O Imperialismo e a Revolução
Enver Hoxha

A Concepção dos "Três Mundos", Negação do Marxismo-Leninismo


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A noção da existência de três mundos ou da divisão do mundo em três baseia-se numa concepção racista e metafísica, que é engendro do capitalismo mundial e da reação.

Mas a tese racista que classifica os países em três categorias ou "mundos" não se baseia simplesmente na cor da pele. Faz sua classificação tendo como fundamento o nível de desenvolvimento econômico dos países e visa definir a "raça dos grandes senhores" de um lado e a "raça dos párias e da plebe" de outro, criar uma divisão imutável e metafísica, conforme o interesse da burguesia capitalista. Considera as diferentes nações e povos do mundo como um rebanho de carneiros, como um todo amorfo.

Os revisionistas chineses aceitam e recomendam que se preserve a "raça dos senhores" e que a "raça dos párias e da plebe" sirva-a comportada e devotadamente.

A dialética marxista-leninista nos ensina que o desenvolvimento não conhece fronteiras, que nada cessa de modificar-se. Neste processo ininterrupto de desenvolvimento rumo ao futuro verificam-se mudanças de quantidade e de qualidade. Nossa época, como qualquer outra, caracteriza-se por profundas contradições, que Marx, Engels, Lênin e Stálin definiram tão claramente. É a época do imperialismo e das revoluções proletárias e, portanto, a época das grandes transformações quantitativas e qualitativas que conduzem à revolução e à tomada do poder pela classe operária, para construir a nova sociedade socialista.

Toda a teoria de Marx baseia-se na luta de classes e no materialismo dialético e histórico. Marx demonstrou que a sociedade capitalista é uma sociedade de classes exploradoras e exploradas, que as classes só desaparecerão quando se chegar à sociedade sem classes, ao comunismo.

Vivemos atualmente a fase da derrocada do imperialismo e da vitória das revoluções proletárias. Isto significa que existem na sociedade capitalista atual duas classes principais, o proletariado e a burguesia, em luta inconciliável, de vida ou morte entre si. Qual delas vencerá? Marx e Lênin, a ciência marxista-leninista, a teoria e a prática da revolução nos demonstram e nos convencem de que, em última instância, triunfará o proletariado, que destruirá, derrubará o poder da burguesia, o imperialismo, todos os exploradores e edificará uma sociedade nova, a sociedade socialista. Ensinam-nos igualmente que, mesmo nesta nova sociedade, durante um período muito prolongado existirão classes: a classe operária e o campesinato trabalhador, que se encontram em estreita aliança; mas subsistirão também resíduos das classes derrubadas e expropriadas. Durante todo este período, tais resíduos, bem como os elementos que degeneram e se contrapõem à construção socialista, procurarão retomar o poder perdido. Portanto, também, existirá uma acirrada luta de classes no socialismo.

Os marxista-leninistas têm sempre em mente que as classes pobres, com o proletariado à frente, e as classes ricas, tendo à frente a burguesia, existem em todos os países, exceto naqueles onde a revolução triunfou e instaurou-se o sistema socialista.

Em qualquer Estado capitalista, esteja onde estiver, mesmo que seja democrático ou progressista, existem oprimidos e opressores, explorados e exploradores, antagonismos, implacável luta de classes. A diferenciação na intensidade da luta não modifica essa realidade. Essa luta atravessa ziguezagues, mas existe e não pode ser extinta. Ela existe em toda parte, existe nos Estados Unidos, entre o proletariado e a burguesia imperialista, existe igualmente na União Soviética, onde o marxismo-leninismo foi traído e criou-se uma nova classe burguês-capitalista que oprime os trabalhadores do país. Também existem classes e luta de classes no "segundo mundo", como na França, na Inglaterra, na Itália, na Alemanha Ocidental, no Japão. Existe da mesma forma no "terceiro mundo", na Índia, no Zaire, no Burundi, no Paquistão, nas Filipinas, etc.

Somente a teoria dos "três mundos" de Mao Tsetung pretende que não existem classes e luta de classes em país algum. Ela não as enxerga porque julga os países e povos segundo conceitos geopolíticos burgueses e de acordo com o nível de seu desenvolvimento econômico.

