O Imperialismo e a Revolução
Enver Hoxha

A Atitude dos Revisionistas Chineses em Relação às Contradições é Idealista, Revisionista e Capituladora


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A aplicação de uma justa estratégia revolucionária, baseada nos ensinamentos do marxismo-leninismo, requer não só uma análise e apreciação multilaterais e dialéticas das forças motrizes da corrente mundial revolucionária e libertadora, uma correta avaliação das forças do inimigo, de seus aspectos fortes e debilidades, mas também uma compreensão acertada e científica das contradições que caracterizam nossa época.

Não nos equivocaremos sempre que interpretarmos as contradições segundo os ensinamentos da teoria marxista-leninista, vinculados aos fatos concretos e à evolução real da situação.

No que diz respeito às contradições, os dirigentes chineses "teorizam", "interpretam", "filosofam", parafraseiam e embaralham muito as teses tão claramente formuladas pelos clássicos do marxismo-leninismo. Interpretando as contradições distintamente de sua verdadeira concepção, entram em acordos e fazem compromissos não em favor da luta libertadora, dos povos, da revolução, da construção do socialismo, mas em favor da burguesia e do imperialismo. Eles, que posam de filósofos marxista-leninistas, possuem duas máscaras: uma para aparentar que são fiéis à teoria marxista-leninista e outra para deformá-la na prática.

Sua atitude no que toca às contradições, às alianças e compromissos deriva de sua análise deturpada e pragmática da situação internacional, das contradições existentes no mundo, das contradições entre as potências imperialistas, entre os diferentes Estados capitalistas, entre o proletariado e a burguesia, etc. As raízes dessa atitude encontram-se em sua concepção de mundo idealista e revisionista.

Mas não é por acaso que os dirigentes chineses colocam na pauta de discussões precisamente o problema das contradições, alianças e compromissos. A direção revisionista chinesa agora arrancou a máscara e saiu abertamente contra a revolução, tornou-se porta-bandeira do oportunismo de direita, do revisionismo. Como todos os revisionistas, os dirigentes do Partido Comunista da China também buscam "justificar" seu afastamento da teoria marxista-leninista, sua orientação revisionista, recorrendo a citações de Marx, de Engels, de Lênin e de Stálin. Naturalmente eles mutilam, fragmentam, retiram do contexto essas citações, e empregam-nas, assim estropiadas, para fazer passar suas posições e teses reacionárias por marxista-leninistas. Mas os revisionistas chineses não são os primeiros nem os últimos a praticar essas distorções, essas mutilações tendenciosas de nossa justa teoria. Muito antes deles, os chefes da social-democracia, os titistas, os revisionistas soviéticos, italianos, franceses e outros já atuavam dessa maneira; e continuam a fazê-lo.

Ao fazer malabarismos com as contradições, os dirigentes chineses tentam, em primeiro lugar, justificar sua atitude frente ao imperialismo norte-americano, aplainar o caminho da aproximação e colaboração com ele.

Os revisionistas chineses pretendem que no mundo de hoje existe uma única contradição, que opõe o "terceiro mundo", o "segundo mundo" e a metade do "primeiro mundo" à União Soviética. Partindo dessa tese que une os povos a um grupo de imperialistas, eles propugnam que se deixem de lado todas as contradições de classe e se combata apenas o social-imperialismo soviético.

Mas analisemos como se coloca o problema das contradições entre os povos e as superpotências e das contradições entre as próprias superpotências.

Nas condições atuais, assume uma importância primordial na definição de uma estratégia e de uma tática revolucionárias conseqüentes adotar uma atitude de princípios diante das duas superpotências imperialistas, os Estados Unidos e a União Soviética, que constituem a maior força de defesa do sistema capitalista de opressão e exploração, as principais fortalezas da reação mundial. Elas são os mais perigosos inimigos jurados da revolução, do socialismo e dos povos, assumiram o odioso papel de gendarme internacional contra qualquer movimento revolucionário e de libertação e são as potências mais agressivas e belicistas, cuja atuação empurra o mundo para uma guerra devastadora.

Ninguém, menos ainda o Partido do Trabalho da Albânia, pode negar a existência de profundas contradições entre as duas maiores potências imperialistas de nosso tempo - o imperialismo norte-americano e o social-imperialismo soviético. Temos acentuado continuamente que as contradições entre as duas superpotências não só existem como estão se agravando. Ao lado disso, cada superpotência tenta entrar em acordo com a outra quanto a certas questões. Lênin explicava tais fenômenos com as duas tendências do capital. Dizia ele que:

"...existem duas tendências, uma que torna inevitável a aliança de todos os imperialistas, outra que coloca uns imperialistas contra os outros" (V.I. Lênin, Obras, ed. albanesa, vol. XXVII, pg. 418).

Mas por que existem contradições e antagonismos inconciliáveis entre as duas superpotências? Porque cada uma delas, como grande potência imperialista que é, luta pela hegemonia mundial, para criar novas esferas de influência, para escravizar e explorar os povos. O apetite e a ambição de cada uma faz com que ambas se agastem e inclusive se atritem seriamente. Esses atritos podem levar à guerra entre elas e a uma sangrenta guerra mundial.

Nós, marxista-leninistas, devemos explorar as contradições existentes entre as superpotências no interesse da revolução e das lutas de libertação dos povos.

Explorar as contradições no campo do inimigo é parte integrante da estratégia e tática revolucionárias. Stálin considerava o aproveitamento das contradições e conflitos nas fileiras dos inimigos da classe operária, dentro do país ou entre Estados imperialistas na arena internacional, como uma reserva indireta da revolução proletária. São fatos históricos conhecidos que o Estado socialista soviético, sob a direção de Lênin e Stálin, levou em conta e aproveitou as contradições interimperialistas no período posterior à Revolução de Outubro ou durante a II Guerra Mundial.

