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A seguir, são indicadas as principais linhas da história do trotskismo. A Oposição dentro do PC russo, agrupada em torno das ideias básicas de Trótski, começa a se formar a partir de 1923, retoma as premissas fundamentais da luita iniciada por Lenine contra as primeiras manifestações de burocratização do Partido e do Estado Soviético e contra a camarilha despótica e arbitrária de Stalin. Dos documentos já publicados, chegamos à conclusão de que a luita frontal e enérgica contra o estalinismo foi iniciada por Lenine; o seu cáustico Testamento (na verdade uma carta póstuma e um pós-escrito dirigido ao CC) constitui apenas um marco nesta batalha(1).
Lenine, mesmo deitado no seu leito de enfermo, temia a invasão do vírus burocrático dentro do Partido e do Estado. Não se tratava apenas dum perigo de tipo organizacional, passível de ser superado também com medidas democráticas, mas de distorções e desvios da política bolchevique em aspectos tão importantes como comércio exterior e nacionalidades. Os temores e o esforço para abreviar o perigo são dramaticamente sintetizados no chamado testamento de Lenine, que o estalinismo escondeu por tanto tempo. Copiamos o seu texto:
“Ao recomendar a estabilidade do Comitê Central, quero dizer que sejam tomadas medidas para evitar uma cisão no nosso Partido e esperava que essa cisão ocorresse, em segundo lugar, por causa de graves divergências internas.
O nosso Partido repousa sobre duas classes, o que torna possível a sua instabilidade, e se não houver harmonia entre as duas classes, o seu colapso é inevitável. Nesse caso, nenhuma medida serviria para impedir uma cisão. Mas eu confio que este evento é muito improvável e muito remoto até mesmo para falar sobre isso. Considere a estabilidade como uma garantia contra a cisão no futuro próximo, e farei aqui uma série de considerações de caráter puramente pessoal.
Acredito que o factor fundamental na questão da estabilidade ─ deste ponto de vista ─ é constituído polos membros do CC Stalin e Trótski. As relações existentes entre os dous constituem, a meu ver, mais da metade do perigo dessa cisão, que pode ser evitada, e que poderia ser alcançada, na minha opinião, elevando o número para 50 ou cem de membros do CC.
Ao tornar-se secretário-geral, o camarada Stalin concentrou um poder enorme nas suas mãos, e não tenho certeza de que ele sempre saiba como usá-lo com cuidado suficiente. Por outro lado, o camarada Trótski, como demonstrou na sua luita contra o CC na questão do Comissariado de Comunicações, destaca-se não só polas suas excepcionais faculdades (pessoalmente, é seguramente o homem mais capaz do atual CC), mas também por causa da sua autoconfiança excessiva e a sua propensão a se envolver no aspecto puramente administrativo dos assuntos.
Essas diferentes qualidades dos dous chefes mais capazes do actual CC podem levar inesperadamente a uma divisão. Se o nosso Partido não tomar medidas para evitá-la, essa divisão pode ocorrer inesperadamente. Não vou caracterizar os outros membros do CC. em relação às suas qualidades pessoais. Só tenho que lembrar que o episódio de outubro de Zinoviev e Kamenev (opuseram-se à insurreição e levaram as suas discrepâncias para fora do Partido, polo que se sugeriu a sua exclusão), mas que se não pode culpá-los pessoalmente disso, como a Trótski do seu não bolchevismo.
Sobre os membros mais jovens do CC, direi algumas palavras sobre Bukhárine e Piatakov. Ambos são, a meu ver, os mais capazes entre os jovens e, no que diz respeito a eles, é preciso levar em conta o seguinte: Bukhárine não é apenas o mais valioso e o maior teórico do Partido, mas também pode ser considerado também, por direito, o favorito de toda a organização; mas as suas opiniões teóricas só podem ser consideradas com grandes reservas como totalmente marxistas, já que ele tem algo de escolástico (nunca assimilou a dialéctica, nem acho que jamais a entendeu completamente).
Piatakov* é um homem que, sem dúvida, se distingue pola sua vontade e competência; mas se entrega demais à administração e ao lado clerical das cousas para ser confiável numa questão política séria. É claro que estas observações só são válidas no momento presente ou caso estes dous competentes e leais trabalhadores não encontrem oportunidade de aperfeiçoar os seus conhecimentos e retificar o seu espírito unilateral.*
25 de dezembro de 1922.
ADENDO À CARTA DE 24 DE DEZEMBRO DE 1922
Stalin é demasiado rude, e esse defeito, plenamente tolerável nas relações entre comunistas, é intolerável no cargo de secretário-geral. Portanto, proponho ao camaradas que vejam uma forma de retirar Stalin desse posto e nomear outro homem que se diferencie dele em todos os aspectos, ou seja, que seja mais paciente, mais afável e mais atento aos outros, menos caprichoso, etc. Esses detalhes podem parecer uma ninharia insignificante; mas penso que se pensarmos em evitar uma cisão e levarmos em conta as relações existentes entre Stalin e Trótski, que examinei anteriormente, não são mais insignificantes, ou polo menos uma ninharia que pode adquirir uma importância decisiva.
4 de janeiro de 1923”
Foi Lenine quem iniciou o ataque enérgico contra Stalin e seus amigos e neste campo tem-se a impressão de que Trótski levou algum tempo para compreender a verdadeira dimensão do perigo que este fenômeno representava. As cartas a seguir provam que o arquitecto da vitória de Outubro e do partido bolchevique chegou ao extremo de romper todas as relações pessoais com quem mais tarde não terá escrúpulos em se apresentar como herdeiro de Lenine: Carta a Stalin (5 de março de 1923 ): 'À atenção de Stalin. Estritamente secreto. Confidencial. Copie os camaradas Kamenev e Zinoviev.
Querido Camarada Stalin:
Você teve a grosseria de ligar para minha esposa e ser insolente. Apesar de ela ter lhe dito que estava pronta para esquecer tudo o que havia dito, tudo o que aconteceu chegou ao conhecimento de Zinoviev e Kamenev (que souberam de você). Não pretendo esquecer tão facilmente o que foi feito contra mim, e não preciso dizer-lhe que o que foi feito contra minha esposa, considero que foi feito contra mim também.
Portanto, peço que reflita e me diga se está disposto a retirar as suas palavras e se desculpar ou se prefere romper relações entre nós. Com estima, Lenine."
Carta de Krupskaya para Kamenev: “Lev Borisovich. Stalin permitiu-se um dos mais rudes ataques contra mim ontem, a respeito de quatro palavras que Lenine me ditou com autorização dos médicos. A minha entrada no Partido não é de ontem. Ao longo destes 30 anos, nunca ouvi uma única palavra grosseira dum camarada. Os interesses do Partido e de Illich não são menos caros para mim do que para Stalin. Nesses momentos preciso me controlar. Eu sei melhor do que todos os médicos o que pode e o que não pode ser discutido com llich. Pois sei o que era leal e o que não era e, de qualquer forma, sei melhor do que Stalin.
Não tenho dúvidas quanto à decisão unânime da Comissão de Controle com a qual Stalin se permite me ameaçar, mas não tenho forças nem tempo para perder com uma comédia tão estúpida. Eu também sou um ser de carne e meus nervos estão extremamente tensos. N. Kruspkaia“
Trótski nos seus comentários sobre o testamento de Lenine diz: “A política organizacional não foi a única arena da luita de Lenine contra Stalin. A plenária de novembro do CC (1922), reunida sem a presença de Lenine e sem a minha, introduziu inesperadamente uma mudança radical no sistema de comércio exterior, minando os próprios fundamentos do monopólio do Estado”. Lenine, que estava doente, escreveu a Trótski para intervir buscando preservar e reforçar o monopólio estatal do comércio exterior:
Carta a Stalin para os membros do CC do PC russo: “Neste momento terminei de liquidar os meus negócios e posso partir com tranquilidade. Até concordei com Trótski em defender meus pontos de vista sobre o monopólio do comércio exterior. Resta apenas uma cousa que me preocupa muito, que é a impossibilidade de intervir no congresso dos sovietes. Sou decididamente contra o adiamento da questão do monopólio do comércio exterior. Se por alguma consideração (incluindo o facto de que a minha participação no exame deste problema seria desejável) surgisse a ideia de adiá-lo..., eu seria o mais determinado oponente: o porque isso? e convencido de que Trótski apoiará os meus pontos de vista não pior do que eu... 15 de dezembro de 1922. Lenine”.
