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Passemos, agora, uma vista d’olhos no desenvolvimento da doutrina de Mach, depois de Mach e Avenarius. Vimos que sua filosofia é uma salada, uma mistura de proposições gnoseológicas incoerentes e contraditórias. Resta-nos examinar como e em que sentido essa filosofia se desenvolve, o que nos permitirá resolver certas questões "litigiosas" através da referência a fatos históricos incontestáveis. O ecletismo e a incoerência das premissas filosóficas dessa corrente tornam realmente inevitáveis interpretações diferentes e discussões estereis em torno de detalhes e bagatelas. O empiro-criticismo é, portanto, como qualquer outra corrente ideológica, uma coisa viva, que sofre uma evolução, e o fato de seu desenvolvimento processar-se num sentido determinado permitirá, melhor do que longos raciocínios, elucidar a questão fundamental de sua verdadeira natureza. Julga-se um homem, não pelo que diz ou pensa de si mesmo, mas por seus atos. Os filósofos devem ser julgados, não pelas bandeiras que arvoram ("positivismo", filosofia da "experiência pura", "moonismo" ou "empiro-monismo", "filosofia do naturalismo", etc.), mas pela maneira com que realmente resolvem os problemas teóricos fundamentais, pelos autores com os quais concordam, pelo que ensinam e ensinaram a seus alunos e partidários.
É o que nos ocupa neste momento. Mach e Avenarius disseram o essencial há mais de vinte anos. Durante esse lapso de tempo, não foi possível verificar-se a maneira pela qual esses "chefes" foram compreendidos pelos que quiseram compreende- los e como consideram a si mesmos (Mach, pelo menos, que sobreviveu a seu companheiro) os continuadores de sua obra. Para sermos precisos, apenas indicaremos os que se afirmam discípulos (ou partidários) de Mach e Avenarius e nos quais Mach reconhece essa qualidade. Teremos, desse modo, uma ideia nítida do empiro-criticismo como corrente filosófica e não como uma coleção de casos literários.
Hans Cornelius é recomendado, no Prefácio de Mach à tradução russa da Análise das sensações, como "um jovem pesquisador" "que segue se não nossos caminhos, pelo menos os caminhos mais próximos dos nossos" (p. 4). Mach "cita" ainda "com prazer", no texto da Análise das sensações, as "obras’ de H. Cornelius e outros autores "que penetraram o sentido profundo das ideias de Avenarius e ainda as desenvolveram" (p. 48). Vejamos a Introdução à filosofia, de H. Cornelius, (edição alemã 1903): vemos aí o autor manifestar seu desejo de seguir as pegadas de Mach e Avenarius (p. VIII, 32). Estamos, pois diante de um discípulo reconhecido por seu mestre. Esse discípulo começa, igualmente, pelas sensações elementares (pp. 15 e 42), afirma categoricamente limitar-se à experiência (p. VI) qualifica suas concepções de "empirismo consequente ou gnoseológico" (p. 335), condensa tão vigorosamente quanto possível o "exclusivismo" dos idealistas e o "dogmatismo" tanto dos idealistas quanto dos materialistas (p. 129), afasta com a maior energia o possível "mal-entendido" (p. 123), que consistiria em deduzir de sua filosofia a admissão de um universo existente na cabeça do homem, e corteja o realismo ingênuo não menos habilmente do que Avenarius, Schuppe ou Bazarov (p. 125: "A percepção visual, ou qualquer outra percepção, tem sua sede onde a encontramos e tão somente aí, isto é, onde é localizada pela consciência ingênua ainda não tocada por uma falsa filosofia"). Esse discípulo reconhecido pelo mestre conclui pela imortalidade e por Deus. O materialismo troveja esse sub-catedrático... esse discípulo dos "mais modernos positivistas", queremos dizer — faz do homem um automato.
"É desnecessário dizer que ele destrói, ao mesmo tempo que nossa fé na liberdade das nossas decisões, toda apreciação moral dos nossos atos, bem como nossa responsabilidade. Assim também, não dá lugar à ideia da sobrevivência após a morte" (p. 116).
O livro termina com estas conclusões:
"A educação (sem dúvida, a da juventude embrutecida por esse homem de ciência) é necessária não tanto pela atividade, mas pelo respeito (Ehrfurcht), não aos valores transitórios de uma tradição fortuita, mas aos valores imperecíveis do dever e da beleza, pelo respeito ao princípio divino em nós e fora de nós" (p. 357).