Mas em qualquer caso a apreciação e aproveitamento das contradições entre os inimigos por parte das forças revolucionárias e dos países socialistas resultam de uma análise concreta marxista-leninista dessas contradições e de seu grau de acirramento, da correlação de forças num período ou momento dado, para determinar por que via, de que formas e com que meios explorá-las. O que constitui questão de princípios é aproveitar tais contradições sempre em prol da revolução, em favor dos povos e de sua liberdade, em função da causa do socialismo. O aproveitamento das contradições nas fileiras inimigas deve conduzir ao crescimento e reforço e não ao enfraquecimento e atenuação do movimento revolucionário e emancipador, deve levar a uma mobilização sempre mais ativa das forças revolucionárias no combate aos inimigos, sobretudo os principais, sem permitir que se crie entre os povos qualquer ilusão quanto a eles.

O primeiro ponto do programa das duas superpotências, os Estados Unidos e a União Soviética revisionista, é o esmagamento da revolução e do socialismo. Os dirigentes chineses, longe de destacar, praticamente negam esse fato, que expressa a contradição inconciliável entre o socialismo e o capitalismo. Evidentemente não se permite aos marxista-leninistas esquecer que, apesar da luta que travam entre si pela hegemonia e das contradições que possuem, as superpotências absolutamente não afastam a atenção do objetivo comum de reprimir os povos que exigem liberdade, de sabotar a revolução, o que conduz igualmente a guerras gerais ou locais. Quanto a esta questão os revisionistas chineses insistem em suas conhecidas posições de combater apenas o social-imperialismo soviético, que, segundo eles, é o mais perigoso, o mais agressivo e o mais belicoso. Eles colocam o imperialismo norte-americano em segundo plano e acentuam que os Estados Unidos "desejam o status quo", "estão em declínio". A partir daí, os revisionistas chineses chegam à conclusão de que pode-se e deve-se fazer aliança com o imperialismo norte- americano contra o social-imperialismo soviético.

O imperialismo norte-americano nada tem de fraco e dócil. Ao contrário do que pretendem os dirigentes chineses, é agressivo, selvagem e poderoso, tal qual o social-imperialismo soviético. O fato do imperialismo norte-americano não deter mais a posição dominante de outrora não muda nada. Tal é a dialética do desenvolvimento do capitalismo, que comprova a tese de Lênin de que o imperialismo é o capitalismo em declínio, em decadência. Mas é inadmissível que, partindo-se disso, se chegue à subestimação da atual força econômica, militar e agressiva de uma ou outra superpotência. É igualmente inadmissível deduzir, a partir de um debilitamento e declínio reais do poderio dos imperialistas, que um imperialismo tornou-se menos perigoso e outro mais perigoso. Ambas as superpotências imperialistas são perigosas, pois nenhuma das duas esquece a luta contra os que procuram sepultá-las, e são os povos que procuram sepultar as superpotências.

Pregar a luta apenas contra o social-imperialismo soviético e cessar, na prática, o combate ao imperialismo norte-americano, como fazem os dirigentes chineses, significa não se ater às teses fundamentais do marxismo-leninismo. Que é preciso combater até o fim o social-imperialismo soviético é coisa que não se discute. Mas não se combater com a mesma energia o imperialismo norte-americano é algo inaceitável, é uma traição à revolução. Caso se seguisse o caminho chinês, não ficaria claro quem é o imperialismo norte-americano e quem o social-imperialismo soviético, por que as duas superpotências têm contradições e em que consistem estas, onde reside a luta entre as superpotências, que nós devemos aprofundar, o que devemos fazer para que esses dois Estados imperialistas não deflagrem uma guerra mundial, etc.

Caso tenhamos uma justa compreensão teórica dessas questões e atuemos corretamente com base na teoria marxista-leninista, fica claro que é indispensável apoiar e sustentar os povos em luta contra as duas superpotências e as camarilhas burguesas capitalistas que os dominam. O mundo capitalista está atravessando uma séria crise. Essa crise deve ser apreciada em toda a sua dimensão e as contradições existentes no mundo capitalista também devem ser julgadas em toda a sua profundidade.

A lógica pragmática e antimarxista leva os revisionistas chineses a apresentarem a União Soviética como um país que se desenvolve sem contradições, como um imperialismo que domina sem problemas os demais países revisionistas, tal como a Polônia, a Alemanha Oriental, a Hungria, a Checoslováquia, a Romênia e a Bulgária. Eles apresentam o bloco soviético como um bloco em ascensão e a União Soviética como o único imperialismo que restou no mundo e que busca instaurar sua hegemonia em toda parte.

Se nos referimos à hegemonia da União Soviética sobre os países revisionistas da Europa Oriental, ela se expressa em primeiro lugar na ocupação militar desses países pelas Forças Armadas soviéticas, na impiedosa e inescrupulosa pilhagem de seus recursos pelo social-imperialismo soviético, que inclusive procura integrá-los por completo ao sistema das Repúblicas soviéticas. Naturalmente a União Soviética revisionista encontra oposição nesses esforços. Chegará o dia em que essas resistências e contradições, que existem em estado latente no redil revisionista, se acirrarão ainda mais e explodirão.

Qualificamos o social-imperialismo soviético de agressivo porque ele invadiu e ocupou a Checoslováquia, porque ele interveio na África e em outras áreas, tem planos e prepara-se para outras agressões. Mas teria o imperialismo norte-americano realizado menos agressões ou seria ele menos agressivo do que o social-imperialismo soviético?

