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«Somos testemunhas, na Checoslováquia, de uma situação que, sob vários aspectos, lembra os últimos meses antes da Primavera de Praga, esse breve período de liberalização de Alexander Dubcek em 1968. Então como hoje desaparecia na sociedade o medo diante do regime comunista em derrocada.»(1)
O homem que nos apresenta esta análise, largamente partilhada nos meios do poder no Ocidente, ensina História da Europa de Leste na Universidade de Groningue. Na intervenção militar de 21 de Agosto de 1968, participaram, entre outras, as forças armadas da União Soviética, da Polónia e da Hungria. Nestes dois últimos países, as actuais reformas ultrapassam de longe aquelas que Dubcek havia proposto na época. Os serviços secretos ocidentais não escondem a intenção de se apoiar sobre as «conquistas» da Hungria e da Polónia para levar, na Checoslováquia, tanto os dissidentes como os reformadores do Partido, à via da contra-revolução pacífica. Será Praga também muito em breve varrida por uma vaga de fundo pró-capitalista e pró-imperialista? Se a Checoslováquia cair nos braços da Polónia e da Hungria, para saírem em conjunto do socialismo, quais serão as repercussões no seio do Partido Comunista da União Soviética? Como se deve avaliar as reformas de Dubcek de 1968, à luz das reformas capitalistas que acabam hoje de afogar a Hungria e a Polónia socialistas?
Desde há alguns meses que os contactos entre o Solidarnosc e os dissidentes checoslovacos se multiplicam. Cinco representantes do Solidarnosc, entre os quais Adam Michnik e Jan Litynski, chegaram a Praga em 20 de Julho de 1989 para encontros oficiais com a Carta 77, com a Igreja e... com Alexander Dubcek. Solidarnosc e Dubcek entraram em acordo para qualificar a intervenção de 1968 como «inaceitável e ilegal». A Carta 77 assinou com a nova direita polaca um texto comum que sublinha o
«papel inspirador da Mesa Redonda polaca (entre o Partido Comunista e o Solidarnosc) para o desenvolvimento político na Checoslováquia.(2)
Na Polónia, as forças anti-socialistas que se escondem sob a bandeira do Solidarnosc, dominam, a partir de agora, toda a vida civil, e o Partido Comunista, tendo perdido praticamente toda a influência no seio das massas, tornou-se no refém impotente do Solidarnosc. Lech Walesa é hoje o porta-voz directo das multinacionais na Polónia. Depois de um encontro com Charles-Ferdinand Nothomb, do Partido Social-Cristão, afirmou:
«Quando digo “ajuda” não estou a pensar em donativos. Trata-se de investir na Polónia, de aí criar um verdadeiro mercado de capitais, de contribuir para a transformação das estruturas da nossa indústria».
Nothomb precisou esta última ideia sublinhando que se trata de uma
«verdadeira privatização de certos interesses».
Após o que Walesa continuou:
«Disse a Nothomb para encorajar a Bélgica a abrir filiais dos seus bancos na Polónia e a entrar com os capitais belgas nas empresas polacas.»(3)
Ao mesmo tempo, Lech Walesa e os seus conselheiros americanos preferem que o Partido Comunista Polaco continue a apodrecer mais dois ou três anos ainda, governando um país onde já não controla praticamente nada, precipitando assim o seu estoiro final. Hoje, na Polónia, os responsáveis do Comité Central do Partido Comunista evocam publicamente a eventualidade da dissolução do Partido ou da sua divisão num partido comunista e num partido social-democrata.
«Há quem pense que o Partido pertence ao passado enquanto formação ideológica», confessa Rakowski, o novo secretário-geral.(4)
Marian Orzechowski, membro do Comité Central, é de opinião de que os ditos reformadores são
«nostálgicos das leis selvagens do capitalismo».(5)
Homens de esquerda em torno de Alfred Miodowicz, dirigente do sindicato oficial, dizem que os comunistas devem imediatamente reconstituir as suas forças na luta de classe nas bases, contra um regime que já nada tem de socialista.
Na Hungria, velhos quadros comunistas, reagrupados na Sociedade Ferenc Munnich e no Centro da Plataforma Marxista, denunciam a «restauração burguesa» no seu país. Os princípios do marxismo-leninismo foram liquidados a tal ponto que o novo número um, Rezso Nyers, já não acha necessário manter as aparências: perfila-se abertamente como um aliado do imperialismo americano, como um representante dos novos capitalistas húngaros e como um correligionário da social-democracia ocidental. Vejamos os factos:
A cimeira dos sete maiores países industrializados, em Paris, decidiu fornecer aos países de Leste
«segundo as necessidades e de modo coordenado, uma ajuda económica destinada a transformar e a abrir a sua economia de modo durável».(6)
Traduzindo: em troca de algumas migalhas, os sete impõem medidas econômicas que permitem o desenvolvimento do capitalismo privado, um pouco como o fazem com um qualquer país do Terceiro Mundo. Nyers, o novo presidente do Partido Socialista Operário Húngaro, congratula-se com os resultados da cimeira:
«Regozijamo-nos com o facto de os outros seis dirigentes do grupo dos sete tenham seguido a proposta do senhor Bush. O interesse primordial da Hungria, é que os ocidentais que o desejem, a ajudem a evitar a crise financeira».(7)
Que o senhor Nyers vá perguntar aos trabalhadores brasileiros, mexicanos, argentinos, zairenses e filipinos como os imperialistas «ajudam» estes países a «evitar a crise financeira». Quando lhe perguntam se não se trata de uma ingerência, Nyers responde:
«Não, absolutamente. A democratização política e a instauração de uma economia de mercado relevam do nosso interesse nacional. Aprovei totalmente o senhor Bush quando ele sublinhou que os Estados Unidos se interessam pelos direitos humanos, mas são neutros no que diz respeito aos nossos assuntos políticos internos.»(8)
É preciso estar possuído por uma paixão doentia pelos Estados Unidos para ousar afirmar, conhecendo as actuações dos americanos contra Cuba e contra a Nicarágua, que a CIA é «neutra» no que respeita aos assuntos internos dos países socialistas. Congratular-se com o interesse dos americanos pelos «direitos humanos» é também cínico: os dirigentes americanos reservam a defesa dos «direitos humanos» apenas aos reaccionários aptos a prestarem-lhes serviços.
«Parece-me inevitável», continua o reformador, o progressista, o adversário do stalinismo, o camarada Nyers, «que, numa primeira fase, as reformas econômicas levem à emergência de uma camada social muito rica. Para os mais desfavorecidos, é a política social que permitirá reduzir as desigualdades. Graças à generalização do crescimento, camadas mais amplas deverão em seguida poder melhorar a sua situação».(9)
Esta concepção não seria repudiada pela senhora Thatcher, se ela devesse ser levada, aquando de um novo desenvolvimento «corajoso» na Hungria, à cabeça do Partido Socialista Operário.
Os sociais-democratas que gerem há oito anos o imperialismo francês constatam a «crise do comunismo totalitário» e afirmam que «a única resposta histórica» não é, a Leste, o regresso ao capitalismo e, a Oeste, a sua acentuação, mas sim o «socialismo democrático».(10) Ora está agora claro como água que, na boca de Mitterrand, o «socialismo democrático» é o termo literário mais apropriado para descrever o capitalismo monopolista e o imperialismo com as cores da França.
