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Fonte: As Divergências no Movimento Comunista Mundial, Editorial Vitória, 1963.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
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Ao Comitê Central do Partido Comunista da China
Queridos camaradas:
O Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética vê, com satisfação, que as medidas por ele propostas no sentido de fortalecer a unidade e a coesão das fileiras do movimento comunista foram bem acolhidas pelo CC do PCC. Saudamos o fato de que os camaradas concordam em celebrar um encontro de representantes do PCUS e do PCC. Esse encontro está destinado a desempenhar um importante papel na criação de uma atmosfera favorável nas relações entre os partidos irmãos e resolver as divergências surgidas ultimamente no movimento comunista internacional. Desejaríamos confiar em que, como resultado desse encontro, se consiga levar a cabo uma série de medidas construtivas para superar as dificuldades existentes.
Em sua carta, o CC do PCC convida o camarada Nikita Kruschiov a que, de passagem para o Camboja, visite Pequim. O CC do PCUS e o camarada Nikita Kruschiov agradecem a este convite. O camarada Nikita Kruschiov teria o maior prazer em visitar a República Popular da China e em entrevistar-se com os dirigentes do PCC a fim de trocar opiniões acerca dos problemas candentes da situação internacional e do movimento comunista, tendo em vista chegar a um entendimento comum sobre nossas tarefas e a ação para o fortalecimento da coesão entre os nossos Partidos. Não obstante, a viagem do camarada Kruschiov ao Camboja, viagem à qual os camaradas se referem em sua carta, não está planejada. Como se sabe, nossos organismos dirigentes resolveram, em 12 de fevereiro deste ano, que fosse ao Camboja o camarada Leonid Brejnev, presidente do Presidium do Soviete Supremo da URSS, resolução que já foi transmitida ao governo cambojano e publicada na imprensa. O camarada Nikita Kruschiov, que já visitou a República Popular da China três vezes, conserva a esperança de aproveitar, no futuro, o amável convite de visitar novamente a China e entrevistar-se com os camaradas chineses.
Lembramos que durante a visita do camarada Mao Tsé-tung a Moscou, em 1957, afirmou ele que havia estado apenas duas vezes na URSS e visitado unicamente Moscou e Leningrado. Manifestou então o desejo de tornar a visitar a União Soviética para assim conhecer melhor nosso país. Disse que desejava ir desde as fronteiras do Extremo Oriente de nosso país até as fronteiras ocidentais e desde as setentrionais até as meridionais. Saudamos então esse desejo do camarada Mao Tsé-tung.
A 12 de maio de 1960, o Comitê Central do PCUS enviou uma carta ao camarada Mao Tsé-tung convidando-o a descansar na URSS e a sentir de perto a vida do povo soviético. Lamentamos não tenha podido o camarada Mao Tsé-tung aceitar nessa ocasião o nosso convite. O CC do PCUS saudaria a visita do camarada Mao Tsé-tung. A melhor época para essa visita seria a primavera ou o verão próximos, melhor época do ano em nosso país. Estamos preparados para receber dignamente o camarada Mao Tsé-tung, como representante de um partido irmão e do povo irmão da China, nessa ou em qualquer outra época do ano. Como é natural, em sua viagem por nosso país, o camarada Mao Tsé-tung seria acompanhado por camaradas da direção de nosso Partido, o que daria uma boa oportunidade para a troca de opiniões sobre os diferentes problemas. O camarada Mao Tsé-tung veria como trabalha o povo soviético, os progressos que ele fez na construção do comunismo e na aplicação do Programa de nosso Partido.
Se o camarada Mao Tsé-tung não puder, no presente momento, vir a Moscou, estamos, nesse caso, dispostos a receber suas ponderações sobre um encontro em alto nível dos representantes do PCUS e do PCC na capital soviética. Pensamos, que tal encontro poderia realizar-se, aproximadamente, em 15 de maio deste ano, se esta data for aceita pelos camaradas.
Alegra-nos muito que os camaradas chineses, da mesma forma que nós, considerem a próxima entrevista dos representantes do PCC e do PCUS como um
"dos passos necessários para preparar a convocação de uma Conferência dos representantes dos partidos comunistas e operários de todos os países".
Efetivamente, tal encontro, sem violar o princípio de igualdade e sem menosprezar os interesses de outros partidos irmãos, deve contribuir para uma melhor preparação e celebração da Conferência. Sem a citada entrevista, da mesma forma que sem a cessação da polêmica aberta na imprensa e da crítica que se faz dentro de cada partido aos outros partidos irmãos, seria difícil preparar a Conferência e atingir seu objetivo principal: o fortalecimento da unidade do movimento comunista internacional. Precisamente por isso, o CC do PCUS, ao ficar de acordo com as propostas feitas nos começos do ano de 1962 pelos camaradas vietnamitas, indonésios, ingleses, suecos e outros sobre a convocação de uma Conferência dos partidos irmãos de todos os países, assinalou, ao mesmo tempo, a necessidade de aplicar medidas que criassem um ambiente favorável para os trabalhos do fórum comunista mundial.