A direção chinesa esqueceu a agressão dos Estados Unidos à Coréia, esqueceu sua longa e bárbara guerra contra o Vietnã, o Camboja e o Laos, esqueceu sua guerra no Oriente Médio, a intervenção nas Repúblicas da América Central, etc. Apagou a lembrança de tudo isso e aparece-nos com a conclusão de que o imperialismo norte-americano teria se abrandado! Ela esquece que o imperialismo norte-americano cravou as garras em toda parte, em todo o mundo, estabeleceu a torto e a direito bases militares, que está desenvolvendo e reforçando. É isso que Mao Tsetung e Chu Enlai esqueceram, que a direção chinesa esquece ao nos dizer que o imperialismo norte-americano teria se debilitado e abrandado e que portanto poder-se-ia fazer aliança com ele! Atuar dessa forma significa tentar sufocar a luta contra o imperialismo em geral, contra o imperialismo norte-americano em particular e inclusive contra o social-imperialismo soviético, que a China diz combater com tanta ênfase.

É verdade que o social-imperialismo soviético está ávido de expansão. Sua interferência em Angola e na Etiópia, seus esforços atuais para criar bases no Mar Mediterrâneo e em alguns países árabes, para ocupar os estreitos do Mar Vermelho ou criar bases militares no Oceano Indico, tudo isso são ações abertamente imperialistas. Mas ele não consolidou posições na mesma medida em que o imperialismo norte-americano consolidou suas posições econômicas neocolonialistas estratégico-militares em outros países. É precisamente essa situação que a direção chinesa aparentemente subestima, mas na realidade reconhece e apóia.

Ao mesmo tempo, os revisionistas chineses não podem deixar de considerar que, apesar das contradições existentes em seu seio, os Estados capitalistas da Europa Ocidental e o imperialismo norte-americano estão estreitamente ligados, vinculados por alianças políticas, militares e econômicas, tais como a OTAN, o Mercado Comum Europeu, etc. É impossível que a direção chinesa desconheça que o capital norte-americano penetrou profundamente na economia dos países europeus ocidentais e não só ali, mas também na Europa Oriental e na União Soviética. A direção chinesa sabe perfeitamente que os Estados Unidos vêm investindo dezenas de bilhões de dólares em diferentes países. Então, o que ela espera? Esperaria que os países capitalistas ocidentais - com todas as contradições que possuem com os Estados Unidos - afastar-se-iam deles para debilitar seu próprio campo, para renunciar ao poderio armado, aos vínculos econômicos, sociais e culturais com a América do Norte e, em função dos interesses da China, se desprotegeriam em relação ao social-imperialismo soviético? Isso é um absurdo da política externa chinesa.

Conforme já assinalamos, não há nenhuma dúvida de que as forças revolucionárias e de libertação devem explorar as contradições existentes entre as duas superpotências e os demais países imperialistas e capitalista-revisionistas. O importante é que isso seja corretamente compreendido e encarado sempre sob a ótica e na dependência dos interesses da revolução. O aproveitamento das contradições entre potências e grupos imperialistas, Estados capitalista-revisionistas, etc. não pode jamais ser um objetivo em si mesmo para a classe operária e os revolucionários marxista-leninistas.

Explorar as contradições entre os países imperialistas e as duas superpotências significa aprofundar as brechas entre eles, encorajar as forças revolucionárias e patrióticas desses países a resistir ao imperialismo norte americano e ao social-imperialismo soviético, os quais desejam submetê-los econômica, política e militarmente, explorá-los, negar sua personalidade nacional, etc.

Mas como atua a China?

A política chinesa prega a "Santa Aliança" dos paises capitalistas ocidentais com os Estados Unidos. Vai inclusive mais longe: prega a aliança do proletariado dos países da Europa Ocidental com sua burguesia reacionária. Onde se encontra aqui a linha marxista-leninista revolucionaria? Onde a linha de aproveitar as contradições? Pensariam os dirigentes chineses que com tal política fortalecerão esse bloco, segundo seus desejos e contra os soviéticos? Eles sonham com essa utopia, mas trata-se de uma concepção metafísica.

Os Estados Unidos, os países capitalistas ocidentais e juntamente com eles o Japão e o Canadá não são tão loucos como pensam os dirigentes chineses, não fazem uma política tão ingênua como a dos chineses. De sua parte, sabem muito bem explorar as contradições existentes entre a China e União Soviética. Sabem atuar e atuam para debilitar a grande potência agressiva, a União Soviética, faz tempo que lutam neste sentido e não se pode dizer que não tenham tido resultados. Os Estados Unidos e todos os demais Estados capitalistas instigam as contradições entre os países revisionistas do Leste e o Kremlin.

Agora a China também começou a aplicar essa velha política norte-americana. A visita de Hua Guofeng à Romênia e à Iugoslávia dirigiu-se nesse sentido. Mas não é no interesse dos povos e da revolução que a China se abre para a Europa, instiga contradições e, sobretudo se esforça para criar um campo favorável para si nos Bálcãs. Isso faz parte da política chinesa de estímulo da guerra, que visa fazer com que os povos da Europa se matem entre si, tornem-se carne de canhão na guerra imperialista.

O "Pravda" abriu há tempo uma polêmica, naturalmente infrutífera, com os Estados Unidos, acusando-os de armar-se rapidamente e em grande quantidade. Sua preocupação não é criticar tal atuação dos Estados Unidos, pois os social-imperialistas soviéticos fazem o mesmo. O problema reside em que o aumento do potencial bélico norte-americano leva a um debilitamento relativo do poderio militar soviético e obriga a União Soviética a seguir passo a passo os Estados Unidos para equilibrar seu potencial de guerra e força agressiva. Todavia, seguir passo a passo o imperialismo norte-americano na corrida armamentista enfraquece a economia da União Soviética, pois canaliza da economia para o Exército grandes recursos materiais, monetários e humanos. É isso que inquieta os brezhnevianos.

Mas o mais assombroso é que os revisionistas chineses, através de seu jornal, o "Renmin Ribao", tomam sem reservas o partido dos norte-americanos, publicando artigos e mais artigos que incitam os Estados Unidos a não perder a supremacia na corrida aos armamentos, a elevar sem descanso seu potencial militar. Assim, segundo o "Renmin Ribao" parece que os Estados Unidos não estão se armando, que apenas a União Soviética se arma. Não se encontra em país algum um advogado dos norte-americanos como a direção revisionista chinesa. A burguesia ao menos procura ser ponderada nas críticas e na interpretação da realidade, balancear, naturalmente de forma tendenciosa, o desenvolvimento da situação. Mas uma atuação como a dos dirigentes chineses é coisa que nunca se viu.