«Querem organizar a transição para o capitalismo?», perguntam a Nyers. «Não, responde o émulo de Mitterrand, o que nós queremos é o socialismo democrático, uma combinação de uma economia de mercado com uma política económica baseada nos valores socialistas. Temos uma oposição que preconiza uma economia de mercado completamente liberalizada».(11)
À questão seguinte: «Há diferenças entre os programas económicos dos partidos da oposição (de direita) e o do Partido Socialista Operário», Nyers responde estupidamente:
«Há diferenças mas não oposição fundamental».(12)
Sabe-se que entre o capitalismo de Mitterrand e de Rocard e o de Giscard e de Chirac há diferenças, mas não oposição fundamental. Mas nenhum demagogo social-democrata francês cometeria a gaffe de o confessar tão abertamente.
«As privatizações são necessárias e úteis», continua Nyers que, decididamente, engoliu todo o programa de Fabius e de Rocard. «O processo de privatização não vai fazer desaparecer o capital público nem o das cooperativas, mas vai completá-lo. Nós queremos fazer participar o capital privado numa economia mista.»(13)
Na Polónia e na Hungria, o desmantelamento do Partido Comunista enquanto força marxista-leninista de vanguarda, a liquidação dos princípios políticos socialistas, a liberdade para as forças econômicas e políticas do capitalismo privado e das multinacionais, tornaram-se evidentes aos olhos de todos os observadores. Como reagem então os porta-vozes da Primavera de Praga diante desta liquidação aberta dos princípios comunistas? Em 1968, eles tinham declarado querer
«libertar o marxismo da deformação stalinista e burocrática» e «formular a vocação humanista do movimento comunista».(14)
Que pode haver de mais aliciante do que estas promessas de um marxismo e de um comunismo renovados numa linguagem modernista?
Ora, hoje, Alexander Dubcek insiste, numa carta endereçada em 23 de Junho à direcção do Partido, para que esta não condene os projectos de reformas na Polónia e na Hungria!(15) A «vocação humanista do comunismo» concretizar-se-ia então no capitalismo selvagem húngaro?
Em 1968, Jiri Pelikan foi eleito para o Comité Central, ao lado de Dubcek, no décimo quarto congresso clandestino do PCC. Ele declara hoje:
«Penso que nos países que têm uma tradição mais democrática que a URSS, como a Checoslováquia, a Hungria ou a Polónia, o processo de democratização irá mais depressa e mais longe do que pode ir na União Soviética». «O movimento democrático da Europa ocidental deve desenvolver o diálogo com o Solidarnosc ou com a Liberdade e Paz na Polónia, com o Fórum Democrático e outras organizações na Hungria, com a Carta 77, o Comité para a Defesa das Pessoas Injustamente Perseguidas (VONS), a Associação Independente pela Paz na Checoslováquia».(16)
Sabe-se que Brzezinski, o antigo conselheiro de Carter para a Segurança, defendeu recentemente, palavra por palavra, esta mesma táctica, a fim de que a ideologia burguesa ocidental fosse importada na Europa de Leste. Ora, Pelikan, o «comunista reformador» de 1968, tem assento, em 1988, no Parlamento Europeu, onde representa o Partido Socialista Italiano. Panegirista do imperialismo europeu, declara:
«A integração dos países da Comunidade Europeia é um passo positivo e necessário para o desenvolvimento dos países ocidentais. Se a Comunidade pode tornar-se um exemplo atractivo de dinamismo económico combinado com a justiça social e com o aprofundamento da democracia, ela pode ter um efeito positivo, nomeadamente nos países da Europa Central e de Leste. Se se pudesse votar amanhã na Europa Central sobre a adesão à Comunidade Europeia, haveria 90 por cento de votos favoráveis».(17)
Será por acaso que certos porta-vozes, aqueles que mais deram nas vistas na Primavera de Praga, são hoje ideólogos do imperialismo europeu e outros, entre eles, partidários da via húngara para o capitalismo?
Já em 1968 a ideologia dominante da equipa de Dubcek é claramente de orientação social-democrata. Os seus ataques contra a ditadura do proletariado são, palavra por palavra, uma cópia das teses de Vandervelde e de Kautsky. Dubcek declara:
«Até agora [1968], as ideias a favor do socialismo e do comunismo eram produto das condições de agravamento dos conflitos de classe na época da ditadura do proletariado e da industrialização. Erigem assim em sistema instituições e métodos provisórios que não são senão um mal menor e estão, na verdade, em contradição com os fins humanistas do movimento».(18)
Estas posições de Dubcek em nada se distinguem das de Vandervelde, esse chefe do Partido Socialista Belga que se tornou o apologista do imperialismo e do colonialismo belga. Nos nossos dias, poucos se lembram a que tipo de demagogia este homem teve de recorrer para conter as massas exasperadas pelos horrores da guerra imperialista. E, em 1918, no momento em que Vandervelde entrava no mundo selecto dos gestores do capitalismo, conter e depois despedaçar a força revolucionária das massas revoltadas, era precisamente o que a burguesia lhe pedia. Eis em que termos o chefe socialista se dirigia aos trabalhadores belgas:
«A ditadura do proletariado, sim, para quebrar as resistências burguesas, para abrir, pelo ferro e pelo fogo que seja, as vias para a Revolução social». (Eis os termos estrepitosos que na época devia usar um traidor para manter a sua influência sobre as massas radicalizadas!) Depois continuava: «Mas a ditadura a título de expediente, de expediente temporário, e não o prolongamento indefinido do estado de sítio e do terror colocando os outros partidos fora da lei.»(19)
Hoje, Dubcek faz eco ao velho Vandervelde: a ditadura do proletariado, sim, a título provisório, já que esta desafina com esse humanismo que partilho com a burguesia...
Mas tornemos à Checoslováquia de 1968. A fim de amaciar a vigilância política dos comunistas, Dubcek afirma:
«A luta de classes cessou de ser um aspecto importante da evolução social no nosso país.»(20)
A cada crise política num país socialista, os oportunistas escarram esta tese para proteger os nostálgicos do paraíso burguês. Para Dubcek, é preciso deixar de reprimir os contra-revolucionários e os novos capitalistas e, pelo contrário, acordar-lhes o direito de criar partidos políticos:
«Ultrapassando os limites da luta de classes, a sociedade socialista deve encarar a liquidação das funções constrangedoras dos seus órgãos de Estado e a desmonopolização das suas actividades no domínio político.»(21)
Estas ideias primaveris de 1968 encaixam-se perfeitamente com os elogios da Democracia Ocidental que nos chegam hoje da Hungria e da Polónia.
E quanto ao elogio da Liberdade com maiúscula, quer dizer da liberdade de explorar, de acumular, de fazer frutificar o capital privado? Eis algumas das ideias chave da nova política económica de Dubcek, formulada na época pelo seu amigo Kolder.
«Empresas socialistas autónomas, separadas do Estado, agindo por conta própria e expostas às pressões do mercado e da concorrência económica, constituem-se como sujeitos da economia de mercado.» É preciso desenvolver o «mercado de investimentos e de trocas internacionais», o «mercado do trabalho como instrumento da modificação das estruturas dos salários» e «tornar a dar aos preços a sua função económica em relação com os preços do mercado mundial.»(22)
É o que apregoam nos nossos dias os amantes do FMI que reinam sobre Budapeste e sobre Varsóvia.
O advento da Primavera de Praga, em 1968, suscitou nos nababos do Ocidente as mesmas reacções entusiastas que acompanham hoje as reformas na Hungria e na Polónia. No seu livro A alternativa da Cisão, publicado em 1965, Brzezinski afirma que na Europa de Leste,
«o modo de transição mais desejável deveria começar por uma liberalização interna», «isto diz respeito em primeiro lugar à Checoslováquia».