Cartas a Trotsky: “Camarada Trótski: Acho que concordamos plenamente. Peço que declare a nossa solidariedade em plenário. Espero que a nossa decisão seja aprovada, pois parte dos que votaram contra em outubro passou total ou parcialmente para o nosso lado.
Se, contra todas as expectativas, a nossa decisão não for aprovada, dirigiremo-nos à facção do congresso dos sovietes e declararemos que a questão será levantada no congresso do partido. Notifique-me nesse caso e enviarei minha declaração. Seu Lenine.
Post Scriptum. Se este problema fosse excluído da agenda do plenário (algo que não espero e contra o qual, naturalmente, você terá que protestar com todas as suas forças no nosso nome), penso que a facção do congresso dos sovietes também deve ser tomada e exigida que o problema seja levantado no congresso do partido, já que não é mais tolerável novas vacilações... 15 de dezembro de 1922, Lenine“.
“Camarada Trótski: Estou lhe enviando a carta de Frumkin(2) que recebi hoje. Também acho que está absolutamente errado, porque estou dez mil vezes mais chateado com um adiamento que torna totalmente instável a nossa política sobre um problema vital. Peço a atenção para a carta anexa e solicito veementemente que o problema seja discutido imediatamente. Estou convencido de que, se houver perigo de fracasso, é muito mais vantajoso fazê-lo antes do congresso do partido e dirigir-se imediatamente à facção do congresso soviético do que sofrer o fracasso depois do congresso. Talvez seja aceitável o seguinte compromisso: tomemos imediatamente a decisão de confirmar a validade do monopólio, mas também levemos o assunto ao congresso do partido e façamos imediatamente os acordos correspondentes.
Na minha opinião, no nosso interesse e no interesse da causa, não podemos em caso algum aceitar outro compromisso. 15 de dezembro de 1922. Lenine“.
A discordância sobre o problema da política nacional era muito mais séria. Em 1922, preparava-se a transformação do Estado soviético em união federada de repúblicas nacionais, a fim de satisfazer as aspirações dos nacionalistas que há muito conheciam a opressão e que temiam que não acabasse. Stalin, comissário das nacionalidades, desenvolvia uma política contrária e de centralismo burocrático. O convalescente Lenine teve uma acalorada polêmica epistolar com ele. De acordo com Stalin, Lenine seguia uma linha de "liberalismo" nacional. Stalin e Ordjonikidze seguiram uma política de mão pesada na Geórgia, o que irritou muito Lenine, que contatou a oposição georgiana. Convocou Trótski para formar um bloco contra o chauvinismo de Stalin e, segundo as suas secretárias, preparava uma verdadeira bomba contra ele. A carta que transcrevemos é extremamente eloquente:
“Para L. D. Trótsky. Estritamente secreto. Confidencial. Caro camarada Trótski: Peço-lhe encarecidamente que assuma a defesa da questão georgiana no CC do partido. A cousa agora está sob a "inquisição" de Stalin e Dzerzhinsky, e não posso confiar na sua imparcialidade. Ao contrário. Se aceitar assumir a defesa, posso ficar tranquilo. Se por qualquer motivo você não aceitar, devolva o arquivo inteiro para mim. Vou considerar isso como a sua rejeição. Com as melhores saudações comunistas. Lenine (ditado por telefone em 5 de março de 1923)”.
Uma breve nota dirigida ao BP [Nota do tradutor.- Bureau Político] (6 de outubro de 1922) é uma declaração de guerra contra a política estalinista sobre a questão nacional; “Declaro uma guerra de vida ou morte contra o chauvinismo de grande nação. Assim que eu me livrar desse maldito molar, vou comê-lo com os que sobraram.
É fundamental insistir para que presidirem alternadamente o Comitê Executivo da Federação: um ucraniano, um russo, um georgiano, etc. Indispensável! De vocês Lenine“.
Já a minoria georgiana (Mdívani, Makharadze e outros) expressou em tom excessivamente emotivo: “Estritamente secreto. Cópia para o camaradas Trótski e Kamenev. Caros camaradas. Acompanho de coração o seu problema. Estou indignado com a brutalidade de Ordjonikidze e com a coexistência de Stalin e Dzerzhinsky. Vou preparar para vocês algumas notas e um discurso. Com estima, Lenine. 6 de março de 1923”
A Oposição, que se autodenominava bolchevique-leninista, levantou como sua a bandeira de Lenine e as tradições do PC russo, para defendê-los dos ataques que a reação lhes dirigiu através do estalinismo. O seu objectivo não era outro senão conseguir, através da luita interna, a retificação do comportamento partidário, o retorno à prática do centralismo democrático (dada a hipertrofia do centralismo realizada à custa da democracia interna) e ao internacionalismo proletário. Foi um movimento russo, embora apoiado por alguns indivíduos de outros países. A Oposição teve especial cuidado em analisar as variações produzidas na situação política internacional, especialmente após a derrota da revolução alemã (Outubro de 1923), a que se seguiu a relativa estabilização do capitalismo e o esgotamento da investida revolucionária, situação nova que impunham tarefas específicas perante a I. C. e o PC russo.
Em outubro de 1923, Trotsky publicou seu "Novo Rumo", um ataque frontal contra a crescente burocratização do Partido e contendo recomendações para o retorno à democracia interna. A maioria do Bureau Político (dominado pola troika secreta formada por Zinoviev, Kamenev e Stalin) aprovou, polo menos formalmente, um novo rumo para o Partido, o seu retorno às normas da democracia, embora nada tenha feito para materializá-las. Em janeiro de 1924 morreu Lenine, que pouco antes havia rompido com Stalin incluindo relações pessoais; a luita contra a burocracia passou para as mãos de Trótski e da Oposição.
Coincidindo com as exigências de Trótski sobre a necessidade de rectificar a política partidária, é emitida a chamada “Declaração dos 46” (ver Preobrazhensky, Rakovsky, Trótski, “De la burocratie” [Nota do tradutor.- Original em francês: Da burocracia]). O documento é datado de 15 de outubro de 1923 e constitui um sinal de alarme diante de grave perigo. Os signatários não eram novos no Partido e eram, como diz Deutscher, “46 generais da revolução”, os melhores do Partido entre os quadros revolucionários e teóricos. Esta comunicação secreta ao BP do CC do PC russo denuncia uma política económica errénea e a ausência de democracia dentro do partido e exige a superação imediata deste lamentável estado de cousas, foi assinada por Preobrazhensky, Breslav, Serebriakov, Benediktov, Smirnov, Piatakov, Obolensky (Osinsky) Muralov, Sapronov, Goloschiokin, Maksinovsky, Sosnovsky, Daniševskis, Shmidel, Vaganian, Stukov, Lobanov, Rafail, Vasilchenko, Mikh, Zhakov, Nikolaev, Averin, Bogoslavsky, Mesyatsev, Khorechko, Búbnov, Voronsky, Smirnov, Bosch, Kireyev, Kosror, Likatsov, Kaganovitch, Drobnis, Kovalenko, Minkin, Yakovleva, Eltsine(3), Levitin, Palydov e Cudnik.
Os principais signatários da Declaração foram imediatamente perseguidos. Antonov Ovseienko, organizador, juntamente com Trótski e Podvoisky, da insurreição de outubro, foi demitido de seu cargo à frente da seção política do exército; outros foram enviados para as províncias e alguns para o exterior.
