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Tradução: A presente tradução está conforme à nova edição das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo II (Edições do Povo, Pequim, Agosto de 1952). Nas notas introduziram-se alterações, para atender as necessidades de edição em línguas estrangeiras.
Fonte: Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Pequim, 1975, Tomo II, pág: 319-347.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Camaradas! Temos a nossa frente um futuro brilhante. O nosso dever é abater o imperialismo japonês e construir uma China nova; de certeza alcançaremos esse objetivo Mas entre o momento atual e esse brilhante futuro há um caminho difícil a percorrer. Lutando por uma China radiosa, o Partido Comunista da China e a totalidade do povo têm de combater o invasor japonês com método, não poderão vencer senão com uma guerra de longa duração. Nós já falámos extensamente dos diferentes problemas relativos a tal guerra; fizemos o balanço das experiências ganhas desde que começou, apreciámos a situação presente, definimos as tarefas urgentes que incumbem a Nação, explicámos a razão por que, para sustentar-se uma guerra desse tipo, importa formar uma frente única nacional anti-japonesa que dure e ainda como devemos fazê-lo, analisando por fim a situação internacional. Que mais outro problema existe? Pois bem, camaradas, resta um: o do papel do Partido Comunista da China na guerra nacional, dito doutro modo, o do como os comunistas devem compreender o seu papel, aumentar as suas forças e cerrar as suas fileiras, a fim de estarem a altura de evitar a derrota e levar a guerra a vitória.
Os comunistas, sendo internacionalistas, podem ser ao mesmo tempo patriotas? Pensamos que não só podem mas também devem. São as condições históricas que determinam o conteúdo concreto do patriotismo. Existe o “patriotismo” dos agressores japoneses e o de Hitler, e há o nosso próprio patriotismo. No que se refere ao “patriotismo” dos agressores japoneses e de Hitler, os comunistas devem opor-se-lhe com resolução. Os comunistas japoneses e alemães são pela derrota dos seus próprios países na guerra. É do interesse dos seus povos contribuir, por todos os meios, para a derrota dos agressores japoneses e de Hitler, sendo que quanto mais completa for essa derrota tanto melhor será. Isso é o que devem fazer os comunistas japoneses e alemães, e é o que estão efetivamente fazendo. As guerras desencadeadas pelos agressores japoneses e por Hitler são tão nefastas aos restantes povos do mundo como aos povos do Japão e da Alemanha. Mas as coisas são distintas para a China, que é a vítima da agressão. Por isso é que os comunistas chineses têm de unir o patriotismo ao internacionalismo. Nós somos ao mesmo tempo internacionalistas e patriotas, a nossa palavra de ordem é combater o invasor para defender a Pátria. Em relação a nós, o derrotismo constitui um crime e a luta pela vitória na resistência anti-japonesa um dever a que não podemos furtar-nos. Só o combate pela defesa da pátria permite que vençamos os agressores e libertemos a Nação. E só essa libertação tornará possível a emancipação do proletariado e do povo trabalhador. A vitória da China e a derrota do imperialismo que a agride constituirão exatamente uma ajuda para os povos dos demais países. Por consequência, o patriotismo constitui uma aplicação do internacionalismo na guerra de libertação nacional. Aí está a razão por que cada comunista tem de despender um máximo de atividade, avançar com coragem e decisão para o campo de batalha da guerra de libertação nacional e apontar as armas contra o agressor japonês. Eis porque, desde o Incidente de 18 de Setembro de 1931(2), o nosso Partido passou ao apelo no sentido da resistência a agressão japonesa por meio da guerra nacional de legítima defesa, propôs mais tarde a formação duma frente única nacional anti-japonesa, ordenou a reorganização do Exército Vermelho em unidades do Exército Revolucionário Nacional anti-japonês e a respetiva marcha para a frente e prescreveu aos seus membros o combate na primeira linha da Guerra de Resistência contra o Japão e a defesa da pátria até a última gota de sangue. Tais atos de patriotismo são justos e, longe de contradizerem o internacionalismo, constituem uma aplicação disso na China. Só os que têm ideias políticas confusas ou desejos inconfessáveis poderão insensatamente pretender que não tivemos razão, que abandonámos o internacionalismo.
