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Para consolidar o Poder Soviético era necessário destroçar, romper o antigo aparelho do Estado burguês e substituí-lo pelo novo aparelho do Estado Soviético. Era necessário, também, destruir os restos do regime de castas e de opressão nacional, abolir os privilégios da Igreja, acabar com a Imprensa contra-revolucionária e com as organizações contra-revolucionárias de todo gênero, tanto legais como ilegais, e dissolver a Assembléia Constituinte burguesa. Por último, era necessário nacionalizar, após a terra, toda a grande indústria, e, sobretudo, sair da situação de guerra, acabar com a guerra, que era o maior obstáculo que se opunha à consolidação do Poder Soviético.
Todas estas medidas foram levadas à prática no transcurso de uns quantos meses, desde fins de 1917 a meiados de 1918.
Rompeu-se e liquidou-se a sabotagem dos funcionários dos velhos ministérios, organizada pelos social-revolucionários e os mencheviques. Foram suprimidos os ministérios, criando-se, para substituí-los, aparelhos soviéticos de administração e os correspondentes Comissariados do Povo. Criou-se o Conselho Supremo de Economia Nacional, encarregado de dirigir a indústria do país. Organizou-se a Comissão Extraordinária de toda a Rússia (a "Tcheca") para combater a contra-revolução e a sabotagem, pondo-se à frente dela F. Dzerzhinski. Baixou-se um decreto criando o Exército Vermelho e a Marinha Vermelha. Dissolveu-se a Assembléia Constituinte, que tinha sido eleita, fundamentalmente, antes da Revolução de Outubro, e se tinha negado a confirmar os decretos do II Congresso dos Soviets sobre a paz, sobre a terra e sobre a instauração do Poder Soviético.
Com o objetivo de liquidar definitivamente os resíduos do feudalismo, do regime de castas e da desigualdade de direitos em todos os graus da vida social baixou-se uma série de decretos abolindo os privilégios de casta, suprimindo as restrições nacionais e religiosas, separando a Igreja do Estado e a Escola da Igreja, e concedendo igualdade de direitos às mulheres e às diversas nacionalidades da Rússia.
Em um decreto especial do governo soviético, que se conhece com o nome de "Declaração de direitos dos povos da Rússia", se estatuiu como lei o livre desenvolvimento dos povos de toda a Rússia e sua plena igualdade de direitos.
Com o objetivo de minar a força econômica da burguesia e de organizar a nova Economia nacional soviética e, sobretudo, a nova indústria soviética, foram nacionalizados os bancos, as estradas de ferro, o comércio exterior, a marinha mercante e toda a grande indiístria, em seus diversos ramos: indiístria carbonífera, metalúrgica, petrolífera, química, de construção de maquinaria, têxtil, açucareira, etc.
Com o objetivo de emancipar o país da dependência financeira e da exploração pelos capitalistas estrangeiros, foram anulados os empréstimos exteriores contraídos em nome da Rússia pelo czar e o governo provisório. Os povos do país soviético não tinham por que pagar as dívidas contraídas para prolongar a guerra de rapina e que haviam entregue o país escravizado às garras do capital estrangeiro.
Todas estas medidas e outras semelhantes atacavam pela base as forças da burguesia, dos latifundiários, da burocracia reacionária e dos partidos contra-revolucionários, consolidando consideravelmente o Poder Soviético no interior do país. Mas a situação do Poder Soviético não podia considerar-se plenamente garantida, enquanto a Rússia se achasse em estado de guerra com a Alemanha e a Áustria. Para consolidar definitivamente o Poder Soviético era necessário pôr fim à guerra. Por isso, o Partido começou a luta pela paz desde os primeiros dias do triunfo da Revolução de Outubro.
O governo soviético propôs a "todos os países beligerantes e seus governos entabolar negociações imediatas para uma paz justa e democrática". Mas os "aliados", a Inglaterra e a França, se negaram a aceitar a proposta do governo soviético. Em vista da negativa da França e da Inglaterra de entabolar negociações de paz, o governo soviético cumprindo a vontade dos Soviets decidiu entrar em negociações com a Alemanha e a Áustria. As negociações começaram a 3 de dezembro, em Brest-Litovsk. A 5 de dezembro se assinou o convênio de armistício, isto é, de suspensão temporária das hostilidades.