Ver o mundo dividido em três, em "primeiro mundo", "segundo mundo" e "terceiro mundo", à margem do prisma de classe, como fazem os revisionistas chineses, significa desviar-se da teoria marxista-leninista da luta de classes, significa negar a luta do proletariado contra a burguesia para passar de uma sociedade atrasada a uma nova sociedade, socialista, e mais tarde à sociedade sem classes, comunista. Dividir o mundo em três significa desconhecer as características da época atual, emperrar o avanço do proletariado e dos povos rumo à revolução e à libertação nacional, obstaculizar sua luta contra o imperialismo norte-americano, contra o social-imperialismo soviético, contra o capital e a reação, em cada país e em toda parte. A teoria dos "três mundos" prega a paz social, a conciliação de classe, procura estabelecer alianças entre inimigos inconciliáveis, entre o proletariado e a burguesia, entre os oprimidos e os opressores, entre os povos e o imperialismo. Procura prolongar a existência do velho mundo, do mundo capitalista, mantê-lo vivo precisamente buscando a extinção da luta de classes.

Mas a luta de classes, a luta do proletariado e seus aliados para tomar o poder e a luta da burguesia para mantê-lo não podem jamais ser negadas. Pode-se mover céus e terras, mas não esta verdade; ela não pode tampouco ser mudada pelas teorizações vazias sobre "mundos": "primeiro mundo", "segundo mundo", "terceiro mundo", "mundo não-alinhado" ou "vigésimo mundo". Aceitar tal divisão é deixar de lado, abandonar a teoria de Marx, Engels, Lênin e Stálin sobre as classes e a luta de classes.

Lênin e Stálin disseram após a vitória da Revolução de Outubro que existem dois mundos em nossos dias, o mundo socialista e o mundo capitalista, embora na época o socialismo tivesse sido instaurado apenas num país.

"... atualmente - dizia Lênin em 1921 - há dois mundos: o velho, o capitalismo, que se enredou, que nunca retrocederá, e o novo mundo em ascenso, que é ainda muito débil mas que crescerá, pois é invencível". (V. I. Lênin, Obras, ed. albanesa, vol. XXXIII, pgs. 153-154).

Este critério de classe na divisão do mundo vale igualmente para a atualidade, em que pese o socialismo não ter triunfado em muitos países e a nova sociedade não ter substituído a velha sociedade burguês-capitalista. Amanhã isso sem dúvida ocorrerá.

O fato do socialismo ter sido traído na União Soviética e outros países antes socialistas não modifica uma vírgula sequer no critério leninista sobre a divisão do mundo. Hoje, como antes, existem apenas dois mundos e a luta entre eles, entre as duas classes antagônicas, entre o socialismo e o capitalismo verifica-se não só em escala nacional, mas também internacional.

Os revisionistas chineses, que não aceitam a existência do mundo socialista a pretexto de que não existe mais o campo socialista, devido à traição da União Soviética e de outros antigos países socialistas, ignoram premeditadamente uma coisa: que o aparecimento do revisionismo contemporâneo não modifica em absoluto a tendência geral da história no sentido da revolução, da derrocada do imperialismo, independente do capitalismo ainda existir. Eles ignoram ao mesmo tempo que as idéias imortais do marxismo-leninismo existem, desenvolvem-se e triunfam, que existem os partidos marxista-leninistas, existe a Albânia socialista, existem os povos que combatem por sua liberdade, independência e soberania nacional, que o proletariado mundial existe e luta.

A Comuna de Paris não triunfou, foi esmagada, mas deu um grande exemplo ao proletariado mundial. Marx disse que a experiência da Comuna demonstrou a debilidade momentânea do proletariado francês, mas preparou o proletariado de todos os países para a revolução mundial e deu uma grande lição quanto às condições necessárias para se alcançar a vitória. Marx erigiu em teoria a grande experiência dos comunards, que "tomaram o céu de assalto" e ensinou ao proletariado que ele deve romper pela violência revolucionária o aparelho de Estado burguês e sua ditadura.

