a unidade entre determinada forma orgânica e as condições de existência.

Criando a doutrina materialista da atividade nervosa superior, I. P. Pávlov partiu da importante tese da biologia sobre a indissolúvel unidade entre os fenômenos do meio exterior e o próprio organismo. Valendo-se da limitação histórica dos conhecimentos alcançados pelas ciências naturais a respeito da complexa atividade do encéfalo humano, a reacionária filosofia idealista esforçava-se por demonstrar que a atividade cerebral do homem não estaria absolutamente ligada a processos materiais que se verificam no cérebro. Com suas clássicas experiências a respeito dos reflexos condicionados e incondicionados, I. P. Pávlov demonstrou que os processos do pensamento estão estreitamente ligados aos processos fisiológicos que ocorrem no córtex dos grandes hemisférios cerebrais. Os trabalhos de I. P. Pávlov anulam definitivamente as tentativas idealistas de considerar os processos do pensamento desligados da matéria. Todos os resultados das pesquisas de I. P. Pávlov são uma excelente confirmação da notável tese leninista de que o pensamento é uma função de um órgão material, o cérebro.

Após criar a ciência das leis do desenvolvimento social, o marxismo estendeu a ideia da unidade material do mundo ao domínio dos fenômenos sociais.

Na base da compreensão de todos os fenômenos sociais o marxismo colocou a análise das condições da vida material da sociedade, a análise do modo de produção dos bens materiais, historicamente determinado. Somente a concepção materialista da História transformou a sociologia em ciência e, pela primeira vez na história da humanidade, permitiu explicar cientificamente os mais diferentes fenômenos sociais, desde as particularidades da produção até a língua e as diferentes formas da consciência social.

A unidade do mundo pressupõe determinada peculiaridade qualitativa de objetos materiais unos por sua base. A revelação da unidade do mundo não deve consistir em tentativas de reduzir a diversidade qualitativa da matéria a qualquer base desprovida de qualidade. Como já assinalamos, essas tentativas são típicas da concepção mecanicista e metafísica da natureza. A unidade do mundo revela-se nas leis inerentes aos próprios objetos materiais, em suas transformações mútuas, na unidade entre os objetos materiais qualitativamente diferentes e as condições ambientes, na existência das leis mais gerais, que se revelam justas para os mais diversos domínios do mundo material.

Não se pode demonstrar a materialidade do mundo por uma simples referência a dados concretos isolados tomados das ciências naturais. Esses dados, considerados em si mesmos, servem apenas de ilustração da unidade do mundo. Somente toda a prática social e histórica da humanidade, toda a história do conhecimento humano nos convence da materialidade do mundo. Toda a história das ciências naturais, todo o conjunto dos dados fornecidos pela ciência moderna e toda a atividade prática diária dos homens servem de fundamento para a concepção materialista do mundo.

O Conceito Marxista-Leninista de Matéria

O conceito matéria é o conceito básico do materialismo filosófico marxista. Ao contrário do idealismo, que nega a materialidade do mundo, o materialismo filosófico marxista coloca na base da concepção da realidade o reconhecimento da realidade objetiva, existente fora da consciência humana e independente dela.

O conceito filosófico de matéria resultou de um prolongado desenvolvimento histórico do conhecimento das leis da natureza e da sociedade.

A palavra matéria vem da palavra latina "matéria”, que significa material para obras, Na antiguidade havia uma ideia ingênua do mundo, segundo a qual tudo o que existe é construído de uma qualquer substância concreta da natureza. Thales, por exemplo, ensinava que a água é o princípio primeiro e a base primeira de tudo o que existe.

No decurso do desenvolvimento da concepção materialista do mundo elaborou-se o conceito mais geral de matéria como algo oposto aos fenômenos da consciência. Em virtude do domínio das concepções mecanicistas, a matéria era comumente considerada como princípio inerte e passivo, posto em movimento por forças estranhas, exteriores à matéria. Frequentemente, a questão das causas do movimento da matéria era silenciada, contornada e deixada aberta.

Criando o materialismo dialético, Marx e Engels romperam a limitação histórica das ideias metafísicas sobre a matéria, ideias que caracterizaram toda a filosofia materialista precedente. Demonstraram que a própria matéria contém em si a fonte do movimento.

Marx e Engels fundamentaram a tese de que a consciência é um produto do desenvolvimento da matéria, uma propriedade da matéria altamente organizada. Marx escreve:

"Não se pode separar o pensamento da matéria pensante. A matéria é o sujeito de todas as transformações."(10)

Engels afirma:

"(...) Nossa consciência e nosso pensamento, por mais transcendentes que nos pareçam, são produtos de um órgão material, corporal, o cérebro."(11)

O conceito matéria expressa, antes de tudo, a "propriedade” mais geral de todas as coisas — ser uma realidade objetiva, existir fora e independentemente de nossa consciência. A palavra "matéria”, afirma Engels, nada mais é que uma súmula, com a qual abrangemos, tomando em conta suas propriedades comuns, uma grande quantidade de diferentes coisas percebidas pelos sentidos.(12)

Desenvolvendo o materialismo filosófico de Marx e Engels, V. I. Lênin dá uma definição mais completa de matéria:

"A matéria é uma categoria filosófica que designa a realidade objetiva dada ao homem em suas sensações, que a copiam, fotografam e refletem sem que sua existência lhes esteja subordinada."(13)"(...) Matéria é o que, atuando sobre nossos órgãos dos sentidos, produz a sensação; a matéria é a realidade objetiva, que nos é dada nas sensações, etc."(14)

Definindo a matéria como realidade objetiva que nos é dada nas sensações, Lênin tem como alvo todas as variedades de idealismo que, de uma forma ou de outra, negam a existência da realidade objetiva, da matéria, ou negam a possibilidade de seu conhecimento.

A moderna filosofia idealista reacionária ataca o conceito básico do materialismo filosófico marxista, o conceito de matéria. Lutando contra o conceito matéria, os filósofos reacionários visam a minar a própria base do conhecimento científico, revelam-se inimigos declarados da ciência. O filósofo reacionário inglês Bertrand Russel considera a matéria como simples método de agrupamento de fenômenos percebidos. Afirma, por exemplo, que as partículas "elementares”, dos átomos, as moléculas e outros objetos, estudados pela ciência, são meras estruturas lógicas e não coisas materiais.

Os modernos filósofos reacionários seguem uma orientação idealista de negação da matéria que está longe de ser nova. Repetem os métodos empregados pelo bispo Berkeley, idealista subjetivo que afirmou ser necessário abolir da ciência o conceito matéria, pedra fundamental do materialismo. Os modernos idealistas "físicos” repetem os métodos empregados por Mach ao criticar o materialismo, métodos há muito desmascarados por V. I. Lênin em seu livro Materialismo e Empirocriticismo. Lênin escreve, submetendo os machistas à uma crítica esmagadora:

"A negação, por eles, da matéria, é a antiga e conhecida solução das questões da teoria do conhecimento pela negação da fonte exterior, objetiva, de nossas sensações da realidade objetiva que corresponde às nossas sensações."(15)

Em fins do século XIX e no começo do século XX o desenvolvimento da física trouxe descobertas realmente revolucionárias: a descoberta dos fenômenos da radioatividade, a revelarão da complexa estrutura do átomo, a demonstração da variabilidade da massa do elétron de acordo com a modificação da velocidade de seu movimento, etc.

Deturpando o sentido exato das novas descobertas, os machistas valeram-se das dificuldades de desenvolvimento da física para fundamentar sua filosofia subjetiva e idealista. Interpretaram as novas descobertas como prova do "desaparecimento da matéria.”

A negação do conceito básico do materialismo filosófico, o conceito matéria, levou a uma crise na física. V. I. Lênin afirma que

"do ponto de vista filosófico, a essência da 'crise da física contemporânea' consiste em que a velha física via em suas teorias o conhecimento real do mundo material, isto é, o reflexo da realidade objetiva, enquanto a nova corrente da física só vê símbolos, sinais, pontos de referência úteis para a prática, numa palavra, nega a existência da realidade objetiva independente de nossa consciência e refletida por esta.”(16)"A essência da crise da física contemporânea consiste na abolição das velhas leis e dos princípios básicos, em rejeitar a verdade objetiva que existe fora da consciência, isto e, na substituição do materialismo pelo idealismo e pelo agnosticismo.”(17)

Na realidade, porém, as novas descobertas de forma alguma significaram e significam o "desaparecimento da matéria” como realidade objetiva, existente fora e independentemente de nós. Além disso, as novas descobertas da física comprovam que a ciência confirmou mais uma vez a existência objetiva da matéria, porque deu um novo e grande passo no estudo da estrutura da matéria, descobrindo de maneira ainda mais completa e profunda suas propriedades e suas leis.

Os machistas tentaram valer-se de outra particularidade do desenvolvimento da física para atacar o conceito matéria. A física do fim do século XIX e do começo do século XX começou a empregar ainda mais amplamente em suas pesquisas teóricas o método matemático; as teorias da física receberam uma abstrata formulação matemática representada por um sistema de equações, leis definidas expressas em fórmulas matemáticas, etc. A física teórica tornou-se fundamentalmente física matemática. Esta penetração da matemática na física foi interpretada pelos idealistas como uma nova demonstração do "desaparecimento da matéria”. Lênin escreve:

"As grandes conquistas das ciências naturais, a descoberta de elementos homogêneos e simples da matéria cujas leis do movimento podem ser expressas matematicamente, dá origem ao esquecimento da matéria pelos matemáticos. ‘A matéria desaparece' e restam apenas equações.’’(18)

Na realidade, como demonstrou Lênin, as equações matemáticas que entram nas teorias físicas não "abolem” a matéria, mas apenas permitem refletir de maneira mais exata o movimento da matéria. Toda abstração realmente científica reflete a natureza de maneira mais profunda e completa do que a simples contemplação porque, com a ajuda das abstrações, a ciência descobre aquilo que é mais essencial nas coisas e processos do mundo objetivo.

A concepção leninista de matéria, desenvolvida no livro Materialismo e Empirocriticismo, tem imensa significação para as modernas ciências naturais e para a generalização teórica das mais modernas conquistas da ciência.

As ciências naturais estudam justamente a realidade objetiva, existente fora da consciência humana, e que na gnosiologia é chamada matéria.

Por isso, o conceito matéria não só é o conceito básico do materialismo filosófico marxista, mas também importante conceito inicial das ciências naturais. A ciência transformar-se-ia em jogo sem conteúdo de pensamento se não se orientasse pelo reconhecimento consciente ou inconsciente da realidade objetiva, refletida nos conceitos e leis da ciência. A matéria é inesgotável e infinita ‘em suas formas e manifestações. Na base das formas relativamente inferiores de seu desenvolvimento surgem formas cada vez mais complexas da matéria com suas leis particulares. Nenhuma ciência pode desenvolver-se se não refletir em seus conceitos e leis tais ou quais aspectos concretos da matéria em desenvolvimento. A autêntica ciência não constrói esquemas arbitrários; volta-se para a própria realidade material, verificando na prática a justeza de suas teorias.