As negociações de paz se desenrolaram numa situação em que a economia nacional estava em derrocada, em que todo o país estava cansado da guerra, as unidades militares abandonavam as trincheiras e as frentes se desmoronavam. Durante as negociações se tornou claro que os imperialistas alemães pretendiam apoderar-se de enormes porções do território do antigo império czarista e converter a Polônia, a Ucrânia e os países do Báltico em Estados vassalos da Alemanha.
Continuar a guerra nestas condições equivalia a jogar numa cartada a existência da República Soviética, que acabava de nascer. Apresentava-se à classe operária e aos camponeses a necessidade de aceitar as duras condições de paz e recuar ante o mais perigoso bandoleiro daquele momento, o imperialismo alemão, para obter uma trégua, robustecer o Poder Soviético e criar um novo Exército, o Exército Vermelho, capaz de defender o país contra os ataques de seus inimigos. Todos os contra-revolucionários, começando pelos mencheviques e os social-revolucionários e acabando pelos guardas brancos mais caracterizados, desencadearam uma furiosa campanha de agitação contra a assinatura da paz. Sua linha era clara: aspiravam romper as negociações de paz, provocar a ofensiva dos alemães e expor a um golpe o nascente Poder Soviético, pondo em perigo as conquistas dos operários e camponeses.
Nesta empresa tenebrosa, tinham como aliados Trotsky e seu escudeiro Bukarin; este, com Radek e Piatakov, acaudilhava o grupo antibolchevique que se disfarçava com o nome de grupo dos "comunistas de esquerda". Trotsky e o grupo dos "comunistas de esquerda" travaram no seio do Partido uma luta furiosa contra Lenin, exigindo a continuação da guerra. Estes indivíduos faziam claramente o jogo dos imperialistas alemães e dos contra-revolucionários dentro do país, uma vez que trabalhavam para expor a nascente República Soviética, desprovida ainda de Exército, aos golpes do imperialismo alemão. Era, verdadeiramente, uma política de provocadores, habilmente disfarçada com frases esquerdistas.
A 10 de fevereiro de 1918, se interromperam as negociações de paz de Brest-Litovsk. Embora Lenin e Stalin insistissem, em nome do C. C. do Partido bolchevique, para que se assinasse a paz, Trotsky, que era presidente da delegação soviética de paz enviada a Brest, traiu abertamente as instruções concretas do Partido bolchevique. Declarou que a República soviética se negava a assinar a paz nas condições propostas pela Alemanha, e, ao mesmo tempo, comunicou aos alemães que os Soviets não fariam a guerra e continuariam desmobilizando o seu Exército.
A coisa era monstruosa. Nem os próprios imperialistas alemães podiam pedir mais àquele traidor dos interesses do país soviético.
O governo alemão deu por terminado o armistício e passou à ofensiva. Os restos de nosso antigo Exército fizeram frente ao arranco das tropas alemãs e começaram a dispersar-se. Os alemães avançavam rapidamente, ocupando territórios imensos e ameaçando Petrogrado. O imperialismo alemão, irrompendo no país dos Soviets, tinha como objetivo derrubar o Poder Soviético e converter o país numa colônia sua. O antigo Exército czarista, que se desmoronava, não podia fazer frente às legiões armadas do imperialismo alemão e recuava ante os golpes do Exército inimigo.
Mas a intervenção armada dos imperialistas alemães provocou uma potente onda de ardor revolucionário dentro do país. A classe operária respondeu ao grito "A Pátria Socialista está em perigo!" lançando pelo Partido e o governo soviético, pondo em pé de guerra numerosas unidades do Exército Vermelho. Os jovens destacamentos do novo Exército do povo revolucionário, rechaçaram heroicamente a arremetida do bandoleiro imperialista alemão, armado até os dentes. Em Narva e em Pskov, os invasores alemães depararam com uma réplica enérgica. O seu avanço sobre Petrogrado foi contido. No dia em que as tropas do imperialismo alemão foram rechaçadas — 23 de fevereiro — nasceu o Exército Vermelho.