Os revisionistas contemporâneos são covardes. Pensam que as forças contra-revolucionárias são muito poderosas atualmente. Mas isso não tem nada de verdade. Elas são mais débeis. Os povos, com o proletariado à frente, são mais fortes. Esmagarão as forças contra-revolucionárias, as forças da reação, do imperialismo e do social-imperialismo. Esta é uma concepção fundada na análise do mundo sob uma ótica de classe. Qualquer outro ponto de vista é errôneo, mesmo que a atividade e o medo dos revisionistas se mascarem com frases revolucionárias.

Quando nós, marxista-leninistas, dizemos que existem dois mundos e não três ou cinco, estamos no caminho correto e devemos edificar com base no marxismo-leninismo nossa luta contra a burguesia capitalista, contra o imperialismo norte-americano e o social-imperialismo soviético, contra os demais imperialismos. Esta luta deve conduzir à destruição do velho mundo burguês-capitalista e à instauração do novo sistema socialista.

A força social motriz de nossa época é o proletariado. Lênin acentuou que a força motriz que impulsiona a história é constituída pela classe que encontra-se

"... no centro desta ou daquela época e determina seu conteúdo fundamental, a tendência principal de seu desenvolvimento, as particularidades essenciais de sua situação histórica, etc.".(V. I. Lênin, Obras, ed. albanesa, vol. XXI, pg. 147).

Já os revisionistas chineses, contrariamente a esta tese de Lênin, procuram considerar o "terceiro mundo" como "a grande força motriz que faz avançar a roda da história". Fazer semelhante declaração significa dar uma definição teórica e praticamente errônea da força motriz. Como é possível, na época atual da evolução social, que tem no centro a classe mais revolucionária - o proletariado - qualificar como força motriz um agrupamento de Estados cuja esmagadora maioria é dominada pela burguesia e os senhores feudais, inclusive por reacionários e fascistas declarados? Trata-se de uma grosseira deformação da teoria de Marx.

A direção chinesa não leva em conta que existem no "terceiro mundo" oprimidos e opressores, que há de um lado o proletariado e o campesinato escravizado, pobre e miserável, e de outro os capitalistas e latifundiários, que exploram e despojam o povo. Não ressaltar essa situação de classe do chamado terceiro mundo, não assinalar os antagonismos existentes significa revisar o marxismo-leninismo e defender o capitalismo. Em geral a burguesia capitalista está no poder nos países do dito terceiro mundo. Essa burguesia espolia o país, explora e oprime o povo pobre no interesse de sua classe, para auferir o máximo de lucros para si e para manter o povo sempre na escravidão e na miséria.

Em muitos países do "terceiro mundo" os governos no poder são burgueses, capitalistas, naturalmente com diferentes nuances políticas, são governos da classe inimiga do proletariado e do campesinato pobre e oprimido, inimiga da revolução e das lutas de libertação. A burguesia que detém o poder em tais países conserva precisamente a sociedade capitalista que o proletariado procura derrubar em aliança com as camadas pobres do campo e da cidade. Constitui a classe alta que, partindo de seus interesses mesquinhos, dispõe-se a qualquer momento, em qualquer viragem, a vender os recursos do solo e do subsolo do país ao capitalismo estrangeiro, a traficar com a liberdade, a independência e a soberania da pátria. Onde quer que esteja no poder, essa classe contraria a luta e as aspirações do proletariado e de seus aliados, das classes e camadas oprimidas.

Muitos dos Estados que a direção chinesa engloba no "terceiro mundo" não são contrários ao imperialismo norte-americano e ao social-imperialismo soviético. Qualificar tais Estados de "principal força motriz da revolução e da luta contra o imperialismo", como preconiza Mao Tsetung, é um erro tão grande como a cordilheira do Himalaia. Existem outros pseudomarxistas, mas estes pelo menos sabem ocultar-se e disfarçar-se atrás de suas teorias burguesas.