Pelas razões acima, os comunistas devem dar provas de grande iniciativa na guerra nacional e manifestá-la de modo concreto, quer dizer, desempenhar um papel exemplar de vanguarda, em todos os domínios. A nossa guerra prossegue em condições de dureza resultantes do fato de as grandes massas populares ainda não terem suficiente consciência nacional, amor-próprio nacional e auto-confiança, estarem na sua maioria desorganizadas, encontrar-se o país fraco quanto a forças militares, permanecer atrasada a sua economia, não ser democrático o seu regime, reinar a corrupção e o pessimismo e a Frente Única faltar coesão, solidez, etc. Os comunistas não podem pois deixar de assumir com consciência a grande responsabilidade de unir a totalidade da nação, de modo a vencerem todos os aspetos negativos da situação. Aqui, o papel de vanguarda dos comunistas e o seu exemplo são duma importância vital. No VIII Exército e no Novo IV Exército, os comunistas devem dar um exemplo de bravura no combate, cumprimento das ordens, observação da disciplina, realização do trabalho político e reforço da unidade e solidariedade internas. Nas relações com os exércitos e partidos amigos, deverão manter uma posição firme de unidade pela resistência ao Japão, perseverar no programa da Frente Única e ser o modelo no cumprimento das tarefas da Guerra de Resistência. Deverão ser fiéis a palavra dada e resolutos na ação, isentos de arrogância e sinceros na discussão e cooperação com os exércitos e partidos amigos, um exemplo nas relações com os distintos partidos da Frente Única. Nas administrações governamentais os comunistas devem distinguir-se por uma integridade perfeita, abster-se de todo o nepotismo, trabalhar muito e contentar-se com uma fraca remuneração. Trabalhando nos movimentos de massas, os comunistas devem ser amigos das massas e não patrões situados acima destas, serão professores investigáveis e nunca politiqueiros burocratas. Em nenhum momento, em nenhuma circunstância, os comunistas colocarão os seus interesses pessoais em primeiro plano; pelo contrário, eles subordiná-los-ão sempre aos interesses da nação e das massas populares. É por isso que o egoísmo, o relaxamento no trabalho, a corrupção, o exibicionismo, etc., merecem o maior dos desprezos, enquanto que a entrega desinteressada, o ardor no trabalho, a devoção a causa pública, o esforço intenso e tenaz merecem todo o respeito. Um comunista deve trabalhar em boa harmonia com todos os elementos avançados que não são membros do Partido e esforçar-se por unir a totalidade do povo para vencer o que é negativo. Devemos dar-nos plenamente conta de que os comunistas não constituem mais do que uma pequena fração da nação e, fora do Partido, existe um grande número de elementos avançados e de ativistas com quem devemos colaborar. Seria de todo falso crer que somos a perfeição ao passo que os outros nada valem. Os comunistas não devem desdenhar nem troçar das pessoas que estão politicamente atrasadas, mas sim aproximar-se delas, unir-se a elas, convencê-las e encorajá-las a progredir. Exceto com relação aos incorrigíveis, a atitude dos comunistas frente aos que tenham cometido erros no trabalho não deve ser a de exclusão, mas sim a de persuasão, para ajudá-los a mudar e começar de novo. Os comunistas devem ser um modelo tanto de senso prático como de previsão e clarividência, uma vez que só pelo senso prático poderão cumprir as tarefas que lhes cabem e só graças a previsão e a clarividência poderão evitar perder-se na marcha para diante. Sendo assim, os comunistas devem dar o exemplo no estudo; em todos os momentos serão os alunos e os mestres das massas populares. Não podemos dar provas de senso prático no trabalho, nem de previsão e clarividência quanto ao futuro, a não ser instruindo-nos junto das massas, junto dos que nos rodeiam e dos exércitos e partidos amigos, a não ser procurando compreendê-los a todos. Numa guerra de longa duração, em circunstâncias difíceis, as forças vivas da totalidade da nação só poderão ser mobilizadas para vencer as dificuldades, derrotar o inimigo e edificar uma China nova, se os comunistas desempenharem com elevação o seu papel exemplar de vanguarda, se colaborarem com todos os elementos avançados dentre os exércitos, partidos amigos e massas populares.
Para vencer as dificuldades, para vencer o inimigo e edificar uma China nova, é necessário consolidar e ampliar a Frente Única Nacional Anti-japonesa, bem como mobilizar todas as forças vivas da nação; essa é a única política a seguir. Mas na nossa Frente Única Nacional existem já agentes inimigos que se entregam a uma ação de sabotagem; são os traidores, os trotskistas e os elementos pró-japoneses. Os comunistas devem permanecer constantemente de olhos abertos frente aos agentes inimigos, desmascarar-lhes com provas reais e seguras os crimes e pôr em guarda o povo contra as suas imposturas. Devem redobrar de vigilância política com relação aos agentes do inimigo no seio da nação. É necessário compreender bem que não é possível ampliar e consolidar a Frente Única Nacional sem desmascarar e eliminar tais agentes. Seria de todo errado considerar apenas um dos aspetos da questão e perder o outro aspeto de vista.