Já a 18 de fevereiro de 1918 o C. C. do Partido bolchevique aprovara a proposta de Lenin de enviar um telegrama ao governo alemão sobre a conclusão imediata da paz. Para arrancar condições mais favoráveis, os alemães prosseguiram a ofensiva e até 22 de fevereiro não se mostrou o governo alemão disposto a assinar a paz, exigindo, além do mais, condições muito mais duras que as primitivas.
Lenin, Stalin e Sverdlov tiveram de manter uma luta encarniçadíssima no seio do Comitê Central contra Trotsky, Bukarin e demais trotskistas, até conseguir que se tomasse a resolução de negociar a paz. Lenin assinalou que Bukarin e Trotsky
"ajudavam de fato aos imperialistas alemães e entravavam os avanços e o desenvolvimento da revolução na Alemanha" (Lenin, t. XXII, pág. 307, ed. russa).
A 23 de fevereiro, o C. C. resolveu aceitar as condições impostas pelo comando alemão e assinar o tratado de paz. A traição de Trotsky e Bukarin custou caro à República dos Soviets. Foram anexadas pela Alemanha a Letônia e a Estônia, além da Polônia, e a Ucrânia foi separada da República Soviética e convertida num Estado vassalo da Alemanha. Impôs-se, além disso, ao País Soviético a obrigação de pagar uma contribuição de guerra aos alemães.
Entretanto, os chamados "comunistas de esquerda" prosseguiram na luta contra Lenin, afundando-se cada vez mais no pântano da traição.
O Bureau regional do Partido de Moscou, do qual temporariamente conseguiram se apossar os "comunistas de esquerda" (Bukarin, Osinski, Iakovleva, Stukov, Mantzev), aprovou uma resolução divisionista de desconfiança no C. C. e declarou que considerava "quase inevitável a cisão do Partido em breve prazo". E se chegava até ao extremo de incluir nesta resolução uma declaração anti-soviética":
"No interesse da revolução internacional — diziam nela os "comunistas de esquerda" — consideramos conveniente aceitar a possibilidade da perda do Poder Soviético, que se está convertendo em um Poder puramente formal".
Lenin qualificou esta resolução de "esquisita e monstruosa".
Naquele momento, o Partido ainda não via claro a causa real desta conduta antibolchevique de Trotsky e dos "comunistas de esquerda". Mas o processo do bloco anti-soviético direitista—trotskista, levado a efeito recentemente (em começos de 1938), revelou que Bukarin e o grupo de "comunistas de esquerda", acaudilhado por ele, se achavam já naquele tempo, juntamente com Trotsky e os social-revolucionários de "esquerda", em relações secretas e conspirativas contra o governo dos Soviets. Comprovou-se que Bukarin, Trotsky e seus cúmplices na conjuração, tinham como objetivo romper o tratado de paz de Brest-Litovsk, prender V. I. Lenin, J. V. Stalin e I. M. Sverdlov, assassiná-los e formar um novo governo, composto de bukarinistas, trotskistas e social-revolucionários de "esquerda".
Ao mesmo tempo que organizava clandestinamente este "complot" contra-revolucionário, o grupo dos "comunistas de esquerda", apoiado por Trotsky, atacava abertamente o Partido bolchevique, esperando cindi-lo e decompor suas fileiras. Mas, naqueles momentos difíceis, o Partido formou um bloco em torno de Lenin, Stalin e Sverdlov e apoiou o Comitê Central, tanto no problema da paz como nos demais problemas apresentados.
O grupo dos "comunistas de esquerda" ficou isolado e derrotado.
Para tomar uma decisão definitiva sobre o problema da paz, convocou-se o VII Congresso do Partido bolchevique.