Compare-se a isso a afirmação de A. Bogdanov de que não pode haver, absolutamente, lugar para as ideias de Deus, de liberdade, de vontade, de imortalidade da alma, na filosofia de Mach, em virtude de sua negação de toda "coisa em si" (Análise das sensações, p. XII). Ora, Mach afirma nessa mesma obra (p. 293) que
"não existe filosofia de Mach" e recomenda, não apenas os imanentes, mas igualmente Cornelius, como tendo penetrado o próprio fundo das ideias de Avenarius! Conclui-se, portanto, em primeiro lugar que Bogdanov ignora absolutamente a filosofia de Mach",
corrente que não se limita a abrigar-se sob as asas do fideísmo, mas vai até o fideísmo; em segundo lugar, que Bogdanov ignora absolutamente a história da filosofia, porque é ridículo confundir a negação dessas ideias com a negação de toda coisa em si. Bogdanov não irá contestar que os discípulos consequentes de Hume, negando toda coisa em si, deixam lugar precisamente a essas ideias? Bogdanov não ouviu falar dos idealistas subjetivos que, negando toda coisa em si, deixam lugar a tais ideias? A única filosofia em que não pode "haver lugar" para elas é a que ensina que nada existe fora do pode ser percebido, que o universo é matéria em movimento, que o universo exterior, o mundo que todos conhecemos, o mundo físico, é a única realidade objetiva numa palavra, a filosofia materialista. É por isso precisamente por isso, que os imanentes recomendados por Mach e pelo discípulo de Mach, Cornelius fazem, juntamente com toda a filosofia professoral contemporânea, a guerra ao materialismo.
Desde que foi apontada sua desonestidade, nossos discípulos de Mach puseram-se a renegar Cornelius. Mas tais negativas não valem grande coisa. Friedrich Adler, que parece não ter sido avisado, recomenda esse Cornelius num órgão socialista (Der Kampf, 1908, 5, p. 235: "Uma obra que se lê facilmente e merece as melhores recomendações"). A doutrina de Mach introduz desse modo, sorrateiramente, entre os mestres ouvidos pelos operários, filósofos nitidamente reacionários e pregadores de fideísmo.
Petzoldt não teve necessidade de ser avisado para perceber o embuste de Cornelius, mas sua maneira de combatê-lo é mesmo uma perola! Lêde-o:
"A afirmação de que o mundo é representação mental (a acreditar-se nos idealistas que combatemos, falando seriamente!) não tem sentido senão quando se quer dizer que o universo e uma representação mental de quem fala ou mesmo dos que falam (se exprimem), isto é, que sua existência depende exclusivamente do pensamento dessa pessoa ou dessas pessoas: o universo não existe senão na medida em que tal pessoa o pensa, e quando ela não o pensa, ele não existe. Fazemos, ao contrário, depender o mundo, não do pensamento dessa ou daquela pessoa ou de um grupo de pessoas, ou, melhor ainda e mais claramente: não do ato do pensamento, não de um pensamento atual qualquer que seja, mas do pensamento em geral e de um pensamento exclusivamente lógico. O idealista confunde essas duas noções, dando em resultado o "semi-solípsismo agnóstico, tal como o vemos em Cornelius" (Introdução, II, p. 317).
Stolipin desmentiu a existência das "centúrias negras"! Petzoldt pulveriza os idealistas, mas logo se vê que essa arrasadora refutação do idealismo se assemelha a um conselho, dado aos idealistas, para melhor dissimularem seu idealismo. Sustentar que o universo depende do pensamento em geral é do mais puro positivismo, é realismo crítico... Em suma: tudo isso não é niais, de fora a fora, do que charlatanismo burguês. Se Cornelius é um semi-solipsista agnóstico, Petzoldt é um semi-agnóstico solipsista. Não estais fazendo outra coisa, senhores do que cortar cabelos a quatro!(1)
Continuemos. Mach diz, na segunda edição de Conhecimento e erro:
"O professor Hans Kleinpeter [Die Erkenntnistheorie der Naturforschung der Gegenwart, (A teoria do conhecimento do naturalismo contemporâneo) Leipzig, 1905] faz uma exposição sistemática (das ideias de Mach) que posso subscrever no essencial!"