Já em sua carta de 22 de fevereiro do ano de 1962, o CC do PCUS exortava a
"cessar as discussões desnecessárias sobre os problemas em torno dos quais temos divergências e a deixar de fazer declarações públicas que não contribuam para suavizar, mas que servem apenas para aprofundar nossas divergências".
Na carta dirigida ao CC do PCC, em 31 de maio de 1962, escrevíamos:
"Como sabem os camaradas, nosso Partido esteve e estará sempre a favor da discussão coletiva dos problemas primordiais do movimento comunista mundial. Partiu do CC do PCUS a iniciativa das Conferências dos partidos irmãos dos anos de 1957 e 1960. Em ambas as ocasiões, estas Conferências estiveram vinculadas a sérias mudanças da situação internacional e à conveniência de elaborar a tática correspondente do movimento comunista. Apoiamos também plenamente, nessa ocasião, a proposta de convocar uma Conferência de todos os partidos irmãos".
Julgamos proveitoso que durante a preparação da Conferência dos partidos irmãos possam ser analisados, profunda e multilateralmente, os fenômenos novos ocorridos na vida internacional e a atividade dos partidos para aplicar as resoluções coletivas de nosso movimento. O CC do PCUS revelava então a preocupação, compreensível para todos os comunistas, de que a Conferência não aguçasse as divergências surgidas, mas que ajudasse a resolvê-las ao máximo possível. Nas intervenções de numerosos dirigentes dos partidos irmãos manifestaram-se justamente, durante os últimos tempos, critérios análogos acerca da necessidade de dar uma série de passos antes da Conferência, em resultado dos quais se criaria uma situação normal no movimento comunista e a luta de opiniões reduzir-se-ia ao limite permissível de uma discussão entre companheiros de partido. Agora, segundo se deduz de sua carta, os camaradas também estão de acordo com isso e pode considerar-se que foi conseguido certo avanço na preparação da próxima Conferência.
Compreende-se que, quando nossos dois partidos examinam questões que afetam a todos os partidos irmãos, tal exame tenha apenas um caráter preliminar. As Conferências de 1957 e 1960 demonstraram que a elaboração da linha do movimento comunista internacional só pode ser realizada com acerto se nisso participam, coletivamente, todos os partidos irmãos e se se leva em conta, na escala devida, a experiência multifacética de todos os seus destacamentos.
Estudamos com atenção as considerações feitas pelos camaradas quanto ao grupo de problemas que poderia ser objeto de exame na entrevista dos representantes do PCUS e do PCC. São questões importantes e estamos dispostos a examiná-las. Desejaríamos, também, de nossa parte, deter-nos em algumas questões de princípio, que, em nossa opinião, estão no centro da atenção dos partidos irmãos e de sua luta por nossa causa comum. Não se trata, certamente, de uma exposição completa de nossos pontos de vista sobre tais questões. Procuramos indicar unicamente o que tem importância de princípio, o que nos guia na política que seguimos na arena mundial e nas relações recíprocas com os partidos irmãos. Esperamos que a exposição de nossos pontos de vista ajudará a precisar o grupo de questões que exige um intercâmbio de opiniões na entrevista bilateral e contribuirá para resolver as divergências existentes. Fazemos isso para reiterar, mais uma vez, nossa firme e conseqüente decisão de defender a plataforma ideológica de todo o movimento comunista mundial e a sua linha geral, expressas nas Declarações de 1957 e 1960.
Durante o tempo transcorrido desde a aprovação das Declarações, a vida, longe de negar qualquer uma de suas teses fundamentais, ao contrário, confirmou integralmente a justeza da linha que segue o movimento comunista mundial, estruturada sobre a base da generalização da experiência contemporânea e do desenvolvimento criador do marxismo-leninismo.
O PCUS parte do fato de que nossa época, cujo conteúdo fundamental é a passagem do capitalismo ao socialismo iniciado pela Grande Revolução Socialista de Outubro, é uma época de luta de dois sistemas sociais opostos, a época das revoluções socialistas e das revoluções de libertação nacional, a época do desmoronamento do imperialismo, da liquidação do sistema colonial, a época da passagem de mais e mais povos à vida socialista, do triunfo do socialismo e do comunismo em escala mundial.
A situação criada no mundo e as mudanças ocorridas na correlação de forças de classes na arena internacional, mudanças que oferecem novas possibilidades ao nosso movimento, exigiam a elaboração de uma linha geral do movimento comunista mundial ajustada às suas tarefas primordiais na etapa atual.