Para vencer as dificuldades, para vencer o inimigo e edificar uma China nova, o Partido Comunista deve alargar as suas fileiras e converter-se num grande partido com caráter de massas, abrindo amplamente as portas aos operários, camponeses e jovens ativistas, sinceramente devotados a revolução, que creiam nos princípios do Partido, apoiem a política deste, estejam prontos a observar-lhe a disciplina e trabalhem com ardor. Aí é inadmissível toda a atitude de “porta fechada”. Ao mesmo tempo, porém, importa estar constantemente em guarda contra a infiltração dos agentes inimigos nas nossas fileiras. Os serviços secretos do imperialismo japonês procuram constantemente sabotar o nosso Partido, fazendo entrar neste, sob máscara de ativismo, traidores, trotskistas, pró-japoneses, elementos degenerados e arrivistas camuflados. Não relaxemos pois um só instante a vigilância, nem descuidemos o rigor das precauções frente a tal gente. Como é evidente, por medo aos agentes inimigos não haveremos de fechar as portas do Partido, uma vez que a nossa linha de conduta é a de alargar com audácia as fileiras deste. Contudo, ao agirmos assim, temos de permanecer em guarda com relação aos agentes inimigos e arrivistas, que poderiam aproveitar a ocasião para infiltrar-se por elas. Cometeremos erros se não considerarmos mais que um aspeto da questão, se descurarmos o outro aspeto. Aqui, o único princípio justo é “alargar ousadamente as fileiras do Partido, sem deixar que nele penetre um só sequer dos maus elementos”.
Não há dúvidas que só a manutenção firme da Frente Única Nacional permitirá vencer as dificuldades, vencer o inimigo e edificar uma China nova.
Contudo, cada partido ou grupo da Frente Única deve conservar a sua independência nos planos ideológico, político e de organização. Isso vale tanto para o Kuomintang como para o Partido Comunista e demais partidos e grupos políticos. Nas relações entre os partidos ou grupos políticos, o princípio da democracia, um dos Três Princípios do Povo, admite simultaneamente a unidade de todos e a independência de cada um deles. Falar apenas de unidade, negar a independência, é abandonar o princípio da democracia, o que nem o Partido Comunista nem qualquer outro partido ou grupo político poderá admitir. É inegável que a independência no seio da Frente Única só pode ser relativa, não pode ser absoluta; entendê-la como absoluta seria sabotar a política geral de unidade contra o inimigo. Mas não deve negar-se essa independência relativa; tanto no domínio da ideologia como no da política e organização, todos os partidos devem gozar de independência relativa, isto é, gozar do direito a liberdade relativa. Deixar-se privar desse direito, renunciar a isso voluntariamente, seria também atentar contra a política geral de unidade frente ao inimigo. Eis o que têm de compreender todos os comunistas e, igualmente, todos os membros dos partidos amigos.
O mesmo é válido para a relação entre a luta de classes e a luta nacional. É um princípio estabelecido que, durante a Guerra de Resistência contra o Japão, tudo deve subordinar-se aos interesses desta, sendo por isso que os interesses da luta de classes devem subordinar-se aos da Guerra de Resistência, não ir contra estes. Contudo, a existência de classes e luta de classes é um fato. Os que o negam, os que negam a existência de luta de classes, cometem um erro. É inteiramente falsa a teoria que pretende contestar a existência de luta de classes. Nós não negamos a luta de classes, nós adaptamo-la as circunstâncias. A política de ajuda mútua e concessões recíprocas que preconizamos aplica-se tanto as relações entre os partidos como as relações entre as classes. A unidade contra o Japão exige uma política apropriada de reajustamento das relações de classes, a qual, por um lado, não deixa as massas trabalhadoras sem garantias no plano político e material, e, por outro lado, tem em conta os interesses da gente rica, para responder as exigências de unidade na luta contra o inimigo. Considerar apenas um desses aspetos, descurar o outro, seria prejudicial a resistência ao Japão.