Num encontro com Deng Xiaoping, o secretario do Departamento de Estado norte-americano, Cyrus Vance, explicou-lhe que "os Estados Unidos da América têm supremacia militar sobre a União Soviética". Mas Deng Xiaoping disse a um numeroso grupo de jornalistas norte-americanos em visita à China que "Pequim não confia" na declaração de Vance e que "a União Soviética é muito superior aos Estados Unidos". É como se diz, "ser mais realista do que o rei".

Não se pode aceitar a tese chinesa, apresentada como marxista, que questiona o fato de não uma, mas as duas superpotências imperialistas buscarem redividir o mundo, criar novas colônias, oprimir os povos, expandir mercados.

A própria colocação da questão de que um imperialismo é mais forte e outro menos forte, um agressivo e outro brando, não é marxista-leninista. Essa maneira de colocar a questão reflete um ponto de vista reacionário que conduz os revisionistas chineses à aliança com os Estados Unidos, com a OTAN e o Mercado Comum Europeu, com o rei da Espanha, com o Xá do Irã, com Pinochet no Chile e com todos os ditadores fascistas. A política chinesa, que não afeta o imperialismo norte-americano, que não afeta o poderio dos bancos e do grande capital de nossos dias, é uma política inteiramente reformista burguesa, pacifista e sumamente obtusa.

Os dirigentes chineses não podem deixar de ver que o capital financeiro, os trustes, os monopólios norte-americano absolutamente não reduzem seus investimentos externos, não abrem mão de seus intentos exploradores e escravizantes, ao contrário, se fortalecem e tratam e modificar a correlação de forças do mundo em proveito próprio.

Os social-imperialistas soviéticos fazem o mesmo. Sua política econômica e os grandes trustes existentes na União Soviética também visam sugar por todos os meios o sangue de seus satélites e outros países. Revestem-se de uma nova roupagem e se apresentam sob outro nome, procuram mudar em seu favor a correlação de forças, a princípio com acordos, com conversações, mas também pela força, ou seja, pela guerra, quando chega a hora.

Com o raciocínio de que os Estados Unidos "desejam o status quo", "estão em decadência" de que o social-imperialismo soviético "é o mais perigoso, o mais agressivo, o mais belicoso", etc., os revisionistas chineses buscam provar que os Estados Unidos podem e devem tornar-se aliados da China contra a União Soviética. As relações que estão se ampliando, o apoio aberto dos chineses ao incremento dos orçamentos de guerra e ao crescente armamentismo dos Estados Unidos o comprovam.

Os revisionistas chineses propugnam que a atual situação faz com que os marxista-leninistas, os revolucionários e os povos possam realizar um compromisso e apoiar-se no imperialismo norte-americano. Nosso Partido é contrário a qualquer compromisso com o selvagem imperialismo norte-americano, pois isso não corresponde aos interesses da revolução e da libertação dos povos. Estivemos, estamos e estaremos em luta com o imperialismo norte-americano até sua completa destruição. Estamos e estaremos igualmente até o fim em luta com o social-imperialismo soviético.

O apoio da China ao imperialismo norte-americano não favorece em absoluto a revolução e os povos, mas a contra-revolução. Com sua política e ideologia reacionárias, a direção chinesa deixa os povos do mundo nas garras do imperialismo norte-americano. Deseja que os povos permaneçam bem comportados, não levantem a cabeça e inclusive se unam ao imperialismo norte-americano contra a outra superpotência, que procura arrebatar aos Estados Unidos as riquezas criadas pelo esforço e pelo suor dos povos. A direção chinesa recomenda aos países capitalistas da Europa agrupados no Mercado Comum Europeu que se unam. Enquadra também os povos na união capitalista da Europa. Essa atitude quer dizer: comportem-se bem, não falem mais em revolução, não falem mais em ditadura do proletariado, pelo contrário, coloquem-se a serviço dos trustes, dos capitalistas e, juntamente com eles, criem uma força econômica e militar ainda maior para fazer frente ao social-imperialismo soviético.

O Mercado Comum Europeu, que a China apóia e fortalece economicamente, não passa de um meio para preservar o lucro máximo dos trustes monopolistas da Europa Ocidental e para agrupar Estados industriais desenvolvidos, onde as classes ricas, como diz Lênin, cobram um colossal tributo da Ásia, África, etc. Ao apoiar esses Estados capitalistas, os dirigentes chineses apóiam na prática o parasitismo de um punhado de capitalistas às custas dos povos desses mesmos países e dos povos dos países onde eles cravaram as garras.

A teoria dos "três mundos", por meio da qual os revisionistas chineses tentam legitimar suas atitudes contra-revolucionárias não passa de uma variante do oportunismo nas fileiras do movimento operário, que ajuda o imperialismo a criar mercados e obter lucros às custas de outros povos, com o objetivo de ficar também com uma parte das migalhas deixadas pelos capitalistas.

É um fato inegável que a direção chinesa defende as forças e Estados capitalistas e não as forças revolucionárias e o proletariado europeu; não ajuda estas últimas a rebelar-se e a desbaratar os planos do imperialismo norte-americano, do social-imperialismo soviético, da "Europa Unida", do Mercado Comum Europeu e do Comecon, numa palavra, de todos os pilares do sistema imperialista que suga o sangue dos povos tal qual um enorme vampiro.

Embora coloque os Estados capitalistas desenvolvidos, como a Alemanha Ocidental, a Inglaterra, o Japão, a França, a Itália, no "segundo mundo", a direção revisionista chinesa não os considera como inimigos da revolução, independente do falatório no plano teórico sobre seu "duplo" caráter. Ao contrário, os chineses escolheram o caminho de fechar os olhos e entrar em compromisso aberto com esses Estados, a pretexto de utilizá-los contra o social-imperialismo soviético.