Em 14 de Junho de 1968, Brzezinski deu uma conferência em Praga. como o fez recentemente em Varsóvia. Ele declarou na época:
«Parto da tese de que o leninismo está ultrapassado nas condições da sociedade desenvolvida actual». Depois exprimiu o seu apoio «à interessante experiência checoslovaca».(23)
Após a intervenção soviética, o social-democrata austríaco Kreisky disse ao jornal Die Welt:
«Na Checoslováquia desenvolvia-se justamente a última fase de um verdadeiro processo de democratização. A Checoslováquia tinha cessado de ser um Estado de ditadura comunista. O aparelho do poder da ditadura comunista estava paralisado pelo desenvolvimento interno.»(24)
Assim, a ouvir os ideólogos mais informados das nossas multinacionais, a Primavera de Praga antecipou de longe a presente contra-revolução pacífica de Budapeste.
O imperialismo dispõe de forças produtivas superiormente desenvolvidas, organiza cientificamente a exploração da classe operária, arranja vantagens suplementares pilhando as riquezas do Terceiro Mundo. Tudo isto permite-lhe levar a cabo ofensivas econômicas, políticas e ideológicas contra os países socialistas. Longe de se atenuar, como pretendem os cansados do marxismo, estas ofensivas redobram de força por causa da crise geral do imperialismo e graças aos meios suplementares que a revolução tecnológica oferece. No interior dos países socialistas, o imperialismo encontra os interesses dos antigos reaccionários e capitalistas que se mantêm, durante dezenas de anos, enquanto forças ideológicas e políticas. Vai também ao encontro dos interesses de uma fracção de burocratas e de altos funcionários que apenas procuram o seu interesse pessoal. O combate pela edificação de uma sociedade socialista continua a ser uma tarefa relativamente nova. Erros e mesmo erros graves são inevitáveis; depois, a cada nova fase do desenvolvimento, surgem novos problemas. A ideologia burguesa continua a ser, de longe, no mundo, a mais elaborada, a mais documentada, aquela que dispõe de meios de comunicação mais poderosos.
A cada curva, quando se trata de corrigir os erros ou de abordar novos problemas, os aprendizes de feiticeiro, imbuídos de Dallas,(25) negam a essência revolucionária do que no passado foi realizado, fazem uma avaliação unilateralmente negativa, para finalmente rejeitar os princípios fundamentais do marxismo-leninismo. Assim, Pelikan retoma a linguagem dos capitães da guerra-fria, afirma que foi montado na Checoslováquia um «sistema burocrático e policial do socialismo» entre 1948 e 1968. Que será substituído, pretende Pelikan, por um outro sistema totalmente diferente, por «um socialismo de rosto humano.»(26)
Corrigir os erros e resolver os novos problemas, pressupõe um esforço consciente e sustentado para manter e desenvolver o espírito revolucionário e os princípios comunistas. É evidente que a equipa de Dubcek tinha deliberadamente rejeitado esta posição de classe. Pelikan afirma que, em 1968,
«os comunistas eram verdadeiros porta-vozes da sua nação e o partido era a sua força dirigente». Não havia senão «os nossos stalinistas que brandiam o argumento segundo o qual o socialismo estava gravemente ameaçado pelas forças de direita». «Nenhuma mudança na estrutura económica e social foi concretizada [no decurso da Primavera de Praga]».(27)
Pelikan apresenta deste modo uma «defesa do comunismo» puramente verbal que esconde os propósitos práticos de natureza social-democrata e liberal. Se nenhuma mudança foi concretizada nas estruturas econômicas, as razões disso foram estritamente de ordem táctica: não deviam ser revelados prematuramente os seus planos de restauração. Mas ninguém se enganava sobre a orientação política e ideológica em direcção ao mercado, à livre empresa e ao pluripartidarismo burguês. Pelikan, que negava em 1968 a presença das forças de direita e afirmava defender a propriedade colectiva dos meios de produção, alinha hoje publicamente ao lado dos reaccionários do Solidarnosc e das multinacionais da Comunidade Europeia.
Em 1968, o Partido Comunista da Checoslováquia, paralisado pela direcção de direita de Dubcek, não tinha a força necessária para vencer as forças anti-socialistas que irrompiam no país. Se a Checoslováquia houvesse mantido Dubcek à sua cabeça, teria provavelmente conhecido, no decurso dos anos 70, a evolução à qual assistimos hoje na Hungria. A intervenção soviética de 20 de Agosto de 1968 travou as actividades dos grupos anti-socialistas e contra-revolucionários ligados ao Ocidente e golpeou a ala revisionista do Partido checoslovaco. Mas também reforçou e consolidou os sentimentos anti-soviéticos e anticomunistas numa parte das massas que, por diversas razões, haviam seguido os dirigentes da Primavera social-democrata de Praga.
A direcção do Partido e do Estado, nas mãos do grupo de Dubcek, opôs-se à entrada das tropas do Pacto de Varsóvia. A intervenção violava claramente a independência nacional e a soberania da Checoslováquia. Tal podia justificar-se no quadro da luta mundial entre o imperialismo e o socialismo. Mas o assunto complicava-se mais, posto que a União Soviética, que intervinha na Checoslováquia para pôr fim a uma degenerescência de direita declarada, conhecia ela própria desvios extremamente graves. Nikita Khruchov tinha liquidado os princípios da ditadura do proletariado. O burocratismo, com o seu cortejo de corrupção e de privilégios, desenvolvia-se há 12 anos na União Soviética. Um marxismo formalista afastava muitos quadros da vida real do povo. O aparelho militar pesava cada vez mais sobre a economia e a vida política. A União Soviética de Bréjnev pouco caso fazia do princípio da igualdade entre os partidos comunistas e espezinhava a sua independência; praticava a ingerência, o controlo e a hegemonia. A teoria da «soberania limitada» dava à União Soviética um direito de intervenção e de ingerência nos assuntos internos dos partidos cuja orientação parecia, vista de Moscovo, pôr em perigo as conquistas do socialismo.
Como analisámos, na época, estes acontecimentos? Sabíamos que forças sociais-democratas amadureciam sob a Primavera de Praga e que uma deriva para o capitalismo era provável, senão mesmo certa. Mas uma outra ameaça parecia-nos mais grave ainda: a intervenção militar soviética impunha-se-nos como sinal manifesto de uma tendência para a hegemonia de uma União Soviética onde o revisionismo havia triunfado sob Nikita Khruchov e Bréjnev. Acreditámos que este último aspecto era de longe o mais importante, o mais fundamental e o mais duradouro. Sobre esse ponto a história não nos deu razão. O Partido do Trabalho da Albânia teve razão, em 1968, em falar de uma confrontação entre os ultra-revisionistas do séquito de Dubcek e os seus pais espirituais, os revisionistas em torno de Bréjnev. Tivemos tendência a pôr uma surdina à crítica ao revisionismo nos países socialistas. O combate contra o hegemonismo soviético, sem dúvida tarefa importante a nível mundial, obscureceu muitas vezes a luta contra o revisionismo. Hoje torna-se mais claro que a tendência hegemonista da União Soviética não era tão duradoura e fundamental como nós pensámos durante todos estes anos.
A União Soviética de 1989 está paralisada por uma economia de fraco desempenho e por conflitos entre nacionalidades de uma extrema gravidade. A direcção do PCUS adoptou importantes mudanças de política, nomeadamente reconhecendo a cada país socialista o direito de definir a sua linha em absoluta independência. Hoje, sabendo que uma nova intervenção soviética está praticamente excluída, os serviços secretos ocidentais querem fazer uma reencenação da Primavera de Praga: táctica hábil para reagrupar a direita checoslovaca e encaminhá-la para a via polaca e húngara.