Ao guiar as massas na luta contra o inimigo, os comunistas devem ter em conta o conjunto da situação, pensar em função da maioria e trabalhar de concerto com os seus aliados. Os comunistas devem compreender o princípio de que é indispensável subordinar as necessidades da parte ao todo. Se uma proposta convém apenas a uma situação parcial, e não a situação de conjunto, torna-se necessário subordinar a parte ao todo. E o mesmo é válido para o caso inverso: se uma proposta não convém a situação parcial, mas sim a situação de conjunto, há igualmente que subordinar a parte ao todo. É o que significa ter em conta a situação de conjunto, o todo. Os comunistas nunca devem separar-se da maioria das massas nem avançar temerariamente a frente dum pequeno contingente mais adiantado sem ter em conta a maioria; eles devem preocupar-se em criar laços estreitos entre os elementos avançados e as grandes massas. É o que significa pensar em função da maioria. Por toda a parte onde existam partidos e grupos democráticos ou democratas desejosos de cooperar connosco, os comunistas devem discutir e trabalhar com eles. É errado tomar decisões arbitrárias e agir de modo autoritário, ignorando os nossos aliados. Um bom comunista deve saber ter em conta o conjunto da situação, pensar em função da maioria e trabalhar de concerto com os seus aliados. A esse respeito houve grandes insuficiências que devemos empenhar-nos por vencer.
O Partido Comunista da China é um partido que dirige uma grande luta revolucionária numa imensa nação de várias centenas de milhões de homens. O Partido não seria capaz de cumprir a sua tarefa histórica sem dispor dum número considerável de quadros dirigentes capazes e qualificados. Ao longo dos últimos dezassete anos, o nosso Partido formou muitos dirigentes competentes, de modo que já dispomos duma armação de quadros nos domínios militar, político e cultural, assim como para o trabalho do Partido e de massas. Isso honra tanto o Partido como a Nação. Mas a ossatura atual ainda não pode suportar esse grande edifício que é a nossa luta, razão por que temos de continuar a formar elevados contingentes de quadros competentes. Da luta colossal do povo chinês surgiram e continuam a surgir muitos ativistas, sendo nosso dever organizá-los, formá-los, rodeá-los de solicitude e saber utilizá-los. Uma vez estabelecida a linha política, os quadros são um fator determinante(3). Por consequência, formar segundo um plano um grande número de novos quadros constitui nossa tarefa de combate.
Devemos preocupar-nos tanto com os quadros que são membros do Partido como com os que o não são. Fora do Partido há muitos indivíduos capazes que este não deve ignorar. O dever de cada comunista é desembaraçar-se de toda a altivez e arrogância, saber colaborar com todos os quadros não comunistas, prestar-lhes uma ajuda sincera, adotar para com eles uma calorosa atitude de camaradagem e orientar-lhes a iniciativa para a grande causa da resistência ao Japão e reconstrução do país.
Há que saber julgar os quadros. Não se deve apreciá-los apenas por um certo momento ou fato isolado da sua vida, mas sim julgá-los por todo o seu passado e todo o seu trabalho. Tal é o método principal de julgar os quadros.
É preciso saber utilizar os quadros. Resumindo, ser dirigente envolve duas responsabilidades principais: formular ideias e empregar os quadros. Elaborar planos, tomar decisões, emitir ordens, traçar diretivas, etc., tudo isso entra na categoria de “formular ideias”. Para pormos as ideias em prática temos de unir os quadros e incitá-los a ação. A isso se chama “empregar os quadros”. Ao longo da história da nossa nação houve sempre duas linhas opostas a esse respeito: “nomeações segundo as qualidades individuais” e “nomeações segundo as amizades pessoais”. A primeira, honesta, a segunda desonesta. O critério que o Partido Comunista deve aplicar na sua política de quadros consiste em ver se um quadro é ou não resoluto na execução da linha do Partido, se observa ou não a disciplina, se está ou não estreitamente ligado as massas, se é ou não capaz de orientar-se por si próprio no trabalho, se é ou não ativo, tenaz e desinteressado. Tal é a política de “nomeações segundo as qualidades individuais”. A política de quadros de Tcham Cuo-tao era contrária a isso. Procedendo a “nomeações segundo as amizades pessoais”, ele rodeava-se de homens seus para constituir uma pequena fação, a tal ponto que acabou por trair o Partido e desertar. Essa é uma séria lição. Instruídos por esse fato, e por lições similares que a História nos oferece, recai sobre o Comité Central e dirigentes de todos os escalões a pesada responsabilidade de, em matéria de política de quadros, procederem sempre com imparcialidade e honestidade e rejeitarem toda a parcialidade e desonestidade, de modo a reforçar-se a unidade e coesão do Partido.
É preciso saber cuidar dos quadros. Eis o método:
Tal é o método de cuidar dos quadros.