Os revisionistas chineses possuem a mesma visão antimarxista não só do "terceiro mundo", mas também do que chamam "segundo mundo", onde domina a grande burguesia capitalista, onde dominam os grandes imperialistas de ontem, que continuam igualmente imperialistas. Nos países desse chamado segundo mundo existe um proletariado grande e poderoso, explorado ate a medula, esmagado por leis opressivas, pelo exército, pela polícia, pelos sindicatos, por todas essas armas da ditadura da burguesia. Tanto nos países do "terceiro mundo" como nos do "segundo mundo", é a classe burguesa capitalista, são as mesmas forças sociais que dominam o proletariado e os povos e que devem ser destruídas. Também ali o proletariado é a principal força motriz.

Mas tanto no "terceiro mundo" como no "segundo mundo" e também nos Estados Unidos da América e na União Soviética, os revisionistas chineses ignoram precisamente o proletariado, que representa o grande exército da revolução, negam exatamente a principal força motriz da sociedade, a força que deve golpear a burguesia monopolista, sua inimiga de classe e inimiga de toda a revolução mundial.

A teoria dos "três mundos" de Mao Tsetung nega essa grande realidade e desconsidera o proletariado da Europa e dos demais países desenvolvidos. É verdade que também existe degenerescência nas fileiras do proletariado, seja no chamado terceiro mundo, seja nos denominados segundo e primeiro, pois a burguesia não cruza os braços, combate seu inimigo não só com armas e repressão mas também política e ideologicamente, com o modo de vida que institui, etc. Mas a degenerescência de alguma camada do proletariado, como a aristocracia operária, não pode fazer com que se renuncie ao marxismo-leninismo e se negue o papel decisivo da classe operária no processo revolucionário mundial. Com uma correta educação marxista-leninista, com atividade revolucionária cotidiana, os verdadeiros comunistas resguardam o proletariado de qualquer país ou "mundo" da degenerescência e mobilizam-no na luta contra seus opressores, sejam eles: ingleses ou franceses, italianos ou alemães, portugueses ou espanhóis, norte-americanos ou japoneses.

Também existe um grande proletariado nos Estados Unidos, que são a cabeça do imperialismo mundial. Os Estados Unidos são ao mesmo tempo um dos países mais industrializados e o mais rico do mundo, de forma que as migalhas que o capital emprega para enganar o proletariado são um pouco maiores do que em outros países burgueses. O modo de vida exerce ali uma maior influência sobre o proletariado. Mas não podemos ignorar, por pouco que seja, o papel e a contribuição do proletariado norte-americano para a revolução em seu país. A realidade é que também nos Estados Unidos existe uma opinião pública contrária ao imperialismo, contrária às guerras de rapina, contrária à opressão por parte dos capitalistas, dos trustes, dos bancos, etc. Existe inclusive em camadas da pequena burguesia do país uma resistência à opressão do grande capital.

Ao negar a luta de classes, a teoria chinesa dos "três mundos" nega também a luta dos povos para livrar-se do domínio estrangeiro, para conquistar direitos e liberdades democráticos, nega sua luta pelo socialismo. Essa teoria contra-revolucionária e anticientífica risca do mapa a luta dos povos contra seus inimigos, que são o imperialismo, o social-imperialismo, toda a grande burguesia internacional.

Alinhar os povos em três categorias e apregoar que somente o "terceiro mundo" aspira a libertar-se do imperialismo, que somente ele seria "a principal força motriz contra o imperialismo", é uma fraude e um flagrante desvio do marxismo-leninismo. Caso se coloque no "primeiro mundo" e no "segundo mundo" os imperialistas e capitalistas, surge a pergunta: onde colocar os povos destes dois "mundos", que também combatem por sua emancipação contra os mesmos opressores que tiranizam o "terceiro mundo"? Os inventores e partidários da divisão do mundo em três são incapazes de responder a esta indagação porque, segundo sua concepção antimarxista e antileninista, fundiram num só corpo os imperialistas, os governantes e os povos.

Os marxista-leninistas não podem identificar os povos soviéticos com os escroques antimarxistas, social-imperialistas e novos capitalistas que os dominam. Também não podem misturar e confundir o povo norte-americano com o imperialismo norte-americano. Caso atuassem como os revisionistas chineses, os revolucionários cometeriam um grande erro teórico e colocar-se-íam contra a revolução, apoiariam precisamente o imperialismo e social-imperialismo, as forças do capital, combatidas inclusive pelo proletariado e o povo dentro dos covis de seus inimigos.