Depois da Segunda Guerra Mundial vários países da Europa empreenderam o caminho do socialismo, a revolução socialista triunfou na China e em outros países da Ásia e se formou o sistema socialista mundial. Nas democracias populares consolidou-se o novo regime, que foi capaz de assegurar um alto ritmo de desenvolvimento econômico, político e cultural nesses países através do caminho socialista. A comunidade socialista aglutinou-se estreitamente nos terrenos político e militar. Graças aos avanços da União Soviética e dos demais países irmãos, a correlação de forças mudou sensivelmente no mundo a favor do socialismo e em prejuízo do imperialismo. Desempenharam um importante papel nesse sentido a liquidação do monopólio norte-americano da arma atômica e de hidrogênio e a criação, pela União Soviética, de um grande potencial bélico.
A formação do sistema socialista mundial é uma conquista de alcance histórico da classe operária internacional e de todos os trabalhadores, conquista que materializa os sonhos da humanidade com uma nova sociedade. O aumento da produção, os enormes progressos da ciência e da técnica nos países do socialismo permitiram criar uma tal potência econômica e defensiva da comunidade socialista, que não só salvaguarda solidamente as conquistas do socialismo, como também é um poderoso baluarte da paz e da segurança de todos os povos do mundo.
Esta modificação radical na correlação de forças determinou também o agravamento ulterior da crise geral do capitalismo e de todas as suas contradições. Terminada a Segunda Guerra Mundial, a distribuição de forças do campo imperialista mudou. Os centros econômico, político e militar do imperialismo passaram da Europa para os Estados Unidos da América. A burguesia monopolista dos Estados Unidos passou a ser o principal baluarte da reação internacional. Avocou a si o papel de salvadora do capitalismo. O imperialismo norte-americano desempenha hoje as funções de gendarme internacional. O imperialismo norte-americano, apoiado na política de blocos militares, procura colocar sob seu domínio outros estados capitalistas. Isso faz com que a França, o Japão, a Alemanha ocidental se oponham aos Estados Unidos da América. O restabelecimento da economia dos países capitalistas que sofreram os efeitos da guerra mundial, e se desenvolveram num ritmo mais rápido que o dos EUA, aumenta o desejo de muitos países europeus de subtrair-se ao diktat norte-americano. Tudo isso faz com que se tornem mais profundos os motivos existentes — e apareçam novos — de concorrência imperialista e conflitos, que debilitam o sistema capitalista em seu conjunto.
A essência antipopular e rapace do imperialismo não mudou, mas, com a criação do sistema socialista mundial, com o crescimento de seu potencial econômico e militar, diminuíram, visivelmente, as possibilidades de o imperialismo influir na marcha do processo histórico, ao mesmo tempo que mudam as formas e métodos de sua luta contra os países socialistas, contra o movimento de libertação nacional e revolucionário mundial. Os imperialistas, apavorados pela ascensão impetuosa das forças do socialismo e do movimento de libertação nacional, agrupam suas forças, realizam esforços desesperados para prosseguir a luta em favor de seus objetivos de exploração, tentando, em toda parte, minar as posições dos países socialistas e do movimento de libertação nacional, debilitar sua influência.
De todos os modos, é evidente que o conteúdo e a orientação principal do desenvolvimento histórico da sociedade humana na época atual já não são determinamos pelo imperialismo, mas pelo sistema socialista mundial, por todas as forças progressistas que lutam contra o imperialismo e pela reestruturação socialista da sociedade. A contradição entre o capitalismo e o socialismo é a contradição principal de nossa época. Do desenlace da luta entre os dois sistemas mundiais depende, em grande medida, a sorte da paz, da democracia e do socialismo. No meio de tudo isso vemos a correlação de forças em escala mundial mudar cada vez mais a favor do socialismo.
A luta dos povos da África, Ásia e América Latina por sua libertação nacional e social e os êxitos nela alcançados, a luta crescente da classe operária e de todos os trabalhadores dos países capitalistas contra os monopólios, contra a exploração e a favor do progresso social têm importância capital para o destino do desenvolvimento histórico da humanidade. As revoluções socialistas, as revoluções de libertação nacional antiimperialistas, as revoluções anticoloniais, as revoluções democrático-populares, os amplos movimentos camponeses, a luta das massas populares pela derrubada dos regimes fascistas e tirânicos e os movimentos democráticos contra a opressão nacional se fundem em nossa época em uma torrente revolucionária única que corrói e destrói o capitalismo.
