A campanha eleitoral administrativa(1)

J. V. Stálin

21, 24 e 26 de maio de 1917


Primeira publicação:Pravda” (“A Verdade”), n.os 63, 64 e 66. 21, 24 e 26 de maio de 1917. Assinado: K. Stálin.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 72-83.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


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Aproximam-se as eleições para as Dumas distritais. As chapas dos candidatos foram aceitas e publicadas. A campanha eleitoral desenvolve-se em pleno ritmo.

Apresentam chapas os “partidos” mais heterogêneos; partidos reais e imaginários, velhos e recém-saídos do forno, partidos a sério e de brincadeira. Ao lado do partido democrático constitucional, o “partido Honestidade, Responsabilidade e Justiça”; ao lado do Edinstvo e do Bund, o “partido um pouco mais à esquerda dos democratas constitucionais”; ao lado dos mencheviques e dos social-revolucionários defensistas, toda a espécie de grupos “apartidistas” e “acima dos partidos”. Incrível a variedade das cores e a bizarria das divisas.

As primeiras assembleias pré-eleitorais já demonstram que o fulcro da campanha eleitoral não é a “reforma” administrativa em si mesma, mas a situação política geral do país. A reforma administrativa é somente a pauta sobre a qual se articulam naturalmente as principais plataformas políticas.

Isso é bem compreensível. No momento atual, em que a guerra levou o país à beira do abismo e os interesses da maioria da população exigem que a revolução intervenha em toda a vida econômica do país, enquanto o governo provisório mostra-se incapaz de fazer sair o país do beco em que o meteu, todas as questões locais, inclusive as administrativas, só podem ser compreendidas e resolvidas se ligadas indissoluvelmente às questões gerais da guerra e da paz, da revolução e da contrarrevolução. Fora dessa ligação com a política geral, a campanha eleitoral administrativa degenera em um vazio duelo verbal sobre a reparação dos lavatórios e sobre a “construção de bons gabinetes” (vide o programa dos mencheviques defensistas).

Por isso, através do quadro variegado das inúmeras divisas partidárias, duas linhas políticas fundamentais emergirão inevitavelmente no curso da campanha eleitoral: a linha do desenvolvimento ulterior da revolução e a linha da contrarrevolução.

À proporção que a campanha eleitoral se fizer mais intensa, mais aguda será a crítica dos partidos, mais nítida se tornará a diferença entre essas duas linhas, mais intolerável será a situação dos grupos intermediários, que se esforçam por conciliar 0 inconciliável, e todos verão mais claramente que os defensistas, sejam mencheviques ou populistas, os quais estão entre a revolução e a contrarrevolução, dificultam de fato a revolução, facilitando a obra da contrarrevolução.

O partido da “liberdade do povo”

Desde o dia da derrubada do tzarismo, os partidos de direita dissolveram-se. Isto se explica pelo fato de que sua existência sob as velhas formas havia se tornado desvantajosa. Que fim levaram esses partidos? Reuniram-se em torno do partido da chamada “liberdade do povo”, em torno do partido de Miliukov e companhia. Atualmente o partido de Miliukov é o partido da extrema direita. Este é um fato que ninguém contesta. E justamente por isso este partido constitui agora o centro de aglutinação das forças contrarrevolucionárias.

O partido de Miliukov é pela repressão aos camponeses porque deseja esmagar o movimento agrário.

O partido de Miliukov quer a repressão aos operários porque é contra as reivindicações “desmedidas” dos operários, e declara “desmedidas” todas as suas reivindicações sérias.

O partido de Miliukov é pela repressão aos soldados, porque deseja uma “disciplina de ferro”, isto é, a restauração do domínio dos oficiais sobre os soldados.

O partido de Miliukov é pela guerra de rapina que levou o país à beira do esfacelamento e da ruína.

O partido de Miliukov quer “medidas enérgicas” contra a revolução, é “energicamente” contra a liberdade do povo, embora se defina como partido da “liberdade do povo”.

