Primeira publicação: Boletim do Bureau de Imprensa do Comitê Central do P.O.S.D.R., n.° 1. 15 de junho de 1917. Assinado: K. Stálin.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 95-99.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
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As eleições para as Dumas distritais de Petrogrado (12 distritos) já terminaram. Os resultados numéricos totais e outros dados ainda não foram publicados; isso não obstante, é possível traçar um quadro geral do andamento e do êxito das eleições na base de alguns dados fornecidos pelos distritos.
Dentre mais de um milhão de eleitores, cerca de 800 mil exerceram o direito de voto. Em média 70%. As abstenções não são absolutamente “alarmantes”. Picaram fora do pleito eleitoral as circunscrições mais proletárias de distritos como os do Neva e de Narva (subúrbios), ainda não ligados à cidade.
A luta eleitoral não se travou em torno de reivindicações administrativas locais, como sucede “comumente” na Europa, mas em torno das plataformas políticas fundamentais. Isto é de todo compreensível. Em um momento de abalos revolucionários excepcionais, agravados pela guerra e pela destruição, enquanto as contradições de classe são postas completamente a nu, era absolutamente inconcebível que na luta eleitoral nos limitássemos às questões locais; era inevitável que se revelasse o laço indissolúvel existente entre as questões locais e as questões inerentes à situação política geral do país.
Por isso, três chapas foram apresentadas às eleições como principais concorrentes, as plataformas políticas fundamentais sendo três: dos cadetes, dos bolcheviques e dos defensistas (bloco dos populistas, dos mencheviques e do Edinstvo). Nessa situação os grupos apartidistas, que exprimiam a incerteza política e a falta de programas, deviam inevitavelmente ser, e efetivamente foram, reduzidos a zero.
O eleitor devia escolher:
O eleitor escolheu. De um total de 800.000 votos, mais de 400.000 foram para o bloco dos defensistas; um pouco mais de 160.000 para os cadetes, os quais porém não obtiveram a maioria em nenhum distrito; mais de 160.000 para os bolcheviques, os quais porém obtiveram a maioria absoluta no distrito mais proletário da capital, o quarteirão de Víborg. Os votos restantes (em número insignificante) foram repartidos entre os trinta diferentes grupos e formações acidentais “apartidistas”, “acima dos partidos”, e de qualquer outro gênero.
Essa é a resposta do eleitor.
Em que consiste essa resposta?
A primeira coisa que salta aos olhos é a debilidade e a impotência dos grupos apartidistas. A lenda da “natureza” apolítica do cidadão russo foi desmentida completamente pelas eleições. O atraso político que alimenta os grupos apartidistas já pertence evidentemente ao passado. Os eleitores, em sua grande massa, colocaram-se decididamente no caminho da luta política aberta.
A segunda particularidade é dada pela derrota completa dos cadetes. Por mais subterfúgios de que possam lançar mão, os cadetes devem admitir terem sido batidos em toda a linha, na primeira luta aberta travada em condições de liberdade eleitoral, porquanto não dispõem nem sequer de uma Duma distrital. Não está longe o tempo em que os cadetes consideravam Petrogrado um domínio seu. Mais de uma vez escreveram em suas proclamações que Petrogrado “tem confiança somente no partido da liberdade do povo”, referindo-se às eleições para a Duma de Estado realizadas segundo a lei de 3 de junho. Agora está definitivamente claro que os cadetes dominavam em Petrogrado por obra e graça do tzar e da sua lei eleitoral. Bastou que o velho regime desaparecesse da cena, para que instantaneamente os cadetes sentissem o chão faltar-lhes debaixo dos pés.
Em suma: em sua massa, os eleitores democratas não estão do lado dos cadetes.