A troika recorreu à demagogia e fez declarações de adopção do "novo rumo" da democratização interna, mas tudo ficou letra morta.
A Declaração começa afirmando: “A extrema gravidade da situação obriga-nos (no interesse do Partido e da classe trabalhadora) a declarar publicamente que a continuação da política majoritária do BP ameaça todo o Partido com verdadeiros desastres. A crise económica e financeira iniciada no final de Julho deste ano, com todas as suas consequências (incluindo a vida interna do Partido) revelou inexoravelmente a insuficiência da direcção do Partido tanto no domínio económico como na vida interna do Partido".
Indica que a improvisação nas decisões do CC no campo da indústria, agricultura e finanças, leva não só a ter os sucessos alcançados, mas a uma grave crise económica. Os perigos iminentes e mais graves são listados: colapso do rublo; crise de crédito que tornaria insustentável a situação do Banco do Estado, comprometendo as finanças, a indústria, o comércio de produtos industrializados e até a compra de grãos para exportação; a paralisação da venda de produtos industriais em decorrência dos preços elevados, que se explica, por um lado, pola ausência dum direcionamento planejado da indústria e, por outro, pola má política de crédito; a impossibilidade de realizar o programa de exportação de grãos, decorrente da impossibilidade de comprá-los; os preços baixíssimos dos produtos alimentícios, prejudiciais ao campesinato, ameaçam uma redução maciça da produção agrícola; injustiças no pagamento de salários, que naturalmente causam descontentamento entre os trabalhadores, a desordem orçamentária se refletia na desordem do aparelho de Estado.
Sobre os problemas internos do Partido: o Partido deixou de ser uma colectividade viva e independente com possibilidade de apreender a realidade viva porque está ligado a esta realidade por milhares de laços. Em vez disso, vemos uma divisão cada vez maior ─ e mal disfarçada ─ entre a hierarquia secretarial e a "massa silenciosa", entre os funcionários profissionais do Partido recrutados no topo e a massa geral do Partido que não participa da sua vida.
Aponta-se que os militantes descontentes 'têm medo de falar nas reuniões do Partido...; dentro do Partido, as discussões livres praticamente desapareceram, a opinião pública no Partido está sufocada. Actualmente, não é o partido, nem suas massas que escolhem e elegem os membros dos comitês provinciais e do CC do PC russo. Polo contrário, é a hierarquia do Secretariado que recruta os membros das conferências e congressos, que concluem, cada dia mais, nas assembleias executivas desta hierarquia.
O intolerável regime interno do Partido destruiu a independência da organização, "substitui o Partido por um aparato burocrático conscrito que age acriticamente em tempos normais, mas que inevitavelmente sucumbirá num período de crise e que ameaça terminar completamente ineficaz no trato com os graves acontecimentos iminentes”. A causa: “o regime da ditadura duma fração dentro do Partido, criado após o X congresso, sobreviveu. Muitos de nós concordamos conscientemente em nos submeter a esse regime. Em 1921, a reviravolta política e depois a doença do camarada Lenine exigiam – na opinião de muitos de nós – uma ditadura dentro do Partido como medida temporária”. Alguns bolcheviques tiveram uma atitude crítica e negativa em relação às medidas organizacionais adoptadas polo X congresso. No entanto, os signatários da Declaração concordam que, à época do XII congresso, esse regime envelheceu e mostrava os seus aspectos negativos. “Os laços dentro do Partido começaram a enfraquecer. O Partido começou a morrer. Diante da impossibilidade duma discussão livre sobre questões candentes, "os movimentos de oposição extremistas e mórbidos começaram a se desenvolver dentro do Partido naturalmente com um carácter antipartidário".
A catástrofe surgia no horizonte: "Se a situação assim criada não mudar radicalmente no futuro imediato, a crise económica na Rússia soviética e a crise da facção ditatorial no Partido desferirão sérios golpes à ditadura do proletariado na Rússia e ao PC russo. Com tantos fardos nas costas, a ditadura do proletariado na Rússia e a sua direcção, o PC russo, não serão capazes de enfrentar a fase iminente de desordens mundiais na perspectiva de derrotas, especialmente na frente da luita proletária. A impossibilidade imediata de resolver essas dificuldades decorreu do facto de não haver uma verdadeira unidade de pensamento e acção “diante duma situação interna e externa extremamente complicada. A batalha que se estabelece no Partido é tanto mais amarga quanto é travada silenciosa e secretamente."
Os signatários da Declaração propõem o fim do regime fracionário, cuja abolição deve ser obra de quem o criou; a sua substituição por um regime de "unidade fraterna e democracia interna..., propomos ao CC como primeira decisão urgente a convocação duma conferência de membros do CC com os mais importantes e activos trabalhadores do Partido, entendendo-se que a lista de membros convocados incluirá um número de camaradas cujas opiniões sobre a situação são diferentes da maioria do CC”. A maioria dos signatários colocou notas mostrando as suas diferenças de nuances com alguns pontos da Declaração. O sistema de aprovação unânime de todos os documentos foi um costume introduzido polo estalinismo; no partido bolchevique, assume-se a existência de discrepâncias internas, que se reflectem nos documentos escritos.
A troika (Zinoviev, Kamenev e Stalin, tal era então a ordem de importância dos personagens) foi formada para se apropriar do aparato do Partido e bloquear a passagem ao poder de Trótski, que manteve a grande popularidade que conquistou com a sua atuação nos dias de Outubro. Na maioria do Bureau Político, oposto a Trótski, a figura mais visível era a de Zinoviev, na época o principal líder da CI e do Soviete de Leningrado, que luitou ao lado de Lenine contra o social-patriotismo da social-democracia e pola a estruturação da Terceira Internacional.
A troika, formada por velhos bolcheviques, esforçou-se para destacar a recente adesão de Trótski ao Partido Bolchevique. Este último, nas suas "Lições de outubro" (final de 1924), analisou o infeliz papel desempenhado por Zinoviev e Kamenev em Outubro de 1917 (opuseram-se à insurreição e discutiram com Lenine) e a oposição sistemática à política leninista por parte dos velhos bolcheviques da liderança. Em resposta, a troika lançou a sua colossal saraivada contra o trotskismo. Zinoviev é o responsável pola invenção do termo trotskismo e a sua história, junto com a de Kamenev, é uma das mais trágicas e contraditórias. Quando se juntou a Stalin na luita contra Trótski e pola democratização do Partido, tinha certeza de que trabalhava no seu próprio benefício e para tomar o poder; É nessa perspectiva que ele aparece como informante, sem seu correspondente, perante os congressos XII e XIII do PC (1923 e 1924) e da tribuna deste último convida Trótski a confessar o seu erro e a se criticar. A troika, até 1925, luitou contra a Oposição de Esquerda como a facção de direita liderada por Bukhárine e Rikov; quando Stalin concordou com este último, Zinoviev e Kamenev moveram-se para a Oposição de Esquerda e formaram com Trótski um comitê clandestino que luitou pola industrialização e contra o culaque, o nepman e a burocracia. Em 1927, Zinoviev e Kamenev expulsos, junto com Trótski, do Bureau Político e o primeiro da I. C. e do Soviete de Leningrado; Eles foram vítimas dos expurgos de Moscovo (1936).
Trótski criticou duramente a táctica estalinista contra o Comitê Anglo-Russo, organizado em 1926, época da radicalização dos sindicatos ingleses. Este Comitê foi concebido para alcançar a unidade sindical em escala internacional. O erro e o perigo residiam em abandonar-se nos braços da burocracia sindical, que cancelou a greve geral e deixou abandonados à própria sorte os mineiros que continuavam a luita. O estalinismo havia confiado ao Comitê Anglo-Russo a tarefa de defender a URSS de toda possível intervenção estrangeira, colocada como uma tarefa independente da luita revolucionária. Isso explica porque, em vez de denunciar a traição da burocracia sindical e ajudar os trabalhadores ingleses a superá-la politicamente, o estalinismo a teria apoiado com todas as suas forças. A traição dos dirigentes sindicais chegou ao extremo quando denunciaram, como prova da ingerência comunista estrangeira nos sindicatos, a ajuda financeira enviada da Rússia aos mineiros em greve. A Oposição atacou a conduta absurda e não revolucionária do estalinismo e trabalhou por uma ruptura com o Comitê Anglo-Russo durante a greve geral.