É possível esperar-se de semelhante partido que renove a economia da cidade no interesse das camadas mais pobres da população?

É possível confiar-lhe o destino da cidade?

Nunca! Em nenhum caso!

Nossa palavra de ordem é: nenhuma confiança no partido de Miliukov, nem sequer um voto para o partido “da liberdade do povo”.

O Partido Operário Social-Democrata (bolchevique) da Rússia

Nosso Partido é o adversário direto do partido dos democratas constitucionais. Os cadetes constituem o partido da burguesia e do latifúndio contrarrevolucionário. Nosso Partido é o partido dos operários revolucionários das cidades e dos campos. Estes dois partidos são inconciliáveis: a vitória de um significa a derrota do outro. Nossas reivindicações são conhecidas. Nosso caminho é claro.

Somos contra a guerra atual porque é uma guerra de rapina, de agressão.

Somos pela paz, pela paz geral e democrática, porque essa paz é o meio mais seguro de evitar o esfacelamento econômico e alimentar.

Nas cidades lamenta-se a falta de pão; mas o pão não existe porque a superfície semeada foi reduzida por falta de mão-de-obra, “obrigada” a fazer a guerra. O pão não existe porque não se consegue fazer transportar nem sequer as, reservas de trigo existentes, visto como as ferrovias foram colocadas a serviço da guerra. Fazei cessar a guerra e haverá pão.

No campo lamenta-se a falta de mercadorias; mas as mercadorias faltam porque a maior parte das fábricas e das oficinas produz para a guerra. Fazei cessar a guerra e haverá mercadorias.

Somos contra o governo atual porque este incitando à ofensiva, prolonga a guerra, agravando o esfacelamento e a fome.

Somos contra o governo atual porque este, defendendo os lucros dos capitalistas, sabota a intervenção revolucionária dos operários na vida econômica do país.

Somos contra o governo atual porque este, impedindo os comitês camponeses de dispor da terra dos latifundiários, sabota a libertação do campo, do poder dos latifundiários.

Somos contra o governo atual porque este, começando sua “obra” com a convocação das tropas revolucionárias de Petrogrado e tratando agora de afastar delas os operários revolucionários (o despovoamento de Petrogrado!), condena a revolução à impotência.

Somos contra o governo atual porque este, de um modo geral, é incapaz de fazer o país sair da crise.

Queremos que todo o poder seja transferido para as mãos dos operários, dos soldados e dos camponeses revolucionários.

Somente esse poder é capaz de fazer cessar a guerra de rapina que se prolonga. Somente esse poder é capaz de pôr as mãos nos lucros dos capitalistas e dos latifundiários, para levar avante a revolução e salvar o país do esfacelamento completo.

Somos, enfim, contra a reconstituição da polícia, da velha polícia odiada, desligada do povo e submetida aos “graduados” designados de cima.

Queremos a milícia geral, eletiva e revogável, porque só essa milícia pode ser um baluarte dos interesses do povo.

Estas são as nossas reivindicações imediatas.

Afirmamos que sem a satisfação destas reivindicações, sem a luta por estas reivindicações, é inconcebível qualquer séria reforma administrativa, qualquer democratização da economia urbana.

Quem deseja assegurar o pão à população, quem deseja eliminar a crise das habitações, quem deseja impor as contribuições locais somente aos ricos, quem luta para conseguir que todas essas reformas sejam realizadas não só em palavras mas em fatos, deve votar nos que são contra a guerra de agressão, nos que são contra o governo dos latifundiários e dos capitalistas e contra a reconstituição da polícia, e desejam a paz democrática, a passagem do poder para as mãos do povo, a milícia de todo o povo, a democratização efetiva da economia urbana.

Sem essas condições, a “reforma administrativa radical” não é senão uma expressão destituída de sentido.