A terceira particularidade é a revelação de um indubitável aumento das nossas forças, das forças do nosso Partido. Nosso Partido conta em Petrogrado com 23 a 25.000 inscritos; a tiragem da Pravda é de 90-100.000 exemplares, dos quais 70.000 difundidos só em Petrogrado; nas eleições obtivemos mais de 160.000 votos, isto é, sete vezes o número dos membros do Partido e o dobro do número dos exemplares da Pravda difundidos em Petrogrado. E esse resultado foi obtido não obstante a infernal algazarra e as calúnias assacadas contra os bolcheviques, com as quais quase toda a chamada imprensa aterrorizou os cidadãos, a começar pelas folhas escandalosas Bírjovka e Vietchórka para terminar pelo ministerial Vólia Naroda(1) e pela Rabótchaia Gazieta. É supérfluo dizer que em semelhante situação podiam votar em nosso Partido somente os elementos mais firmes, que não se deixam “aterrorizar”, os elementos revolucionários. Esses elementos são antes de mais nada o proletariado, líder da revolução, que nos deu a maioria absoluta na Duma de Víborg, e em segundo lugar os regimentos revolucionários que são os aliados mais fiéis do proletariado. Além disso, é preciso observar que as eleições livres levaram às urnas largas camadas da população que são forças frescas, ainda inexperientes na luta política. Trata-se, antes de mais nada, das mulheres e depois de dezenas de milhares de pequenos empregados que enchem os ministérios, e de uma multidão de “gente miúda”, artesãos, lojistas, etc. Não contávamos em absoluto, e não podíamos contar, com que essas camadas saberiam romper já agora com o “velho mundo” e pôr-se resolutamente no ponto de vista do proletariado revolucionário. E contudo foram justamente elas que decidiram o êxito das eleições. Se souberam desligar-se dos cadetes, assim como fizeram, isto já constitui um grande progresso.
Em suma: os eleitores em sua massa já se afastaram dos cadetes, mas não vieram ainda para o nosso Partido: pararam no meio da estrada. Ao invés, já cerraram fileiras em torno do nosso Partido os elementos mais decididos: os proletários revolucionários e os soldados revolucionários.
Os eleitores em sua massa pararam no meio da estrada. E no meio da estrada, onde pararam, acharam um guia digno deles; o bloco dos mencheviques e dos social-revolucionários. O eleitor pequeno-burguês, não estando orientado sobre a situação atual, apanhado entre o proletariado e os capitalistas, e tendo perdido a fé nos cadetes, devia naturalmente tender para os mencheviques e os social-revolucionários, irremediavelmente entregues à confusão, e que manobram impotentes entre a revolução e a contrarrevolução. Lé com lé, cré com cré! Esse é todo o sentido da “deslumbrante vitória” do bloco defensista. Essa é a quarta particularidade das eleições. É fora de dúvida que com o ulterior desenvolvimento da revolução, o exército díspar dos bloquistas tenderá inevitavelmente a dissolver-se: uma parte irá para trás, em direção aos cadetes, a outra para a frente, em direção ao nosso Partido. Mas por enquanto... por enquanto os líderes do bloco podem comprazer-se com a “vitória”.
Enfim, a quinta e última particularidade das eleições — última não em importância! — é constituída pelo fato de que as eleições colocaram em termos concretos, no país, a questão do poder. As eleições esclareceram de maneira definitiva que os cadetes são a minoria, uma vez que reuniram com dificuldade 20% dos votos. A enorme maioria, mais de 70% dos eleitores, é pelos socialistas de direita e de esquerda, isto é, pelos social-revolucionários e os mencheviques, e pelos bolcheviques. Diz-se que as eleições administrativas de Petrogrado prenunciam o êxito das próximas eleições para a Assembleia Constituinte. Mas se isso for verdade, não será talvez monstruoso que os cadetes, que constituem no país uma minoria insignificante, tenham uma maioria esmagadora no governo provisório? Como é possível tolerar o domínio dos cadetes no governo provisório, quando se torna patente que a maioria da população não tem confiança neles? Não é justamente essa contradição a causa do descontentamento crescente com relação ao governo provisório, descontentamento que explode cada vez mais frequentemente no país?
Não é evidentemente ilógico e antidemocrático continuar mantendo essa contradição?
Notas de fim de tomo:
(1) Vólia Naroda (A Vontade do Povo), órgão dos social-revolucionários de direita. Publicou-se em Petrogrado desde 29 de abril até 24 de novembro de 1917. (retornar ao texto)