A intervenção soviética de 1968 foi diversamente interpretada pelos partidos comunistas. O Partido Comunista Belga, é claro, denunciou a intervenção na base da sua adesão às posições antimarxistas e antileninistas do grupo de Dubcek. Os partidos revolucionários que se sentiam directamente ameaçados pela tendência para a hegemonia da União Soviética, acentuaram o aspecto da ingerência, ocupação, violação da soberania; é o caso, entre outros, dos partidos chinês, albanês e romeno. Outros partidos revolucionários pensaram que a política pró- capitalista de Dubcek constituía o aspecto principal da contradição. Foi o caso do Partido Comunista de Cuba. A tese essencial de Fidel Castro foi assim formulada:
«O campo socialista não podia permitir o desenvolvimento de uma situação política que teria conduzido ao afastamento de um país socialista e à sua queda nos braços do imperialismo».(28)
Ao mesmo tempo, Fidel Castro sublinha que
«o remédio era dramático, draconiano e doloroso. Esta decisão não pode explicar-se senão do ponto de vista político e não do ponto de vista legal. Não tem um vestígio de legalidade. A soberania (da Checoslováquia) teve de ceder diante do interesse mais importante dos direitos do movimento revolucionário mundial e da luta dos povos contra o imperialismo.»(29)
Fidel Castro assinala também que a intervenção soviética não poderá resolver duradouramente os problemas fundamentais que minam o Partido na Checoslováquia:
«Os métodos burocráticos na direcção do país, a falta de contacto com as massas — questão essencial de todo o movimento revolucionário —, a negligência dos ideais comunistas».(30)
Fidel critica o
«afrouxamento e amolecimento do espírito revolucionário dos países socialistas: ignorância dos problemas do mundo subdesenvolvido, ignorância da horrível miséria que subsiste, tendência a conservar práticas de comércio com os países subdesenvolvidos que são as mesmas que as do mundo capitalista.»(31)
É sempre difícil dizer qual era, em 1968, o menor dos dois males.
Uma Checoslováquia liberalizada, introduzindo estruturas burguesas de tipo social-democrata, teria impulsionado fenómenos de degenerescência em toda a Europa de Leste, como a Hungria o faz actualmente. Quais teriam sido as consequências do ponto de vista da luta anti-imperialista e anticapitalista mundial?
Não é inútil relembrar, aqui, em que contexto histórico a Primavera de Praga eclodiu. Em 1964-65, os Estados Unidos e a Bélgica esmagam a insurreição camponesa no Congo-Kinshasa; em 1965, os marines desembarcam em S. Domingos e, na Indonésia, Suharto massacra entre 500 mil e um milhão de «comunistas»; em 1967, os sionistas israelitas agridem a Jordânia, o Egipto e a Síria; em 1968, a guerra do Vietname está no auge, a agressão americana contra o Cambodja está ainda para vir. A resistência desenvolve-se nas colónias portuguesas. A Etiópia, o Irão, a Nicarágua continuam sob a pata de regimes neocoloniais e feudais.
O Partido checoslovaco, embora mais sólido que os partidos húngaro e polaco, não teria provavelmente podido encontrar forças suficientes no seu próprio seio para pôr fim ao desvio de direita, transformado em torrente pelo apoio ocidental. O triunfo da contra-revolução social-democrata na Checoslováquia, em 1968, teria provocado movimentos do mesmo género na Hungria e na Polónia. É difícil imaginar como a Europa de Leste, nestas condições, teria escapado às guerras civis, nas quais, mais tarde ou mais cedo, se teriam envolvido os Estados Unidos e a União Soviética. Os movimentos anti-imperialistas no conjunto do Terceiro Mundo teriam sofrido as consequências disso.
Seja como for, a história realizou o outro mal, o da perda de influência e de crédito para o movimento comunista, devido à violação da independência da Checoslováquia e à prática do hegemonismo pela União Soviética.
Mas para estar à altura de fazer uma estimação correcta da intervenção soviética de 1968, importa pormo-nos de acordo, antes do mais, sobre um certo número de princípios de base.
Na luta pelo comunismo, os interesses imediatos devem subordinar-se aos interesses fundamentais, os interesses da parte aos interesses do conjunto do movimento. A política e a táctica devem ser definidas depois de uma análise concreta da situação presente do movimento comunista internacional e da situação política nacional e internacional. Quer dizer que não há «receitas» aplicáveis a todas as situações.
Pouco depois da agressão nazi de 1 de Setembro de 1939, o governo reaccionário polaco foi derrotado. Em 1920, a Polónia feudal tinha anexado a Ucrânia e a Bielorrússia ocidentais, instaurando aí um regime de terror e opressão para os ucranianos, os bielorrussos e os judeus. Em face da queda do regime polaco, o Exército Vermelho entrou nesses territórios, eliminou as forças dos senhores das terras, encontrando um grande entusiasmo entre os operários e os camponeses pobres. Os interesses da luta antifascista, da defesa da União Soviética socialista e das massas oprimidas da Ucrânia e da Bielorrússia ocidentais deviam prevalecer sobre a independência formal destes territórios. A intervenção do Exército Vermelho tornava possível a expressão, pela maioria da população, do seu ódio ao fascismo e do seu apoio ao regime soviético.
Depois da vitória sobre as forças nazis em 1944-45, a presença do Exército Vermelho facilitou o desenvolvimento da luta das classes oprimidas na Checoslováquia, na Polónia, na Hungria e na Roménia. Nessa época, a ameaça principal para a independência destes países, para não falar dos interesses das classes trabalhadoras, residia na política agressiva da aliança anglo-americana, como o prova a sua agressão contra a Grécia antifascista. Um pretenso «respeito absoluto» da independência destes países, tê-los-ia entregado, de facto, à dominação anglo-americana, como foi o caso da Turquia, da Grécia e da Itália. A presença do Exército Vermelho nesses países permitiu contrariar as intrigas americanas e proteger o desenvolvimento das forças revolucionárias e democráticas.
Não podemos julgar o período de 1944-45 em função do critério absoluto de «oposição a qualquer forma de ingerência da parte da União Soviética», abstraindo-nos da luta de classes internacional e da política de conquista e de dominação americana. A crítica que Stáline e o PCUS formularam em 1948 contra a linha desenvolvida por Tito era provavelmente correcta no essencial. É o que o Partido Comunista da Albânia sempre defendeu. Noutras circunstâncias históricas, o Partido Comunista da China expressou a sua oposição a qualquer forma de ingerência nos assuntos dos outros partidos e, por consequência, denunciou a crítica de Stáline contra Tito. Enver Hoxha e o Partido albanês afirmaram que esta posição relevava do nacionalismo burguês e lançava às urtigas considerações ideológicas e políticas. Ora, a evolução na Jugoslávia deu antes razão a Stáline e à sua crítica da linha burguesa de Tito. No entanto, Stáline e o partido bolchevique, a partir da análise da situação internacional no seu conjunto, decidiram não intervir militarmente na Jugoslávia para aí defender o socialismo ameaçado, segundo eles, nos seus fundamentos.
O internacionalismo proletário exige que os interesses do conjunto do campo socialista prevaleçam sobre os interesses da parte. Mas esses interesses do conjunto devem ser definidos de comum acordo entre os partidos verdadeiramente comunistas. A intervenção do Exército Vermelho em Berlim, em 1953, era necessária para salvar o socialismo na RDA. A intervenção na Hungria, em 1956, era também necessária para derrotar uma contra-revolução dirigida pelas forças fascistas e pró-americanas. Mas este caso contém já múltiplas complicações pelo facto de que Nikita Khruchov, ao mesmo tempo que esmagava a contra-revolução, desenvolvia ele próprio posições revisionistas e portanto uma política de conciliação com o capitalismo e o imperialismo.
A intervenção na Checoslováquia está ainda mais sujeita a discussão.