O bloco dos defensistas

Entre os democratas constitucionais e o nosso Partido estão vários grupos intermediários que oscilam entre a revolução e a contrarrevolução. Estes grupos são: o Edinstvo, o Bund, os defensistas, mencheviques e social-revolucionários, os trudovikí, os “social-populistas”.(2) Em alguns distritos apresentam-se separadamente, em outros fazem bloco entre si apresentando uma chapa comum. Contra quem formam bloco? Em palavras, contra os democratas constitucionais. Mas, será realmente assim?

Antes de mais nada, salta aos olhos a completa falta de princípios desse bloco. Que há de comum, por exemplo, entre o grupo radical burguês dos trudovikí e o grupo dos mencheviques defensistas que julgam ser marxistas” e “socialistas”? Desde quando os trudovikí, que pregam a continuação da guerra até à vitória, tornaram-se correligionários dos mencheviques e dos membros do Bund, que se definem como “zimmerwaldianos” e “não admitem a guerra”? E o Edinstvo de Plekhánov, daquele mesmo Plekhánov que ainda sob o regime tzarista, arriando a bandeira da Internacional, passou-se decididamente para uma outra bandeira, para a bandeira amarela do imperialismo? Que há de comum entre esse chovinista atolado no pântano e, por exemplo, o “zimmerwaldianoTsereteli, presidente de honra da conferência dos mencheviques defensistas? Quanto tempo já passou desde quando Plekhánov incitava a sustentar o governo tzarista na guerra contra a Alemanha, ao passo que o “zimmerwaldianoTsereteli “trovejava” contra essa atitude do chovinista Plekhánov? A guerra entre o Edinstvo e a Rabótchaia Gazieta(3) está no apogeu, e esses senhores, fingindo não se aperceberem de nada, começam já a “confraternizar”...

É fora de dúvida que esses elementos díspares não podiam constituir senão um bloco acidental e sem princípios; na constituição desse bloco não eram guiados por um princípio, mas pelo temor do fracasso.

Além disso salta aos olhos o fato de que em dois distritos, o de Kazan e o de Spaask (vide as chapas dos candidatos), o Edinstvo, o Bund e os defensistas, quer mencheviques quer social-revolucionários, não apresentam chapas próprias, ao passo que o Soviet Distrital dos Deputados Operários e Soldados apresenta naqueles distritos, e somente neles, a chapa própria, não obstante as decisões do Comitê Executivo. Evidentemente os nossos valorosos bloquistas, que temiam fazer fiasco nas eleições, tendo decidido explorar a autoridade do Soviet Distrital, preferiram esconder-se atrás das costas deste último. O interessante é que esses nobres gentlemen que gabam o próprio “senso de responsabilidade” não tiveram coragem de apresentar-se de viseira erguida, mas preferiram declinar vilmente das próprias “responsabilidades”...

Qual é, contudo, o elemento que uniu todos esses grupos díspares num só bloco?

É o fato de que todos esses grupos, de maneira insegura mas persistente, seguem as pegadas dos cadetes e todos do mesmo modo combatem decididamente o nosso Partido.

Como os cadetes, desejam todos a guerra, mas não para fazer agressões (deus os livre!), e sim para conseguir... a “paz sem anexações e sem indenizações”. A guerra para obter a paz...

Como os cadetes, desejam todos uma “disciplina de ferro”, mas não para reprimir os soldados (não por certo!), e sim no interesse... dos próprios soldados.

Como os cadetes, desejam todos a ofensiva, mas não no interesse dos banqueiros anglo-franceses (deus os livre!), e sim no interesse... “de nossa jovem liberdade.”

Como os cadetes, são todos contra as “tentativas anárquicas dos operários no sentido de ocupar as fábricas e as oficinas” (vide Rabótchaia Gazieta de 21 de maio), mas não no interesse dos capitalistas (que horror!), e sim para não assustar os capitalistas que se desligariam da revolução, isto é, no interesse... da revolução.

Em geral são todos eles pela revolução, mas na medida (na medida!) em que esta não perturbe os capitalistas e os latifundiários e não vá contra os interesses destes últimos.