O conceito marxista-leninista de matéria tem importância decisiva não só para as ciências naturais, mas também no domínio das ciências sociais.

O reconhecimento da materialidade do mundo é importante condição para o método realmente científico de abordar o estudo das leis da natureza e o estudo das leis da vida social.

Em nossa literatura de popularização dos conhecimentos científicos e filosóficos fazia-se distinção entre o conceito filosófico de matéria e o seu conceito pretensamente "científico-natural”. Essa distinção é radicalmente errada.

Não há dois conceitos de matéria, o filosófico e o científico-natural . Há um conceito filosófico marxista-leninista de matéria que está na base de todas as ciências concretas que estudam aspectos isolados, propriedades ou tipos da matéria e do seu movimento.

As ciências físico-químicas, por exemplo, estudam a estrutura da matéria e descobrem as leis a que se subordinam as formas que assumem sua estrutura — as formas conhecidas atualmente: os corpos macroscópicos, as moléculas, os átomos e as partículas "elementares”. Estas ciências pesquisam as mais variadas propriedades das formas que a estrutura da matéria assume, revelam sua conexão e a passagem de uma a outra, seu desenvolvimento e, de acordo com este ou aquele nível alcançado pela ciência, fornecem um quadro mais ou menos completo da estrutura físico-química da matéria.

Não se pode, porém, identificar essas ideias sobre a estrutura da matéria e suas propriedades concretas isoladas, estudadas pelas ciências naturais, com o conceito filosófico de matéria que contém toda a realidade objetiva com seus aspectos infinitamente diversos e suas inúmeras propriedades. Não se pode, por exemplo, identificar o conceito de massa, que é uma das propriedades essenciais de qualquer objeto material, com o conceito de matéria. Resolvendo de maneira materialista a questão básica da filosofia, é necessário ver a diferença entre os dados concretos relativos às propriedades de determinados aspectos da matéria e a questão filosófica da relação entre o pensamento e o ser.

V. I. Lênin escreve:

"O materialismo e o idealismo diferenciam-se pela solução que dão ao problema da origem de nosso conhecimento, da relação entre a consciência (e o 'psíquico' em geral) e o mundo físico; a questão da estrutura da matéria, dos átomos e dos elétrons é uma questão que só diz respeito a esse ‘mundo físico’."(19)

O materialismo filosófico não é absolutamente indiferente às ideias das ciências naturais a respeito da estrutura da matéria. Engels afirma que

"o materialismo deve inevitavelmente modificar sua forma com cada descoberta que marque época no domínio das ciências naturais."

No trabalho Materialismo e Empirocriticismo, V. I. Lênin generaliza de maneira materialista as conquistas alcançadas pelas ciências naturais durante o período posterior à morte de Engels. Isso torna claro que não se pode desligar o conceito filosófico marxista-leninista de matéria das ideias das ciências naturais quanto à sua estrutura, formas de existência, etc. Tal desligamento pode levar a separar a filosofia das ciências naturais. Pesquisando as variadas propriedades da matéria, revelando suas leis, as ciências naturais provam a veracidade da doutrina materialista c são um fundamento granítico para o materialismo.

O desenvolvimento dos conhecimentos científicos sobre a estrutura, as propriedades e as leis inerentes à matéria fornece um material cada vez mais rico que confirma a veracidade da doutrina marxista-leninista sobre a matéria e as formas de sua existência.

Para compreender-se de maneira mais profunda a formulação leninista-stalinista das teses do materialismo dialético, é necessário, embora resumidamente, tomar conhecimento das concepções atuais sobre a estrutura da matéria.

As Modernas Concepções da Estrutura da Matéria

Toda a história da ciência revela que nossos conhecimentos sobre as propriedades da matéria e sua estrutura desenvolvem-se, enriquecem-se e aprofundam-se.

Já Leucipo e Demócrito supunham que os corpos visíveis comuns, possuidores das mais diferentes propriedades eram constituídos de átomos invisíveis, sendo que as diferentes combinações e encadeamentos de átomos formavam toda a diversidade do mundo que nos cerca. Os próprios átomos, segundo Demócrito, eram absolutamente indivisíveis e simples. Distinguiam-se um do outro apenas pela grandeza, forma e posição. Essas primeiras ideias sobre o átomo eram apenas conjeturas geniais sobre a estrutura da matéria. A teoria atômica da estrutura da matéria, baseada nas ciências naturais, começou a ser elaborada nos trabalhos do grande sábio russo M. V. Lomonóssov. Pela primeira vez na história da ciência ele empregou a hipótese atômica na explicação das propriedades químicas e da estrutura das diferentes substâncias e no estudo dos diferentes fenômenos físicos.

No decurso do desenvolvimento da ciência, as ideias sobre a estrutura atômica da matéria desenvolveram-se e tornaram-se mais precisas. Ficou estabelecido que os átomos podem combinar-se formando moléculas (que por vezes contêm um elevado número de átomos), sendo que as moléculas são formações relativamente simples e estáveis. Os trabalhos de Dalton tiveram grande importância para a elaboração da química atômica. O químico russo A. M. Butlerov foi o primeiro a elaborar detalhadamente a teoria da estrutura química das moléculas complexas.

O grande sábio russo D. I. Mendelêiev desempenhou grande papel no desenvolvimento da teoria científica dos átomos. A lei periódica do? elementos químicos, descoberta por D. I. Mendelêiev, serve de base a toda a atual doutrina a respeito da estrutura da matéria.

Todo elemento químico é um conjunto de átomos homogêneos que possuem propriedades perfeitamente definidas. Após a descoberta da lei periódica dos elementos químicos já não se pode considerar os tipos de matéria como isolados, não ligados por coisa alguma e absolutamente independentes; apresentam-se antes como sistema regular e definido de tipos qualitativamente diferentes da mesma matéria una. Em suma, os elementos químicos atualmente conhecidos, combinando-se de diferentes maneiras, formam toda a diversidade dos corpos existentes no mundo que nos cerca.

Na época da descoberta da lei periódica dos elementos a física ainda não penetrara no interior do átomo. O átomo ainda era considerado como partícula indivisível da matéria. A lei periódica de Mendelêiev, porém, já continha de fato o reconhecimento da variabilidade dos elementos químicos e comprovava sua ligação mútua.

O processo das transformações recíprocas dos átomos dos elementos químicos, experimentalmente descoberto pela física moderna, ajudou a penetrar no interior do átomo e a descobrir sua complexa estrutura.

Em fins do século XIX, tiveram início no domínio da física as grandes descobertas que modificaram as ideias anteriores a respeito da invariabilidade dos átomos. Nesse período comprovou-se a existência de uma partícula de carga negativa, o elétron. Em 1896, o físico francês Becquerel descobriu o fenômeno da radioatividade. Verificou-se que os elementos radioativos emitem os chamados raios-alfa que são, como se esclareceu posteriormente, núcleos do átomo de hélio; os raios-beta, que são um feixe de elétrons, e os raios-gama que são radiação eletromagnética dotada de grande energia.

O estudo detalhado dos fenômenos radioativos revelou que o processo de emissão dos raios-alfa e beta faz-se acompanhar da transformação do elemento químico inicialmente radioativo em outro elemento químico.

A física descobriu as leis da passagem de um elemento químico a outro, revelando que a emissão de partícula alfa reduz o número atômico do elemento de duas unidades e, por conseguinte, desloca-o dois números para a esquerda no sistema periódico de Mendelêiev. A emissão de partículas beta (elétrons) aumenta o número atômico do elemento e, por conseguinte, desloca-o um número para a direita.

Na base de pesquisas experimentais e teóricas começou-se a elaborar a nova teoria da estrutura do átomo. Segundo esta teoria, o átomo de qualquer elemento químico é uma formação complexa, constituída do núcleo pesado, dotado de carga positiva, e dos elétrons que gravitam em torno do núcleo. O núcleo do átomo mais simples, o átomo do hidrogênio, constituído de uma única partícula, recebeu a denominação de próton.

O movimento dos elétrons no átomo está subordinado a leis particulares, as leis dos quanta, distintas das leis da física anterior, a chamada física clássica. Estabeleceu-se, em particular, que os elétrons do átomo não podem ter uma série ininterrupta de valores da energia, mas apenas uma série descontínua. De acordo com isso, os átomos não podem emitir luz (irradiação) ininterruptamente, mas em determinadas proporções descontínuas (pelos quanta).

Os processos de irradiação e de absorção da luz atingem apenas a envoltura exterior do átomo, constituída de elétrons. O mesmo se pode dizer das transformações químicas que se verificam em diferentes elementos químicos. Somente as transformações radioativas dos átomos têm relação com as transformações mais profundas, as transformações do próprio núcleo do átomo. A transformação de um tipo de átomo em outro, ou a transformação correspondente de um elemento químico em outro, verifica-se em consequência da reestruturação dos núcleos dos átomos.

Em 1932, descobriu-se uma partícula com massa aproximadamente da mesma grandeza que a massa do próton, mas inteiramente desprovida de carga elétrica. Essa partícula recebeu a denominação de nêutron. Os físicos soviéticos (D. D. Ivanenko e outros) propuseram um modelo do núcleo atômico com indicações dos prótons e dos nêutrons. Segundo este modelo, reconhecido atualmente por toda a ciência, o núcleo de qualquer átomo é constituído de duas partículas pesadas: os prótons e os nêutrons. A grandeza da carga positiva do núcleo é determinada pelo número de prótons existentes no núcleo. A massa do núcleo, que é expressa pelo número de massa, é determinada pela quantidade de prótons e de nêutrons tomados em conjunto. Os prótons e os nêutrons que constituem o núcleo estão ligados por forças nucleares específicas que superam consideravelmente, pela sua grandeza, as forças de atração elétrica e de atração newtoniana, até então conhecidas da física.

A natureza das forças nucleares ainda não foi descoberta pela ciência moderna. Certas razões, porém, nos levam a supor que determinadas partículas especiais, os mésons, representam um papel muito importante no mecanismo das interações nucleares; os mésons têm uma massa de grandeza média, cujo valor é compreendido entre a massa do elétron e a massa do próton. Eles foram descobertos em 1937 ao serem estudados os raios cósmicos.

Na pesquisa detalhada do aspecto energético dos raios-beta (elétrons procedentes do núcleo do átomo) surgiram dificuldades relacionadas com o emprego da lei da conservação e da transformação da energia. Alguns físicos da burguesia tentaram utilizar as dificuldades surgidas para pôr em dúvida essa lei básica das ciências naturais modernas. A física superou, porém, essas dificuldades e, no processo de sua superação, chegou à descoberta de uma nova partícula, o neutrino, que não tem carga e que possui uma massa ínfima. A convicção da veracidade da lei da conservação e da transformação da energia teve importância decisiva nessa descoberta. Assim, o próprio desenvolvimento da ciência desfez todas as tentativas idealistas de negar a aplicabilidade da lei da conservação e da transformação da energia aos fenômenos atômicos.

