(1804-1872): Filosofo materialista alemão, filho do criminalista, celebre em seu tempo, P. A. Feuerbach. Foi obrigado a abandonar a carreira universitária em virtude de suas concepções filosóficas e passou a viver, então, a vida dura dos campos. Do hegelianismo de esquerda, evoluiu para o materialismo. "O pensamento nasce do ser e não o ser do pensamento”. O pensamento é o produto da natureza e a religião é o reflexo fantástico da natureza humana: “Em teu Deus, tu reconheces o homem, e, no homem, tu reconheces também o teu Deus; as duas coisas são idênticas ’. Não foi Deus quem criou o homem, mas o homem quem criou Deus à sua imagem. Sua filosofia constituiu o elo intermediário entre a filosofia de Hegel e a de Marx. Embora referindo-se com certo desdem ao materialismo francês do século XVIII, Feuerbach foi, de fato, o renovador do materialismo do século XVIII, com todos os seus grandes méritos e todos os seus defeitos, com sua nobre, arrogante e revolucionária aversão a toda "teologia” e com sua tendência ao idealismo quando se tratava de explicar fenômenos e atos sociais. “Mas a filosofia, a ciência das ciências, que, pretendia-se, paira acima de todas as ciências particulares das quais e a síntese, não foi apenas, para Feuerbach, uma barreira intransponível, um tabernáculo inviolável, mas ele próprio, como filosofo, ficou a meio-caminho, materialista por baixo, idealista por cima; não soube acabar com Hegel pela critica, mas a rejeitou simplesmente como inutilizável, enquanto que ele mesmo ,tendo em vista a riqueza enciclopédica do sistema de Hegel, não realizou nada de positivo, não elaborou mais do que uma pomposa religião do amor e uma moral pobre, inoperante” (Lénin): Somente Marx e Engels aplicaram, de maneira consequente, ao domínio dos fenômenos sociais, o materialismo de Feuerbach, de quem foram discípulos durante certo tempo. Mas desenvolveram-no até torná-lo o materialismo dialético histórico. Feuerbach foi, pois, apenas, um materialista metafísico. Tendo repudiado o idealismo hegeliano, repeliu também a dialética de Hegel, uma vez que não lhe foi possível distinguir na mesma a sua “essência racional”. O verdadeiro idealismo de Feuerbach, aliás, aparece quando chegamos à sua filosofia da religião e à sua ética. Ele absolutamente não quer suprimir a religião, quer aperfeiçoá-la. A própria filosofia deve fundir-se na religião. “As épocas da humanidade não se distinguem senão por transformações de natureza religiosa. Não há movimentos históricos profundos senão aqueles que vão até o coração humano. O coração não é uma forma de religião, apesar de essa ter também o seu lugar no coração: é a essência da religião”. (Starcke — Ludwig Feuerbach, pág. 168): Por outro lado, não tendo descoberto a base material da evolução social, Feuerbach permaneceu idealista nesse terreno Para ele, as diversas etapas, em que se divide a história da humanidade, distinguiam-se exclusivamente pelas formas de sua consciência, pelas religiões que substituíam umas às outras. Procurando resolver o problema da criação de uma nova sociedade, livre do cristianismo, Feuerbach introduziu na religião o amor entre os homens considerando que este constitui a base da sociedade. Feuerbach não compreendia a importância da atividade pratica revolucionária: não compreendia a interdependência dialética entre o homem e a natureza, bem como as transformações do próprio homem através do processo da produção Eis aí porque o materialismo de Feuerbach, embora tendo exercido influência sobre Marx e Engels no período de formação de seus conceitos filosóficos não se identifica com o materialismo de Marx e Engels. Estes o que fizeram foi tomar ao materialismo de Feuerbach a sua “essência fundamental” desenvolvendo-o e transformando-o numa teoria cientifico-filosófica do materialismo e desprezando suas concepções idealistas e religiosas. Feuerbach foi o ideólogo da burguesia democrático-revolucionária. Feuerbach chamava de “ruminantes” os pensadores que queriam ressuscitar os elementos da velha filosofia. Infelizmente, há ainda hoje muitos desses “ruminantes”. Obras principais: Das Wesen des Christentums, 1841 (A essência do cristianismo); Vorläufige Thesen über Reform der Philosophie, 1841 (Teses provisorias sobre a reforma da filosofia); Grundsdtze der Philosophie der Zukunft, 1842 (Princípios da filosofia do futuro): Sobre Feuerbach, ver F. Engels, Ludwig Feuerbach und der Ausgang der klassischen deutschen Philosophie (Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã), Marxistische Bibliothek, t. III, Verlag für Literatur und Politik, Berlim-Viena 1927.