O VII Congresso do Partido abriu suas sessões a 6 de março de 1918. Era o primeiro Congresso que se convocava depois da tomada do Poder pelo Partido bolchevique. Assistiram a ele 46 delegados com direito à palavra e voto e 58, sem direito a votar. Estiveram representados neste Congresso 145 mil membros. Na realidade o Partido tinha já mais de 270 mil membros. Esta diferença se explica pelo caráter urgente do Congresso, o que impediu a muitas organizações enviar delegados, não tendo podido fazê-lo tampouco as do território ocupado pelos alemães.
Informando sobre a paz de Brest-Litovsk, Lenin disse neste Congresso:
"... a dura crise que o nosso Partido atravessa, em virtude da formação dentro dele de uma oposição de esquerda, é uma das maiores crises pelas quais passou a revolução russa" (Lenin, t. XXXII, pág 321, ed. russa).
A resolução apresentada por Lenin sobre a paz de Brest-Litovsk foi aprovada por 30 votos contra. 12 e 4 abstenções.
No dia seguinte à aprovação desta resolução, Lenin escrevia em seu artigo intitulado "Uma paz desgraçada!":
"Insuportavelmente duras são as condições de paz. Mas apesar de tudo, a história se imporá... Mãos à obra a trabalhar na organização, na organização e na organização! O futuro é nosso, sejam quais forem as provas por que passarmos" (Obra citada pág 288).
Na resolução aprovada pelo Congresso se advertia que seria inevitável que no futuro surgissem também ataques bélicos dos Estados imperialistas contra a República dos Soviets, razão pela qual o Congresso considerava dever fundamental do Partido tomar as medidas mais enérgicas e decisivas com o objetivo de aumentar a disciplina no seio do Partido e a dos operários e camponeses em geral, pôr as massas em condições de defender abnegadamente a pátria socialista, organizar o Exército Vermelho e instruir militarmente toda a população.
O Congresso, depois de ratificar a justeza da linha leninista no problema da paz de Brest-Litovsk, condenou a posição de Trotsky e de Bukarin e estigmatizou a tentativa dos "comunistas de esquerda", derrotados, de prosseguirem no mesmo Congresso seu trabalho divisionista.
A assinatura da paz de Brest-Litovsk deu ao Partido a possibilidade de ganhar tempo para consolidar o Poder Soviético e pôr em ordem a economia do país.
A assinatura da paz deu ao Partido a possibilidade de se aproveitar dos choques existentes dentro do campo imperialista (continuação da guerra da Áustria e da Alemanha com a Entente), de decompor as forças do adversário, organizar a Economia Soviética e criar o Exército Vermelho.
A paz de Brest-Litovsk permitiu ào proletariado manter do seu lado os camponeses e acumular forças para esmagar os generais brancos no período da guerra civil.
Durante o período da Revolução de Outubro, Lenin tinha ensinado ao Partido bolchevique como se deve avançar resolutamente e sem medo, quando se dão as condições necessárias para isso. Durante o período da paz de Brest-Litovsk, ensinou-lhe como se deve retroceder, ordenadamente, quando as forças do adversário superam com toda a certeza as próprias, com o fim de preparar com a maior energia a nova ofensiva contra o inimigo.
A história confirmou plenamente a justeza da linha leninista.
No VII Congresso se tomou a resolução de mudar o nome do Partido e de redigir um novo programa. O Partido passou a se chamar Partido Comunista da Rússia (bolchevique) — PCR (b). Lenin propôs este nome, por se ajustar exatamente ao objetivo que o Partido bolchevique se propõe, que é a realização do comunismo.
Para a redação do novo programa do Partido foi escolhida uma Comissão especial da qual faziam parte Lenin, Stalin e outros, tomando-se como base o projeto apresentado por Lenin.
Como se vê, o VII Congresso realizou uma obra histórica formidável: derrotou os inimigos emboscados dentro do Partido, os "comunistas de esquerda" e os trotskistas, conseguiu tirar o país da guerra imperialista, conseguiu a paz, e com ela uma trégua que permitiu ao Partido ganhar tempo para organizar o Exército Vermelho, e impôs ao Partido a missão de implantar uma ordem socialista na Economia nacional.
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Inclusão | 28/12/2010 |