Em 1932, foi descoberta nos raios cósmicos outra partícula material possuidora de uma massa igual à massa do elétron e dotada de carga positiva. Esta partícula recebeu a denominação de pósitron. Verificou-se que o pósitron pode ser emitido pelos átomos dos elementos radioativos. De acordo com as concepções atuais, o aparecimento do pósitron no processo da desintegração beta verifica-se como resultado da transformação intranuclear do próton em nêutron.

A física moderna descobriu uma notável transformação de um par de partículas, o pósitron e o elétron, em radiação gama ou fóton. Foi pesquisado o processo inverso de transformação dos fótons pesados num par: pósitron e elétron. A descoberta desses fenômenos, chamados pelos físicos burgueses de "anulação” do elétron e do pósitron e de "materialização” do fóton, significa na realidade uma manifestação da transformação qualitativa dos diferentes objetos materiais.

Assim, a ciência moderna conhece as seguintes partículas materiais que receberam a denominação de partículas "elementares”: prótons, elétrons, nêutrons, pósitrons, mésons (positivos, negativos e, possivelmente, neutros), neutrino e fótons. Os átomos, que antes pareciam estruturas simples e indivisíveis, revelaram uma estrutura muito complexa. O núcleo do átomo é constituído de prótons e de nêutrons. A uma distância relativamente grande do núcleo circula certo número de elétrons, igual ao número de prótons no núcleo do átomo. No núcleo há conexões particulares entre os prótons e os nêutrons, conexão cuja força é colossal por sua grandeza. Os mésons representam importante papel na interação das partículas nucleares. Combinando-se, os átomos constituem formas estruturais mais complexas de matéria: as moléculas e os corpos comuns.

É preciso ressaltar que a própria denominação partícula "elementar” de forma alguma significa que a ciência tenha alcançado o limite da divisibilidade da matéria. As minúsculas partículas da matéria conhecidas atualmente só são "elementares” e indivisíveis para o nível atual alcançado pela ciência. Não há dúvida alguma de que a física penetrará mais profundamente no interior da matéria e descobrirá a "complexa” estrutura dessas partículas. Evidentemente, a "complexidade” das partículas "elementares” terá uma natureza inteiramente diferente se comparada por exemplo com a complexidade dos átomos.

Nos últimos anos, a ciência tem presenciado tentativas de explicar as complexas propriedades das partículas materiais "elementares” por meio de seu estudo em conexão com o campo. A física moderna demonstrou que a matéria existe não só na forma de formações materiais, de substância (prótons, nêutrons, elétrons, pósitrons, átomos, moléculas, etc.), mas também na forma de campos: o campo eletromagnético, por exemplo, é uma das formas da matéria, possuindo, como as partículas, as propriedades físicas básicas. Á física moderna conhece o campo eletromagnético, o campo de gravitação e o campo intranuclear. Ao contrário da substância, o campo caracteriza-se principalmente por ser contínuo, pela propriedade de transmitir as ações e reações com velocidade muito grande, mas perfeitamente definida, e por ter uma concentração de energia relativamente fraca. Ao contrário do campo, a substância possui a propriedade, perfeitamente definida, da descontinuidade e se distingue pela possibilidade de ter quaisquer velocidades de movimento e uma concentração de energia relativamente grande. O campo e a substância são duas formas da matéria, indissoluvelmente ligadas. Possuem as propriedades comuns a todos os objetos materiais. Os fótons, forma peculiar do campo eletromagnético, possuem, por exemplo, tanto massa como energia.

Todo o conjunto dos conhecimentos atuais a respeito da estrutura da matéria, de suas diferentes propriedades e manifestações, revela a inesgotável riqueza da própria matéria e comprova os imensos êxitos alcançados pelos homens no conhecimento do mundo material.

A física do século XX novamente confirma a tese da inesgotabilidade da natureza em todas as suas partes e manifestações.

"O elétron é tão inesgotável quanto o átomo; a natureza é infinita (...)”(20)— escreve Lênin no livro Materialismo e Empirocriticismo.

Esta tese de Lênin tem, ao mesmo tempo, importante significação para o desenvolvimento da ciência moderna sobre a estrutura da matéria. A matéria, como realidade objetiva dada ao homem em suas sensações, torna-se conhecida de maneira cada vez mais profunda através do processo de desenvolvimento da ciência. As velhas ideias sobre átomos imutáveis e inteiramente simples, foram substituídas por novas ideias a respeito de sua estrutura extremamente complexa. Foram descobertas novas formações materiais, as partículas "elementares”, até então desconhecidas pela ciência. Revelou-se que a matéria existe em duas formas qualitativas peculiares, sob a forma de substância e a de campo. Ao mesmo tempo, a estrutura atômica da matéria foi e continua a ser inabalável. A teoria da estrutura atômica da matéria consolidou-se firmemente na ciência, tendo sido desenvolvida e precisada.

E. Mach e G. Ostwald lutaram tenazmente em sua época contra a teoria atômica materialista afirmando que os átomos são apenas "criações de nosso espírito”, destinados à sistematização "econômica” de nossas impressões. G. Ostwald profetizou o futuro fracasso da teoria da estrutura atômica da matéria, afirmando que os átomos brevemente só seriam encontrados em meio à poeira das bibliotecas. A história da ciência reduziu a pó essas profecias idealistas.

Os cientistas reacionários modernos continuam a atacar, sem êxito, a teoria atômica. Já não têm meios para negar o fato evidente de que existem átomos. Suas tentativas são feitas no sentido de deturpar o próprio conceito de átomo ou de partícula "elementar”, declarando que são construções auxiliares, etc.

Um dos modernos adeptos do machismo, o físico idealista fascistizante Jordan, tenta ressuscitar as concepções anticientíficas de seus mestres de filosofia. Escreve que

"o átomo que conhecemos (...) é desprovido de qualquer qualidade sensível e se caracteriza apenas por um sistema de fórmulas matemáticas.'' Continua: "O átomo e apenas uma carcaça para a classificação de fatos experimentais."

Eddington declara inexistentes as partículas "elementares” estudadas pela física moderna. Segundo Eddington, elas não passam de "portadores conceituais (da palavra conceito) de uma série de modificações.”

Na realidade, a ciência, moderna possui conhecimentos mais profundos no domínio da estrutura atômica da matéria, do que acontecia, por exemplo, no século XIX. Descobriu a inesgotável riqueza das formas da matéria, a complexidade de sua estrutura atômica, a irredutibilidade da matéria a quaisquer elementos absolutamente simples e invariáveis. Todos os resultados alcançados pela ciência moderna confirmam a justeza do materialismo dialético que, ao contrário do materialismo metafísico, nega a existência de quaisquer elementos imutáveis na base de todos os fenômenos da natureza, nega a existência da "invariável essência das coisas.” Lênin escreve:

"Segundo Engels, só é imutável o reflexo, na consciência humana (quando ela existe), do mundo exterior que existe e se desenvolve foi-a dela."(21)

O desenvolvimento da física soviética, da mesma forma que o desenvolvimento de outros setores da ciência soviética, encontra-se sob a influência da filosofia materialista avançada. Os princípios materialistas servem de segura arma na luta contra o idealismo "físico” que frequentemente penetra no próprio conteúdo das teorias físicas. As teses do materialismo dialético sobre a materialidade do mundo servem de fundamento teórico para o desenvolvimento das teorias gerais da física sobre a matéria e o movimento. Ajudam a analisar e generalizar profundamente os dados experimentais da física moderna e a tirar deles conclusões que fazem a ciência progredir.

O processo de conhecimento da matéria em movimento é infinito e a ciência aprofundará continuamente nossos conhecimentos sobre a matéria, fornecendo um quadro cada vez mais completo e aperfeiçoado da estrutura da matéria e das leis de seu movimento e desenvolvimento.

O Movimento, Modo de Existência da Matéria

O movimento é o modo fundamental de existência da matéria, propriedade inerente à matéria. O movimento da matéria é sua transformação contínua e incessante. A matéria é inconcebível em formas estagnadas; nenhuma coisa material pode existir sem participar desta ou daquela forma de movimento.

Ao contrário do idealismo e da metafísica que negam o movimento da matéria, considerando que o movimento da matéria é provocado por forças imateriais, pelo impulso divino, o materialismo filosófico marxista considera o movimento como modo de existência da matéria e procura na própria matéria a origem do movimento.

Engels afirma:

"O movimento, considerado no mais amplo sentido da palavra, concebido como modo de existência da matéria, como atributo a ela inerente, abrange todas as transformações e processos que se verificam no universo, da simples mudança de lugar ao pensamento."(22)

As tentativas de desligar o movimento da matéria, de considerar o movimento sem matéria, o movimento como tal, levam ao idealismo. Lênin afirma:

"(...) desligar o movimento da matéria é equivalente a desligar o pensamento da realidade objetiva, a desligar minhas sensações do mundo exterior, em outras palavras, passar ao idealismo."(23)

"Esse idealista nem por um só instante pretenderá negar que o mundo é movimento; movimento de seus pensamentos, de suas ideias, de suas sensações. A pergunta de que se move? será por ele rejeitada como absurda; meus pensamentos, dirá, sucedem-se e desaparecem, minhas representações mentais aparecem e desaparecem, e é só. Fora de mim nada há. Movimento, e basta.”(24)

Ostwald pregou em sua época a separação idealista entre o movimento e a matéria. Grande químico, porém mau filósofo, como o chamou Lênin, Ostwald tentou reduzir todos os fenômenos da natureza à energia "pura”. Criando a confusa concepção filosófica do energetismo que pretendia elevar-se "acima” do materialismo e do idealismo, "superar” sua oposição, Ostwald desenvolveu, em essência, uma nova variante da filosofia subjetiva e idealista. Escreveu ele:

"A explicação mais simples do fato de que todos os fenômenos exteriores possam ser representados como processos que se realizam entre as energias é a de que os próprios processos de nossa consciência são energéticos e comunicam (aufprägen) esta qualidade a todas as experiências exteriores."

V. I. Lênin observa a respeito:

"Puro idealismo! Não é nosso pensamento que reflete a transformação da energia no mundo exterior, mas o mundo exterior é que reflete a 'qualidade’ de nossa consciência!"(25)

Em oposição a todas as variedades do idealismo, que separam o movimento da matéria, o materialismo filosófico marxista considera os aspectos qualitativamente peculiares do movimento como formas básicas de existência de objetos materiais qualitativamente peculiares.

O movimento da matéria tem as formas mais variadas: o simples deslocamento no espaço, os diferentes fenômenos físicos, as transformações químicas, os processos inerentes aos organismos vivos, o movimento que caracteriza os fenômenos sociais. O estudo das diferentes formas de movimento da matéria significa o estudo das diferentes formas da própria matéria.

As diferentes ciências estudam as diferentes formas de movimento da matéria. A mecânica estuda a forma mais simples do movimento da matéria, a forma mecânica, ocupa-se do estudo do deslocamento dos corpos no espaço.