Uma das campanhas mais importantes apoiadas pola Oposição e que teve enorme influência internacional no movimento revolucionário refere-se à denúncia da política menchevique (revolução em etapas, atualização da fórmula superada de "ditadura democrática dos trabalhadores e camponeses", bloco das quatro classes concebidas por Bukhárine, etc.) impostas com autoridade ao PC chinês e levaram à sua derrota.
O esmagamento e massacre dos trabalhadores chineses, a traição de Chiang Kai-shek, promovido polo estalinismo, desferiu um duro golpe no prestígio de Stalin e Bukhárine. As previsões da Oposição, totalmente desprovidas de informação, foram confirmadas polos acontecimentos. A discussão dos problemas da revolução chinesa, que adquiriram importância mundial, restaurou à Oposição a coerência que havia perdido no final de 1926. Após a Krupskaya se curvar à hierarquia estalinista na XV conferência do PC russo (novembro-dezembro 1926), as deserções se multiplicaram: o velho bolchevique Badalev abandonou os seus cargos e depois Zalutsky, Sokolnikov, etc. Preobrazhensky e Radek, como Kamenev e Zinoviev, permaneceram hostis à revolução permanente e, para afirmar a sua fidelidade ao leninismo, apegaram-se à ditadura democrática dos trabalhadores e camponeses. Não consentiram que a Oposição exigisse a saída do partido chinês do Kuomintang e só no final da discussão se atreveram a reivindicar o direito a uma política independente. Os acontecimentos destacaram as qualidades de Trótski como polemista e luitador, e a Oposição apareceu unida e ampliada em torno dele.
Em nome de 83 velhos bolcheviques, a Oposição lança um apelo ao Partido (maio de 1927), que é uma declaração de solidariedade a Trótski nas questões chinesas, do comitê anglo-russo, em repúdio à política de aliança com os camponeses ricos. Propôs-se a abertura duma verdadeira discussão com vista à preparação do XV Congresso do Partido. Foram recolhidas 3.000 assinaturas e sabe-se que a essa altura a Oposição contava com 20.000 adeptos. Muitos descontentes acorreram a ela.
A convocação dos 83 aponta que a política internacional errada nada mais é do que a afirmação e prolongamento duma política interna também errada. Transcrevemos um resumo do documento:
“Apesar do facto de que já temos uma poderosa classe trabalhadora na China, embora o proletariado de Xangai numa situação muito difícil tenha sabido se levantar e ser o senhor da cidade, apesar de que com efeito o proletariado chinês teve uma ajuda poderosa na China da parte dos camponeses em revolta, em suma, que tiveram e têm todos os factores para a vitória dos chineses "1905" (Lenine), verifica-se que os trabalhadores chineses jogaram de facto até agora o mesmo papel a que foram condenados os trabalhadores durante a revolução de 1848(4).
"A linha" na China, na prática, foi traduzida da seguinte forma: os trabalhadores não devem estar armados, greves revolucionárias não devem ser organizadas, os camponeses não devem se revoltar completamente contra os proprietários, um jornal comunista não pode ser publicado, os senhores burgueses do Kuomintang de "esquerda" não deve ser criticado, não devem ser criadas células comunistas nos exércitos de Chiang Kai-shek, a palavra de ordem dos sovietes não deve ser lançada para não "repelir" a burguesia, para não "assustar ” a pequena burguesia, para não enfraquecer o governo do “Bloco das 4 classes”(5). Como resposta, e para nos agradecer por tal política, a burguesia nacional chinesa ─ o que era de se esperar ─, escolhendo o momento propício, atira nos trabalhadores chineses e pede ajuda, hoje, os imperialistas japoneses, amanhã serão os imperialistas americanos, depois de amanhã os imperialistas britânicos...
“A táctica do CC na questão do comitê anglo-russo foi completamente falsa. Mantivemos a autoridade dos traidores no Conselho Geral no período mais crítico para eles durante as semanas e meses da greve geral e da greve dos mineiros. Nós ajudamo-los a sobreviver. Concluímos capitulando diante deles na última conferência em Berlim, reconhecendo o Conselho Geral como o único representante do proletariado inglês (e também como o único representante do seu ponto de vista) e concordamos em assinar a promessa de não interferência nos assuntos internos do movimento obreiro britânico.
“Para todo marxista é indiscutível que a falsa política aplicada na China e sobre a questão do comitê anglo-russo não é fortuita. Prolonga e completa uma falsa política doméstica...
“Uma falsa política acelera o crescimento das forças hostis à ditadura do proletariado: culaques, nepman, burocratas. Daí resulta a impossibilidade de utilizar plenamente os recursos materiais do país para a indústria pesada para satisfazer a demanda da economia nacional (escassez, preços altos, desemprego) e de todo o sistema soviético como um todo (a defesa do país), leva ao fortalecimento dos elementos capitalistas na economia da União Soviética, especialmente no campo.
“A diferenciação do agricultor está se acelerando cada vez mais. Partindo da palavra de ordem "ficai ricos", do convite dirigido aos culaques para a "adesão ao socialismo", o grupo dirigente do CC acabou por observar em silêncio o processo de diferenciação no campo, subestimando este problema, e a sua política tem consistido na prática em contar com o camponês economicamente forte...
"O principal slogan para a preparação do XV congresso deve ser a unidade, uma verdadeira unidade leninista do PC da URSS."
Víctor Serge diz: "A revolução chinesa eletrizou a todos nós" e deixou testemunho de que "em todas as células onde havia oposicionistas... os debates ocorridos no CC foram reproduzidos com a mesma violência".
As primeiras prisões de oposicionistas são anunciadas e a sua liderança é desmantelada. Rakovsky é o embaixador em Paris e se lhe juntam Piatakov e Preobrazhensky, "enviados em missão". Antonov Ovseenko foi enviado a Praga, Safarov a Ancara e Kamenev como embaixador na Itália fascista. Os mais brilhantes da jovem geração oposicionista estão dispersos: Eleizer Solntsev(6), ligado a Trotsky desde 1923, foi enviado aos Estados Unidos e depois à Alemanha; outros estão baseados na Sibéria ou na Ásia Central. Essas "mutações" precipitam a exasperação e, em meados de junho, muitos milhares de oposicionistas se reúnem em frente à estação de Laroslav para mostrar a sua solidariedade a Smilga, que será enviado a Khabarovsk.
Os oposicionistas não apenas luitaram contra a degeneração burocrática dentro do Partido, mas também explicaram-na como um fenómeno histórico. Nesse sentido, é notável o esforço de Christian Rakovsky na sua carta a Valentinov(7) (ver "Os 'perigos profissionais' do poder", 1928). Inicia apontando que as dificuldades de analisar o fenômeno reside no facto de que é algo novo no campo revolucionário: “Até agora temos testemunhado um grande número de casos em que o espírito dum grande número de casos em que o espírito de iniciativa da classe trabalhadora foi enfraquecido e declinou a ponto de atingir o nível de reacção política. Mas esses exemplos apareceram, aqui e no exterior, num período em que o proletariado ainda luitava pola conquista do poder político. Não poderíamos ter o exemplo do declínio do ardor do proletariado numa época em que ele já tinha o poder.”