Em suma: todos eles são pelas medidas práticas desejadas pelos cadetes, mas fazendo reservas e recorrendo a lugares-comuns acerca da “liberdade”, da “revolução”, etc.

Uma vez que as palavras e os lugares-comuns permanecem sempre palavras, segue-se daí que, de fato, obedecem à mesma linha dos cadetes.

As frases sobre a liberdade e sobre o socialismo servem somente para mascarar sua substância cadete.

E justamente por isso seu bloco não é dirigido contra os cadetes contrarrevolucionários, mas contra os operários revolucionários, contra o bloco do nosso Partido com a Mejraionka(4) e com os mencheviques revolucionários.

Após tudo o que se disse, é possível pensar que esses gentlemen quase cadetes sejam capazes de renovar e de reorganizar a economia urbana em desordem?

Como é possível confiar-lhes o destino das camadas mais pobres da população, quando eles a cada momento tripudiam sobre os interesses dessa mesma população, sustentando uma guerra de rapina e apoiando o governo dos capitalistas e dos latifundiários?

Para democratizar a economia urbana, para assegurar à população os gêneros alimentícios e as casas, para livrar os pobres do pagamento das contribuições locais e para transferir todo o peso destas para os abastados, é indispensável acabar com a política, de conciliação, e pôr a mão nos lucros dos capitalistas e dos proprietários de imóveis... Não será talvez evidente que os moderados gentlemen do bloco defensista, que temem suscitar a ira da burguesia, não são capazes de executar semelhantes ações revolucionárias?

Na atual Duma de Petrogrado existe o chamado “grupo municipal-socialista”, constituído preponderantemente de social-revolucionários defensistas e de mencheviques. No seio desse grupo constituiu-se uma comissão financeira para adotar “providências imediatas” no sentido de sanar a economia urbana. Com que resultado? Esses “renovadores” acharam que para democratizar a economia urbana é indispensável:

  1. “aumentar as taxas da água”,
  2. “aumentar as passagens dos bondes”.

“No que se refere ao pagamento das passagens dos bondes por parte dos soldados, foi decidido que se entre em acordo com o Soviet dos Deputados Operários e Soldados” (vide Nóvaia Jizn n.° 26).(5) Os membros da comissão tinham evidentemente a intenção de exigir que os soldados pagassem a passagem, mas não ousaram fazê-lo sem o consentimento dos soldados.

Ao invés de abolir as contribuições impostas aos pobres, os respeitáveis membros da comissão decidiram aumentá-las e não pouparam sequer os soldados!

Estes são alguns exemplos da prática administrativa dos defensistas, social-revolucionários e mencheviques.

É a pura verdade: as afirmações pomposas e as “plataformas eleitorais administrativas” com amplas promessas mascaram a piedosa prática administrativa dos defensistas.

Assim foi e assim será...

E quanto mais habilmente eles se dissimulam com frases sobre a “liberdade” e sobre a “revolução”, tanto mais resoluta e desapiedada deve ser a luta contra eles.

Arrancar a máscara socialista ao bloco defensista, mostrar à luz do sol a substância burguesa e cadete dela: essa é uma das tarefas que estão na ordem do dia na atual campanha eleitoral.

Nenhum apoio ao bloco defensista, nenhuma confiança nos senhores que fazem parte desse bloco!

Os operários devem compreender que quem não está com eles está contra eles, que o bloco defensista não está com eles e por conseguinte está contra eles.

Os “apartidistas”

Dentre todos os grupos burgueses que apresentaram chapas eleitorais próprias, os que tomaram uma posição menos definida são os grupos apartidistas. Esses grupos são muitos, uma verdadeira caterva: são quase trinta. Como se encontra gente entre eles! “Os comitês de conjuntos residenciais unificados” e o “grupo dos empregados nos institutos de educação”, o “grupo apartidista dos homens de negócios” e o “grupo dos eleitores fora dos partidos”, o “grupo dos administradores de prédios” e a “sociedade dos proprietários de apartamentos”, o “grupo republicano acima dos partidos” e a “liga pela igualdade das mulheres”, o “grupo da associação dos engenheiros” e a “união da indústria e do comércio”, o “grupo Honestidade, Responsabilidade, Justiça” e o “grupo da edificação democrática”, o “grupo Liberdade e Ordem” e outros grupos: esse é o quadro variegado da tal salada apartidista.