Ofuscada por sua política pragmática e antimarxista, a direção chinesa "esquece" que Estados como a Alemanha Ocidental, Inglaterra, Japão, França, Itália e outros foram e são imperialistas, que as tendências escravizantes e colonialistas que os caracterizam tradicionalmente não desapareceram nem poderiam desaparecer, enquanto eles permanecerem como tal. É verdade que após a II Guerra Mundial essas potências imperialistas se enfraqueceram, inclusive muito, e que suas posições anteriores se modificaram em favor do imperialismo norte-americano, mas apesar disso nem a França nem a Inglaterra nem as demais renunciaram à luta para defender seus mercados e conquistar outros novos na África, na Ásia e nos países da América Latina.

Existem contradições entre todos esses Estados capitalistas e imperialistas não tão poderosos quanto o imperialismo norte-americano, mas ao mesmo tempo existe também a tendência a se entenderem entre si.

Após a II Guerra Mundial, o imperialismo norte-americano reergueu seus velhos ex-aliados da Europa e os monopólios estadunidenses se vincularam aos desses ex-aliados numa série de interesses comuns. Mas sempre existiram contradições entre eles no esforço de cada um para ter as mãos livres no açambarcamento de mercados, na importação de matérias primas e na exportação de produtos industriais. A realidade internacional tem comprovado também aqui a justeza da tese de Lênin sobre as duas tendências objetivas do capital.

Também é verdade que esses Estados capitalistas possuem contradições não só com o imperialismo norte-americano mas também com o social-imperialismo soviético. Coloca-se a questão: como se devem explorar tais contradições? Não se pode de forma alguma explorar as contradições interimperialistas conforme a prédica dos revisionistas chineses. Nós, marxista-leninistas, não podemos defender os diferentes reacionários, as camarilhas alemãs de Strauss ou de Schmidt, os chefes conservadores ou trabalhistas na Inglaterra por terem contradições com o social-imperialismo soviético. Caso o fizéssemos e apoiássemos a tese dos chineses de que "os Estados capitalistas da Europa devem se unir no Mercado Comum" e a "Europa Unida" deve ser fortalecida para fazer frente ao social-imperialismo soviético, isso significaria aceitarmos sacrificar a luta e os esforços do proletariado desses países para romper os grilhões da servidão, sabotar o futuro da revolução nesses países.

Ao fazer compromissos sem princípio com o imperialismo norte-americano, os revisionistas chineses traíram o marxismo-leninismo e a revolução. Os marxista-leninistas interpretam a tese de Marx, de Engels, de Lênin e de Stálin sobre as contradições e os compromissos em seu verdadeiro espírito. Os chineses interpretam-na de maneira diametralmente oposta à verdade.

Nosso Partido, seguindo a via leninista, não se opõe a qualquer compromisso, mas opõe-se aos compromissos de traição. Quando o compromisso é indispensável, serve aos interesses da classe e da revolução, pode ser feito, mas sempre atentando para que ele não afete a estratégia, a fidelidade aos princípios do marxismo-leninismo, não afete os interesses da classe e da revolução.

Em relação à atitude para com os compromissos, Lênin afirma entre outras coisas:

"Pode um partidário da revolução proletária concluir compromissos com capitalistas ou com a classe dos capitalistas? ...Seria um visível absurdo responder negativamente a esta pergunta geral. Naturalmente o partidário da revolução proletária pode concluir compromissos ou acordos com os capitalistas. Tudo de pende de que acordo e em que circunstâncias ele é concluído. É aqui e apenas aqui que se pode e deve buscar a diferença entre o acordo legítimo do ponto de vista da revolução proletária e o acordo traidor, pérfido (deste mesmo ponto de vista)." (V. I. Lênin. Obras, ed. albanesa, vol. XXX, pgs. 562-563).

Mais adiante, Lênin agrega:

"A conclusão é evidente: é tão absurdo negar a priori qualquer acordo ou compromisso com bandidos como justificar a cumplicidade num ato de banditismo partindo da tese abstrata de que, falando em geral, os acordos com bandidos são algumas vezes admissíveis e necessários. " (V. I. Lênin, Obras, ed. albanesa, vol. XXX, pg. 565).

Lênin disse ainda:

"O dever de um partido verdadeiramente revolucionário não é proclamar uma renúncia impossível a qualquer compromisso, mas saber permanecer - através de todos esses compromissos, - na medida em que são inevitáveis - fiel a seus princípios, a sua classe, a sua tarefa revolucionária, à obra de preparar a revolução e de educar as massas do povo para alcançar a vitória na revolução. " (V. I. Lênin, Obras, ed. albanesa, vol. XXV, pgs. 359-360).

Só se podem aceitar compromissos partindo destes ensinamentos de Lênin. Mas como se pode dizer que o compromisso com o imperialismo norte-americano ou com o social-imperialismo soviético beneficia o socialismo e a revolução mundial, quando se sabe que essas duas superpotências são os mais ferozes inimigos dos povos e da revolução? Esse compromisso, longe de ser indispensável, é, ao contrário, perigoso para os interesses da revolução. Fazer compromissos ou violar os princípios quanto a problemas tão importantes significa trair o marxismo-leninismo.

Se Mao Tsetung e os demais dirigentes chineses sempre falaram tanto "teoricamente" sobre as contradições, deveriam referir-se não só ao aproveitamento das contradições interimperialistas e aos compromissos com os imperialistas, mas em primeiro lugar às contradições que encontram-se nos fundamentos da época atual, às contradições entre o proletariado e a burguesia, às contradições que opõem os povos e países oprimidos às duas superpotências e a todo o imperialismo mundial, às contradições entre o socialismo e o capitalismo. Os dirigentes chineses silenciam quanto a essas contradições que existem objetivamente e não podem ser dissimuladas. Falam unicamente numa contradição, que, segundo eles, é a que opõe todo mundo ao social-imperialismo soviético, procurando justificar com isso seus compromissos sem princípios com o imperialismo norte-americano e com todo o capitalismo mundial.