A forma física do movimento da matéria é constituída pelo movimento atômico-molecular, pelos processos eletromagnéticos, pelo movimento intra-atômico e intranuclear, etc. A forma química do movimento da matéria inclui os processos de combinação e de dissociação dos átomos e moléculas e as leis da estruturação das mais diferentes combinações orgânicas e inorgânicas. A vida orgânica, objeto de pesquisa das ciências biológicas, distingue-se por uma diversidade ainda maior de formas.

Qualquer que seja a forma de movimento da matéria que consideremos, qualquer que seja a diversidade dos tipos de movimento que contenha esta ou aquela forma concreta do movimento, todos eles representam a indissolúvel unidade entre objetos materiais qualitativamente peculiares e as correspondentes formas de movimento qualitativamente peculiares. O movimento mecânico acha-se indissoluvelmente ligado aos corpos que se deslocam no espaço. Os diferentes fenômenos físico-químicos são formas específicas do movimento peculiares às moléculas, átomos, partículas "elementares", campos.

Segundo a definição de Engels, a vida, como forma particular do movimento da matéria, é o modo de existência dos corpos albuminoides. Assim, o movimento, sendo forma de existência da matéria, é inseparável dos próprios objetos materiais.

A indissolubilidade entre a matéria e o movimento manifesta-se também em que as propriedades de corpos materiais concretos só se revelam em seus movimentos específicos. Não se pode dizer absolutamente de um corpo que não se encontre em movimento, porque tal corpo não existe. A natureza dos corpos em movimento, suas particularidades qualitativas, decorrem das correspondentes formas de movimento.(26) A natureza dos átomos dos elementos químicos, por exemplo, é determinada pela forma específica de movimento cujas leis são estudadas pela moderna física atômica. No campo da biologia, igualmente, pode observar-se a indissolúvel ligação e a interdependência entre as formas orgânicas materiais e as correspondentes formas biológicas de movimento. Se considerarmos, por exemplo, os diversos órgãos dos organismos vivos, verificaremos que sua estrutura, suas particularidades morfológicas concretas, em uma palavra, sua natureza biológica, é inteiramente determinada pelas funções que realizam no processo da vida orgânica.

Ao contrário das concepções mecanicistas e metafísicas, o materialismo filosófico marxista ensina que as diferentes formas do movimento da matéria não podem ser reduzidas a nenhuma forma "bastante simples” do movimento. O processo de complicação dos objetos materiais verifica-se em ligação indissolúvel com a complicação das formas do movimento da matéria.

Os processos de passagem de uma forma de movimento a outra possuem particularidades específicas. Dentro dos limites dos fenômenos físico-químicos ocorrem transformações das formas de movimento em que, por exemplo, a forma eletromagnética de movimento em determinado processo concreto desaparece, transformando-se em movimento mecânico. Este processo verifica-se no motor elétrico, por exemplo, onde o ininterrupto afluxo de energia elétrica assegura o contínuo movimento giratório da bobina do motor elétrico. Basta que cesse esse afluxo para cessar a rotação. Por conseguinte, neste caso se verifica a total transformação da forma eletromagnética de movimento em forma mecânica (evidentemente, uma parte relativamente insignificante de energia vai para os diferentes gêneros de perdas improdutivas, transforma-se em outras formas de energia).

Consideremos outro exemplo — a queda de uma pedra de certa altura. Neste caso, ao consumar-se a queda o movimento mecânico da pedra desaparece, transformando-se no movimento atômico-molecular do meio ambiente, cuja temperatura se eleva.

O aparecimento de formas mais complexas do movimento da matéria, da forma química ou da biológica, por exemplo, está ligado a todo um complexo de transformações no qual as formas mais simples de movimento não desaparecem, mas se conservam como formas acessórias que coexistem com a forma mais complexa. A forma química de movimento, por exemplo, inclui como formas subordinadas, o movimento mecânico, os processos eletromagnéticos e outras formas mais simples do movimento, embora não se reduza a elas.

As ciências naturais, particularmente a física, fornecem uma notável fundamentação científico-natural da tese filosófica a respeito do caráter inseparável do movimento e da matéria.

A lei da conservação e da transformação da energia serve de base científico-natural para a tese do materialismo filosófico marxista sobre a ligação indissolúvel que existe entre a matéria e o movimento. A lei da conservação e da transformação da energia expressa a transformação qualitativa das formas de movimento da matéria com a conservação quantitativa do movimento. Revela que 0 movimento está estreitamente ligado à matéria, que o movimento é uma forma de existência da matéria. Engels ressalta que o principal na lei da conservação e da transformação da energia é que ela expressa as transformações qualitativas das próprias formas de movimento da matéria. Juntamente com a descoberta desse fato, escreve Engels, "apaga-se a última lembrança do criador do mundo.”(27)

Expressando a transformação recíproca das formas de movimento da matéria, a lei da conservação e da transformação da energia é uma sólida conquista da ciência. Todas as descobertas científicas posteriores confirmaram, aprofundaram e ampliaram as ideias a respeito da ação dessa lei. Assim, por exemplo, a física moderna descobriu a estreita ligação entre a energia e a massa. A massa é uma das mais importantes propriedades físicas de todas as formações materiais e representa a expressão de sua inércia. Posto que a velha física, a física clássica, tratava de velocidades do movimento relativamente pequenas, não revelava a massa sua dependência em relação ao movimento do como. A física moderna estabeleceu que a massa do corpo modifica-se de acordo com a velocidade do movimento; a massa é tanto maior quanto maior é a velocidade do corro. Verificou-se, assim, que a massa, como uma das propriedades básicas do objeto material, depende das condições do movimento desse objeto e, por conseguinte, da energia.

A conexão mutua entre a massa e a energia foi revelada pela primeira vez ao estudarem-se os fenômenos luminosos. Essa conexão mútua já decorria das notáveis experiências realizadas pelo físico russo P. N. Lebedêiev, que provou a existência da pressão da luz. A lei da conexão mútua entre a massa e a energia (E = mc2), descoberta pela física moderna, significa que qualquer objeto material, que possua massa desta ou daquela natureza, possui necessariamente o tipo de energia correspondente. E, vice-versa, o objeto material, possuidor de uma reserva desta ou daquela espécie de energia, necessariamente possui a massa correspondente.

Os físicos consideram, por vezes, essa lei como uma pretensa prova da transformação da massa em energia e às vezes vão ainda mais longe e afirmam que a substância e até mesmo a matéria se transformam em energia.

A. Einstein, por exemplo, que afirmou ter Mach exercido influência decisiva na formação de sua concepção filosófica do mundo, em muitos de seus trabalhos considera a massa e, por conseguinte, a matéria, como partícula de energia. Outros físicos burgueses repetem, de diferentes maneiras, esses argumentos idealistas de Einstein, vendo na lei da conexão mútua entre a massa e a energia uma "refutação” do materialismo.

O físico K. Darrow, por exemplo, referindo-se à desintegração do urânio, afirma em seu livro Energia Atômica:

"É um processo que reside na transformação de grandes quantidades de matéria em algo que não é matéria’’.

Referindo-se à formula de Einstein, K. Chase afirma:

"Atualmente, a matéria, falando-se com precisão, é uma forma de energia.”

Essa interpretação é um dos métodos do idealismo "físico” moderno, que visam a deturpar o conteúdo das novas descobertas da física. Na realidade, da lei da conexão mútua entre a massa e a energia de forma alguma decorre a transformação da massa, e muito menos da matéria, em energia. A lei da conexão mútua entre a massa e a energia significa que duas propriedades essenciais da matéria estão indissoluvelmente ligadas uma a outra. Essa indissolúvel ligação entre a massa e a energia comprova que a transformação qualitativa das formas físico-químicas do movimento da matéria se processa conservando as propriedades básicas dos objetos materiais. A energia é a medida do movimento da matéria. A indissolúvel ligação entre a massa e a energia comprova a indissolúvel ligação da matéria e do movimento.

Todos os resultados da ciência moderna demonstram à saciedade o caráter reacionário e anticientífico de todas as considerações idealistas a respeito da origem especial, imaterial, do movimento, origem que estaria fora da matéria.

A própria matéria traz em si a origem do movimento. As coisas materiais só existem em movimento, transformação e desenvolvimento. O movimento é a incessante transformação das coisas materiais e dos fenômenos, é a forma fundamental de sua existência.

O Espaço e o Tempo Formas Objetivas da Existência da Matéria

O espaço e o tempo são formas objetivas inseparáveis de existência da matéria. O reconhecimento da realidade objetiva do espaço e do tempo decorre do reconhecimento da materialidade do mundo.

"Reconhecendo a existência da realidade objetiva, isto é, da matéria em movimento, independentemente de nossa consciência, o materialismo é inevitavelmente levado a reconhecer também a realidade objetiva do tempo e do espaço (...).”(28)

O movimento, o espaço e o tempo, como formas fundamentais de existência da matéria, encontram-se em unidade orgânica indissolúvel, condicionada pela unidade do mundo material.

A matéria é inconcebível sem movimento e o movimento da matéria sempre se processa no espaço e no tempo. Por isso, o espaço e o tempo são tão inseparáveis da matéria como o movimento. Não há objeto material que não tenha extensão e não exista no tempo. Engels afirma:

"(...) O espaço e o tempo são as formas essenciais de toda existência; a existência fora do tempo é um absurdo tão monstruoso quanto a existência fora do espaço.”(29)

Lênin afirma:

"O mundo não passa de matéria em movimento e a matéria em movimento não pode mover-se senão no espaço e no tempo.”(30)

O espaço é a forma de ser da matéria que caracteriza a extensão dos objetos materiais. Não há espaço em si, desligado das coisas materiais e vazio de matéria. Não é também o espaço uma pura extensão, desprovida de qualidade. Caracteriza-se por propriedades específicas, que dependem dos próprios objetos materiais. Todo objeto material possui suas relações espaciais. O sistema solar tem suas relações espaciais específicas, o cristal outras, o átomo outras. No sistema solar, por exemplo, os planetas se movimentam em elipses, num de cujos focos encontra-se o Sol. Essas curvas geométricas caracterizam as relações espaciais específicas dos corpos do sistema solar. Nos cristais, os átomos estão dispostos numa ordem espacial perfeitamente definida, característica do cristal considerado. A variedade na disposição espacial dos átomos na rede cristalina exerce influência sobre suas propriedades físicas. No átomo, os elétrons, movendo-se segundo leis particulares estudadas pela mecânica dos quanta, constituem uma nuvem eletrônica no espaço que circunda o núcleo do átomo. Assim, a essência do espaço é revelada pelo estudo de determinadas formas do movimento dos objetos materiais.

A essência do tempo como forma fundamental de existência da matéria também se revela no movimento da matéria. O tempo pressupõe coisas em movimento. O tempo é a forma de ser da matéria que caracteriza a sucessão dos processos materiais. O movimento e o desenvolvimento da matéria só podem dar-se no espaço e no tempo. O tempo é a condição básica de todo desenvolvimento.