Tendo em mente que no passado todas as classes sociais e as suas diferentes camadas degeneraram no poder, ele sustenta que o proletariado, ao tornar-se a classe dominante, corre grandes riscos. Não se refere às dificuldades objectivas devido a todas as condições históricas, o cerco capitalista estrangeiro e a pressão pequeno-burguesa dentro do país. “Não se trata de dificuldades inerentes a toda nova classe dominante, que são consequência da própria tomada e exercício do poder, da capacidade ou incapacidade de exercê-lo. Essas dificuldades,”que continuarão existindo até certo ponto”, são chamadas de “riscos profissionais” do poder.
Ainda que uma classe que luita polo poder adquira o máximo de unidade e coesão, todo interesse profissional, pessoal fica para trás, subordinado ao objectivo da luita; “Quando... toma o poder, uma das suas partes torna-se agente desse poder. É assim que surge a burocracia. Num estado socialista, em que a acumulação capitalista é proibida aos membros do partido no poder, essa diferenciação começa por ser funcional e depois torna-se social. Penso na posição social dum comunista que tem à sua disposição um carro, um bom apartamento, férias regulares e recebe o salário máximo autorizado polo Partido; posição que difere da do comunista que trabalha nas minas de carvão e recebe um salário de 50 a 60 rublos por mês.
A classe no poder, através do seu Partido, sofre outra consequência: certas funções "anteriormente eram uma consequência natural da luita revolucionária, no poder só podem ser preservadas graças a todo um sistema de medidas que visa "preservar o equilíbrio entre os diferentes grupos desta classe e deste Partido, e subordinar estes grupos ao objectivo fundamental”.
Rakovsky considera este um processo longo e delicado, um processo de educação política da classe dominante, para que seja capaz de usar o Estado. A análise do processo de degeneração da burguesia no poder inspira-o a estudar a degeneração burocrática do estado operário. As advertências de Robespierre e Babeuf são bem-vindas. O primeiro pôs os seus partidários em guarda contra “a embriaguez do poder”, para que do poder não se tornassem muito presunçosos, não “se ensoberbecessem”. Babeuf observou que a queda dos jacobinos foi grandemente facilitada polas damas da nobreza: “O que vocês pusilânimes plebeus estão fazendo? Hoje seguram-nos nos seus braços, amanhã os estrangularão. Sosnovsky(8) observou que o "carro-harém" desempenhou um papel importante na formação da ideologia da burocracia dos sovietes e do PC. Rakovsky corretamente observa que não se pode falar do partido e das massas como abstrações, mas sim analisar o que significa em cada caso histórico específico. A burocracia prosperou rapidamente contando a seu favor com a indiferença das massas, com seu cansaço.
O primeiro dever da direção deve consistir em defender o Partido da degeneração burocrática: “Segundo a concepção de Lenine e de todos nós, a tarefa da direcção do Partido e da classe trabalhadora da influência corruptora dos privilégios, favores e tolerância inerentes ao poder em razão do seu contacto com os resquícios da antiga nobreza e pequena burguesia; deveria ter alertado contra a influência da NEP, contra a tentação da ideologia e da moral burguesas.”
Deste ponto de vista, um novo aparelho verdadeiramente operário e camponês deve ser criado, novos sindicatos verdadeiramente proletários, uma nova moral da vida cotidiana. Nada disso fez, de acordo com Rakovsky, a liderança do PC russo.
A partir do surgimento da teoria reacionária e pequeno-burguesa do socialismo num só país, a Oposição partiu para o ataque contra essa impostura e os escritos de Trótski são exemplos brilhantes da defesa leninista da revolução internacional como quadro adequado para a consolidação definitiva da revolução comunista e da confirmação da correcção da teoria da revolução permanente.
Em 23 de outubro de 1927, Trótski foi expulso do Comitê Central do PC russo; ao assumir a sua defesa, fez um longo discurso de crítica incisiva à política estalinista da direcção.
Referindo-se à campanha anti-trotskista, ele disse: “Todos os oportunistas tentam encobrir as suas vergonhas com essa palavra. A fábrica de falsificações trabalha noite e dia na produção do”trotskismo”. Na sua carta à Comissão de História do PCUS, na qual trata da falsificação da história do levante de Outubro pola direção burocratizada, insiste: “... a falsificação não se limita a esses dez anos (1917-27), mas estende-se a toda a história anterior do Partido, transformando-a numa luita ininterrupta do bolchevismo contra o trotskismo. Nesse campo, os falsificadores circulam com mais liberdade, pois os acontecimentos pertencem a um passado já remoto e podem entregar-se a uma seleção arbitrária de documentos. É assim que o pensamento de Lenine é falsificado por meio duma selecção parcial dos seus fragmentos.”
Em 12 de novembro de 1927, foi excluído do Partido, medida confirmada polo XV congresso (dezembro de 1927). Não foi uma medida pessoal, a exclusão atingiu toda a Oposição, prelúdio da enorme repressão que levou milhares de oposicionistas ao exílio rumo à Sibéria e à Ásia Central. Entre os presos estavam Rakovsky, ex-presidente do Conselho de Comissários do Povo da Ucrânia, Radek, Smirnov (ex-comissário do povo), Smilga (um dos organizadores da Revolução de Outubro e do Exército Vermelho), Bieloboradov (ex-comissário do povo da Interior), Sosnovsky (publicitária), Kasparova (notável por seu trabalho entre as mulheres no Oriente), etc. O próprio Trótski e seus parentes mais próximos foram deportados para Alma Ata (Turquestão) em janeiro de 1928, ano em que a Oposição engrossava as suas fileiras, especialmente nas grandes empresas industriais. Quando estava embarcando na estação ferroviária de Moscou, ocorreu uma manifestação de oposicionistas. A resolução que excluía os oposicionistas foi apelada perante o VI congresso da I. C., mas a medida foi imediatamente confirmada.
As campanhas de calúnias e falsificações foram acompanhadas de medidas policiais de repressão, os que divulgaram documentos da Oposição foram presos, a manifestação que organizou por ocasião do 10º aniversário da revolução (1917) foi violentamente dissolvida.
Trótski, que passou um ano no seu confinamento, foi exilado da URSS em janeiro de 1929. Assim que chegou à Turquia, se propôs a criar a facção bolchevique-leninista internacional. Circulou uma carta, sob o pseudónimo de Gourov, entre os grupos e personalidades que se opunham ao estalinismo, propondo uma acção coordenada internacional em torno dos seguintes pontos: problemas da URSS, política oficial com referência ao Comitê Anglo-Russo e revolução chinesa. Durante todo esse tempo, Trótski distinguiu três correntes fundamentais dentro da I. C.: a Oposição de Esquerda que luitava pola continuação da política leninista; a oposição de direita (Bukhárine, Brandler), que desenvolveu uma política independente em cada país; a facção centrista chefiada por Stalin, que não parava de se mover da esquerda para a direita e a cada oscilação purgava as fileiras de elementos duma facção e outra extrema.
Em julho de 1929, surge o nº 1 do "Boletim da Oposição", concebido como o grande veículo de divulgação das ideias oposicionistas e o eixo em torno do qual a Oposição de Esquerda poderia se organizar em todo o mundo; não deixou de aparecer até a morte do seu fundador. O objetivo imediato era ter em cada país um grupo de oposição que luitasse polo endireitamento da política da I. C. desde dentro, apesar de que as exclusões dos trotskistas em escala mundial não cessaram. A burocracia moscovita acusou os oposicionistas de tentarem constituir uma nova Internacional, a Quarta, acusação que foi energicamente rejeitada por Trótski. No prólogo de "A I. C. depois de Lenin" (15 de abril de 1929) lê-se; “De vários lados, trata-se de atribuir-nos o projecto de criar uma Quarta Internacional. Essa ideia é absolutamente falsa. O comunismo e o "socialismo" democrático formam duas tendências históricas profundas cujas raízes se aprofundam nas relações de classe. A existência e luita da II e III Internacionais constituem um longo processo intimamente ligado ao destino da sociedade capitalista. Tendências médias ou centristas podem em algum momento se tornar muito influentes, mas não por muito tempo.