A análise de classe marxista-leninista e os fatos indicam que a existência de contradições e divisões entre as potências e agrupamentos imperialistas absolutamente não descarta nem relega a segundo plano as contradições entre o trabalho e o capital nos países capitalistas e imperialistas ou as contradições entre os povos oprimidos e seus opressores imperialistas. As contradições entre o proletariado e a burguesia, entre os povos oprimidos e o imperialismo, entre o socialismo e o capitalismo são precisamente as mais profundas, permanentes, inconciliáveis. Consequentemente, só tem sentido aproveitar as contradições interimperialistas ou entre Estados capitalistas e revisionistas quando isso serve para criar as condições mais favoráveis ao poderoso desenvolvimento do movimento revolucionário e libertador contra a burguesia, o imperialismo e a reação. Portanto, a utilização de tais contradições deve processar-se sem criar no proletariado e nos povos ilusões quanto ao imperialismo e à burguesia. É indispensável esclarecer os trabalhadores e os povos sobre os ensinamentos de Lênin, torná-los conscientes de que somente a atitude inconciliável para com os opressores e exploradores, somente a luta decidida contra o imperialismo e a burguesia, somente a revolução assegurarão a verdadeira libertação social e nacional.

O aproveitamento das contradições entre os inimigos não pode constituir a tarefa fundamental da revolução e contrapor-se à luta pela derrubada da burguesia, ditadura reacionária, da ditadura fascista, dos opressores imperialistas.

A atitude dos marxistas-leninistas quanto a essa questão é clara. Eles dirigem-se aos povos, ao proletariado, conclamam as massas a porem-se de pé para desbaratar os planos hegemonistas, opressivos, agressivos e belicosos dos imperialistas norte-americanos e dos social-imperialistas soviéticos, para derrubar a burguesia reacionária e sua ditadura, tanto no Ocidente como no Oriente.

No que concerne a nosso Estado socialista, ele sempre aproveitou as contradições no campo adversário. Neste particular, nosso Partido parte de uma justa apreciação do caráter das contradições existentes entre o país socialista e os países imperialistas e burguês-revisionistas, da correta avaliação das contradições interimperialistas.

O marxismo-leninismo nos ensina que as contradições entre o país socialista e os países capitalistas e revisionistas, expressão das contradições entre duas classes com interesses diametralmente opostos, a classe operária e a burguesia, são permanentes, radicais, inconciliáveis. Elas percorrem como um fio vermelho toda a época histórica da passagem do capitalismo ao socialismo em escala mundial. Já as contradições entre as potências imperialistas expressam as contradições no seio dos exploradores, de classes com interesses fundamentais comuns. Portanto, por mais acirradas que sejam as contradições e os conflitos entre as potências imperialistas, o perigo real de atos de agressão do imperialismo mundial ou de seus diferentes destacamentos contra o país socialista é permanente e sempre atual. A divisão entre os imperialistas, as rixas e conflitos interimperialistas podem no máximo atenuar e adiar temporariamente o perigo das ações do imperialismo contra o país socialista; por isso, interessa a este explorar tais contradições nas fileiras inimigas, mas elas não suprimem o perigo. Lênin acentuou-o enfaticamente ao dizer:

"... é inconcebível pensar que a República Soviética poderá existir por um longo período ao lado dos Estados imperialistas. Em última instância, um ou outro terá que vencer. E até que chegue este desfecho haverá inevitavelmente uma série dos mais terríveis choques entre a República Soviética e os Estados burgueses". (V. I. Lênin, Obras, ed. albanesa, vol. XXIX, pg. 160).

Estes ensinamentos de Lênin conservam plenamente sua atualidade. Foram cabalmente comprovados por uma série de acontecimentos históricos, como a agressão fascista à União Soviética durante a II Guerra Mundial, a agressão do imperialismo norte-americano à Coréia e mais tarde ao Vietnã, a atividade hostil e os diferentes complôs imperialistas e social-imperialistas contra a Albânia, etc. Por isso nosso Partido sempre acentuou que qualquer subestimação das contradições do Estado socialista com as potências imperialistas e países capitalista-revisionistas, qualquer subestimação do perigo da atividade agressiva destes últimos contra a Albânia socialista, qualquer redução da vigilância, derivada da opinião de que as contradições entre as próprias potências imperialistas são muito acirradas e por isso estas não poderiam atuar contra nossa pátria, traria consigo conseqüências extremamente perigosas.

O Partido do Trabalho da Albânia também parte do fato de que os aliados verdadeiros e seguros de nosso país, enquanto país socialista, só podem ser as forças revolucionárias, libertadoras, amantes da liberdade e do progresso. Nosso país mantém relações estatais com diferentes países do mundo burguês e revisionista, explora as contradições entre os Estados imperialistas, capitalistas e revisionistas e, ao mesmo tempo, apóia poderosamente a luta revolucionária e emancipadora da classe operária, das massas trabalhadoras e dos povos em qualquer país em que se desenvolva, considerando este apoio como seu elevado dever internacionalista. O Partido do Trabalho da Albânia sempre se ateve consequentemente a este ponto de vista. Em seu VII Congresso ele reafirmou que apoiaria o proletariado e os povos, os partidos marxista-leninistas, os revolucionários e elementos progressistas que combatem as superpotências, a burguesia capitalista e revisionista e a reação mundial, pela libertação social e nacional.

