(1809-1882): Célebre naturalista inglês, o mais notável teórico da evolução nas ciências da natureza, no século passado A teoria do transformismo, já pressentida anteriormente por Lamarck. Goethe, etc., encontrou em Darwin sua expressão decisiva, abrindo assim novos caminhos à ciência. Darwin deu a essa teoria força de persuasão com sua hipótese da seleção natural, isto é, da seleção através da luta pela vida, que faz sobreviver os mais aptos. Partia das experiencias da criação artificial. Mas onde está a mão do criador na natureza cega? Para responder a essa pergunta, Darwin baseou-se no Ensaio sobre o principio da população, de Malthus, (1803), na medida em que Malthus partia de uma desproporção entre o crescimento da população e a possibilidade de aumento dos meios de subsistência. Embora a ciência biológica moderna tenha já examinado uma multidão de novos fenômenos e modificado e completado, desse modo, os elementos utilizados por Darwin de maneira geral, o pensamento fundamental da teoria da evolução não está menos firmemente estabelecido no pensamento moderno. Engels escreveu a respeito em O desenvolvimento do socialismo: “Darwin vibrou na concepção metafisica da natureza o mais rude golpe, demonstrando que toda a natureza orgânica atual, as plantas, os animais, bem como o homem, são produto de um processo de evolução que dura milhões de anos". Em seu discurso no tumulo de Marx (1883), Engels exprimiu as relações entre Marx e Darwin nos termos seguintes: “Assim como Darwin descobriu a lei da evolução da natureza orgânica, Marx descobriu a lei da evolução da história humana”. Já em 1860, a proposito da obra principal de Darwin, que acabava de ser editada (1859), Da origem das especies através da seleção natural, Marx escreveu, em carta, a Engels: “Embora desenvolvido grosseiramente à inglesa, esse livro contém, do ponto de vista das ciências naturais, a base correspondente ao nosso ponto de vista" (Correspondência de Marx e Engels, vol. II, p. 426): Marx exprime-se de maneira análoga em carta a Lassalle, a 16 de janeiro de 1861 (Correspondência de Marx e Lassalle, p. 346) : “A obra de Darwin é notável, e convêm-me como base, do ponto de vista das ciências naturais, à luta de classes na história... Apesar de tudo o que tem de defeituosa, não somente dá o primeiro golpe mortal à “teleologia" nas ciências naturais, como estabelece, de maneira empírica, o sentido racional dessas ultimas". “Darwin pôs fim à doutrina segundo a qual as especies animais e vegetais não apresentam nenhuma relação entre si, sendo criadas por Deus e imutáveis" (Lénin): A doutrina de Darwin foi brilhantemente defendia e desenvolvida pelo celebre sábio russo A. Timiriázev. Darwin e seus partidários afirmavam que as diferentes especies de uma única família de animais ou de plantas são somente os descendentes diferenciados de uma mesma forma primitiva. Além disso, segundo sua teoria da evolução, todos os gêneros de uma mesma ordem provêm igualmente de uma forma primordial, e se deve dizer o mesmo de todas as ordens de uma mesma classe. Segundo a opinião oposta, a dos adversários de Darwin, todas as especies animais e vegetais são completamente independentes uma da outra e só os indivíduos pertencentes a uma mesma especie provêm de uma forma comum. A mesma concepção da especie já tinha sido expressa por Lineu, nestes termos: “Existem tantas especies quantas o Ser supremo criou primitivamente". É uma concepção puramente metafisica, porque o metafisico considera as coisas e os conceitos como “objetos distintos, imutáveis, rígidos, criados uma vez por todas, e os examina um depois do outro e independentemente um do outro" (Engels): O dialeta ao contrário, segundo Engels, considera as coisas e os conceitos “na sua conexão, no seu encadeamento, no seu movimento, no seu aparecimento e no seu desaparecimento". E essa concepção apareceu na biologia desde a época de Darwin e nela continuará para sempre, quaisquer que sejam as retificações trazidas à teoria da evolução pelo desenvolvimento da ciência. Defendendo Darwin das acusações feitas por Dühring, Engels escreveu: “Darwin trouxera de suas viagens cientificas a ideia de que as especies vegetais e animais, longe de serem permanentes, são variáveis. Para continuar, já na Inglaterra, a trabalhar essa ideia, o campo mais favorável que se lhe oferecia era o da experimentação em animais e plantas. Ora, a Inglaterra é justamente a terra clássica destas experiencias. Os resultados obtidos nesse terreno noutros países,— a Alemanha, por exemplo — estão longe de atingir os que se têm conseguido na Inglaterra. De mais a mais, os grandes sucessos neste ramo, nestes últimos cem anos, pertencem a Inglaterra, e a comprovação dos fatos oferece poucas dificuldades. Darwin descobriu, assim, que e a experimentação havia artificialmente provocado em animais e em plantas da mesma especie diferenças maiores do que as encontradas entre especies geralmente conhecidas como distintas. Provava-se, assim, de um lado, a variabilidade relativa das especies e, de outro, a possibilidade da existência de antepassados comuns de seres com caracteres específicos e diferentes. Darwin procura saber, então, se não haverá na natureza causas que, de modo geral, sem a intenção consciente do criador, produzam, nos organismos vivos, mudanças semelhantes às que o tratamento artificial provoca Essas causas, ele as encontrou na desproporção entre o numero formidável dos germes criados pela natureza e o pequeno numero de organismos que chegam a se desenvolver. Mas, como cada germe tende a se desenvolver, resulta essa desproporção, necessariamente, uma luta pela existência, que se manifesta não só sob uma forma direta e física, mediante batalhas, em que uns organismos morrem devorados por outros, mas também, mesmo nas plantas, sob a forma de luta pelo espaço e pela luz É evidente que nessa luta os indivíduos que têm maiores possibilidades de atingir à maturidade e se perpetuar são aqueles que possuem alguma particularidade individual, por mais insignificante que seja, vantajosa na luta pela existência Daí resulta que essas particularidades individuais tendem a transmitir-se hereditariamente e, quando se encontram em vários indivíduos da mesma especie, tendem a acentuar-se, pela hereditariedade acumulativa; quanto aos indivíduos que não possuem tais particularidades, sucumbem mais facilmente na luta pela existência e pouco a pouco desaparecem Dessa maneira, as especies transformam-se, pela seleção natural, pela sobrevivência dos mais aptos”.