Tudo existe no tempo, porque nada no mundo se encontra em repouso, tudo está subordinado ao movimento e à transformação. Por outro lado, não há tempo sem coisas materiais em transformação. Os idealistas desligam o tempo da matéria e o consideram como existente antes das coisas materiais.

O idealismo nega a objetividade do espaço e do tempo e chega às ideias absurdas de que o espaço e o tempo são criados pela consciência humana.

Berkeley, por exemplo, considera o espaço e o tempo como formas de impressões subjetivas. Segundo Kant, o espaço e o tempo são formas a priori (independentes da experiência) da percepção sensível do mundo pelo homem. Essas formas não são inerentes às próprias coisas, mas são pretensas formas primordiais da contemplação subjetiva "pura”, isto é, privada de qualquer significação material. Segundo Kant, o espaço e o tempo não são condicionados pela natureza das próprias coisas, mas pela natureza da consciência humana. Para Hegel o espaço e o tempo são momentos no desenvolvimento da "ideia absoluta”. Hegel desliga o espaço do tempo. Segundo Hegel, a natureza não' tem desenvolvimento no tempo e apenas desdobra sua diversidade no espaço. No sistema hegeliano o tempo é apresentado apenas como grau de desenvolvimento do “espírito absoluto”. A separação metafísica entre o espaço e o tempo levou Hegel a uma total contradição com as ciências naturais, à concepção absurda de que a natureza se desenvolve no espaço, mas fora do tempo.

Ao abordar o problema do espaço e do tempo os machistas pregavam o mesmo absurdo idealista: não é o homem que existe no espaço e no tempo, mas o espaço e o tempo é que são criados pelo homem. Mach, continuando a linha idealista subjetiva no abordar o problema do espaço e do tempo, declarou que

"o espaço e o tempo são sistemas ordenados das séries de sensações”.

Repetindo Mach, o machista Bogdânov afirmava que o espaço e o tempo são formas de "coordenação da experiência social” dos homens.

V. I. Lênin revelou a inconsistência das "teorias” machistas, subjetivistas e idealistas, sobre o espaço e o tempo. Lênin escreveu:

"Se as sensações de tempo e de espaço podem dar ao homem uma orientação biologicamente útil, isso se dá exclusivamente sob a condição de refletirem a realidade objetiva exterior ao homem: o homem não poderia adaptar-se biologicamente ao meio se suas sensações não lhe dessem uma ideia objetivamente exata sobre o mesmo."(31)

O idealismo moderno tenta ressuscitar as concepções subjetivas e idealistas sobre o espaço e o tempo. Já no começo do século XX, Bergson apresentou a ideia mística da "extensão” pura, inteiramente desligada da matéria e compreendida apenas por meio da intuição. J. Jeans repetiu, em essência, a interpretação kantista do tempo: segundo J. Jeans,

"o tempo é uma ficção criada pela nossa própria razão."

Eddington afirma que o espaço e o tempo devem ser substituídos por ideias subjetivas mais gerais sobre a sistematização dos fatos da natureza. H. Weil fornece uma nova variante da interpretação subjetiva e idealista do tempo. Diz ele:

"O tempo é a forma mais simples da torrente da consciência."

Os físicos burgueses Bohr e Heisenberg propõem que rejeitemos ou o estudo das causas dos fenômenos atômicos ou sua análise no espaço e no tempo.

Ao contrário do idealismo, o materialismo filosófico marxista reconhece, em perfeito acordo com as ciências naturais, a objetividade do espaço e do tempo, sua indissolúvel conexão mútua, bem como sua conexão com a matéria em movimento.

A interpretação científica do espaço e do tempo sempre partiu do reconhecimento da realidade objetiva do espaço e do tempo. Na mecânica de Newton o espaço e o tempo eram considerados como existentes objetivamente, independentemente das concepções que os homens tinham a respeito. Ao desenvolver, porém, sua mecânica, baseada no reconhecimento da objetividade do espaço e do tempo, Newton formulou a concepção do espaço "absoluto”, que sempre permaneceria idêntico e imóvel e seria independente dos objetos materiais. De maneira análoga, também o tempo, segundo Newton, transcorre de maneira absolutamente uniforme e não depende absolutamente do movimento da matéria.

Essa limitação histórica da doutrina de Newton sobre o espaço e o tempo, limitação que decorria de desligar Newton o espaço e o tempo dos objetos materiais, foi superada pelo desenvolvimento posterior da ciência. A física moderna revela concretamente a indissolúvel conexão entre o espaço e o tempo. A física moderna confirma a tese de que não se pode considerar o tempo como pura duração, absolutamente desligada dos processos materiais. O correr do tempo revela sua estreita dependência em relação ao movimento dos objetos materiais. Essa dependência foi diretamente confirmada pela experiência. A pesquisa das partículas "elementares” chamadas mésons, a que já nos referimos, demonstrou que os mésons existem durante um tempo extremamente curto, depois do que se desintegram, e transformam-se em outras partículas. Constatou-se que o tempo de existência dos mésons, ou, como se costuma dizer em física, seu tempo de vida, depende essencialmente da velocidade de seu movimento. As experiências demonstraram que o tempo de vida do méson aumenta com o aumento da velocidade do movimento. A física moderna demonstrou também a conexão indissolúvel e a interdependência entre as características espacial e temporal do corpo em movimento.

A análise das formas espaciais constitui o conteúdo da geometria, que considera as relações espaciais entre as coisas, abstraindo-se das próprias coisas. A geometria, como ciência que estuda as relações espaciais das coisas do mundo exterior, resulta de um prolongado trabalho de abstração do pensamento humano.

Ainda na antiguidade foi criada a geometria de Euclides. As teses básicas da geometria euclidiana integraram solidamente o sistema de conhecimentos científicos sobre as relações espaciais dos objetos materiais. Na geometria euclidiana, o espaço é absolutamente homogêneo, sem curvatura e possuidor de três dimensões. O caráter tridimensional do espaço se expressa em que através de cada ponto do espaço podem ser traçadas três e somente três retas perpendiculares entre si. Essas três retas perpendiculares entre si e que podem ser traçadas a partir de qualquer ponto do espaço têm a denominação de eixo das coordenadas.

Todos os objetos materiais existem no espaço tridimensional. Por maiores ou menores que sejam os objetos do mundo objetivo, seu movimento só se pode verificar no espaço real de três dimensões. Lênin afirma:

"As ciências naturais não se atrasam, devido a que a matéria que elas estudam só existe no espaço de três dimensões e que, por conseguinte, também as partículas dessa matéria, por mais ínfimas que sejam, a ponto de se tornarem invisíveis para nós, existem necessária- mente no mesmo espaço de três dimensões."(32)

Os conhecimentos científicos sobre o espaço modificam-se e enriquecem-se constantemente. Desde a época do aparecimento da geometria de Euclides esses conhecimentos passaram por consideráveis modificações.

Em 1928-1929, o grande matemático russo N. I. Lobatchevski criou uma nova geometria não-euclidiana, que reflete, de maneira mais precisa e profunda as propriedades do espaço real e de sua ligação com a matéria. A geometria de Lobatchevski revelou a limitação da geometria euclidiana, e patenteou que a geometria de Euclides não passa da primeira aproximação do espaço real nos limites das dimensões da Terra.

Ao criar uma nova geometria, não-euclidiana, Lobatchevski partiu de importante tese materialista sobre a indissolúvel ligação do espaço com a matéria, sobre o papel determinante da matéria em relação às propriedades do espaço.

No sistema da geometria de Euclides há o "postulado das paralelas”, que pode ser formulado da seguinte maneira: por um ponto exterior a uma reta, só é possível traçar uma paralela a essa reta. Analisando as bases teóricas da geometria, Lobatchevski chegou à conclusão de que, de acordo com as diferentes condições físicas, podem existir geometrias diferentes da geometria euclidiana, nas quais o postulado das paralelas não é válido, ou, mais exatamente, assume outro aspecto.

Pesquisando as diferentes possibilidades das relações geométricas, Lobatchevski chegou a um novo postulado: por um ponto determinado pode-se fazer passar, em relação a determinada reta e num plano comum, no mínimo duas paralelas. Lobatchevski desenvolveu logicamente um harmonioso sistema da nova geometria, sistema que se distingue consideravelmente do sistema anterior dos conhecimentos geométricos. Se, por exemplo, na geometria de Euclides a soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a dois ângulos retos, já na geometria de Lobatchevski essa soma dos ângulos do triângulo é menor do que dois retos.

Esses extraordinários resultados, que contradizem a geometria de Euclides, são difíceis de serem evidenciados justamente porque nos valemos das relações geométricas nos limites das dimensões da Terra, limites dentro dos quais a geometria de Euclides é justa. A veracidade da nova geometria só pode ser experimentalmente revelada nas dimensões astronômicas do universo. Algumas comprovações da veracidade da geometria de Lobatchevski podem ser conseguidas também nas condições de nosso espaço terrestre, euclidiano. Para isso é necessário tomar superfícies particulares, em forma de sela, que têm a denominação de pseudoesferas. Na pseudoesfera pode verificar-se a justeza da geometria (mais exatamente, planimetria) de Lobatchevski e, em particular, evidenciar a exequibilidade do postulado segundo o qual, por determinado ponto fora de uma reta, pode-se fazer passar no mínimo duas linhas paralelas.

Os idealistas subjetivos tentaram e tentam valer-se da variabilidade de nossos conhecimentos sobre o espaço e o tempo para fundamentar suas "teorias” idealistas. O físico idealista francês A. Poincaré declara que o nascimento de novas geometrias significa que nossa razão é capaz de construir, de maneira inteiramente arbitrária, os sistemas geométricos que quisermos.

Na realidade, porém, as novas concepções do espaço e do tempo, criadas por Lobatchevski, não revogam as velhas concepções: apenas as tornam mais precisas e as enriquecem. Refletindo as propriedades reais do espaço, a geometria de Lobatchevski é um desenvolvimento da geometria de Euclides e a incorpora como caso particular. A velha geometria continha uma partícula da verdade absoluta, que se incorporou à nova geometria que é mais geral e que reflete de maneira mais completa as propriedades do espaço infinito. A geometria de Euclides continua a ser justa nas condições das dimensões terrestres, como primeira aproximação das propriedades do espaço real. Os desvios da geometria euclidiana em relação à geometria de Lobatchevski são tão insignificantes nas condições da Terra que, dentro desses limites, a geometria de Euclides foi e continua sendo a base geométrica da física e das ciências técnicas.