Quem são eles, de onde vêm e para onde vão?

São todos, sem exceção, grupos burgueses. Na sua maioria comerciantes, industriais, proprietários de imóveis, “elementos de profissões liberais”, intelectuais.

Não possuem programas de princípio. Os eleitores não sabem por isso o que desejam propriamente esses grupos que convidam os cidadãos a votar neles.

Não possuem programa eleitoral administrativo. Por isso os eleitores não saberão nunca quais os melhoramentos que pedem esses grupos no campo da economia urbana e por que razão, enfim, deveriam votar neles.

Não possuem um passado, porque no passado não existiam.

Não têm futuro, porque desaparecerão depois das eleições, como a neve do último inverno.

Nasceram somente durante as jornadas eleitorais e vivem só até que se firam as eleições: entremos de qualquer maneira nas Dumas distritais e depois que venha o dilúvio.

São grupos burgueses sem programa, que temem a luz e a verdade, que tentam fazer entrar de contrabando os candidatos próprios nas Dumas distritais.

Seus objetivos são pouco claros, e obscuro é seu caminho.

Como se justifica a existência desses grupos?

É ainda possível compreender-se que grupos apartidistas pudessem existir no passado sob o tzarismo, quando a filiação a um partido, a um partido de esquerda, era punida impiedosamente pela “lei”, quando muitos deviam agir como elementos apartidistas para fugirem às prisõe s e às perseguições, e o apartidismo servia de escudo contra os magistrados tzaristas. Mas agora que existe a máxima liberdade e qualquer partido pode agir aberta e livremente sem se arriscar a ser levado às barras de um tribunal, agora que a determinação clara e a luta aberta dos partidos políticos tornaram-se um imperativo e uma condição para educar politicamente as massas, como justificar a existência dos grupos apartidistas? Que temem esses grupes e a quem desejam na verdade ocultar sua verdadeira fisionomia?

Não há dúvida de que na massa dos eleitores são ainda poucos os que se orientaram de acordo com os programas dos partidos políticos e que o atraso e a inércia política, deixados como herança pelo tzarismo, dificultam a formação de uma clara consciência política. Mas não será talvez evidente que o apartidismo e a falta de programa não fazem senão consolidar e legitimar esse atraso e essa inércia? Quem ousará negar que a luta aberta e honesta dos partidos políticos é o meio mais importante para despertar as massas e para elevar sua atividade política?

Mais uma vez: que temem os grupos apartidistas, por que não amam a luz do dia, e aos olhos de quem, propriamente, desejam ocultar-se? Onde está o segredo?

O fato é que na atual situação da Rússia, enquanto a revolução desenvolve-se rapidamente e existe a máxima liberdade, enquanto as massas evoluem politicamente não dia a dia, mas de hora em hora, torna-se extremamente arriscado para a burguesia agir à luz do sol. Apresentar nesta situação plataformas abertamente burguesas significa verdadeiramente desqualificar-se aos olhos das massas. O único meio que existe para “salvar a situação” é o de afivelar a máscara do apartidismo e fingir ser um grupo inócuo, do tipo do grupo “Honestidade, Responsabilidade, Justiça”. Isto serve maravilhosamente para pescar em águas turvas. Não há dúvida de que sob a divisa de chapas apartidistas ocultam-se seja os burgueses cadetes seja os burgueses de tendências cadetes, os quais temem apresentar-se de rosto descoberto e procuram introduzir-se de contrabando nas Dumas distritais. É característico que entre eles não exista nenhum grupo proletário e que todos esses grupos apartidistas recrutem seus membros nas fileiras da burguesia e somente nelas. Sem dúvida esses grupos poderão apanhar em suas redes um bom número de eleitores, crédulos ingênuos, se os elementos revolucionários não souberem opor-lhes uma ação adequada.