Qual o sentido do apelo chinês para que o "terceiro mundo" se una em aliança com o "segundo mundo" a fim de combater a metade do "primeiro mundo", quando tal divisão confunde a personalidade, as aspirações e o nível de desenvolvimento distintos dos povos, que combatem a oligarquia que os oprime? O grau da resistência e da luta revolucionária dos povos é igualmente distinto, mas seu objetivo final, o comunismo, o mesmo. Nestas condições nós, marxista-leninistas, devemos fazer propaganda e mobilizarmo-nos para alcançar o objetivo final através de constantes lutas de classe contra o imperialismo, o social-imperialismo, o capitalismo e suas ideologias enganosas.

Os revisionistas chineses não só fundem num único corpo os povos e seus governantes nos países capitalistas, como também querem liquidar a personalidade dos países socialistas, pregando que mesmo eles podem ser incluídos no "terceiro mundo".

Como se pode identificar um país socialista com o "terceiro mundo", onde existem classes antagônicas, opressão e exploração, e alinhá-lo com "reis e príncipes", como fazem os dirigentes da China? Os revisionistas chineses, que chamam seu país de socialista, dizem que se integram no "terceiro mundo" para ajudar os povos desse "mundo". Trata-se de um engodo, com o qual desejam ocultar seu objetivo expansionista. Um país verdadeiramente socialista não precisa dividir o mundo em três nem incluir-se no "terceiro mundo" para ajudar e apoiar a luta dos povos.

Com nossas atitudes, guiando-nos por critérios de classe, nós, marxista-leninistas, ajudamos os povos, o proletariado, a democracia, a soberania e a liberdade verdadeiras e não os Estados dominados por monarcas, xás e camarilhas reacionárias. Ajudamos os povos e os Estados democráticos que desejam libertar-se do jugo das superpotências, mas acentuamos que não se pode fazê-lo devidamente, pela via justa e segundo critérios de classe, sem combater também os monarcas, também os monopólios internacionais, que estão interligados com as superpotências. Os dirigentes chineses pretendem haver solucionado este complexo problema de classe ao "fundir-se" nesse imaginário "terceiro mundo". Mas trata-se de uma solução antimarxista. Na maioria das vezes, os Estados e governos do "terceiro mundo", contrariamente ao que pretendem os dirigentes chineses, não são partidários da luta contra o "primeiro mundo", o imperialismo norte-americano e o social-imperialismo soviético, nem do combate ao "segundo mundo".

A corrente dos povos do mundo marcha rumo à luta pela libertação, pela revolução, pelo socialismo, mas não inclui os governos dos monarcas, dos emires e camarilhas reacionárias do tipo das de Mobutu e Pinochet, do "terceiro mundo" onde a China se inclui.

A direção chinesa não faz uma distinção de classe quanto aos Estados do chamado terceiro mundo, segundo os princípios do internacionalismo proletário e os interesses da revolução mundial. Não leva em conta que tais Estados nacionais, na sua maioria dirigidos por camadas da alta burguesia, são influenciados e fortemente amarrados com mil fios não só pelo imperialismo norte-americano mas também pelo social-imperialismo soviético.

Existem nesses Estados profundas contradições internas que opõem o proletariado e o campesinato pobre e oprimido à burguesia e a todos os escravizadores. A ajuda de um país socialista aos povos desses Estados deve ser um grande estímulo ao seu avanço, à criação de um Estado verdadeiramente democrático, sem obscurecer a perspectiva, a causa da vitória da revolução proletária e da tomada do poder pelo proletariado. A revolução não se importa, será obra do proletariado e do povo de cada país. Naturalmente, a tomada do poder não se processará hoje ou amanhã, mas, como nos ensina Lênin, devemos criar as condições para que, em cada viragem da história, o proletariado encontre-se à frente da luta para derrubar o poder degenerado dos ditadores e da burguesia reacionária, para instaurar o domínio do povo.