A propósito das contradições, o Partido Comunista da China também citava outrora os conhecidos princípios e teses marxista-leninistas. No famoso documento intitulado "Proposição Acerca da Linha Geral do Movimento Comunista Internacional", publicado pelo Comitê Central do Partido Comunista da China em 1963, por exemplo, os chineses afirmavam: "Os compromissos necessários entre países socialistas e imperialistas não exigem que os povos e nações oprimidos façam também compromissos com o imperialismo e com seus lacaios". E agregavam: "Ninguém pode, em momento algum, exigir, a pretexto da coexistência pacífica, que os povos e nações oprimidos, renunciem à luta revolucionária". A direção chinesa falava assim naquela época porque então era a direção kruschovista que exigia dos povos e partidos comunistas a aceitação de que o imperialismo norte-americano e seus cabeças haviam se tornado pacíficos e a submissão à política soviética de aproximação com o imperialismo estadunidense. Agora, é a direção do Partido Comunista da China que aconselha os povos, os revolucionários, os partidos marxista-leninistas e todo o proletariado mundial a fazer aliança com os países imperialistas ou capitalistas, a unir-se com a burguesia e com todos os reacionários contra o social-imperialismo soviético. E os chineses não expressam essas idéias nas entrelinhas, mas abertamente. Essas oscilações e viragens de 180 graus nada têm a ver com a política de princípios marxista-leninista, são características da política pragmática de todos os revisionistas, que subordinam os princípios a seus interesses burgueses e imperialistas.

Para justificar seus compromissos sem princípios com o imperialismo norte-americano e a burguesia internacional, os dirigentes chineses e todos os partidários da teoria dos "três mundos" especulam, tergiversando a verdade histórica, com o pacto de não-agressão teuto-soviético de 1939, bem como com a aliança anglo-soviético-americana durante a II Guerra Mundial.

O pacto teuto-soviético de não-agressão constituiu um hábil aproveitamento das contradições interimperialistas por parte de Stálin. Naquela época a agressão hitlerista à União Soviética era iminente. Vivia-se o período em que a Alemanha nazista havia ocupado a Áustria e a Checoslováquia, e a Itália fascista invadira a Albânia, em que se havia concluído o Pacto de Munich e a máquina de guerra alemã avançava rapidamente rumo ao Oriente. A União Soviética Concluiu com a Alemanha não uma aliança, mas um pacto de não-agressão, depois que as potências ocidentais recusaram-se a responder à conclamação de Stálin para atuar conjuntamente com o Estado soviético a fim de conter os agressores nazi-fascistas, quando se tornou claro que essas potências empurravam Hitler contra o país dos Sovietes. O pacto teuto-soviético estragou-lhes os planos e deu tempo para a União Soviética preparar-se para enfrentar a agressão nazista.

Quanto à aliança anglo-soviético-americana, sabe-se que ela realizou-se quando a Alemanha hitlerista, depois de ocupar a França e estando em guerra com a Inglaterra, empreendeu sua selvagem agressão à União Soviética, quando a luta contra as potências do Eixo assumiu um claro e acentuado caráter antifascista e libertador. Deve-se acentuar que nunca e em caso algum Stálin e a União Soviética de então aconselharam ou conclamaram o proletariado e os partidos comunistas a renunciarem à revolução e a unirem-se à burguesia reacionária. Inclusive, quando Browder renunciou à luta de classes e passou a pregar a conciliação de classe, supostamente porque assim exigiam os interesses da aliança foi estigmatizado por Stálin e pelo movimento comunista como revisionista e renegado da revolução.

Como se vê, nada justifica os compromissos e alianças sem princípios dos chineses com o imperialismo norte-americano e com as diferentes forças reacionárias. A analogia histórica que os revisionistas chineses procuram fazer não se sustenta.

Em sua propaganda, os dirigentes chineses procuram dar a impressão de que nós, albaneses, nos opomos a qualquer compromisso e não lutamos para explorar devidamente as contradições. Evidentemente eles sabem que nossa atitude quanto a essas questões é conforme as posições do marxismo-leninismo, mas prosseguem a propaganda nessa linha distorcida para disfarçar seu afastamento da teoria científica marxista-leninista e do caminho da revolução. Atuam assim para denegrir a política e as atitudes justas do Partido e do Estado proletário. Suas acusações não têm fundamento. Vejamos os fatos:

Nosso Partido sempre defendeu e defenderá até o fim com energia a justa causa dos povos árabes, sem exceção. Defendemos a luta do povo palestino contra Israel, o qual se tornou um cego instrumento, um gendarme do imperialismo norte-americano no Oriente Médio. Israel foi encarregado da tarefa de defender os ricos poços petrolíferos árabes em favor das grandes companhias monopolistas dos Estados Unidos e de, como dizem os revisionistas chineses, manter o status quo.

Independente do presidente Sadat e seu governo estarem anteriormente em aliança com a União Soviética, nós defendíamos a luta do povo egípcio para retomar os territórios ocupados por Israel; mas desmascarávamos os intentos da União Soviética em relação ao Egito e em geral seu jogo no Oriente Médio. Em momento algum silenciamos diante dos fins colonialistas da União Soviética em relação ao Egito. Fizemos o mesmo ao defender com igual conseqüência o povo egípcio em sua luta contra o imperialismo norte-americano e Israel.

Defendendo os interesses do povo egípcio e dos demais árabes, nosso Partido e nosso povo desmascaram também as atuais manobras do imperialismo norte-americano juntamente com Israel. Não podemos aprovar qualquer via, qualquer linha de compromisso com o agressor que é Israel a pretexto de que ela favoreceria o povo egípcio.

Já a direção chinesa não desmascara o imperialismo norte-americano, aplaude os acordos egípcio-israelenses e incita os povos árabes a concluírem um entendimento, a fazerem um compromisso com o imperialismo norte-americano e com Israel, que estão entre seus principais inimigos. Tal atitude não é marxista-leninista, tal compromisso à chinesa não é de interesse dos povos. Não se pode de forma alguma aceitar o absurdo chinês de que, ao se lançar de um imperialismo para outro, "atua-se no interesse da liberdade dos povos". Não se pode qualificar essas manobras e intrigas tipicamente burguesas de atos marxistas-leninistas que ajudam a aprofundar as contradições entre as duas superpotências imperialistas.

