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Primeira Edição:........
Fonte: Biblioteca Marxista Virtual do
Partido da Causa Operária.
Tradução: ........
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo,
janeiro 2006.
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As últimas obras de Plekhanov, os "Princípios Fundamentais do Marxismo", que faz uma exposição sistemática do materialismo dialético, surgiu em 1908, um quarto de século após ser lançado seu célebre panfleto: "O Socialismo e a Luta Política", que inaugura a história da social-democracia revolucionária na Rússia.
Esta brochura, publicada em 1883, marcou a ruptura completa com os velhos preconceitos dos narodiniki. Ela indicou ao movimento revolucionário vencido, uma nova via, ao termo da qual, esperava a vitória, lenta a vir, porém certa. Foi na própria realidade russa que ela mostrou o processo social e econômico que minava lentamente, porém com tenacidade, o antigo regime. Ela predisse que a classe operária russa, desenvolvendo-se paralelamente ao capitalismo, infligiria o golpe mortal no absolutismo russo e tomaria seu lugar, em igualdade, nas fileiras do exército internacional do proletariado.
Mas Plekhanov não se limitou à crítica do velho populismo dos narodiniki. Num brilhante tratado, que conserva ainda todo seu valor, ele fez a exposição dos princípios fundamentais do socialismo científico e indicou o método do materialismo dialético como a arma mais segura na luta teórica e prática.
"Que é o socialismo científico? Por socialismo científico, entendemos a doutrina comunista que, desde 1840, começou a se desprender do socialismo utópico, sob a forte influência da filosofia hegeliana de um lado, e da economia clássica de outro; que deu, pela primeira vez, uma explicação real de todas as etapas do desenvolvimento da civilização humana; que demoliu sem piedade os sofismas dos teóricos burgueses e que, "armada de todo o saber de seu século", partiu em defesa do proletariado. Essa doutrina não só demonstrou, com perfeita clareza, toda a inconsistência científica dos adversários do socialismo mas, indicando seus erros, deu-lhes, ao mesmo tempo, explicação histórica. E assim, como outrora disse Heim a respeito da filosofia de Hegel, "ela atrelava a seu carro triunfal cada uma das opiniões sobre as quais triunfara".
"Assim como Darwin enriquecera a biologia com a teoria das espécies, tão admirável em simplicidade quanto rigorosamente científica, também os fundadores do socialismo científico nos mostraram, na evolução das forças produtivas e na luta destas forças contra as formas sociais de produção atrasadas, o grande princípio da transformação das espécies sociais."
Mas não foi como um clichê, ou uma "verdade definitiva e sem apelo" que Plekhanov havia recomendado aos revolucionários russos o sistema do socialismo científico. "É evidente", escrevia ele, "que a evolução do socialismo científico não está terminada e tampouco pode parar nos trabalhos de Engels e de Marx assim como a teoria da origem das espécies não podia ser considerada definitivamente acabada com o lançamento das principais obras do biólogo inglês. Ao estabelecimento dos princípios fundamentais da nova doutrina, deve suceder o estudo detalhado das questões que a ela se ligam, estudo este que deve completar e levar a seu termo a revolução feita na ciência pelos autores do Manifesto Comunista. Não há nenhum ramo da sociologia diante do qual não se abriram horizontes novos e de uma amplitude extraordinária, na medida em que cada um deles assimilava suas concepções filosóficas e históricas. A influência benéfica dessas concepções se faz sentir atualmente no domínio da história do direito e no da chamada "civilização primitiva".
Plekhanov já considera necessário chamar, a atenção para a seguinte particularidade da doutrina que ele expõe: Remontando sua genealogia entre outros, a Kant e a Hegel, o socialismo científico apresenta-se, entretanto, como o adversário mais encarniçado e resoluto do idealismo filosófico. Ele o afugenta de seu derradeiro refúgio, a sociologia, onde os positivistas lhe haviam dado uma acolhida tão calorosa. O socialismo científico pressupõe a "concepção materialista da história", ou seja, ele explica a história espiritual da humanidade pela evolução das relações sociais em seu próprio seio (que se dão, como outras, sob a influência do meio natural).
Um trabalho persistente para criar o partido revolucionário do proletariado, a necessidade de aplicar um novo método ao estudo dos problemas concretos da atualidade russa, à pesquisa dos "destinos do capitalismo na Rússia", tudo isso, ao mesmo tempo que uma atividade prática intensa, não impedia Plekhanov de trabalhar no "estudo minucioso" dos "princípios fundamentais do marxismo", concentrando-se cada vez mais na história da filosofia, da civilização e da arte. Ao mesmo tempo que efetuava esse trabalho específico, consagrado a desenvolver as concepções de Marx e Engels, Plekhanov continuava a defendê-las contra os diferentes representantes do revisionismo russo e internacional, revisionismo que periodicamente intenta "completar", ou "corrigir", ou "substituir" certos princípios do marxismo por velhos "dogmas burgueses", há muito obsoletos.