De qualquer modo, hoje, foi amplamente provado que a União Soviética não podia defender validamente as conquistas do socialismo mundial praticando o revisionismo nos seus assuntos internos e o hegemonismo nas suas relações exteriores. O Partido Comunista da Checoslováquia, estando ideológica e politicamente corrompido, necessitava de corrigir radicalmente os seus erros, sem o que a sua derrocada deveria, mais tarde ou mais cedo, produzir-se. Neste caso, a intervenção soviética não faria senão retardar a catástrofe.
Para defender validamente e a longo prazo as conquistas do socialismo internacional, a União Soviética deveria provar a superioridade do seu desenvolvimento económico e da sua democracia socialista. Os quadros do Partido soviético deveriam ser exemplos no que respeita ao espírito revolucionário, à ligação às massas e à prática da ajuda desinteressada ao movimento revolucionário mundial. O Partido Comunista da União Soviética deveria realizar análises materialistas, penetrantes e convincentes das diferentes correntes oportunistas que atravessavam a comunidade socialista, respeitando simultaneamente a independência e a autonomia dos outros partidos. Ora, na década que se seguiu a 1968, os dirigentes do Partido e do Estado soviético perderam todas as qualidades marxistas-leninistas e as suas intervenções e diktats já não procediam de uma política marxista-leninista autêntica.
Além disso, assim que a maioria da direcção checoslovaca adoptou uma orientação liberal e social-democrata para a construção socialista, os comunistas autênticos deste país não deveriam ficar à espera essencialmente da ajuda exterior, como fizeram muitas vezes, mas sim retomar o caminho do trabalho revolucionário na base, pois somente as classes trabalhadoras, armadas de um ideal socialista, podem constituir a firme garantia de uma correcção no sentido marxista-leninista.
Depois da normalização, o Partido Comunista da Checoslováquia formulou um certo número de conclusões correctas da experiência dramática que tinha acabado de viver.
«Uma das causas determinantes desta evolução catastrófica foi a penetração gradual nos órgãos dirigentes do Partido de pessoas que haviam mais ou menos traído o marxismo-leninismo e o internacionalismo proletário, que violavam as normas da vida do Partido e os princípios do centralismo democrático. Esta gente tomou gradualmente lugar cimeiro na direcção do Partido. No decurso dos últimos anos, o ponto de vista de classe sobre os problemas enfraquecera-se, a vigilância revolucionária e os princípios ideológicos sofreram recuos, os métodos pequeno-burgueses desenvolveram-se assim como o arrivismo e o oportunismo. A formação do homem socialista, a grande luta pela sua consciência socialista, a luta contra a inércia, contra as tendências estranhas ao ponto de vista de classe, não estavam fundadas num programa eficaz, adaptado às nossas condições, em que se manifestava a acção de fortes camadas da pequena burguesia e de diversas tradições e influências sociais-democratas. Os aspectos internacionais da nossa evolução, determinados pelo agudo antagonismo de classe do mundo contemporâneo, reforçavam substancialmente a urgência da luta política e ideológica. Não foi travada uma luta suficiente contra o oportunismo de direita crescente no Partido, que reflecte a acção das camadas pequeno-burguesas e das influências internacionais. A direcção do Partido também não tirou as conclusões necessárias da contra-revolução húngara e não preparou o Partido para defrontar os métodos de diversão ideológica que os imperialistas começaram a usar como arma principal contra os países socialistas.»(32)
Estas análises parecem-nos válidas. Mas a questão permanece: o Partido Comunista da Checoslováquia terá encontrado os meios para realizar as rectificações profundas que deveriam seguir-se? Não temos as informações necessárias para fazer essa apreciação. Medidas autoritárias contra os inimigos do socialismo eram sem dúvida necessárias em 1968. Mas a permanência do seu efeito depende da tenacidade dos esforços para corrigir, na base, os erros políticos que tornaram possível o desenvolvimento das teses pró-capitalistas e pró-imperialistas. A redobrada ofensiva do imperialismo contra os países socialistas a que assistimos hoje, colocará à prova a direcção checoslovaca. Os factos mostrar-nos-ão em breve se ela foi capaz, no decurso das duas décadas passadas, de reconquistar a confiança das massas e de reganhar uma parte dos comunistas que se afastaram do Partido seguindo a tendência de Dubcek.
Não estamos em condições de prever se a direcção do Partido Comunista da Checoslováquia terá a capacidade política necessária para repelir os ataques renovados do imperialismo e dos seus agentes que actualmente efectuam tantas devastações na Polónia e na Hungria.
No entanto, o que podemos desde já afirmar é que a Carta 77 terá um papel importante em todo o movimento anti-socialista que se verifica na Checoslováquia.
Unindo estreitamente os seus esforços, os reaccionários checoslovacos e os meios de informações ocidentais fizeram há muito o balanço da experiência da luta de classes no socialismo. Em torno de um núcleo duro de anticomunistas, visam constituir um movimento tão largo quanto possível sobre uma plataforma democrática, ampla, «inocente». Exploram qualquer expressão de descontentamento, qualquer erro da parte do Partido, para alargar a audiência do seu movimento «democrático». Graças às suas estreitas relações com as rádios e os media ocidentais, a CIA e os outros serviços secretos asseguram uma larga publicidade aos corajosos «movimentos democráticos» em luta contra os «stalinistas». A Carta 77 foi concebida segundo este esquema.
Duas forças constituíram a Carta 77: a direita católica e a social-democracia alérgica ao socialismo real. Mas para se encontrar à altura de tocar um público mais largo, os seus iniciadores fizeram um grande esforço para juntar uma terceira força, a dos revisionistas saídos do Partido Comunista.
Jan Tesar, um dos signatários da Carta, sublinha esta «necessidade do pluralismo político» e prossegue:
«Só a cooperação entre as três tendências fundamentais pode permitir o desenvolvimento de uma luta contra o despotismo».(33)
Jiri Nemec, outro signatário, é um representante da tendência reaccionária cristã que gosta do underground e dos seus grandes concertos de rock. porque, diz ele, «o underground procura a sua orientação no Evangelho». Nemec encontrou a sua própria orientação nas obras dos filósofos da extrema-direita, Teilhard de Chardin — no seu período fascista —, Hannah Arendt e Heidegger, com a sua conversa incompreensível sobre a liberdade, sobre «a existência própria, autêntica, o homem pensando-se em referência ao seu próprio fim», conversa que orna a preceito a liberdade de explorar. Após esta citação de Heidegger, Jiri Nemec continua:
«A teoria evangélica e a teoria católica conduzem às fontes profundas da liberdade humana.» O homem livre é «o contrário do revolucionário clássico que não espera senão a ocasião da sua vida para se colocar à frente das multidões em delírio».(34)
Rudolf Battek, antigo deputado no Conselho Nacional Checo, signatário da Carta 77, é um anticomunista que se reclama da social-democracia. Verberando o «totalitarismo» que reina na Checoslováquia, é de opinião de que uma
«solução alternativa, num sistema totalitário, não se pode reduzir a ”saladas reformistas” (...) Não se pode eliminar o sistema totalitário sem afastar por uma política apropriada todos os elementos de uma estrutura de ditadura política».(35)
Jiri Hajek, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Dubcek, comunista «reformador», foi o porta-voz da Carta 77 no princípio da sua existência. O «comunismo democratizado» da Primavera de Praga continua a ser o seu ideal. Mas aceitou servir de biombo a todos os anticomunistas, prevendo, já em 1978,
«uma explosão de ressentimento popular muito mais espontânea e violenta do que tudo o que se pôde ver em 1968», no caso de o apoio soviético ao PCC deixasse de estar garantido.(36)
Em Agosto de 1978 tiveram lugar os primeiros encontros entre a Carta 77 e o KOR(37) polaco representado por Adam Michnik, Jacek Kuron, Jan Litynski, três dos principais dirigentes do Solidarnosc. Comentando a Primavera de Praga, diziam então numa declaração comum:
«Toda a Europa democrática colocava as suas esperanças nos processos de democratização, nos quais via uma tentativa de criar uma alternativa a um sistema totalitário».