A grande descoberta de Lobatchevski desferiu tremendo golpe no apriorismo de Kant. Os conceitos básicos da geometria de Euclides, existente há mais de dois mil anos, adquiriram a aparência de verdades absolutas, independentes da experiência, da prática. Desenvolvendo sua doutrina subjetiva e idealista do espaço e do tempo como formas a priori da sensibilidade, Kant referia-se ao "caráter absoluto”, à estabilidade dos axiomas geométricos. A criação da geometria não-euclidiana demonstrou, de maneira convincente, que as formas espaciais são formas inerentes às próprias coisas, e não à razão humana. As novas ideias sobre o espaço, da geometria não-euclidiana, significam uma aproximação ainda mais completa de nossos conhecimentos em relação à verdade absoluta.

Ao contrário do espaço, que tem três dimensões, o tempo possui direção única. O tempo é irreversível. O passado e o futuro não podem trocar de lugares. A irreversibilidade do tempo decorre do desenvolvimento progressivo da matéria no processo da modificação histórica das formas de seu movimento.

As propriedades do espaço e do tempo são inesgotáveis. A compreensão mais profunda dessas propriedades pela geometria de Lobatchevski preparou a modificação das concepções físicas sobre o espaço e o tempo. A física moderna demonstra que as propriedades do espaço estão indissoluvelmente ligadas aos fenômenos da gravitação, inerentes à matéria. A nova física torna mais precisas, assim, as concepções do espaço e do tempo defendidas pela velha física.

Partindo dessas novas conquistas da ciência, os sábios burgueses chegam a conclusões reacionárias e idealistas. Abordando de maneira idealista os resultados das modernas pesquisas no domínio da física, Einstein e, particularmente os que especulam com suas descobertas, chegam a afirmar o caráter finito do mundo no espaço e no tempo, tentam demonstrar "cientificamente” a criação do mundo por Deus e calculam que o mundo foi criado há cerca de 2 bilhões de anos, etc.

O espaço e o tempo são infinitos. A matéria é infinita no espaço e existe eternamente no tempo. O caráter infinito do espaço significa a ilimitada extensão do mundo em todos os sentidos. O universo não tem fronteiras nem em cima nem em baixo, nem à direita nem à esquerda, nem para a frente nem para trás. O caráter infinito do tempo significa que o mundo material sempre existiu, que nunca houve começo do mundo e seu desenvolvimento nunca terá fim. Certas formas da matéria serão substituídas por outras, mas o mundo material é, em seu todo, indestrutível, eterno.

As conquistas alcançadas pela ciência moderna comprovam o caráter infinito do mundo material no espaço e no tempo. Nossa Terra é um dos planetas do sistema solar. O Sol é apenas uma entre as bilhões de estrelas que constituem o gigantesco sistema estelar chamado a Via Láctea. As dimensões de nossa Via Láctea atingem, em seu diâmetro, de 80 a 100 mil anos-luz (1 ano-luz equivale à distância percorrida pela luz durante um ano). Muito além dos limites de nossa Via Láctea há uma infinita quantidade de outros sistemas estelares semelhantes, os quais, em conjunto, constituem um sistema ainda mais vasto, chamado Meta-Via-Láctea. À medida que se aperfeiçoam os instrumentos astronômicos e os métodos de observação, descobrem-se novos e novos mundos estelares e se pesquisam regiões cada vez mais distantes do espaço universal.

As ideias científicas a respeito do espaço e do tempo modificam-se e tornam-se mais precisas com o desenvolvimento da ciência. A descoberta de novas propriedades do espaço e do tempo não pode, porém, abalar a sólida tese materialista de que o espaço e o tempo existem objetivamente, são formas de existência da matéria. Lênin afirma:

"A inconstância das concepções humanas a respeito do espaço e do tempo não refuta a realidade objetiva de um e de outro, do mesmo modo que a variabilidade dos conhecimentos científicos sobre a estrutura e as formas do movimento da matéria não refuta a realidade objetiva do mundo exterior.''(33)

Os resultados alcançados hoje pelas ciências naturais confirmam mais uma vez a doutrina do materialismo dialético sobre o caráter objetivo do espaço e do tempo, uma vez mais nos convencem de que o mundo material sempre foi, é e será a matéria em eterno movimento e em eterno desenvolvimento e que existe no espaço e no tempo.

As Leis do Desenvolvimento da Matéria em Movimento

As leis da matéria em movimento são conexões essenciais, objetivamente reais entre os objetos e os fenômenos, conexões inerentes à natureza da própria matéria. O camarada Stálin afirma:

"(...) a conexão mútua e a interdependência entre os fenômenos, revelados pelo método dialético, são as leis do desenvolvimento da matéria em movimento (...)”.(34)

As leis do desenvolvimento da matéria existem objetivamente e expressam relações independentes da consciência humana, relações entre as próprias coisas e processos e que decorrem de sua natureza.

A ciência é, pelo seu conteúdo, um reflexo dessas leis. Toda tentativa de negar as leis objetivas da matéria em movimento é uma tentativa de minar as próprias bases do conhecimento científico. V. I. Lênin afirma:

"Expulsar da ciência as leis é, na realidade, introduzir nela as leis da religião."(35)

Ao contrário, o reconhecimento da objetividade das leis da natureza importa em afirmar a capacidade de a ciência conhecer cada vez mais completamente essas leis. Insistindo sobre o caráter objetivo das leis da natureza, refletidas em nosso conhecimento, o materialismo dialético ressalta assim a tarefa básica da ciência — conhecer e revelar em seus conceitos e leis essas leis objetivas. V. I. Lênin afirma:

"(...) A ideia da causalidade, da necessidade, da lei, etc., é o reflexo, na cabeça do homem, das leis da natureza (...).(36)

As leis mais gerais do desenvolvimento da matéria são formuladas pelo materialismo dialético como leis universais do movimento, da transformação e do desenvolvimento da natureza, da sociedade e do pensamento humano. Essas leis são as leis da dialética materialista, que é a doutrina mais completa e profunda a respeito do desenvolvimento. Cada ciência estuda as leis específicas peculiares às formas qualitativamente diferentes do movimento da matéria. As leis do desenvolvimento dos organismos vivos, por exemplo, são reveladas pela ciência biológica mitchuriniana. As leis dos fenômenos sociais foram pela primeira vez reveladas pela doutrina de Marx, Engels, Lênin e Stálin.

Analisando as leis objetivas do desenvolvimento da matéria, convencemo-nos de que nenhum fenômeno da natureza surge ou desaparece independentemente da causa que condicionou seu surgimento ou desaparecimento. A conexão causal entre os fenômenos manifesta-se como importante característica de qualquer conexão regular. Para se descobrir as leis do desenvolvimento dos objetos e dos fenômenos da natureza é necessário esclarecer as relações causais entre esses objetos e fenômenos. Engels afirma:

"Para compreender os fenômenos tomados isoladamente, devemos destacá-los da interdependência universal e considerá-los isoladamente; mas então os movimentos que se sucedem apresentam-se um como causa, outro como efeito."(37)

O idealismo nega a existência de conexões causais objetivas. O leitmotiv da moderna filosofia e da sociologia reacionárias da burguesia é a negação da causalidade e, por conseguinte, a negação das leis objetivas da natureza e da sociedade. Os modernos cientistas reacionários, os sábios e filósofos da burguesia, tentam extirpar da ciência os conceitos lei e causalidade, frequentemente apoiando-se em suas considerações anti- científicas nas elucubrações subjetivas e idealistas de Hume e Kant.

O filósofo inglês Hume, como idealista subjetivo e agnóstico, negava a própria possibilidade da existência de conexões causais objetivas na natureza. Declarava que o fato de um fenômeno se seguir a outro não fornece fundamento para afirmar-se a ligação causal entre eles. Deturpando o processo real do conhecimento humano, Hume tentou atribuir a concepção da causalidade ao simples hábito de a humanidade sempre observar um acontecimento em seguida a outro. Hume chegou a negar a causalidade alegando que da simples observação de que uns fenômenos se seguem a outros não se pode chegar à conclusão de que entre eles exista conexão causal objetiva.

Na realidade, porém, o homem chega a conhecer as relações causais entre os objetos e fenômenos não porque observe a simples sequência dos acontecimentos. As conclusões ingênuas e fantásticas sobre a ligação causal na base da comparação dos fatos observados caracteriza os períodos iniciais da história da humanidade. Nessa época o desenvolvimento insuficiente da prática social e histórica e o domínio da concepção religiosa e mística do mundo não permitiam descobrir as reais conexões causais entre os fenômenos da natureza, e a simples sequência dos fenômenos era frequentemente interpretada como relação causal.

É, por exemplo, sabido, que os sacerdotes egípcios observavam que o Nilo começava a transbordar após o aparecimento da estrela Sírius entre os raios da aurora. Essa observação serviu de fundamento para as ideias astrológicas anticientíficas a respeito da influência direta dos corpos celestes sobre os acontecimentos terrenos. Na realidade, esses dois fenômenos não se encontram em relação de causa e efeito. O aparecimento da estrela Sírius e o transbordamento do Nilo são dois acontecimentos que se repetem e coincidem no tempo, mas cada um deles é provocado por conexões específicas e regulares.

Na verdade, a descoberta das conexões causais objetivas não se verifica como resultado da simples observação da sequencia dos acontecimentos (embora a sequência dos acontecimentos represente importante papel no estabelecimento das ligações causais), mas como resultado da atividade prática:

"(...) graças à atividade do homem é que se chegou à ideia da causalidade (...)”(38)

Ao afirmar o mundo incognoscível das "coisas em si”, Kant também negava a existência, na natureza, de conexões causais e objetivas. A causalidade, segundo Kant, é uma forma a priori da razão humana, forma na qual a razão coloca os fenômenos percebidos. Essa forma, segundo Kant, é dada à razão humana antes de qualquer experiência e serve para a sistematização das percepções humanas.

Hume e Kant deturparam de maneira subjetiva e idealista as ligações reais e objetivas entre os objetos e fenômenos da natureza. Submetendo a uma crítica aniquiladora as concepções subjetivas e idealistas da filosofia de Mach, V. I. Lênin escreveu em seu livro Materialismo e Empirocriticismo:

"A tendência subjetiva se reduz, na questão da causalidade, ao idealismo filosófico (entre cujas variedades se incluem as teorias da causalidade de Hume e de Kant) (...)”.(39)

Considerando de maneira idealista a causalidade, Mach afirmava que todas as formas de causalidade decorrem de propensões subjetivas. Procurou extirpar da ciência o próprio conceito de causalidade e substituí-lo pelo conceito matemático da correlação funcional. Na natureza não existe causa nem efeito, declarou ele. Desmascarando Mach, V. I. Lênin escreve:

"A questão realmente importante da teoria do conhecimento, a que divide as correntes filosóficas, não reside em saber-se que grau de precisão alcançaram nossas descrições das conexões causais e se essas descrições podem ser expressas em fórmulas matemáticas precisas, mas em saber-se se a fonte de nosso conhecimento dessas conexões está nas leis objetivas da natureza ou nas propriedades de nossa razão, na faculdade de conhecer certas verdades a priori, etc. Eis o que separa definitivamente os materialistas Feuerbach, Marx e Engels dos agnósticos Avenarius e Mach (discípulos de Hume)."(40)

A moderna filosofia idealista reacionária tenta deturpar as conquistas da ciência e ver nessas conquistas uma "refutação” da causalidade. Eddington, por exemplo, interpretou as conquistas da mecânica dos quanta como nova "prova” do indeterminismo, como negação da causalidade na natureza. Na realidade, porém, a ciência chegou a um conhecimento mais profundo das relações causais do que havia na velha física e confirmou, assim, mais uma vez, a importante tese do materialismo dialético de que a descoberta de uma formulação matemática nova, mais precisa, sobre as conexões causais, não nega absolutamente sua existência objetiva, mas, ao contrário, revela o aprofundamento e a precisão de nossos conhecimentos sobre essas conexões.