Tomemos esse Hans n. 2. Esse professor é um propagandista juramentado da doutrina de Mach; autor de muitos artigos sobre as concepções de Mach, difundidos nas revistas filosóficas alemãs e inglesas, autor de traduções aprovadas e prefaciadas por Mach, ele é, numa palavra, o braço direito do "mestre". Suas ideias, ei-las:
"Toda minha experiência (exterior e interior), todo meu pensamento, todas as minhas aspirações me são dados sob a forma de um processo psíquico, como uma parte de minha consciência" (p. 18, obra citada).
"O que chamamos a "física" é construída de elementos psíquicos" (p. 144).
"A CONVICÇÃO SUBJETIVA — E NÃO A CERTEZA (Gewissheit) OBJETIVA — EIS O FIM ÚNICO DE TODA CIÊNCIA" (p. 9, grifado por Kleinpeter, que observa então: "É pouco mais ou menos o que já dizia Kant na Critica da razão prática").
"A suposição da existência de consciências outras que não a nossa nunca pode ser confirmada pela experiência" (p. 42).
"De um modo geral, não sei se existem fora de mim outro'' eus" (p. 43).
No §5 — Da atividade (espontaneidade = arbítrio) na consciência: para o animal-automato, a sucessão das representações mentais verifica-se de maneira puramente mecânica. Dá-se o mesmo em nós quando sonhamos.
"No estado normal, nossa consciência é essencialmente diferente (desse automatismo). Possui uma propriedade que lhes falta (aos autômatos) e que seria pelo menos árduo explicar pelo automatismo: a chamada espontaneidade do nosso eu. Todo homem pode opor-se a seus estados de consciência, pode dirigi-los, evidenciá-los ou relegá-los a segundo plano, analisá-los, com parar seus diversos elementos componentes, etc. É um fato de experiência (direto). Nosso eu é, no fundo, diferente da soma dos estados de consciência e não pode ser igual a essa soma. O açúcar é composto de carbono, hidrogênio e oxigênio; se atribuíssemos uma alma ao açúcar, ela deveria ter, por analogia, a propriedade de modificar à vontade a disposição das moléculas do hidrogênio, do oxigênio e do carbono" (p. 29 e 30).
No § 5 — Da atividade (espontaneidade = arbítrio) na vontade:
"Cumpre considerar como um fato adquirido a divisão de todas as minhas impressões psíquicas em duas grandes categorias fundamentais: em atos necessários e atos voluntários. As impressões provenientes do mundo exterior pertencem à primeira dessas categorias" (p. 47).
"Que se possam elaborar muitas teorias de um só e mesmo domínio de fatos... isso É um fato tão familiar ao físico quanto é incompatível com as premissas de não importa que teoria absoluta do conhecimento. Esse fato está ligado ao caráter voluntário do nosso pensamento; demonstra a independência da nossa vontade em relação às circunstâncias exteriores" (p. 50).
Julgai agora a temeridade das asserções de Bazarov sobre a filosofia de Mach, de onde "a liberdade e a vontade seriam absolutamente banidas", enquanto o próprio Mach recomenda um senhor como Kleinpeter! Já vimos que esse último não dissimula mais o seu idealismo do que o de Mach. Kleinpeter escrevia em 1898-99:
"Hertz manifesta as mesmas opiniões subjetivistas (que Mach) sobre a natureza das nossas concepções... Se Mach e Hertz (veremos mais tarde se Kleinpeter está certo quando faz intervir aqui o célebre físico) têm, do ponto de vista do idealismo o mérito de frisar a origem subjetiva não de algumas mas de todas as nossas concepções e das relações existentes entre elas, também têm, do ponto de vista do empirismo, o mérito não menor de terem reconhecido que somente a experiência, instancia independente do pensamento, resolve o problema da exatidão das concepções" (Archiv für systematische Philosophie, II, t. V, 1898-1899, pp. 167-170).
Kleinpeter escrevia em 1900 que, apesar de tudo que os separa de Mach,
"Kant e Berkeley... estão, em todo caso, mais próximos desse último do que o empirismo metafísico (isto é, o materialismo! O sr. professor evita chamar o diabo pelo próprio nome!) que domina nas ciências naturais e constitui o alvo principal dos ataques de Mach" (loc. cit., t. VI, p. 87).