Esta obra de Plekhanov é consagrada principalmente aos aspectos filosófico e histórico do socialismo científico. Para Plekhanov, o marxismo é toda uma concepção do mundo, una e indivisível, penetrada pela unidade de uma idéia fundamental. Plekhanov protesta contra as tentativas. empreendidas por Bogdanov, Lunatcharsky, Bazarov, Fritsche, de separar os aspectos histórico e econômico desta concepção do mundo, do fundamento filosófico sobre o qual ela se apóia. Ele protesta contra todas essas tentativas de "assentar o marxismo" sobre novas bases, acoplando-o a esta ou àquela filosofia, como o neokantismo, o machismo, o empiriocriticismo etc., tentativas essas freqüentemente empreendidas sob a influência de correntes filosóficas em moda, num dado momento, entre os ideólogos da burguesia. Conforme a opinião de Plekhanov, emitida por ele pela primeira vez na ocasião de uma polêmica contra Bernstein, o materialismo de Marx e Engels está fundado no espinosismo desembaraçado, por Feuerbach, dos elementos teológicos que o atrapalhavam. Assim como Feuerbach, os fundadores do socialismo científico reconheciam a existência da unidade, mas não da identidade entre o "pensamento e o "ser". As retificações trazidas por Marx à filosofia de Feuerbach consistem principalmente em que as relações recíprocas de ação e reação entre o objeto e o sujeito são vistas por Marx da perspectiva em que o sujeito aparece num papel ativo, como um ser atuante, não mais apenas contemplativo.
"Agindo sobre a natureza exterior e transformando-a, o homem transforma ao mesmo tempo, sua própria natureza."
Plekhanov tem perfeitamente razão quando diz que Marx foi fortemente influenciado por um artigo de Feuerbach intitulado: "Teses Preliminares para a Reforma da Filosofia", editado em 1843, no segundo tomo da coletânea onde havia aparecido (1º tomo) um artigo de Marx sobre a censura prussiana (Anecdota).
"O pensar é condicionado pelo ser, não o ser pelo pensar. O ser é condicionado por si mesmo... O ser tem seu fundamento em si mesmo". Esta concepção, acrescenta Plekhanov, é colocada por Marx na base da interpretação materialista da história.
Isto não é bem exato; Marx modificou radicalmente e completou a tese de Feuerbach, que é tão abstrata, tão pouco fundada na história quanto seu homem, que ele coloca no lugar de Deus, e de sua transformação hegeliana, a Razão. "A essência humana não é algo abstrato, próprio ao indivíduo isolado. Em sua realidade, diz Marx nas conhecidas teses sobre Feuerbach, esta essência é o conjunto das relações sociais." É precisamente porque não chega a esta conclusão, que Feuerbach é forçado a "abstrair o curso da evolução histórica e partir da suposição do indivíduo humano abstrato, isolado."
Em completo acordo com esta crítica ao homem abstrato de Feuerbach, Marx também modifica sua tese fundamental: "Não é", diz ele, "a consciência dos homens que determina sua maneira de ser, mas, ao contrário, sua maneira de ser social que determina sua consciência". Até hoje o erro fundamental de todos os sistemas filosóficos que procuram explicar a relação entre o pensamento e o ser, é o de querer ignorar esta circunstância, que nem Feuerbach via, notadamente, o fato que "o indivíduo abstrato, por eles analisado, pertence na realidade a uma forma determinada da sociedade".
Já em suas primeiras obras, Plekhanov tinha sublinhado mais de uma vez a diferença entre o método dialético de Marx e Engels e a teoria vulgar da evolução, segundo a qual nem a natureza nem a história dão saltos, tudo no mundo só se transformaria lenta e gradualmente. Em sua polêmica contra Tikhomírov que, de revolucionário, se transformara em reacionário, Plekhanov explica ao "novo defensor do absolutismo" a inelutabilidade dos saltos na evolução. Nós reproduzimos aqui, em anexo, estas páginas brilhantes, ainda mais porque aí o próprio Plekhanov se refere à sua velha brochura, que é atualmente bastante difícil de se encontrar.
Particularmente interessantes na obra de Plekhanov são os capítulos onde o autor mostra como os cientistas contemporâneos, o mais freqüentemente sem o saber, são obrigados, em razão do estado atual da ciência social, a dar uma explicação materialista dos fenômenos que estudam. Cada nova descoberta relativa à história da civilização, à mitologia, à arte, traz novos argumentos em apoio da interpretação materialista da história. Às fontes de documentação que enumera e às quais se refere, Plekhanov teria podido acrescentar, para 1908, os numerosos trabalhos de outros cientistas burgueses no domínio das ciências históricas e sociológicas. Sem se aperceberem, eles usam uma linguagem e reúnem, pedra por pedra, materiais e fatos que confirmam a justeza das concepções filosóficas e históricas do marxismo.
Algumas palavras sobre a presente edição. Além do fragmento sobre os "saltos"(1), apresentamos em anexo o artigo de Plekhanov sobre o "papel do indivíduo na história"(2), assim como um grande extrato de seu prefácio(3) à brochura de Engels sobre Feuerbach. Conforme desejo de Plekhanov, estas notas sobre a dialética e a lógica tinham sido inseridas no texto da tradução alemã de seu livro, publicado em 1910. O leitor encontrará também uma série de novas anotações, feitas por Plekhanov para os leitores alemães. De nossa parte, acrescentamos algumas notas explicativas, e completamos, onde foi necessário, as referências indicadas por Plekhanov.
continuação:
capítulos - I a IV >>>
Notas:
(1) trata-se do texto intitulado: Os "Saltos" na Natureza e na História. (retornar ao texto)
(2) ainda não incluído no sítio (retornar ao texto)
(3) ainda não incluído no sítio (retornar ao texto)
Fonte |
Inclusão | 22/01/2006 |