Pesquisando as leis da modificação dos elementos quími­cos, a física esclareceu que a transformação de um e1 emento químico em outro verifica-se em consequência da modificação da carga do núcleo. A modificação da carga do núcleo verifica-se, por sua vez, como resultado da saída, do núcleo atômico, por radiação, da partícula-alfa (núcleo do hélio) ou da partícula-beta (elétron) ou como resultado de sua integração pelo núcleo. A ciência nunca se limita à descoberta da conexão causal entre dois fenômenos quaisquer que a interessem. No último exemplo, a física não pode limitar-se a explicar as causas diretas da modificação dos elementos químicos, isto é, da radiação radioativa, e indubitavelmente deve ir mais longe para esclarecer as causas da própria radiação radioativa deste ou daquele átomo do elemento químico. A convicção materia­lista de que na natureza existe, necessariamente, dependência causal entre os objetos e fenômenos desempenha importante papel nesse avanço da ciência no sentido de um conhecimento cada vez mais profundo das leis da modificação dos elementos químicos.

Assim, o conhecimento das conexões causais objetivamente reais entre os objetos e fenômenos do mundo material é con­dição necessária para o conhecimento das leis objetivas do desenvolvimento da natureza e da sociedade, porque a causa­lidade é uma característica importante e inseparável da lei.

As leis do desenvolvimento dos objetos materiais e dos fenômenos da natureza são reveladas pelos diferentes ramos da ciência.

A física estuda as leis do movimento das chamadas partículas “elementares” da matéria, revela as leis que dominam no mundo dos átomos e procura explicar as leis que regem a estrutura do núcleo atômico A física estuda também as leis da formação dos corpos sólidos por átomos e moléculas. A cristalografia (parte da física) descobre as leis do processo de formação dos cristais, corpos sólidos formados por átomos dispostos regularmente e de maneira determinada. Estuda também as leis da disposição dos átomos na rede cristalina. A física, moderna estuda também as leis do movimento peculiares ao campo eletromagnético e procura descobrir as leis peculiares ao campo de gravitação e ao campo intranuclear.

As leis do desenvolvimento dos átomos são reveladas pela lei periódica dos elementos químicos de D. I. Mendelêiev, que está na base de toda a moderna doutrina físico-química sobre a estrutura da matéria.

A astronomia estuda as leis do movimento dos corpos celestes em nosso sistema solar — planetas, cometas e asteroides Estuda os processos que se verificam no Sol e em outras estrelas e descobre as leis do desenvolvimento das estrelas A astronomia trata também das leis da formação e desenvolvimento do nosso sistema solar.

A geologia, ciência da Terra, estuda as leis que atuam na crosta terrestre, a estrutura da Terra e as modificações físico-geográficas que se verificam no decurso de toda a história da Terra. A geologia revela de maneira clara que as leis do desenvolvimento da Terra já existiam antes do aparecimento do homem. Torna-se, assim, patente o caráter objetivo das leis da natureza e golpeia-se a interpretação subjetiva e idealista das leis da natureza.

A biologia estuda as leis objetivas do desenvolvimento da natureza viva. A biologia mitchuriniana parte da convicção de que a conexão mútua e a interdependência entre os orga­nismos vivos e suas condições de existência são leis da forma biológica do movimento da matéria. Os organismos vivos desenvolvem-se segundo suas próprias leis, inerentes à sua própria natureza material, e não necessitam de quaisquer fatores "espirituais” — a "enteléquia”, a "atividade com vista a um fim determinado” e outras ficções idealistas. Ao contrário da interpretação idealista da natureza, a biologia mitchuriniana explica as leis do desenvolvimento dos organismos vivos pela adaptação, que se forma historicamente, dos organismos às condições materiais de sua existência.

É claro que todas as leis descobertas pelas ciências naturais existem objetivamente e são inerentes aos próprios objetos materiais, independentemente de nossa consciência. A ciência reflete essas leis e as descobre na natureza. Todos os setores das ciências naturais estudam as leis objetivas da natureza. O reconhecimento das leis objetivas da natureza serve de importante condição para o desenvolvimento da verdadeira ciência. Insistindo sobre o caráter objetivo das leis da natureza e da sociedade, o materialismo dialético dota o homem com uma potente arma de conhecimento da natureza e da sociedade, arma de atividade dinâmica e consciente em prol do desenvolvimento da sociedade.

A Significação das Teses do Materialismo Filosófico Marxista Sobre a Materialidade do Mundo e as Leis de seu Desenvolvimento para a Atividade Prática do Partido Comunista

Reveste-se de grande importância a extensão das teses do materialismo filosófico ao estudo da vida social e o emprego dessas teses na atividade prática do Partido do proletariado.

A primeira característica do materialismo filosófico marxista aplicado aos fenômenos sociais importa em que a conexão mútua e a interdependência entre os fenômenos da vida social são leis do desenvolvimento da sociedade. Isto quer dizer que

"a vida social e a história da sociedade, deixam de ser um amontoado de fatos ‘fortuitos’, porque a história da sociedade se converte no desenvolvimento da sociedade segundo suas leis, e o estudo da história da sociedade torna-se uma ciência."(41)

Toda a filosofia anterior ao marxismo foi incapaz de compreender as leis reais do desenvolvimento da História. A história da sociedade reduzia-se à simples descrição dos acontecimentos, enquanto as causas do movimento histórico eram procuradas quer nas ações de "sábios legisladores”, quer nas manifestações da "vontade superior". A História transformava-se num amontoado de casualidades e era impossível descobrir qualquer ligação regular entre os fenômenos.

O aparecimento do marxismo foi uma reviravolta radical nas concepções sobre a vida social e a história da sociedade. Lênin afirma que, estendendo o materialismo ao campo dos fenômenos sociais, Marx e Engels acabaram com as concepções da sociedade como agregado mecânico de indivíduos que surgia e era substituído casualmente, e pela primeira vez colocaram a sociologia em bases científicas. A interpretação materialista da História é a única concepção científica da História, sendo sinônimo de ciência social.

O marxismo-leninismo ensina que é preciso procurar a fonte do desenvolvimento social não nas cabeças dos homens, não nas suas boas intenções, mas nas condições da vida material da sociedade, nas leis do desenvolvimento dos modos de produção que se sucedem.

As leis do desenvolvimento da sociedade não dependem da vontade e da consciência dos homens. Formam-se no próprio processo da produção material. Marx afirma:

"Na produção social de sua vida, os homens contraem relações determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, as relações de produção. que correspondem a determinado grau de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais."(42)

A transformação das forças produtivas da sociedade leva à transformação das relações de produção e, por conseguinte, à transformação de todo o modo de produção. A transformação do modo de produção leva à transformação de toda a sociedade.

A moderna sociedade capitalista resultou do desenvolvimento, regido por leis, dos modos de produção anteriores. As crises, o desemprego e as guerras imperialistas — todos esses fenômenos decorrem necessariamente da natureza do próprio modo de produção capitalista. Toda a marcha do desenvolvimento histórico mostra que o capitalismo está condenado à ruína e deve, necessariamente, ser substituído em toda parte por um modo de produção mais progressista, o modo de produção socialista.

A burguesia faz infrutíferas tentativas no sentido de deter a marcha regular da História. Os professores burgueses criam teorias do "capitalismo organizado”. Esquecendo-se das leis objetivas da economia capitalista, inventam diferentes "medidas sensatas” com o objetivo de evitar as crises, que decorrem inevitavelmente da própria natureza do modo de produção capitalista. Propõem o uso de um sistema de planificação estranho à própria natureza do capitalismo.

Na realidade, nenhuma interferência do Estado burguês pode modificar as leis objetivas da economia capitalista. O completo fracasso de alguns políticos da burguesia em suas tentativas de "melhorar” o sistema capitalista em decomposição comprova, uma vez mais, a invencibilidade das leis do desenvolvimento social e faz ressaltar seu caráter objetivo. Em seu Informe ao XVI Congresso do Partido, J. V. Stálin refere-se a esses políticos da burguesia que tentam "prevenir” e até mesmo "acabar” com as crises econômicas:

"Esses senhores esquecem-se de que as crises econômicas são um resultado inevitável do capitalismo.”(43) "(...) Os governos burgueses de todos os tipos e matizes, os políticos burgueses de toda espécie e qualificação, todos, sem exceção, experimentaram suas forças com o objetivo de evitar e abolir as crises. Todos fracassaram, porém. Fracassaram porque não se pode evitar ou abolir as crises econômicas dentro dos limites do capitalismo.”(44)

O marxismo-leninismo ensina que somente o profundo conhecimento das leis objetivas do desenvolvimento social pode permitir a vitória na luta pelo novo regime social. A criação da ciência das leis objetivas do desenvolvimento social deu ao proletariado e a seu Partido uma poderosa arma teórica em sua luta política prática. E por isso que o marxismo, como ciência das leis do desenvolvimento da natureza e da sociedade, da revolução das massas oprimidas e exploradas, da vitória do socialismo em todos os países, da construção da sociedade comunista, desperta o ódio feroz dos apologistas da burguesia reacionária, os modernos filósofos e sociólogos da burguesia.

Tentando justificar a ordem capitalista, a moderna filosofia reacionária da burguesia nega as leis do desenvolvimento social, ataca ferozmente a concepção materialista da História e nega a própria possibilidade de haver uma ciência das leis do desenvolvimento social.

Os modernos sociólogos da burguesia pregam incansavelmente a impossibilidade de conhecerem-se as leis que regem os fenômenos sociais. Tentam convencer as massas populares de que essas leis em geral não existem. Becker, sociólogo reacionário americano, afirma que as leis da sociedade são artificialmente criadas pelos homens, pelos "dirigentes do Estado” e conclama o povo a apo;ar a política agressiva e de usurpação dos senhores de Wall Street.

Negando o caráter objetivo das leis da História, transformando a história da sociedade em caos, em resultado de ações arbitrárias, os sociólogos da burguesia manifestam-se contra as conclusões da ciência social sobre o inevitável colapso do capitalismo. Apregoam as ideias místicas do papel determinante da psique individual na vida social.