Dadas as graves infrações de Tcham Cuo-tao, é necessário reafirmar as seguintes regras de disciplina do Partido:
Todo aquele que viola essas regras de disciplina sabota a unidade do Partido. A experiência mostra-nos que alguns infringem a disciplina porque não sabem qual é essa disciplina, mas outros, como Tcham Cuo-tao, fazem-no em pleno conhecimento de causa, para satisfação de desejos perversos, aproveitando-se da ignorância de muitos dos membros do Partido. Por isso se torna necessário educar os membros do Partido quanto a disciplina deste, de modo que os simples membros possam observá-la por si próprios e velem por que os dirigentes se submetam igualmente a ela, evitando-se reedições do caso Tcham Cuo-tao. Para colocar as relações internas do Partido na via justa, além das quatro regras mais importantes reafirmadas acima devemos definir um regulamento interno mais detalhado, de modo a unificar-se a ação dos órgãos dirigentes nos diferentes escalões.
Na grande luta atual, o Partido Comunista da China exige que todos os seus órgãos dirigentes, todos os seus membros e quadros desenvolvam ao máximo a iniciativa própria, pois só assim se tornará possível a vitória. Concretamente, essa iniciativa há-de manifestar-se em atividade criadora dos órgãos dirigentes, quadros e membros do Partido, em espírito de responsabilidade, em ardor no trabalho, audácia e capacidade de levantar problemas, expressar opiniões próprias, criticar falhas, e em controle, exercido com toda a camaradagem, sobre os órgãos e quadros dirigentes. Doutro modo a palavra iniciativa não tem sentido. O desenvolvimento dessa iniciativa, porém, depende do grau de democracia existente na vida do Partido. Em caso nenhum a iniciativa poderia desenvolver-se sem uma suficiente democracia na vida do Partido. A formação de grande número de homens capazes só é possível em ambiente democrático. No nosso país predomina o sistema patriarcal próprio da pequena produção e, além disso, ainda não existe vida democrática em escala nacional. Isso reflete-se no Partido sob a forma duma vida democrática insuficiente, impedindo-o de desdobrar de todo a iniciativa e dando igualmente lugar a uma democracia insuficiente no seio da Frente Única e nos movimentos de massas. É por isso que o Partido deve educar os seus membros em matéria de democracia, a fim de que compreendam o que é a vida democrática, a relação existente entre a democracia e o centralismo e como se pratica o centralismo democrático. Só assim poderemos ampliar efetivamente a democracia na vida do Partido, evitando simultaneamente o ultra-democratismo e esse deixa-andar que viola a disciplina.
Aliás, há que desenvolver na medida necessária a vida democrática das organizações do Partido no nosso exército, para estimular a iniciativa dos membros do Partido e aumentar a capacidade de combate das tropas. Mas a democracia nessas organizações deve ser menos extensa que nas organizações locais do Partido. Numas como noutras, a democracia no seio do Partido deve servir para reforçar a disciplina e a capacidade de combate, e não para enfraquecê-las.
Essa extensão da democracia deve ser considerada uma medida indispensável para consolidar e desenvolver o Partido, uma arma importante que lhe permitirá ser ativo e vigoroso na sua luta colossal, estar a altura das tarefas, criar novas forças e sair-se bem na prova da guerra.
Em dezassete anos, o nosso Partido aprendeu, dum modo geral, a servir-se da arma marxista-leninista da luta ideológica para combater as concepções erradas no seu próprio seio, e isso sobre as duas frentes que são o oportunismo de direita e o oportunismo de “esquerda”.
Antes da Quinta Sessão Plenária do Comité Central eleito pelo VI Congresso(4), o Partido combateu o oportunismo de direita de Tchen Tu-siu e o oportunismo de “esquerda” do camarada Li Li-san. A vitória que obteve nessas duas lutas permitiu-lhe realizar grandes progressos. Após essa sessão, o Partido ainda viveu duas lutas internas de importância histórica, uma foi a da Reunião de Tsuen-yi e a outra a que desembocou na expulsão de Tcham Cuo-tao.
A Reunião de Tsuen-yi corrigiu os graves erros de princípio, de caráter oportunista de “esquerda”, cometidos no decurso da luta contra a quinta campanha de “cerco e aniquilamento”, e reforçou a coesão do Partido e do Exército Vermelho; com isso ela possibilitou ao Comité Central e as forças principais do Exército Vermelho, a realização vitoriosa da Grande Marcha, a conquista das posições avançadas da resistência anti-japonesa e a aplicação duma política nova, a política de frente única nacional anti-japonesa. As reuniões de Paci(5) e de Ien-an(6), ao combaterem o oportunismo de direita de Tcham Cuo-tao (a luta contra essa linha começou na reunião de Paci e terminou na de Ien-an) conseguiram juntar todas as forças do Exército Vermelho e reforçar a unidade do Partido para a resistência heroica ao Japão. Essas duas formas de erros oportunistas surgiram no decorrer da guerra civil revolucionária e caraterizavam-se pela sua ligação com a guerra.