Assim, o Solidarnosc, com a sua orientação abertamente anticomunista, era desde logo considerado como seguimento lógico da Primavera de Praga e do seu pretenso « socialismo de rosto humano». Em 1978, a Carta 77 e o KOR assinaram também acordos de troca de informações e de apoio mútuo e estabeleceram contactos com os «defensores dos direitos humanos» na Arménia, na Geórgia, na Lituânia e na Ucrânia.(38)
Este ano, a Carta 77 lançou um apelo intitulado «Algumas frases», com o propósito de servir para «uma acção permanente e de massas, uma espécie de referendo nacional». Proclamado na quinta-feira, 29 de Junho de 1989 na Radio Free Europe, o apelo exige no seu ponto quatro:
«Libertar os media e a actividade cultural (na Checoslováquia) de qualquer forma de manipulação (...), abri-los a um debate livre».
Infelizmente para os «democratas» da Carta 77, algumas das suas consignas, enviadas à Radio Free Europe, foram tornadas públicas. Tratava-se, de facto, de um detalhado plano de batalha, indicando o que havia a fazer semana a semana, plano destinado à Radio Free Europe, assim como à BBC e à Voz da América. Os seus redactores insistem fortemente na necessidade de publicar o apelo no Le Monde, The Times, Frankfurter Allgemeine Zeitung, etc. Todas estas consignas confidenciais mostram claramente que o caminho da Carta 77, dirigido às massas checoslovacas, passa essencialmente pelas emissões das rádios pertencentes aos serviços secretos ocidentais e pela grande imprensa do mundo imperialista.
«Chegámos a acordo com os polacos», a Carta 77 nas suas directivas confidenciais, «para que, logo a seguir à publicação de «Algumas frases», a coisa seja apoiada publicamente pela fracção parlamentar do Solidarnosc. Vamos tentar obter o apoio dos húngaros.»(39)
É desde então evidente que a Carta 77, de mão dada com a CIA, se prepara para a «luta final».
Acrescentemos que o trotskista Petr Uhl se encontra entre os mais activos deste concílio de anticomunistas, reunidos em torno da Carta 77. Gaba-se, aliás de ser um dos principais redactores desta Carta. Assinala que a oposição saída do Partido Comunista da Checoslováquia e que seguia a linha Dubcek—Mlynar, recusou sempre aderir à Carta 77. Confessa também que «a maioria dos signatários, ou seja quase todos», não quer ouvir falar do marxismo.(40) Como em todos os países socialistas, os trotskistas apoiam na Checoslováquia a agitação empreendida pela CIA e por todo o arco-íris dos nostálgicos do mercado livre, pretendendo que essa bela gente ajude, inconscientemente, a vanguarda trotskista a realizar a sua «revolução política antiburocrática» que destruirá o «sistema stalinista»...
Por trás de Petr Uhl, o seu porta-voz checo, o grupo de Mandel alinha fogosamente com a grande subversão. A imprensa trotskista titula, em 15 de Novembro de 1988: «Checoslováquia: chegou o momento das grandes mudanças?» O artigo abre com um elogio a Vaclav Havel, esse escriba que se ufana da sua coragem na defesa das ideias da extrema-direita:
«Quando as pessoas tiveram a coragem de defender abertamente as suas ideias, o momento das grandes mudanças terá chegado. Assim se exprimia Vaclav Havel, porta-voz do grupo checo dissidente da Carta 77.»(41)
O grupo Mandel sabe perfeitamente que «as ideias» que Havel, Nemec e Battek têm «a coragem de defender» são as da direita pró-ocidental. Mas, pegando nos termos utilizados pelo próprio Havel, apresenta a realização destas ideias como «o momento das grandes mudanças». Hoje, que o andamento pró-capitalista na Hungria se tornou evidente, Mandel afirma que os movimentos de revolta na Checoslováquia, são «ajudados pelas mudanças nos países vizinhos, a Hungria, por exemplo». Para combater o Partido Comunista da Checoslováquia e os fundamentos socialistas da Checoslováquia, os trotskistas retomam o programa social-democrata e pró-imperialista de Dubcek. Apoiam a linha de certos reformadores do partido checoslovaco, que propõe
«mais iniciativas para as empresas, a introdução de certos mecanismos de mercado, assim como um espaço mais amplo deixado à iniciativa privada. Enfim, uma verdadeira perestroika à moda checa. Tão indispensável como na URSS, se o país quer escapar à catástrofe económica».
Mas, afirma a IV Internacional, esta excelente linha reformadora coloca um problema político insolúvel aos actuais dirigentes stalinistas já que essas reestruturações
«se assemelham estranhamente à reestruturação começada na Primavera de Praga sob a batuta do economista Ota Sik...»
Depois, prosseguem os nossos trotskistas, os burocratas checos
«têm um pavor medonho do Vento de Leste, da política de glastnost. Compreende-se: a glastnost lembra-lhes a Primavera de Praga, com as suas publicações livres.»(42)
Assim, uma vez mais, Mandel embrulha em embalagem cor-de-rosa, a sua mercadoria liberal, na ocorrência, a defesa da linha social-democrata da Primavera de Praga.
É de esperar que nos meses e anos que aí vêm, a luta de classes se acentue na Checoslováquia, sob a redobrada pressão das potências imperialistas. O seu resultado terá grande significado para o conjunto dos países socialistas. Se o liberalismo económico e político deve submergir a Checoslováquia, então a Jugoslávia, a Hungria, a Checoslováquia e a Polónia constituirão uma zona contínua onde as multinacionais poderão exercer o seu poder. A República Democrática Alemã será completamente cercada. A maré das ideias capitalistas influenciará os direitistas que se escondem na equipa de Gorbatchov. O confronto entre o grupo pró-capitalista de Sákharov—Éltsine e os marxistas-leninistas autênticos será inevitável; onde se situará Gorbatchov na hora da batalha decisiva?
Não foram precisos anos para responder à questão colocada acima: três meses após a redacção deste estudo, o regime socialista checoslovaco, incapaz de opor a mínima resistência à ofensiva da direita nacional e internacional, ruía. Assistimos a importantes movimentos de massas em Praga. No Ocidente, forças que iam da extrema-direita ao trotskismo, passando pela social-democracia, saudaram «o povo que tomou nas mãos o seu destino» e aclamaram «a revolução de veludo».
Para os marxistas era evidente que esse povo, completamente desorientado pela chuva de propaganda de direita e pela capitulação vergonhosa de todos os que se mascaravam de comunistas, marchava de olhos fechados na esteira das bandeiras da Restauração e do Antigo Regime. Ninguém dirá que os dirigentes da contra-revolução checa não tinham anunciado o que aí vinha. Já em 15 de Outubro de 1988, todas as grandes figuras da Carta 77 e de outros grupos de oposição - Rudolf Battek, Jiri Dienstbier, Vaclav Havel, Jaroslav Sabata, Ludvik Vaculik e uma centena de outros — haviam assinado um Manifesto do Movimento pela Liberdade cívica.
Eis as teses essenciais.
«O pluralismo económico é impossível sem pluralismo político. Só uma transformação do sistema político pode abrir o caminho a uma reforma económica verdadeiramente radical que libertaria as empresas do jugo da burocracia centralizada.» «Somos pelo pluralismo de diversas formas de propriedade e de decisão.»