Na França foi possível agrupar os oposicionistas que em 15 de agosto de 1929 lançaram o primeiro número de "La Verité" [A Verdade, nota do tradutor] (atualmente a OCI continua a sua publicação como revista teórica). A Oposição de Esquerda Francesa criou a Liga Comunista, que imediatamente adquiriu enorme importância dentro do trotskismo internacional.
Na mesma época, a Oposição de Esquerda norte-americana (que mais tarde se tornaria o Socialist Workers Party [nota do tradutor, Partido Socialista dos Trabalhadores]) era organizada pola facção do PC dos EUA formada por James P. Cannon, Shachtman e Abern, expulsa do Comitê Nacional após o VI congresso da I. C.. Começou publicando “The Militant”.
Também em 1929 (citamos apenas alguns casos) surgiu na Argentina o primeiro grupo da Oposição de Esquerda formada por três operários europeus, mais tarde Héctor Raurich (uma das figuras destacadas da Reforma universitária) que vinha do PC e Gallo (Ontiverso)(9) da esquerda do PS.
Trótski desenvolve a sua tese da defesa incondicional da URSS (estado operário degenerado), objecto de contínuas disputas dentro dos grupos de oposição e posteriormente dos partidos trotskistas, considerada como um dos pilares da Quarta Internacional.
A Oposição também desenvolveu uma campanha sistemática em favor duma frente única (Social Democracia-PC) na Alemanha para bloquear o caminho para o nazismo. Essa política colidiu com a guinada ultraesquerdista feita polo estalinismo no "terceiro período" (1928-1934); o segundo período ou estabilização do capitalismo iniciado em 1925 foi considerado encerrado; em 1934 abrir-se-á a fase das frentes populares, isto é, da subordinação à burguesia.
No início de 1933, a ascensão de Hitler ao poder ocorreu na Alemanha. Devido à traição da I. C. e da social-democracia, o movimento operário alemão, considerado um dos mais poderosos e maduros da Europa, é derrotado sem luita. É esta circunstância que permitirá a Trótski dizer que a Terceira Internacional, o estalinismo, passou definitivamente para o campo burguês e que todo trabalho dentro dele para endireitar a sua orientação era inútil. A partir deste momento muda o objetivo da Oposição e não será outro senão colocar de pé a Quarta Internacional.
Em novembro de 1933, o Plenário da Oposição Internacional reuniu-se e aprovou a nova orientação dada ao movimento no sentido de trabalhar pola formação da nova Internacional.
O ILP (Partido Trabalhista Independente) inglês convocou, em meados de 1933, uma conferência aberta a todas as organizações que estavam fora da II e III Internacionais, com o objetivo de estudar a nova situação criada no movimento operário pola vitória nazista. A Oposição Internacional participou da conferência buscando proclamar a necessidade da construção da Quarta Internacional, o fez sob a sua própria bandeira, o que a obrigou a se delimitar claramente contra os reformistas e centristas. O resultado desse trabalho foi a “Declaração dos quatro” (Liga Comunista Internacional, SAP, RSP e OSP).
O SAP alemão (Sozialistische Arbeiter Partei) veio da esquerda socialista que, em 1932, havia rompido com a social-democracia alemã. O SAP passou a ser controlado polos brandlerianos(10) ou comunistas de direita: Walcher(11) e Froelich. O OSP holandês teve uma origem semelhante à do SAP.
O Partido Socialista Revolucionário Holandês (RSP) era o mais interessante, havia sido organizado polo líder trabalhista Henrique Sneevliet (1883-1942), fundador, em 1914, do movimento socialista indonésio e em 1920 do PC; participou do II congresso da I. C. como representante deste partido; porta-voz da I. C. dentro do PC chinês; Rompeu com o estalinismo e morreu fuzilado polos nazistas como parte da facção que liderava a central sindical N.A.S.(12)
A “Declaração dos Quatro” proclamava a necessidade duma nova Internacional e de novos partidos revolucionários em cada país. O documento não é estritamente trotskista, mas contém o essencial do pensamento da Oposição. A chamada não teve um grande impacto em escala global. As duas organizações holandesas se fundiram, sempre como parte da Oposição Internacional, no Partido Socialista Revolucionário dos Trabalhadores (RSAP). Não suportou a prova da revolução espanhola, na qual apoiou o POUM e rompeu com a Oposição Internacional.
Os signatários da "Declaração dos Quatro" terminaram como inimigos ferrenhos do trotskismo, alguns girando em torno do centrismo do Bureau de Londres(13) e outros assumindo posições piores: Walcher tornou-se funcionário público da Alemanha Oriental.
Em 1934 é conhecido um período de radicalização na França. Uma frente foi estabelecida entre a Liga Comunista e o setor mais radicalizado do PS (SFIO(14)), a Federação do Sena. No mês de julho, foi assinado o acordo unitário entre os partidos socialista e comunista, táctica defendida com veemência polos bolcheviques-leninistas.
Ao mesmo tempo, formou-se a Esquerda Comunista Espanhola, que passou a ser dirigida por Andreu Nin e teve grande influência no movimento de esquerda latino-americano, graças, sobretudo, à sua revista "Comunismo" e à publicação dos livros e documentos e a Oposição de Esquerda.
A frente com os seguidores socialistas de Marceau Pivert os trotskistas dedicaram muita atenção a este centrista radicalizado e tentaram convencê-lo sobre o acerto da sua linha política e táctica, mas Pivert acabou combatendo a acção dos bolcheviques-leninistas dentro do seu partido) foi feito sob o signo da luita pola frente única contra o fascismo. A Liga Comunista, em colaboração com Trótski, elaborou o seu programa de acção (1934) por este motivo e que é uma prévia do Programa de Transição. Diante da necessidade de conectar os grupos fracos da Oposição Internacional com as massas, conquistar os melhores quadros revolucionários e convertê-los numa verdadeira direçcão das massas. Superando a resistência que se apresentava nas suas próprias fileiras (na França essa resistência era representada por Pierre Naville, Frank, etc.), Trótski pressionou pola adopção da tática do entrismo na social-democracia. A Liga Comunista transformou o entrismo no PS (SFIO), a Oposição dos EUA no PS de Norman Thomas; a experiência foi repetida na Inglaterra e na Bélgica.
Os resultados do entrismo foram escassos e sucessos de alguma importância foram alcançados apenas nos Estados Unidos e na Bélgica. O objectivo era formar uma importante tendência trotskista dentro dos partidos socialdemocratas que pudesse servir de base para a estruturação do partido revolucionário. Na França, os bolcheviques-leninistas acabaram divididos. Quando se decidiu deixar o PS, Frank recusou e, juntamente com Molinier(15), precipitaram a divisão.
Nin e Andrade, na Espanha, criticaram o entrismo no PS francês, mas foram rápidos em se juntar ao “Bloco Operário e Camponês” da Catalunha (Maurin) para formar o POUM, um partido centrista(16). Sérias divergências surgiram entre Trótski e Nin sobre essa conduta.
Nessa época, os agentes da GPU Zombrowsky (Etienne)(17) e Román Well ou Sésine na Alemanha entraram na Oposição de Esquerda. O primeiro organizou o assassinato de Leon Sedov e participou dos trabalhos preparatórios para a conferência de fundação da Quarta Internacional, foi preso na década de 1950 polo FBI.
Na conferência internacional da Oposição ocorrida em 1936, Trótski esperava que a IV Internacional fosse proclamada, o que não prosperou e impôs-se o critério de rotular a reunião como “Movimento pola IV Internacional”. As deficiências organizacionais, o baixo número de seguidores, etc., não foram decisivos para Trótski diante da necessidade histórica de lançar uma nova Internacional em torno dum programa revolucionário que desse continuidade à política leninista. Em setembro de 1938, a conferência de fundação da Quarta Internacional foi realizada em Paris, na casa de Alfredo Rosmer, e o Programa de Transição foi aprovado. A reunião, com a presença de poucos delegados, fundou o Partido Mundial da Revolução Socialista. Trótski teve que superar as objecções de muitos oposicionistas, que desde 1936 questionavam a oportunidade de criação da nova Internacional. Isaac Deutscher rompeu com Trótski sobre esta questão.