O Partido e o povo albanês são contra as guerras imperialistas de rapina e permanecem resolutamente ao lado das guerras justas de libertação nacional, que são e devem ser sempre em favor dos povos, em prol da revolução. Não se opõem a apoiar mesmo um Estado burguês, quando observam que as pessoas que o governam são progressistas e combatem para libertar seu povo da hegemonia imperialista. Mas nosso país não pode fazer causa comum, ou compromisso, como dizem os revisionistas chineses, com um Estado dominado por uma camarilha reacionária, que se alia com uma ou outra superpotência em função dos interesses de sua classe e em prejuízo dos interesses do povo.

A Albânia socialista também não se opõe à manutenção de relações diplomáticas normais com Estados do "terceiro mundo" ou do "segundo mundo". Só se opõe a tais relações com as duas superpotências e com os Estados fascistas. Mas também desenvolvemos as relações diplomáticas, assim como as relações comerciais, culturais, etc., dentro dos princípios, vendo em primeiro lugar os interesses de nosso país e da revolução, contra os quais jamais marchamos nem marcharemos.

Nós, marxista-leninistas que chegamos ao poder, devemos estabelecer relações diplomáticas mesmo com Estados burguês-capitalistas, pois elas interessam tanto a eles como a nós. O interesse é recíproco.

Os marxistas-leninistas devem ter os princípios sempre em mente. Não podem violá-los em função de conjunturas que se criem neste ou naquele período. Devemos levar em conta que nos países dominados pelas camadas superiores da burguesia estas estão em guerra permanente com o povo, com o proletariado e com o campesinato pobre, com a pequena burguesia urbana. Portanto, mantendo ou não mantendo relações estatais com estes ou aqueles países burgueses, o país socialista deve dar a entender aos povos que defende sua luta, que não aprova os atos reacionários e antipopulares dos que os dominam.

Nós, marxista-leninistas, devemos conhecer e levar em conta não só as contradições existentes entre as classes oprimidas e seus opressores, mas também as contradições que surgem entre Estados, ou seja, entre os governos desses países e o imperialismo norte-americano, o social-imperialismo soviético, outros países capitalistas, etc. Devemos aplicar sempre uma política que não leve a defender um governo reacionário a pretexto de que este, em interesse próprio e da classe no poder, rompe temporariamente com o imperialismo norte-americano para se lançar nos braços de outro imperialismo, por exemplo, o inglês, o soviético ou outro. Devemos explorar as contradições existentes entre eles tendo em vista fazer com que nossa atitude sirva ao fortalecimento da luta do proletariado e das massas oprimidas daquele país contra seu governo reacionário. Caso tenham surgido contradições entre o governo capitalista reacionário e opressor de um país do "segundo mundo" ou do "terceiro mundo" e o governo de um país do "primeiro mundo", segundo a classificação dos revisionistas chineses, isso não quer dizer que tais contradições favorecem sempre a libertação do povo desse país do jugo do capital, do jugo da burguesia reacionária dominante. Trata-se aqui principalmente de interesses de classe, dos interesses de governos burgueses que representam as classes exploradoras, de um problema de saber quem dá mais e quem dá menos, quem defende melhor sua permanência no poder e quem trata de destroná-los e substituí-los por gente de sua confiança.

No tratamento da luta do proletariado não se deve confundir a atitude para com a burguesia com as relações diplomáticas comerciais, culturais e científicas entre o país socialista e Estados com outro sistema social. Tais relações interestatais devem existir e desenvolver-se, mas o país socialista deve ter objetivos claros ao estabelecê-las. A vida ideológica, política, moral, material do país socialista deve ser um exemplo para os povos dos Estados com quem ele mantém relações, de forma que o desenvolvimento destas permita que os povos dos Estados não socialistas enxerguem os benefícios e a superioridade do sistema socialista. Marchar ou não pelo caminho socialista naturalmente é problema deles, mas o país socialista tem o dever de dar o bom exemplo.

Os dirigentes chineses, além de não terem claro e não quererem esclarecer todos esses problemas políticos, teóricos e organizativos, obscurecem-nos premeditada-mente, pois segundo Mao Tsetung deve-se confundir para esclarecer. Essa tese não é justa. Pelo contrário, devemos esclarecer e convencer a fazer a revolução, pois confusão já existe. Se o problema é confundir, que o imperialismo agonizante confunda ainda mais, nós é que não vamos ajudá-lo e dar-lhe muletas que lhe prolonguem a vida. Vamos encurtar a vida do capitalismo para que os povos, o proletariado se libertem, para que a perspectiva do socialismo e do comunismo se aproxime. Esta e nossa senda revolucionária, caminho do marxismo-leninismo. Outro caminho não há.

Os dirigentes chineses empregavam outrora a expressão "luta golpe por golpe" com o imperialismo norte-americano, mas não a aplicaram e menos ainda a aplicam. Não travam uma luta golpe por golpe porque aproximam-se do imperialismo norte-americano, porque estão em aliança com os Estados Unidos.

As relações diplomáticas, comerciais e culturais da China com os Estados imperialistas e os demais Estados do mundo apóiam-se em bases capitalistas. O objetivo desses laços é, através da ajuda que a China busca junto aos poderosos Estados imperialistas, fortalecer suas posições econômicas e militares para que também a China possa concorrer com as duas outras superpotências. A propaganda da China pelo rádio e por outros meios visa criar no mundo a impressão não só de que ela é um grande Estado, poderoso e dotado de antiga cultura, mas também de que a política chinesa atual é progressista e inclusive marxista-leninista. Mas essa atividade dos revisionistas chineses não serve nem pode servir de forma alguma como um exemplo a ser seguido pelos povos do mundo em sua luta pela destruição do poder capitalista e imperialista.


Inclusão 03/11/2005
Última alteração 14/04/2014