Ele escrevia em 1903:
"O ponto de partida de Berkeley e de Mach é irrefutável" (Kantstudien, t. VIII, p. 274).
"Mach coroa a obra de Kant" (ibid., p. 314).
Mach também cita, no prefácio á tradução russa da Análise das sensações, T. Ziehen, que, a seu ver, "segue, senão o mesmo caminho, pelo menos os caminhos mais próximos" do seu. Vejamos o livro de T. Ziehen, Teoria psicofisiológica do conhecimento (Theodor Ziehen, Psychophysiologische Erkenntnistheorie, Iena, 1898). Nele podemos ver, desde o prefácio, o autor invocando Mach, Avenarius, Schuppe e tutti quanti. Outro discípulo reconhecido pelo mestre. A teoria "mais nova" de Ziehen é a de que somente a "multidão" é capaz de acreditar que "nossas sensações são determinadas por coisas reais" (p. 3).
"Não pode haver, no umbral da teoria do conhecimento, outra inscrição senão as palavras de Berkeley: "Os objetos exteriores existem, não em si mesmos, mas em nosso espírito" (p. 5)... As sensações e as representações nos são dadas. Umas e outras constituem o psíquico. O não-psíquico é uma expressão destituída de sentido" (p. 100).
As leis da natureza são relações, não entre os corpos materiais, mas "entre as sensações reduzidas" (p. 104; essa "nova" concepção das "sensações reduzidas" faz toda a originalidade do berkeleyismo de Ziehen!).
Em 1904, Petzoldt ainda renegava, no tomo II da sua Introdução (pp. 298-301), o idealista Ziehen. Em 1906, sua lista de idealistas ou psicomonistas traz os nomes de Cornelius, Kleinpeter, Ziehen, Verworn (Das Weltproblem etc., p. 137, nota). Esses respeitáveis professores conduzem, observai, a "mal-entendidos", em suas interpretações das "concepções de Mach e Avenarius" (loc. cit.).
Pobres Mach e Avenarius! Seus inimigos caluniaram-nos acusando-os de idealismo e "mesmo" (como diz Bogdanov) de solipsismo; e seus amigos, seus discípulos, seus partidários, os professores especialistas compreenderam-nos mal, neles viram idealistas. Se o empiro-criticismo, desenvolvendo-se, torna-se idealismo, isso absolutamente não prova a falsidade dos seus confusos postulados tomados a Berkeley. Deus nos livre de semelhante conclusão! Não há senão um "mal-entendido" sem importância a gosto de Nozdrev(2)—Petzoldt.
O mais cômico é talvez que esse guardião da inocência e da pureza, Petzoldt, primeiro "completou" Mach e Avenarius com o "a priori lógico" e depois os associou ao guia do fideísmo, W. Schuppe.
Se Petzoldt tivesse conhecido os discípulos ingleses de Mach, teria podido aumentar muito sua lista dos discípulos de Mach caídos, "por mal-entendido", no idealismo. Já citamos Karl Pearson como o idealista consequente mais louvado por Mach. Mencionemos ainda as apreciações de dois "caluniadores" que se exprimem do mesmo modo em relação a Pearson:
"A doutrina do professor K. Pearson não é senão um eco das doutrinas verdadeiramente grandes de Berkeley" (Howard V. Knox, em Mind, vol. VI, 1897, p. 205.
"O sr. Pearson é, sem dúvida, um idealista, no sentido mais puro desse termo" (Georges Rodier, Revue Philoscphique, 1888, II vol. 26, p. 200).
O idealista inglês William Clifford, que Mach acreditava muito "próximo" de sua filosofia (Análise das sensações, p. 8), deve ser considerado como um mestre de Mach, mais do que como um de seus discípulos, tendo sido publicados seus trabalhos filosóficos entre 1870 e 1880. O "mal-entendido" é criado aqui por Mach, que "não percebeu", em 1901, o idealismo na doutrina de Clifford, segundo a qual o universo "é uma substância mental" (mindstuff), um "objeto social", uma "experiência organizada no mais alto grau", etc.(3) Afim de caracterizarmos o charlatanismo dos discípulos alemães de Mach, observemos que Kleinpeter faz desse idealista um dos fundadores da "gnoseologia do naturalismo moderno".