A Segunda Guerra Mundial estourou em 3 de setembro de 1939 e pouco antes do Secretariado Internacional da Quarta ser transferido para a América do Norte. A guerra foi um teste severo para a organização nascente e envolveu a perda de muitos quadros valiosos. Trótski redigiu o manifesto aprovado pola conferência de maio de 1940 e pouco depois, em 20 de agosto, foi assassinado por um agente de Stalin.
A Secretaria Internacional só poderia manter relações com as seções localizadas no campo aliado e com as das Américas, grande parte da Europa foi abandonada. Em 1943, o Secretariado Europeu foi estabelecido entre as secções dos países ocupados pola Alemanha.
Nesta fase, houve luitas internas e divisões. Citamos alguns episódios:
Dentro do SWP, Shachtman e Burnham (“A Revolução dos Directores”) lideraram uma tendência (posteriormente dividiu o partido) que revisou a caracterização do Programa de Transição da URSS e a sua defesa incondicional. Após a ruptura deram origem ao Partido dos Trabalhadores que acabou desaparecendo.
Na secção alemã surgiu um desvio pró-burguês, sustentava que a dominação fascista suscitava não só a revolução socialista mas as guerras de libertação nacional e democrática, era um período pós-imperialista.
Houve que lamentar a morte de Marcel Hic no campo de concentração de Dora (foi um dos organizadores do Secretariado Europeu) e aparece Michel Pablo (Raptis), que virá a adquirir importância mundial. Discussões, cisões e fusões foram desenfreadas na França. Em fevereiro-março de 1944, o CCI, o POI e o grupo de outubro foram unificados, dando origem ao Partido Comunista Internacionalista (PCI), a seção francesa da Quarta Internacional; Pablo participou das reuniões representando o Comitê Europeu. No final de 1945, surgiram tendências pró-estalinistas, como a de David Rousset (Lebianc), que defendia uma aproximação com o PC e acabou sendo excluído do PCI e da IV Internacional. Outra tendência de direita, encabeçada por Laurent Schwartz, fala do papel progressista dos partidos comunistas. Outra facção de ultra-esquerda (Chaulieu(18)) fala da burocracia soviética transformada em classe.
O Secretariado Internacional voltou a Paris e passou a comandar a secção francesa, tão convulsionada polo choque de tendências internas.
O ano de 1948 é abalado pola denúncia do Kremlin contra a Iugoslávia como um estado fascista. No final deste ano, o Secretariado Internacional e particularmente os franceses iniciaram uma grande campanha a favor da Iugoslávia, apresentando-a como um possível núcleo da nova Internacional e desenvolvendo a teoria de que um partido estalinista que rompe com Moscovo deixa de ser estalinista. A Guerra da Coreia estourou em julho de 1950, o Secretariado Internacional vê nela o início da Terceira Guerra Mundial (Pablo fez do tema da Terceira Guerra Mundial o eixo das suas especulações) e acredita que o estalinismo desempenhará um papel revolucionário. O tema do entrismo sui generis é desenvolvido nos PPCC, canais por onde passarão as massas. As teorias revisionistas foram amargamente atacadas pola maioria francesa do Partido Comunista Internacionalista (PCI).
O ano de 1951 é marcado pola crise interna que aos poucos vai conquistando toda a Internacional, que entretanto tem recebido a contribuição dos jovens da América Latina. Em 1940, o grupo trotskista de Córdoba enviou Posadas, um elemento totalmente cinza e desconhecido, antes do Grupo Obrero Revolucionario. Libório Justo (que estreara nas fileiras trotskistas em 1933) já tivera tempo de mostrar o seu caráter excessivamente temperamental nas batalhas travadas sob a liderança do americano T. Phelan no esforço de construir um partido único (agrupando as inúmeras capelas )(19), o Partido Socialista Revolucionário dos Trabalhadores (PORS)(20). A nível internacional, as posições revisionistas são desenvolvidas por Pablo, Frank, Germain (Mandel), que chegam a defender que se estourar a guerra mundial (que consideravam estar à porta) não haveria tempo para construir o partido revolucionário e que o estalinismo realizaria, a seu modo, o socialismo. Em julho de 1952, a maioria francesa foi excluída da Quarta Internacional, cuja comissão operária atacou duramente Pablo e as suas teorias (as críticas se referem às teses revisionistas e também à forma de conduzir a Internacional). No mesmo ano é realizado o terceiro congresso mundial.
O SWP norte-americano, a seção mais poderosa de toda a Internacional, complicou-se até o final de 1953, com todas as manipulações do pablismo. No mês de novembro deste ano publicou a sua famosa carta aberta contra o pablismo. A maioria francesa, a SLL, um grupo suíço e o SWP organizaram o Comitê Internacional (que em 1972 se tornou o Comitê Organizador para a reconstrução da Quarta Internacional)(21) como uma continuação da linha indicada no Programa de Transição, seriamente revisto polo pablismo, isso em dezembro de 1953.
Nos anos seguintes, a luita girou em torno das disputas entre o S. I e o C. l., o confronto entre o revisionismo e a tendência fiel ao Programa de Transição.
Os movimentos nacionalistas e a Revolução Cubana aparecem no palco. O SI pablista invariavelmente vê neles ou trotskismo ou avanços inconscientes e capitula a tais movimentos.
Em 1963 ocorreu a reunificação do pablismo com o SWP, o que permitiu o nascimento do chamado Secretariado Internacional Unificado. Posadas foi convidado sem sucesso para esta reunião, tendo adquirido notoriedade internacional como instrumento do pablismo, soube encontrar pretextos para rebelar-se contra seu patrão de ontem. O grupo de Posadas não faz outra coisa senão levar as posições de Pablo ao absurdo.
A partir desta data. Michel Pablo inicia uma luita sustentada contra a liderança do SU; O primeiro considera a chegada de De Gaulle ao poder uma derrota do movimento operário e que a revolução na Argélia levaria ao socialismo como em Cuba. Dous anos depois, rompeu publicamente com o Secretariado Unificado e recentemente circulou um artigo onde afirma não ter nada a ver com o trotskismo(22).
As convulsões estudantis de 1968 na França trouxeram para o SU uma massa considerável de pequenos burgueses que modificaram as perspectivas políticas e os métodos de luita e organização dessa direção que se considerava trotskista. A partir desse momento as tendências foquista, guerrilheira e aventureira ganharam peso decisivo. Apenas o SWP e alguns grupos latino-americanos (Blanco e Moreno) passaram para oposição morna diante dum processo degenerativo tão acentuado.
O Comitê Organizador está empenhado em colocar de pé a IV Internacional, destruída polo pablismo. Em 1965 foi organizada a OCI (Organização Comunista Internacionalista), que tem influência política decisiva dentro do Comitê Organizador.
As disputas entre trotskismo e estalinismo chegaram tarde à Bolívia. "Bandeira Vermelha" (Reyeros, Cerruto, Mendoza, etc.), em 1927, descreveu essas luitas como uma invenção da burguesia. Aguirre(23) ingressou na Oposição de Esquerda no Chile e Marof oscilou permanentemente entre o estalinismo e o trotskismo(24).
O POR na época de sua fundação tinha uma situação ambígua; O grupo de Aguirre considerava-o como membro da Oposição de Esquerda Internacional, mas não de Marof (na época radicado na Argentina). Até 1946, as ligações entre o Partido com o Secratriado Internacional eram bastante formais e esporádicas. As vitórias espetaculares na Bolívia naquela época permitiram que a Quarta Internacional nos descobrisse. O POR participou de alguns congressos mundiais e rapidamente as luitas faccionais tiveram impacto na nossa organização. Ramos(25) e seu grupo entraram em contato com o POR e atacaram-no violentamente.