E, após haver assinalado as formas autogestionárias e cooperativas, o Manifesto afirma:
«O pleno restabelecimento da empresa privada é inelutável nos domínios do comércio, do artesanato, das pequenas e médias empresas». «A economia checoslovaca deverá integrar-se, de maneira natural, na economia mundial, baseada na divisão internacional do trabalho.»(43)
A reacção do trotskista Petr Uhl a este Manifesto da contra-revolução de veludo foi muito significativa: enquanto se declarava solidário com as intenções fundamentais, julgou oportuno não assinar um texto tão comprometedor. Uhl reafirmou o seu acordo com os signatários, por «uma discussão de todos os problemas políticos no respeito do pluralismo».(44) O pluralismo de Uhl engloba, portanto, toda a gama das forças pró-capitalistas e pró-imperialistas. Trata-se, disse Uhl,
«de unir todos os adversários do centralismo burocrático e do stalinismo», a fim de «nos libertarmos do isolamento dogmático e da hegemonia burocrática»,
em suma, libertar- se do que ele chama o «socialismo real».
Entretanto, o Manifesto é tão francamente de direita que não deixa praticamente lugar aos pequenos truques de demagogia que constituem o contributo específico de Petr Uhl para a contra-revolução. É assim que é obrigado a constatar:
«Trata-se de uma plataforma liberal-democrata próxima do Partido Liberal alemão e dos liberais ingleses.» «A pretensão do Movimento para a Liberdade Cívica de coordenar todas as actividades políticas democráticas independentes tem um carácter totalitário.»
Mas esta acutilante análise não impede o trotskista de continuar a fazer olhos bonitos aos seus amigos do pluralismo anticomunista.
Ele lembra que muitos dos signatários têm
«um passado socialista no melhor sentido da palavra» e saúda no Manifesto «a reivindicação da autogestão nas grandes empresas»,
que não ultrapassa o quadro do accionariado operário da senhora Thatcher.(45)
Assim, a direita checa proclama alto e bom som a sua vontade de restauração, mas passeia com ostentação um pequeno apêndice cor-de-rosa que oferece à admiração de uma certa «esquerda». Um punhado de trotskistas, sem a menor preponderância sobre as massas, esforçar-se-á para manter a ficção de que a direita, massiva e agressiva, age segundo a linha da «revolução política antiburocrática» de Trótski!
Depois da vitória da contra-revolução e da aplicação do Manifesto que ele próprio classificou de liberal, Uhl declara:
«Poder-se-á discutir em que medida a teoria de Trótski da revolução política foi justificada. Penso que é na Checoslováquia que a realidade é a mais próxima desta teoria».(46)
E o homem, que não brilha por grande inteligência, põe-se a explicar esta «revolução política»:
«Enquanto de tratar de afirmar que se é contra o “comunismo”, contra o stalinismo, contra a burocracia, toda a gente está de acordo.»(47)
Bela descrição da frente unida de todo o arco-íris anticomunista!
«Havia aqueles que viam na Carta 77 um passo na direcção da revolução política — era o meu caso; outros viam nela um meio de propagar a palavra de Cristo. Era um verdadeiro laboratório de tolerância.»(48)
Para derrubar e destruir o socialismo (fosse um socialismo vigoroso e forte ou um socialismo doente e minado), os clérico-fascistas, os nacionalistas reaccionários, os agentes da CIA e os sociais-democratas dão as mãos e, claro, fazem prova de uma grande «tolerância» em relação aos pseudo-socialistas que vêm reforçar a sua agitação a golpes de citações de Trótski.
A famosa «revolução antiburocrática» da IV Internacional teve assim o seu baptismo de fogo da prática. Revelou num ápice o seu carácter puramente demagógico. A sua substância reduziu-se a frases pomposas de consonância de esquerda, para maquilhar um processo contra-revolucionário. Um exemplo brilhante: o grupo de Mandel saúda o 12 de Janeiro de 1990:
«o brusco acesso à vida política de centenas de milhões de homens e de mulheres dos países de Leste».(49)
Onze meses mais tarde, vê-se obrigado a confessar, de passagem, que esta frase pomposa não corresponde a nada. Em 23 de Novembro de 1990, escreve:
Segundo Petr Uhl, não haveria senão algumas centenas, talvez milhares de militantes do Fórum a nível regional e local». «O movimento estudantil, que foi em larga medida o motor dos acontecimentos de Novembro de 1989, já não existe.»(50)
O acesso à vida política das massas significa, em linguagem marxista, que as massas se tornam conscientes dos interesses históricos da sua classe, que elas se organizam num partido marxista-leninista e que tendem a instaurar a ditadura popular contra as forças do imperialismo, do capitalismo e da burocracia. Mandel fala do acesso à vida política das massas no momento em que elas seguem uma direita ébria de vingança. Este «acesso à vida política» foi realizado na Checoslováquia, em Novembro de 1989, no seio do Fórum Cívico, dirigido por Havel, cujas ligações com a CIA não são segredo para ninguém. Segundo Pavel Pechacek, chefe da secção checoslovaca da Radio Free Europe, financiada pelo governo americano, a influência da sua rádio na evolução dos países de Leste é manifesta.
«Tivemos sempre um papel importante. Segundo o dirigente da revolta estudantil em Bratislava, foi a Free Europe que deitou fogo à pólvora. Tivemos sempre contactos estreitos com Havel, Carnogursky e Dientsbier, que são hoje membros do nosso governo mas que, durante anos, trabalharam para nós como correspondentes independentes».
Em 20 de Novembro de 1989, Pechacek recebeu um visto de entrada da embaixada checa em Bona.
«Não consigo compreender, disse ele. Havel recusava-se a acreditar que eu o esperava em Praga, e Petr Pithart dizia que queria tocar-me antes de acreditar.»(51)
Tais são as personagens que «acordaram as massas para a vida política »...
Em Outubro de 1990, Vaclav Klaus foi eleito para chefiar o Fórum Cívico. Klaus, que se ligara a Havel em 1968, durante a Primavera de Praga, tornou-se num dos seus principais conselheiros. Desde há longos anos, Klaus mostra a sua admiração por Milton Friedman e por Hayek, os dois economistas mais destacados da direita americana, que se pronunciam por uma «economia de mercado sem qualquer adjectivo».(52) O acesso das massas à vida política é portanto dirigido pelos admiradores de Reagan.
Estas verdades, toda a imprensa internacional as havia amplamente exposto no início de 1990. É assim, com conhecimento de causa, que Mandel continuou, em Março deste ano, a louvar um processo tendo por programa a restauração do capitalismo.
«Em alguns Estados-satélites», declarou Mandel em 21 de Março de 1990, a um jornal bolsista belga, «a passagem para um modelo absolutamente ocidental é impossível, mas esse não é o caso em países como a União Soviética e a Checoslováquia.»(53)
O grupo de Mandel sabe perfeitamente que a esmagadora maioria da Carta 77 e, depois, do Fórum Cívico se situa entre a direita retro e a direita disco. Uniu-se a estes indivíduos num ódio comum ao comunismo. E com a desenvoltura de um homem pouco esperto, Petr Uhl confessa que continuará solidário com esta direita enquanto os últimos restos do sistema socialista não forem eliminados! Comentando o modo como os chefes do Fórum Cívico se lançam sobre os lugares lucrativos, Uhl declara:
«Há uma corrida aos postos de ministros ou de deputados, por processos antidemocráticos. Por agora critico isso de maneira, digamos, educada, porque o antigo regime não foi ainda batido».(54)
Um dos seus próximos, Fiser, também ele co-fundador da Carta 77, confessa:
«Havel não é o democrata que os media apresentam. O seu programa reduz-se a imbecilidades pseudo-humanistas. Os seus conselheiros, alguns dos quais de conivência com a CIA, isolam-no de toda a crítica das outras tendências no seio do Fórum Cívico.»(55)
Bela confissão, esta, de que o Fórum é dominado pelos partidários obtusos da ordem burguesa. E como é ridícula a queixa de Fiser de que os agentes da CIA impedem o querido Havel de ouvir as críticas da «esquerda» do Fórum! Essa pseudo-esquerda foi utilizada para influenciar certos meios progressistas no Ocidente. Uma vez que a restauração triunfou definitivamente, esses marginais perderam todo o valor.