A divisão que nós, comunistas, fazemos do mundo atual com base no critério de classe leninista, não nos impede de combater as superpotências e apoiar todos os povos e Estados que exigem a emancipação e têm contradições com elas. A Albânia socialista tem apoiado de todo coração e vigorosamente a luta dos povos da Ásia, África e América Latina, pois ela corresponde aos interesses deles próprios e volta-se contra o imperialismo e domínio colonial estrangeiro. Mas ocultar os princípios e distorcer o Marxismo-leninismo, a ideologia e a política do partido do proletariado, como fazem os dirigentes chineses, é antimarxista, é um blefe, uma fraude. O Partido do Trabalho da Albânia nunca fez nem fará tal coisa, pois seria um crime imperdoável para com seu povo, para com os demais povos, para com o proletariado internacional e a revolução mundial.

Ao dividir mundo em três, o Partido Comunista da China prega de fato a conciliação de classe.

Os autênticos marxista-leninistas nunca esquecem os ensinamentos de Lênin, indicando que os oportunistas e revisionistas procuram a todo custo amainar a luta de classes, enganar a classe operária e os oprimidos com formulas "revolucionárias", esvaziando a doutrina marxista-leninista de seu conteúdo revolucionário. É o que faz a direção revisionista chinesa ao pregar a conciliação e a coexistência pacífica da classe operária com a burguesia.

Como nos ensinam Engels e Lênin, as contradições entre as classes ou forças sociais com interesses fundamentais opostos, longe de se conciliarem acirram-se continuamente e desembocam em conflitos político-sociais. A própria existência do Estado prova que os antagonismos de classe são inconciliáveis. Portanto, tentar atenuar esses antagonismos de classe, que se verificam nos diferentes países burgueses e revisionistas do "terceiro", do "segundo" ou do "primeiro mundo", pregando uma união sem princípios, significa negar o caráter objetivo da existência das contradições, tratar esse problema de maneira antimarxista.

Os "teóricos" chineses procuram conciliar classes que jamais poderão ser conciliadas, ou seja, adotam posições revisionistas, oportunistas. A deformação da teoria de Marx pelos revisionistas chineses se evidencia quando eles consideram os países que incluem no "terceiro mundo" como áreas onde reina a paz social e seu Estado como organismo de conciliação de classe.

Aceitar a noção de "terceiro mundo", tal como a proclamam os dirigentes chineses, significa trabalhar para criar uma opinião pública a serviço da defesa dos organismos estatais necessários à burguesia para oprimir a classe operária e as massas do povo. Como dizia Lênin ao atacar os revisionistas, a tese do amainamento da luta de classes legitima e afirma a opressão. Buscar a unidade dentro do "terceiro mundo" quer dizer na prática buscar a unidade da classe oprimida com a opressora, ou seja, tentar "suavizar" os antagonismos entre as massas trabalhadoras e a burguesia, entre o povo e os opressores estrangeiros. Essa prédica dos revisionistas chineses contraria os interesses da libertação nacional e social dos povos, suas aspirações à liberdade, independência e justiça social.

A maioria dos Estados tidos como componentes do "terceiro mundo" ou "mundo não-alinhado" depende do capital financeiro forâneo, que é tão forte, tão vasto, que tem um peso decisivo em toda a sua vida. Tais Estados não gozam de plena independência, ao contrário, são dependentes do grande capital financeiro, que faz uma política e difunde uma ideologia de justificação da exploração dos povos.

A burguesia e o imperialismo fazem grandes esforços para encobrir essa realidade e, quando se vêem desmascarados, criam diferentes "teorias" contrárias à independência e soberania dos Estados. Para abafar as aspirações dos povos à liberdade, independência e soberania, os teóricos burgueses e revisionistas qualificam tais anseios de "anacrônicos", atribuem-lhes diferentes interpretações metafísicas e contrapõem a eles o lema da "interdependência mundial", pretendendo que ele expressa a tendência do atual desenvolvimento da sociedade humana, ou o slogan da "soberania limitada", que supostamente expressa os interesses supremos da chamada comunidade socialista, etc.