Mach menciona, na página 291 da Análise das sensações, o filósofo americano P. Carus, "que se aproximou" (do budismo e da doutrina de Mach). Carus qualifica-se a si mesmo de "admirador e amigo pessoal" de Mach; redige em Chicago a revista filosófica The Monist e um pequeno jornal de propaganda religiosa, The Open Court, (A Tribuna Livre).
"A consciência é uma revelação divina diz a redação desse pequeno órgão popular. Achamos que a ciência pode reformar as Igrejas, de maneira a conservar tudo quanto a religião tem de certo, de são e de bom"
Colaborador assíduo de The Monist, Mach nele publica capítulos de suas novas obras. Carus acomoda um pouco Mach a Kant, afirmando que Mach "é um idealista, ou, dizendo mais espontaneamente, um subjetivista"; Carus está também convicto, de que, apesar de divergências de ordem secundária, "nós pensamos, Mach e eu, da mesma forma".(4)
"O nosso monismo — afirma Carus — não é nem materialista, nem espiritualista, nem agnóstico, mas, simples e exclusivamente, espírito consequente... Tem a experiência por base e as formas sistematizadas das relações da experiência por método" (o Empiro-monismo de A. Bogdanov foi evidentemente plagiado nesse ponto).
A divisa de Carus é:
"Ciência positiva e não agnosticismo; pensamento claro e não misticismo; concepção monista do universo e não supernaturalismo; religião e não dogma; fé, não como doutrina, mas como estado de espírito (not creed, but faith)".
Inspirando-se nessas ideias, Carus preconiza uma "nova teologia", uma "teologia científica", ou teonomia, que nega a letra da Bíblia, mas insiste sobre a
"divindade de toda a verdade e a revelação de Deus nas ciências naturais, do mesmo modo que na história".(5)
Deve-se observar que, no seu mencionado livro sobre a gnoseologia do naturalismo contemporâneo, Kleinpeter recomenda Carus ao lado de Ostwald, Avenarius e os imanentes (pp. 151-152) Quando Haeckel publicou suas teses sobre a união dos monistas, Carus pronunciou-se categoricamente contra essa união: em primeiro lugar, Haeckel cometia o erro de renegar o apriorismo "perfeitamente compatível com a filosofia científica"; em segundo lugar, Carus rebelava-se contra a doutrina determinista de Haeckel, que "exclui a liberdade da vontade"; em terceiro lugar, Haeckel cometia "o erro de acentuar o ponto de vista unilateral do naturalista contra o conservantismo tradicional das Igrejas. Desse modo, ele age como inimigo das Igrejas existentes em vez de trabalhar com prazer para o seu desenvolvimento superior em interpretações novas e mais justas dos dogmas" (loc. cit., vol. XVI, 1906, p. 122). O próprio Carus. confessa:
"Muitos livres-pensadores consideram-me reacionário e censuram-me por não me juntar a seus ataques unanimes contra toda religião considerada como um preconceito" (p. 355).
É absolutamente evidente que estamos em presença de um líder da confraria dos trapaceiros literários americanos que trabalham para narcotizar o povo com o ópio religioso. Sem dúvida também em consequência de um "mal-entendido" sem importância é que Mach e Kleinpeter foram admitidos nessa confraria.
Notas de rodapé:
(1) Cortar cabelos a quatro Expressão francesa que significa ser muito sutil ou muito meticuloso. (retornar ao texto)
(2) Nozdrev Personagem do romance de Gogol, Almas mortas. Latifundiário linguarudo e devasso. Nota do Tradutor (retornar ao texto)
(3) Ver William Kingdom Clifford, Lectures and Essays, 3ª edição, Londres, 1901, vol. II, págs. 55, 65, 69. Na pág. 58: "Estou com Berkeley contra Spencer." Pág. 52: "O objeto é uma série de modificações em minha consciência e não qualquer coisa de exterior a elas." — N. L. (retornar ao texto)
(4) The Monist, vol. XVI, 1906, julho; P. Carus, Pr. Mach's Philosophy, págs. 320, 345, 333. Trata-se de uma resposta ao artigo de Kleinpeter, publicado na mesma revista. — N. L. (retornar ao texto)
(5) The Monist, t. XIII, pág. 24, artigo de Carus: A teologia considerada como uma ciência. N. L. (retornar ao texto)
Inclusão | 17/11/2014 |