Que lições tirámos dessas duas lutas no interior do Partido? Ei-las:
Essas lições e esses sucessos constituem para nós as condições indispensáveis para unir a totalidade do Partido, reforçar-lhe a unidade ideológica e política, bem como a unidade de organização, e conduzir a Guerra de Resistência a vitória. O nosso Partido consolidou-se e cresceu na luta em duas frentes.
De futuro, será de primeira importância, na nossa resistência ao Japão, lutar no plano político contra o pessimismo, tendência direitista, e, como no passado, não esquecer a impetuosidade de “esquerda”. Nas questões relativas a Frente Única, ao trabalho de organização do Partido e a organização das massas, continuaremos a combater a tendência de “esquerda”, isto é, a atitude de “porta fechada”, de maneira a realizarmos uma cooperação com todos os partidos e grupos políticos partidários da resistência ao Japão e alargarmos as fileiras do Partido Comunista e o movimento de massas. Mas, ao mesmo tempo, devemos ter em conta o combate contra o oportunismo de direita, que não impõe condições a cooperação e ao alargamento. Doutro modo estes últimos ficariam entravados, não constituindo mais do que uma cooperação capitulacionista e um alargamento sem princípios.
A luta ideológica nas duas frentes deve adaptar-se a cada um dos casos concretos, havendo que não abordar os problemas de modo subjetivo, nem deixar subsistir esse mau hábito de “pôr rótulos sem o menor discernimento”.
Na luta contra os desvios devemos empenhar-nos seriamente no combate a duplicidade, cujo perigo maior é poder resultar em atividade fracionista, como prova a carreira de Tcham Cuo-tao. Agir com duplicidade é submeter-se em público e rebelar-se em privado, dizer sim mas pensar não, pronunciar palavras bonitas de frente e intrigar por trás. Não poderemos reforçar a disciplina do Partido se não elevarmos a vigilância dos quadros e demais membros do Partido contra tal comportamento.
De modo geral, todos os comunistas com a aptidão requerida devem estudar a teoria de Marx, Engels, Lénine e Estáline, a nossa história nacional, bem como a situação e as tendências do movimento atual; é através deles que se fará a educação dos camaradas cujo nível cultural é relativamente baixo. Importa, em particular, que os quadros prestem uma atenção especial a esse estudo e, por maioria de razão, que os membros do Comité Central e os quadros superiores se consagrem a isso com ardor. Um partido político que dirige um grande movimento revolucionário não pode conquistar a vitória sem dominar a teoria revolucionária, sem conhecer História e sem compreender profundamente o movimento prático.
A teoria de Marx, Engels, Lénine e Estáline é uma teoria de valor universal. Não devemos considerá-la como um dogma, mas sim como um guia para a ação. Estudar o Marxismo-Leninismo não é apenas uma questão de aprender termos e frases, mas sim uma questão de estudá-lo como ciência da revolução. Trata-se não apenas de compreender as leis gerais deduzidas por Marx, Engels, Lénine e Estáline através do seu vasto estudo da vida real e da experiência da revolução, mas também de estudar a posição e o método que adotaram no exame e solução dos problemas. A formação marxista-leninista tem feito até hoje progressos no seio do nosso Partido, mas está ainda longe de ter-se estendido a todos e ser suficientemente aprofundada. A nossa missão é dirigir uma grande nação de várias centenas de milhões de homens numa luta grandiosa e sem precedentes. Essa a razão por que o estudo generalizado e profundo da teoria marxista-leninista constitui para nós uma grande tarefa que importa realizar com toda a urgência mas não pode sê-lo senão ao preço de sério esforço. Eu espero que, depois desta sessão do Comité Central, há-de verificar-se por todo o Partido uma emulação no estudo, sendo então que se verá quem realmente aprendeu alguma coisa, quem realmente alargou e aprofundou os seus conhecimentos. Se, entre os camaradas que detêm as principais responsabilidades no trabalho de direção, existirem cem a duzentos com um conhecimento sistemático, não fragmentário, do Marxismo-Leninismo, com um conhecimento real, não vago, a capacidade de combate do nosso Partido ficará consideravelmente aumentada e a vitória sobre o imperialismo japonês será apressada.