"O problema não esta na economia, mas em nossa psique. Modificai vossa consciência e tudo se transformará sem qualquer luta”

— declaram esses reacionários, afirmando que a luta contra o capitalismo é coisa inútil. Com todas as suas elucubrações idealistas esses lacaios dos imperialismos americano e inglês, entregues de corpo e alma ao serviço de seus patrões, procuram enfraquecer a vontade das massas populares de lutar contra a escravidão capitalista, de lutar rela paz, pela democracia e pelo socialismo.

Na moderna sociologia burguesa são cada vez mais divulgadas diferentes concepções "biológicas” sobre os fenômenos sociais, que serviram e servem de fundamentarão "teórica” às "teorias” racistas de ódio à humanidade. J. V. Stálin afirma que a "teoria” racista

"está tão longe da ciência como o céu da terra (...)”.(45)

A "teoria” racista serviu aos fascistas alemães em sua guerra de banditismo contra Os povos livres. Em nossos dias a teoria racista é intensamente propagada na América e serve de justificação ideológica para a preparação da guerra contra a União Soviética e os países de democracia popular. Os racistas louvaram abertamente as "proezas” das forças americanas que desencadeiam uma sangrenta guerra contra a Coreia.

O racismo deturpa as conquistas da antropologia, da etno- grafia, da História, da psicologia e da biologia, nega o caráter específico dos fenômenos sociais e reduz todos os fenômenos sociais à natureza puramente biológica do homem. O sociólogo racista americano Winston declara, por exemplo, que a divisão em classes nas condições da sociedade capitalista é explicada pela hereditariedade. Nesse sentido vale-se do morganismo-mendelismo para "demonstrar” que os imutáveis genes hereditários determinam que este ou aquele homem pertença à classe capitalista, racialmente superior, ou à classe ao proletariado, racialmente inferior. Na realidade, todas essas concepções pseudocientíficas sobre a pretensa natureza biológica, e, por conseguinte, eterna, da divisão da sociedade em classe, nada têm de comum com a verdadeira ciência.

O marxismo-leninismo ensina que as leis do desenvolvimento social não podem ser reduzidas a quaisquer leis mais simples, às leis biológicas, por exemplo.

A biologia não está em condições de explicar porque a sociedade humana, em determinadas épocas do desenvolvimento, é uma sociedade de classes, ou o que define o conteúdo da atividade mental do homem, ou quais são as causas do desenvolvimento histórico, etc. Somente o materialismo histórico responde a essas questões, vendo a base do desenvolvimento histórico nas condições da vida material da sociedade, no modo de produção dos bens materiais.

A concepção materialista da história rejeita radicalmente todas as concepções idealistas e reacionárias. Ao contrário de todas as variedades do idealismo histórico, o materialismo histórico exige que se aborde concreta e historicamente o estudo dos fenômenos sociais, insiste sobre a pesquisa concreta das leis objetivas, inerentes a cada formação econômico-social.

Na sua atividade prática, o Partido do proletariado parte das leis objetivas do desenvolvimento da sociedade, do estudo concreto dessas leis em cada período histórico; o camarada Stálin ensina:

"(...) a atividade prática do Partido do proletariado não se deve" basear nas boas intenções de personalidades ilustres, em postulados da razão, da moral universal, etc., mas nas leis do desenvolvimento da sociedade e no estudo dessas leis."(46)

As leis do desenvolvimento da sociedade são, antes de tudo, leis do desenvolvimento da produção, leis do desenvolvimento econômico da sociedade.

Expondo a primeira particularidade da produção, que consiste em que sempre se encontra em estado de transformação e desenvolvimento, o camarada Stálin afirma que

"o Partido do proletariado, para ser um verdadeiro Partido, deve, antes de tudo, conhecer profundamente as leis do desenvolvimento da produção, as leis do desenvolvimento econômico da sociedade.

Isso quer dizer que, em política, o Partido do proletariado, para não se enganar, deve, antes de tudo, tanto na elaboração de seu programa, como em sua atividade prática, partir das leis do desenvolvimento da produção, das leis do desenvolvimento econômico da sociedade.”(47)

Analisando as leis do desenvolvimento da produção, o camarada Stálin demonstra que as forças produtivas da sociedade são o elemento mais dinâmico e revolucionário da produção. De acordo com a transformação das forças produtivas transformam-se também as relações de produção entre os homens, suas relações econômicas. As forças produtivas da sociedade são não só o elemento mais revolucionário da produção, mas ao mesmo tempo seu elemento determinante.

O camarada Stálin afirma:

"Conforme sejam as forças produtivas, assim devem ser também as relações de produção.”(48)

As forças produtivas da sociedade são constituídas pelos instrumentos de produção e pelos homens que realizam a produção dos bens materiais por ter certa experiência produtiva e certos hábitos de trabalho. A história do desenvolvimento da sociedade é, por conseguinte, a história das massas trabalhadoras, a história dos produtores dos bens materiais.

O Partido do proletariado emprestou e empresta grande significação à atividade prática revolucionária da classe operária e do Partido marxista-leninista, como destacamento de vanguarda da classe operária. A história do Partido bolchevique e a história da atividade revolucionária da classe operária russa comprovam o imenso papel da ação revolucionária consciente das massas dirigidas pelo Partido Comunista, ação que se apoia no profundo conhecimento das leis do desenvolvimento social.

O conhecimento das leis do desenvolvimento social arma os cidadãos soviéticos com inabalável confiança na luta pela construção da sociedade sem classe, a sociedade comunista.

As leis objetivas do desenvolvimento da sociedade, cuja base é o desenvolvimento das condições materiais de vida da sociedade, existem também no regime social socialista. Da mesma maneira que todas as formações econômico-sociais, o regime social socialista desenvolve-se na base de leis econômicas objetivas, que ninguém pode criar nem revogar. Todavia, no socialismo, as leis do desenvolvimento econômico são conhecidas e utilizadas conscientemente em benefício do desenvolvimento da sociedade soviética. Além disso, ao contrário das formações econômico-sociais anteriores, em nossa sociedade socialista desenvolveram-se novas forças motrizes como a amizade entre os povos da URSS, a unidade moral e política da sociedade soviética e o patriotismo soviético, forças que aceleram extraordinariamente o movimento da sociedade soviética para o comunismo.

Em nossos dias, quando se trava luta cada vez mais tenaz dos povos do mundo contra a caduca ordem capitalista, a doutrina leninista-stalinista sobre as leis do movimento da sociedade para o comunismo torna-se a bandeira dos trabalhadores dos países capitalistas em sua luta pela paz, pela democracia e pelo socialismo.

O conhecimento das leis objetivas do desenvolvimento social, descobertas pelo marxismo-leninismo, arma os trabalhadores de todos os países com a inabalável certeza no colapso inevitável do capitalismo, na necessidade de uma luta decisiva e organizada contra a ordem capitalista, que se torna historicamente obsoleta.


Notas de rodapé:

(1) J. V. StálinQuestões do Leninismo. 11.ª ed. russa. pág. 541; ver História do P.C. (b) da URSS., 2.ª ed. bras., Ed. Horizonte, Rio. 1947, pág. 46. (retornar ao texto)

(2) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1552, pág. 147. (retornar ao texto)

(3) F. EngelsAnti-Dühring, ed. russa, 1951, pág. 42. (retornar ao texto)

(4) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed. russa, t. XXIII, pág. 43. (retornar ao texto)

(5) Id., t. XIV, pág. 160. (retornar ao texto)

(6) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 239. (retornar ao texto)

(7) J. V. StálinOBRAS, ed. russa, t. I, págs. 312-313; ver ed. bras., Ed. Vitória, Rio, 1952, pág. 283. (retornar ao texto)

(8) J. V. StálinQuestões do Leninismo, 11ª ed. russa, pág. 541; ver História do P.C. (b) da URSS, 2ª ed. bras., Ed. Horizonte, Rio, 1947, pág. 46. (retornar ao texto)

(9) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 318. (retornar ao texto)

(10) F. Engels — Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, ed. russa, E. P. E., 1952, pág. 9; ver ed. bras., Ed. Horizonte, Rio 1945, pág. 18. (retornar ao texto)

(11) F. Engels — Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica «lema, ed. russa, 1952, pág. 19. (retornar ao texto)

(12) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1552, pág. 187. (retornar ao texto)

(13) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 117. (retornar ao texto)

(14) Ibid., pág. 133. (retornar ao texto)

(15) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, págs. 132-133. (retornar ao texto)

(16) Ibid., pág. 243. (retornar ao texto)

(17) Ibid., pág. 245. (retornar ao texto)

(18) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 294. (retornar ao texto)

(19) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, págs. 246-247. (retornar ao texto)

(20) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 249. (retornar ao texto)

(21) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 249. (retornar ao texto)

(22) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1552, pág. 44. (retornar ao texto)

(23) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 254. (retornar ao texto)

(24) Ibid. (retornar ao texto)

(25) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 258. (retornar ao texto)

(26) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1552, pág. 197. (retornar ao texto)

(27) F. EngelsAnti-Dühring, ed. russa, 1951, pág. XIII. (retornar ao texto)

(28) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 162. (retornar ao texto)

(29) F. EngelsAnti-Dühring, ed. russa, 1951, pág. 49. (retornar ao texto)

(30) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 162. (retornar ao texto)

(31) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 166. (retornar ao texto)

(32) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 168. (retornar ao texto)

(33) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 163. (retornar ao texto)

(34) J. V. StálinQuestões do Leninismo, 11ª ed. russa, pág. 541; ver História do P.C. (b) da URSS, 2ª ed. bras., Ed. Horizonte, Rio, 1947, pág. 46. (retornar ao texto)

(35) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 182. (retornar ao texto)

(36) Id., t. XIV, pág. 4. (retornar ao texto)

(37) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1552, pág. 184. (retornar ao texto)

(38) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1552, pág. 182. (retornar ao texto)

(39) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 142. (retornar ao texto)

(40) Ibid., págs. 146-147. (retornar ao texto)

(41) J. V. StálinQuestões do Leninismo, 11ª ed. russa, pág. 544; ver História do P.C. (b) da URSS, 2ª ed. bras., Ed. Horizonte, Rio, 1947, pág. 48. (retornar ao texto)

(42) K. Marx — Crítica à Economia Política, ed. russa, E.P.E., 1951, pág. 7. (retornar ao texto)

(43) J. V. StálinOBRAS, ed. russa, t. XII, pág. 243. (retornar ao texto)

(44) Ibid. (retornar ao texto)

(45) J. V. StálinQuestões do Leninismo, 11ª ed. russa, pág. 432. (retornar ao texto)

(46) J. V. StálinQuestões do Leninismo, 11ª ed. russa, pág. 544; ver História do P.C. (b) da URSS, 2ª ed. bras., Ed. Horizonte, Rio, 1947, pág. 48. (retornar ao texto)

(47) Ibid., pág. 552; ibid., pág. 50. (retornar ao texto)

(48) J. V. StálinQuestões do Leninismo, 11ª ed. russa, pág. 553; ver História do P.C. (b) da URSS, 2ª ed. bras., Ed. Horizonte, Rio, 1947, pág. 51. (retornar ao texto)

Inclusão 26/03/2015