A realidade burguês-revisionista, de violação da liberdade, independência e soberania de nações e Estados sob todas as formas e em todos os sentidos, mostra a decomposição do sistema capitalista. Vivemos uma época em que a burguesia enquanto classe dominante está perdendo terreno, enquanto que o proletariado mundial tornou-se uma força colossal e encetou um combate ininterrupto, implacável para livrar-se da classe que o explora. Sob os golpes dos povos e da luta de classe do proletariado, a burguesia foi obrigada a renunciar de jure ao colonialismo e a reconhecer formalmente e a liberdade, a independência e a soberania de muitos países que haviam sido ocupados e espoliados até a medula por um longo período.

Mas a liberdade, independência e soberania juridicamente reconhecidas pelos Estados capitalistas às suas ex-colônias até hoje permanecem formais em muitos países que voltaram a ser dominados pelos capitalistas e imperialistas sob novas formas. A fim de prolongar seu domínio nas ex-colônias, essas forças retrógradas de nossa época praticam em ampla escala os complôs e intrigas, para dividir e dominar nesses países onde ainda encontram terreno, explorando o atraso econômico, político e ideológico dos povos e a falta de organização das forças revolucionárias.

No tratamento desse problema não se deve julgar que, já que as ex-colônias ainda não conquistaram a plena independência e soberania, sua luta foi inútil. De forma alguma. O combate dos povos pela emancipação de seus pequenos países do ditame e da tutela dos grandes, do imperialismo e do social-imperialismo, não deve ser subestimado. Ao contrário, o Partido do Trabalho da Albânia e o Estado albanês sempre apoiaram e apoiarão sem reservas essa justa luta revolucionária e libertadora, considerando-a como uma vitória dos povos no fortalecimento da independência política, no rompimento com o domínio colonial e neocolonial. Mas contestamos os teóricos revisionistas que afirmam que agora toda luta revolucionária deveria ser reduzida ao combate pela independência nacional, para conquistá-la e defendê-la da agressão das potências imperialistas, negando a luta pela libertação social. Somente a vitória desta última garante a liberdade, a independência e a soberania plenas e verdadeiras de uma nação. Esses advogados do sistema espoliador "esquecem" que a luta de classes entre o proletariado e seus aliados, de um lado, e a burguesia de cada país e seus aliados externos, de outro, prossegue sempre acirrada e conduzirá um dia ao momento, às situações revolucionárias, como dizia Lênin, em que a revolução estala. Deve-se aproveitar as condições cada vez mais favoráveis que estão se criando no mundo para o amplo desenvolvimento das revoluções antiimperialistas e democráticas e para sua direção pelo proletariado, de forma a passar da luta pela independência nacional a outra fase mais avançada, à luta pelo socialismo, Lênin nos ensina que a revolução deve ser levada até o fim, liquidando a burguesia e seu poder. Unicamente sobre essa base pode-se falar em liberdade, independência e soberania verdadeiras.

Segundo nossa concepção marxista-leninista, o povo não pode ter liberdade e soberania numa sociedade dividida em classes antagônicas onde domina a classe feudal ou burguesa. A liberdade, a independência e a soberania têm um conteúdo político-social concreto. Garante-se a autêntica liberdade e soberania nas condições da ditadura do proletariado. Onde o Estado encontra-se nas mãos da classe exploradora, as relações econômicas e políticas desiguais entre exploradores e explorados e entre países conduzem à perda ou à restrição da liberdade e da soberania do povo. Consequentemente, não se pode falar em verdadeira liberdade e soberania nacional, nem muito menos em soberania do povo nos países enquadrados no "mundo não-alinhado" ou no "terceiro mundo". Só se pode definir corretamente qual o povo que é livre de verdade e qual vive avassalado, qual Estado é independente e soberano e qual dependente e oprimido, com base numa análise científica apoiada na teoria marxista-leninista. A teoria marxista-leninista explica claramente quem são os opressores e exploradores dos povos e qual o caminho para os povos se tornarem livres, independentes e soberanos. Nós, comunistas albaneses, só compreendemos a liberdade, a independência e soberania dos países e povos desta forma, à luz do marxismo-leninismo.


Inclusão 03/11/2005
Última atualização 14/04/2014