Uma outra tarefa que nos incumbe é o estudo do nosso património histórico, fazendo-se o respetivo balanço com olhos críticos, segundo o método marxista. A nossa nação tem uma história várias vezes milenária, de traços particulares e cheia de imensos tesouros. A esse respeito nós não somos mais do que simples meninos de escola. A China de hoje é um resultado do desenvolvimento da China do passado; ao abordarmos a História como marxistas não devemos quebrar-lhe o fio. Há que fazer o balanço de todo o nosso passado, desde Confúcio a Sun Yat-sen, para que recolhamos essa preciosa herança. Isso ajudar-nos-á, em grande medida, a dirigir o grande movimento atual. Como marxistas, os comunistas são internacionalistas, mas só quando ligam o Marxismo aos traços específicos do país, e lhe dão uma forma nacional, é que podem aplicá-lo na vida. A grande força do Marxismo-Leninismo reside precisamente na sua fusão com a prática revolucionária concreta de cada país. Para o Partido Comunista da China isso significa que se impõe aplicar a teoria marxista-leninista em função das condições concretas da China. Se os comunistas chineses, que constituem parte da grande nação chinesa e ligam-se a ela como sua própria carne e sangue, falassem do Marxismo sem levar em conta as particularidades da China, este não seria mais do que algo abstrato, esvaziado de todo o conteúdo. Assim, a questão que a totalidade do Partido deve compreender e resolver com a máxima urgência é a da aplicação do Marxismo de maneira concreta na China, a fim de que reflita, em todas as circunstâncias, os traços específicos do nosso país; noutras palavras, trata-se de aplicá-lo tendo em conta as particularidades da China. É preciso acabar com o estilo de cliché estrangeiro(7), passar menos tempo em palavreado vão sobre noções abstratas e lançar para o lixo o dogmatismo, abrindo caminho a um ar e estilo chineses, cheios de frescura e de viço, agradáveis ao ouvido das pessoas comuns da nossa terra. Separar o conteúdo internacionalista da forma nacional é próprio de pessoas que nada compreendem em matéria de internacionalismo. Quanto a nós, devemos ligar estreitamente um ao outro. Os erros graves que existem nesse domínio entre as nossas fileiras devem ser conscienciosamente corrigidos.
Quais são as particularidades do movimento atual? A que leis se submete? Como dirigi-lo? Tudo isso são outras tantas questões práticas. No momento, nós ainda não conhecemos de todo o imperialismo japonês nem conhecemos perfeitamente a China. O movimento desenvolve-se, algo novo vai surgir ante nós, o novo nasce continuamente. Estudar esse movimento em todos os seus aspetos e evolução, eis o grande tema que merece continuada atenção. Não será marxista quem se recusar a estudar tudo isso com seriedade e cuidado.
A auto-satisfação é inimiga do estudo. Se queremos realmente aprender alguma coisa devemos começar por libertar-nos disso. Com relação a nós próprios, devemos “ser insaciáveis na aprendizagem” e, com relação aos outros, “incansáveis no ensino”; tal deve ser a nossa atitude.
A unidade interna do Partido Comunista da China é a condição primordial da união da totalidade da nação para o triunfo da resistência ao Japão e a edificação duma China nova. Os dezassete anos que temperaram o Partido Comunista da China ensinaram-lhe vários processos de realizar a sua unidade interna; o Partido está muito mais experimentado. Estamos pois em condições de formar um sólido núcleo no seio do povo chinês, para ganharmos a Guerra de Resistência e construirmos uma China nova. Estamos seguros que atingiremos esse objetivo, camaradas, basta que permaneçamos unidos.