E no entanto, mesmo após a restauração, um homem como Uhl continuará a servir a direita vitoriosa! Em Fevereiro de 1990, fazendo o panegírico da «revolução democrática», Uhl detecta no seio uma ala tecnocrática, maioritária, e uma ala «autogestionária» que tem a sua preferência.
«Ou aqueles que se empenharam na luta revolucionária tentam canalizar todo o processo revolucionário nas calhas do Estado, ou então tentam institucionalizar ou mecanismos sociais não estatais. Ou as pessoas são organizadas pelo Estado, ou então auto-organizam-se.»(56)
Escolher entre Estado e autogestão é uma velha pecha anarquista. O Estado é sempre um instrumento da ditadura de uma classe e Uhl contribuiu para a restauração completa da ditadura da burguesia. Esta demagogia sobre a autogestão acabou em farsa grotesca quando o nosso autogestionário foi promovido à chefia da Agência de Notícias Checoslovaca (CTK), a voz oficial da nova Checoslováquia burguesa! Desde Fevereiro de 1990, Uhl dirige os 1700 empregados da CTK, para informar o público das benfeitorias dos Havel e dos Klaus! Aquele que, ontem ainda, elogiava a autogestão, afirma hoje que o Estado representa a sociedade.
«Subentende-se geralmente que, se dependemos do Estado, apoiamos o governo. O que não é exactamente o caso. Devemos, é claro, “respeitar” o governo, mas se há um conflito é antes um comité parlamentar que deve decidir, porque o parlamento representa mais o Estado do que o governo. Temos a tarefa de divulgar as informações sobre a sociedade checoslovaca no estrangeiro. Isso diz respeito ao Estado checoslovaco porque ele representa neste momento a sociedade checoslovaca.»(57)
Assim, o trotskista Uhl tornou-se no porta-voz oficial das forças que antes qualificava de burguesas-liberais. Será difícil encontrar melhor ilustração do conteúdo real da «revolução política antiburocrática».
Notas de rodapé:
(1) NRC-Handelsblad, 4 de Julho de 1989, p. 7, artigo de Hans Renner. (retornar ao texto)
(2) Le Monde , 26 de Julho de 1989, p. 4. (retornar ao texto)
(3) La Libre Belgique, 1 de Agosto de 1989. (retornar ao texto)
(4) Le Monde , 1 de Agosto de 1989, p. 24. (retornar ao texto)
(5) Ibidem. (retornar ao texto)
(6) Le Monde, 26 de Julho de 1989, p. 4.(retornar ao texto)
(7) Ibidem. (retornar ao texto)
(8) Ibidem. (retornar ao texto)
(9) Ibidem. (retornar ao texto)
(10) Le Monde, 28 de Julho de 1989, p. 6 e 7. (retornar ao texto)
(11) Le Monde , 26 de Julho de 1989, p. 4. (retornar ao texto)
(12) Ibidem. (retornar ao texto)
(13) Ibidem. (retornar ao texto)
(14) Le Congrès clandestin - le 14e congrès extraordinaire, ed. Seuil, 1969, p. 148 e 146. (retornar ao texto)
(15) De Standaard, 3 de Agosto de 1989. (retornar ao texto)
(16) Forum-dissidences n° 1, Maio de 1989, Genebra, p. 26-27. (retornar ao texto)
(17) Le Monde , p. 14. (retornar ao texto)
(18) Le Congrès clandestin, pp. 145-146. (retornar ao texto)
(19) Faut-il changer notre programme?, 1921, p. 101. (retornar ao texto)
(20) Le Congrès clandestin, p. 258. (retornar ao texto)
(21) Ibidem, p. 156. (retornar ao texto)
(22) Ibidem, p. 158 et 300. (retornar ao texto)
(23) Citado em: Les événements en Tchécoslovaquie: Faits, documents, presse, témoignages, Moscovo, 1968 p. 90-91. (retornar ao texto)
(24) Ibidem, p. 89. (retornar ao texto)
(25) Alusão à conhecida série de TV norte-americana «Dallas», produzida entre 1978 e 1991, pela CBS, que descreve as intrigas entre duas famílias nos meios da alta sociedade texana. (N. Ed.) (retornar ao texto)
(26) Le Congrès clandestin ..., p. 357 e 346. (retornar ao texto)
(27) Ibidem, p. 346 e 348. (retornar ao texto)
(28) Fidel Castro, Alocução de sexta-feira 23 de Agosto de 1968, Instituto del Libro, p. 10. (retornar ao texto)
(29) Idem, ibidem, p. 10 e 19. (retornar ao texto)
(30) Idem, ibidem, p. 12-13 e 15. (retornar ao texto)
(31) Idem, ibidem. (retornar ao texto)
(32) XlVe Congrès du Parti communiste de Tchécoslovaquie, Praga, 1971, ed. Orbis, p. 19 e 16. (retornar ao texto)
(33) Listy, órgão da oposição socialista checoslovaca, n.° 8, 1978, p. 19. (retornar ao texto)
(34) Listy , n.° 15-16, 1980, p. 29-33. (retornar ao texto)
(35) Ibidem, p. 28. (retornar ao texto)
(36) Jiri Hajek, Dix ans après, ed. Seuil, 1978, p. 200. (retornar ao texto)
(37) KOR, iniciais polacas de Comité de Defesa dos Operários, estrutura clandestina criada em 1976 pelos opositores ao socialismo na Polónia. Em Outubro 1981 dissolve-se durante o congresso do Solidarnosc em Gdanks. (N. Ed.) (retornar ao texto)
(38) Listy , n.° 9, 1978, p. 23. (retornar ao texto)
(39) Citado em: Le scénario et la mise en scène de Quelques Phrases, Rude Pravo, 22 de Julho de 1989. (retornar ao texto)
(40) Listy, n.° 8, 1978, p. 24 et 26. (retornar ao texto)
(41) La Gauche, 15 de Novembro de 1988, p. 11. (retornar ao texto)
(42) Ibidem. (retornar ao texto)
(43) Inprecor, n.° 283, 1989, p. 24. (retornar ao texto)
(44) Ibidem, p. 26-30. (retornar ao texto)
(45) Ibidem. (retornar ao texto)
(46) Inprecor, n.° 304,1990, p, 26. (retornar ao texto)
(47) Ibidem. (retornar ao texto)
(48) Inprecor, n.° 300, 1990, p. 8. (retornar ao texto)
(49) Ibidem. (retornar ao texto)
(50) Inprecor, n.° 319, 1990, p. 4. (retornar ao texto)
(51) NRC-Handelsblad, 13 de Janeiro de 1990. (retornar ao texto)
(52) The Wall Street Journal, 6 de Março de 1990, «Trague's Free market Minister». (retornar ao texto)
(53) De Financieel Ekonomische Tijd, 21 de Março de 1990, Ernest Mandel: «Gorbatjov is te vergelijken met Roosevelt». (retornar ao texto)
(54) Inprecor, n.° 300, 1990, p. 8. (retornar ao texto)
(55) La Gauche, 3 de Outubro de 1990, «Fiser, co-fondateur Charte 77». (retornar ao texto)
(56) Inprecor, n° 304, 1990, p. 26. (retornar ao texto)
(57) Ibidem, p. 27. (retornar ao texto)
Inclusão | 18/02/2013 |
Última atualização | 14/04/2014 |