Aqui está todo o segredo!

Por isso, o perigo dos “apartidistas” é um dos perigos mais reais na atual campanha eleitoral administrativa.

Por isso, arrancar a esses senhores a máscara do apartidismo, obrigando-os a mostrar sua verdadeira fisionomia para tornar possível às massas julgá-los na devida maneira, é uma das tarefas principais da nossa campanha.

Abaixo a máscara do apartidismo, viva a clareza e a precisão da linha política! Essa é a nossa palavra de ordem.

Camaradas! Amanhã se vota. Encaminhai-vos para as urnas em filas organizadas e votai unânimes na chapa dos bolcheviques.

Nenhum voto para os cadetes, inimigos da revolução russa!

Nenhum voto para os defensistas, sustentadores da conciliação com os cadetes!

Nenhum voto para os “apartidistas”, amigos mascarados dos vossos inimigos!


Notas de fim de tomo:

(1) A preparação da campanha eleitoral administrativa em Petrogrado começou em abril de 1917. A Pravda, o Comitê de Petrogrado e os comitês distritais do Partido Bolchevique lançaram um apelo aos operários e aos soldados a fim de que estes participassem das eleições e votassem nas chapas dos bolcheviques. Em 10 de maio de 1917 reuniu-se, com a participação de Stálin, o Comitê de Petrogrado do P.O.S.D.R. (b). Nessa reunião, as comissões eleitorais da cidade e dos distritos apresentaram informes sobre o andamento da campanha eleitoral. As eleições das Dumas distritais de Petrogrado realizaram-se de 27 de maio a 5 de junho de 1917. Stálin dedicou aos resultados das eleições o artigo: Os resultados das eleições administrativas de Petrogrado. (retornar ao texto)

(2) Social populistas: membros de uma organização pequeno-burguesa que se constituiu em 1906 com elementos desligados da ala direita do partido social-revolucionário. As reivindicações políticas dos social-populistas não saíam dos limites da monarquia constitucional. Lênin chamava-os de “social-cadetes” ou “mencheviques social-revolucionários”. Após a revolução de fevereiro, os social-populistas tomaram uma posição de extrema direita, e depois da Revolução de Outubro ingressaram em organizações contrarrevolucionárias. (retornar ao texto)

(3) Rabótchaia Gazieta (O Jornal do Operário), órgão central do partido menchevique. Publicou-se em Petrogrado, a partir de 7 de março de 1917. Foi suprimido pouco depois da Revolução de Outubro. (retornar ao texto)

(4) A Mejraionka (“Organização Interdistrital dos Social-Democratas Unificados”) surgiu em Petersburgo, em 1913 Dela faziam parte mencheviques trotskistas e ex-bolcheviques. Durante a primeira guerra mundial os mejraiontsi assumiram uma posição centrista e lutaram contra os bolcheviques. Em 1917 declararam-se de acordo com a linha política dos bolcheviques, e com estes fizeram bloco nas eleições administrativas de Petrogrado, em maio. No VI Congresso do P.O.S.D.R. (b) os mejraiontsi foram admitidos no Partido. Uma parte deles seguiu depois Trotski em sua traição. (retornar ao texto)

(5) Nóvaia Jizn (Vida Nova), diário menchevique que se publicou em Petrogrado entre abril de 1917 e o verão de 1918. Em torno da Nóvaia Jizn agruparam-se os mencheviques adeptos de Mártov e intelectuais isolados, de tendências semi-mencheviques. Esse grupo, que vacilou perenemente entre os oportunistas e os bolcheviques, após as jornadas de julho tomou parte no congresso de unificação com os mencheviques defensistas e depois da Revolução de Outubro, salvo poucos elementos que se uniram aos bolcheviques, assumiu uma atitude hostil para com o Poder Soviético. (retornar ao texto)

Inclusão: 18/02/2024