Notas:
(1) Relatório apresentado pelo camarada Mao Tsetung na Sexta Sessão Plenária do Comité Central eleito pelo VI Congresso do Partido. Essa sessão, que foi de grande importância, aprovou a linha do Birô Político do Comité Central encabeçado pelo camarada Mao Tsetung. Ao tratar da questão do Papel do Partido Comunista da China na guerra nacional, o camarada Mao Tsetung ajudou a totalidade dos camaradas a compreender claramente e a assumir com consciência a pesada responsabilidade histórica do Partido, que era a direção da Guerra de Resistência. A sessão decidiu prosseguir na política de frente única anti-japonesa mas sublinhou, ao mesmo tempo, a necessidade de unidade e luta no seio dessa frente, a não conveniência, nas condições da China, da fórmula “tudo através da Frente Única”. Ficava assim condenada a tendência à acomodação na questão da frente única. Esse aspeto do problema foi examinado pelo camarada Mao Tsetung numa parte das conclusões que apresentou, nessa sessão, sob o titulo “A Questão da Independência e Autonomia no Seio da Frente Única”. Além de afirmar que era de extrema importancia que a totalidade do Partido se consagrasse a organização da luta armada popular contra o invasor japonês, a sessão decidiu fazer das regiões de operações militares e da retaguarda do inimigo o principal campo de ação do Partido. Consequentemente, repudiou a concepção errada dos que depositavam as esperanças de vitória sobre o agressor japonês no exército kuomintanista e confiavam os destinos do povo a luta legal realizada numa situação de dominação reacionária do Kuomintang. Nessa sessão, essa matéria constituiu objeto doutra parte das conclusões do camarada Mao Tsetung: "Problemas da Guerra e da Estratégia”. (retornar ao texto)
(2) A 18 de Setembro de 1931, o Exército Japonês de "Quantum", estacionado no Nordeste da China, atacou e ocupou Chen-iam. As tropas chinesas em Chen-iam e em outros lugares do Nordeste (o Exército do Nordeste) cumpriram a ordem de "não resistência absoluta" de Tchiang Kai-chek, e retiraram-se para o sul do Xanghaiquan. O exército japonês pôde assim ocupar rapidamente as províncias de Liaonim, Quilin e Heilonquiam. Essa acção agressiva do imperialismo japonês é conhecida entre o povo chinês por "Incidente de 18 de Setembro". (retornar ao texto)
(3) No seu relatório ao XVII Congresso do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS, em Janeiro de 1934, Estáline afirmou: “ ...uma vez definida a linha política justa, o trabalho de organização decide de tudo, incluída a sorte da própria linha política, a sua realização ou o seu fracasso”. E levantou também a questão da “justa escolha dos homens”. Em Maio de 1935, no discurso pronunciado no Kremlin, por ocasião da promoção dos alunos das escolas superiores do Exército Vermelho, Estáline formulou e explicou a palavra de ordem “os quadros decidem de tudo”. Veja-se o relatório ao XVIII Congresso do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS, em Março de 1939, onde afirmou: “Assim que fica definida e comprovada na prática a linha política justa, os quadros do Partido convertem-se na força decisiva da direção do Partido e do Estado”. (retornar ao texto)
(4) Trata-se do período que vai da reunião extraordinária do Birô Político do Comité Central eleito pelo V Congresso do Partido Comunista da China, em Agosto de 1927, a Quinta Sessão Plenária do Comité Central eleito pelo VI Congresso do Partido, em Janeiro de 1934. (retornar ao texto)
(5) Reunião do Birô Político do Comité Central do Partido Comunista da China, realizada em Agosto de 1935, em Paci, localidade a noroeste da sede do distrito de Sumpan, na parte noroeste de Setchuan, contígua ao sudeste de Cansu. Nessa época, Tcham Cuo-tao, que comandava uma parte das forças do Exército Vermelho, rompeu com o Comité Central do Partido, desobedeceu-lhe as ordens e passou a perseguição dos respetivos membros. Na reunião, o Comité Central decidiu abandonar essa zona perigosa e avançar para o norte do Xensi com as forças do Exército Vermelho que lhe tinham permanecido obedientes. Tcham Cuo-tao dirigiu as unidades que enganara sobre o sul, para as regiões de Tientsiuan, Luxan, grande e pequeno Quintchuan e Apa, onde formou um pseudo comité central, com o que traiu abertamente o Partido. (retornar ao texto)
(6) Reunião alargada do Birô Político do Comité Central do Partido Comunista da China, em Abril de 1937, em Ien-an. Antes da reunião, grande parte dos quadros e combatentes das unidades do Exército Vermelho conduzidas por Tcham Cuo-tao compreenderam que este os enganara e deslocaram-se para o norte, em direção da região fronteiriça Xensi-Cansu. Durante a marcha, porém, uma parte desses homens bifurcou, sob ordens equivocadas, em direção do oeste, para a região Kandjou-Liandjou-Çudjou, sendo a maioria exterminada pelo inimigo e dirigindo-se os demais para Sinquiam, donde mais tarde avançaram para a região fronteiriça Xensi-Cansu. A parte que havia muito avançara para a região fronteiriça Xensi-Cansu juntou-se ao Exército Vermelho Central. Tcham Cuo-tao deslocou-se pessoalmente ao norte de Xensi, participando na reunião de Ien-an. Numa análise sistemática e concludente, a reunião condenou-lhe o oportunismo e o comportamento anti-partido. Tcham Cuo-tao aparentava aceitar a decisão do Partido mas, na realidade, já se estava preparando para traí-lo mais tarde, definitivamente. (retornar ao texto)
(7) Ver a explicação sobre o estilo de cliché estrangeiro no artigo “Contra o Estilo de Cliché no Partido”, Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo III. (retornar ao texto)
Inclusão | 13/01/2014 |