A crise de 1951 distanciou o POR da dividida IV Internacional, isso temporariamente, pois pouco depois ingressou no Comitê Internacional para a reconstrução da IV Internacional(26). Na discussão internacional sobre a Assembleia Popular, a OCI identifica-se plenamente com o POR, embora discorde da política desenvolvida na FRA.
Os pablistas e posadistas, que capitularam diante do foquismo e do nacionalismo, organizaram os seus próprios grupos e tendem a desaparecer.
Notas de rodapé:
(1) Leia, neste teor, a obra: O Último Combate de Lenine" de Moshe Lewin, ca (nomeadamente de interesse são as páginas 63 – 71); o artigo de Lenine: É Melhor Menos, mas Melhor e Últimas Cartas e Artigos. (retornar ao texto)
(2) Membro do Bund judeu. Nueva Sion, página judaica argentina, afirma: Entre os mais proeminentes líderes russos do Bund que se juntaram aos bolcheviques em 1921 estava Ester (ou Ester Frumkin, pseudônimo Khaye Malke Lifschitz, 1880 ─ 1943), que desempenhou um papel proeminente no Evsekstiia (a secção judaica do Partido Comunista) e foi nomeada reitora da Universidade Comunista das Minorias Nacionais Ocidentais. Até por volta de 1926, Frumkin manteve a sua convicção de que era possível preservar uma cultura judaica única em meio às mudanças revolucionárias, embora tenha abandonado esse caminho a partir de então. No início de 1938, após ser demitida do cargo de diretora do Instituto de Línguas Estrangeiras de Moscovo, foi presa e condenada a oito anos de prisão num campo de Karaganda. Outros ex-bundistas que não aderiram ao regime foram para a Polônia ou para os Estados Unidos. O resto, como Frumkin, foi expurgado em ondas de terror estalinista durante a década de 1930. (retornar ao texto)
(3) Leia a nota anterior sobre o assunto. (retornar ao texto)
(4) Primavera dos Povos ou Ano das Revoluções são os nomes historiográficos da onda revolucionária que acabou com a Europa da Restauração (a predominância do absolutismo no continente europeu desde o Congresso de Viena de 1814 ─ 1815). Foi a terceira onda dum ciclo revolucionário mais amplo na primeira metade do século XIX, que começou com as chamadas "revolução de 1820" e "revolução de 1830". Além da condição de revoluções liberais, as revoluções de 1848 caracterizaram-se pola importância das manifestações nacionalistas e polo início das primeiras manifestações organizadas do movimento obreiro. Uma magnífica introdução a esta revolução pode ser lida (o texto está em espanhol) em Marx, Karl; Engels, Friedrich (2013). Fondo de Cultura Economica, ed. Las revoluciones de 1848: Selección de artículos de la Nueva Gaceta Renana, assim como o arquivo em inglês do MIA: Artigos de Marx & Engels no Neue Rheinische Zeitung (Nova Gazeta Renana). (retornar ao texto)
(5) Leia o ensaio instrutivo (no MIA em espanhol) do historiador polaco Isaac Deutscher: "Maoismo: Origens e Perspectivas". (retornar ao texto)
(6) Consultar a obra do historiador francês Pierre Broué: Os Trotskistas na URSS (1929-1938) no MIA em espanhol. (retornar ao texto)
(7) Nikolai Valentinov juntou-se ao partido bolchevique em 1915. Ele foi redator chefe de Trud, órgão dos sindicatos. Signatário da “Declaração dos 83”, ele foi deportado para Oust-Koulom ao fim de 1928 (nota do tradutor Marcio Lauria Monteiro. (retornar ao texto)
(8) Há uma referência na Enciclopédia do MIA em inglês (Oposição de Esquerda). (retornar ao texto)
(9) Tarcus, Horacio (2023), "Gallo, Antonio", in Dicionário biográfico da esquerda latino-americana. Disponível em GALLO, Antonio – | Diccionario Biográfico de las Izquierdas Latinoamericanas (cedinci.org). (retornar ao texto)
(10) Seguidores de Heinrich Brandler. (retornar ao texto)
(11) Membro da Liga Spartacus e fundador do Partido Comunista Alemão, em 1929 foi expulso do Comintern por apoiar a Oposição Comunista de Direita Blanderista (KPO). Em 1932 deixou o KPO e tornou-se líder do SAP. Após a Segunda Guerra Mundial, retornou ao estalinismo, aceitando um posto secundário no governo da Alemanha Oriental. (retornar ao texto)
(12) A Nationaal Arbeids Secretariataat (Organização Nacional do Trabalho), fundada em 1893, dissolvida em julho de 1940, no início da ocupação nazista da Holanda, não se reorganizou após a Segunda Guerra Mundial. Permaneceu uma pequena oposição revolucionária ao NVV, a grande organização sindical com uma liderança reformista. Na década de 1930, os membros altamente militantes e com consciência de classe do N.A.S. eram principalmente estivadores e trabalhadores da construção civil. Tinha um grande sector de trabalhadores municipais de Amesterdão até 1934, quando o governo proibiu tais empregos aos sindicatos "vermelhos". (retornar ao texto)
(13) Veja Centro Marxista Revolucionário Internacional (CMRI). (retornar ao texto)
(14) Ver a entrada na Enciclopédia do MIA em inglês. (retornar ao texto)
(15) Leia um maravilhoso artigo escrito por Diego Erlan para a Universidade do México: A intensa vida de Raymond Molinier. (retornar ao texto)
(16) No marxismo, a denominação centrista se refere a um partido ou grupo que oscila entre o reformismo e a revolução. (retornar ao texto)
(17) Leia Actualité du Program de Transition de Pierre Lambert (no MIA em francês) sobre o agente secreto soviético e o assassinato do filho de Leão Trótski, Leão Sedov. (retornar ao texto)
(18) Mais conhecido como Cornelius Castoriádis, em grego Κορνήλιος Καστοριάδης (Constantinopla, 11 de março de 1922 — Paris, 26 de dezembro de 1997). Em 1949, fundou, com Claude Lefort, o grupo Socialismo ou barbárie, que deu origem à revista homónima. (retornar ao texto)
(19) Leia as controvérsias na página do MIA em inglês: The History of Argentine Trotskyism. Part II. (A História do Trotskismo Argentino. Parte II). (retornar ao texto)
(20) Idem à nota anterior: The Creation of the PORS (A criação do PORS). (retornar ao texto)
(21) Para se orientar no emaranhado de organizações que se autodenominam seguidores de Trótski e da Oposição de Esquerda ─ Bolcheviques-Leninistas, veja este link: Organizações herdeiras da IV Internacional hoje (em espanhol). (retornar ao texto)
(22) Para uma biografia de Michel Pablo, recomendo a leitura de Lubitz na TrotskyanaNet. (retornar ao texto)
(23) Um retrato de José Aguirre Gainsborg muito útil (é, na minha modestíssima opinião, a melhor biografia política deste pioneiro do marxismo na América Latina) é o elaborado por Guillermo Lora e editado por Masas: José Aguirre Gainsborg. Fundador do P.O.R. (retornar ao texto)
(24) Para uma história detalhada do trotskismo desde seus primórdios na Bolívia, é necessário consultar: Historia do P.O.R. Contribuição à História Política da Bolívia. Vol. I. Edições Isla. La Paz. Bolívia, 1978. (essencialmente ver páginas 47-50). (retornar ao texto)
(25) Este Ramos é, sem dúvida, Jorge Abelardo Ramos (Buenos Aires, 1921 ─ 1994), político, historiador e escritor argentino, criador do Partido Socialista de Esquerda Nacional (PSIN). Veja no Marxists Internet Archive em espanhol. (retornar ao texto)
(26) Leia o documento fundador (em espanhol) no arquivo Wayback Machine. (retornar ao texto)