Ao determinar sua linha, aplicável às novas condições, o movimento comunista mundial teve que levar em consideração, com a máxima seriedade, um fator tão importante quanto o da mudança qualitativa radical dos meios técnicos bélicos de fazer a guerra, relacionada com a descoberta e a acumulação das armas termonucleares, de força destruidora até aqui desconhecida. Enquanto não se realize o desarmamento, a comunidade socialista deve ter sempre superioridade sobre os imperialistas em' suas forças armadas. Obrigaremos os imperialistas a ter sempre presente que, se desencadearem a guerra a fim de resolver pela força das armas o caminho a ser seguido pela humanidade — o caminho do capitalismo ou do socialismo —, esta será a última guerra, guerra em que o imperialismo será definitivamente derrotado.
O dever de todos os combatentes pela paz e o socialismo consiste, nas atuais circunstâncias, em aproveitar ao máximo as possibilidades favoráveis que existem para o triunfo do socialismo e não permitir que o imperialismo desencadeie a guerra mundial.
A análise correta da distribuição de forças de classe na arena mundial e o correto caminho marxista-leninista elaborado nas Conferências de Moscou permitiram aos partidos irmãos conseguir sérios êxitos no desenvolvimento do sistema socialista mundial e ajudaram a levar avante a luta revolucionária de classe nos países capitalistas, assim como o movimento de libertação nacional.
O sistema socialista exerce uma influência crescente sobre a marcha do desenvolvimento mundial. Todo o processo revolucionário mundial transcorre atualmente sob a influência direta da grande força do exemplo da nova vida nos países socialistas. As idéias do comunismo penetram nos corações e na consciência das grandes massas populares com tanto maior êxito, quanto maiores e importantes são nossos avanços na edificação do socialismo e do comunismo. Por isso, é compreensível que todo aquele que deseje aproximar a hora do triunfo do socialismo em todo o mundo, deve preocupar-se, antes de tudo, com o fortalecimento da grande comunidade socialista, com o seu poderio econômico, com a elevação do nível de vida de seus povos, com o fomento de sua ciência, técnica e cultura, com a manutenção de sua unidade e coesão e com a elevação de seu prestígio internacional. A Declaração da Conferência de Moscou de 1960 responsabiliza os partidos marxista-leninistas e os povos dos países socialistas ante o movimento operário internacional pelo êxito na edificação do socialismo e do comunismo.
Ao fortalecer incansavelmente o sistema socialista mundial, os partidos irmãos e os povos de nossos países dão sua contribuição à grande causa da luta da classe operária internacional, de todos os trabalhadores e de todo o movimento de libertação a fim de solucionar os problemas primordiais da atualidade em benefício da paz, da democracia e do socialismo.
A atual correlação de forças na arena internacional permite que os países socialistas, juntamente com todas as forças amantes da paz, coloquem, pela primeira vez na história, como tarefa absolutamente real, conjurar uma nova guerra mundial e garantir a paz e a segurança dos povos.
Os anos passados desde a aprovação da Declaração de 1960 confirmam inteiramente sua justeza. O fato de as forças agressivas não haverem conseguido empurrar a humanidade no abismo da guerra termonuclear devastadora é um importante resultado do fortalecimento do poderio dos países socialistas, da invariável aplicação, por eles, de uma política exterior pacífica, que consegue cada vez maior compreensão e apoio entre centenas de milhões de pessoas e predomina sobre a política de agressão e de guerra.
Nenhum marxista duvida que o imperialismo, que perde posição após posição, aspira a manter por todos os meios seu domínio sobre os povos e a recobrar as posições perdidas. Tem lugar, atualmente, a maior conspiração imperialista contra os países socialistas e o movimento mundial de libertação jamais registrada na história. Sabe-se que não existe qualquer garantia de que os imperialistas não tentarão desencadear uma nova guerra. Os comunistas devem ver claramente tal ameaça.
Mas a situação do agressor, nas circunstâncias atuais, diferencia-se radicalmente daquela em que se encontrava antes da Segunda Guerra Mundial e, mais ainda, da Primeira. Antes, as guerras terminavam correntemente com a vitória de uns países capitalistas sobre outros. Mas os vencidos continuavam vivendo e, dentro de algum tempo, recuperavam suas forças e ficavam mesmo em condições de voltar a lançar uma agressão, como o demonstra, em particular, o exemplo da Alemanha. A guerra termonuclear não oferece essa perspectiva a nenhum agressor, e os imperialistas não têm outro remédio senão tomar isso em consideração. O medo ao contragolpe — o temor ao castigo — refreia sua tendência a desencadear uma guerra mundial. A comunidade socialista fortaleceu-se tanto que o imperialismo já não pode, como antes, impor aos povos suas condições e ditar-lhes sua vontade. Isto é uma conquista histórica da classe operária internacional e de todos os povos.
Em virtude de sua essência rapace, o imperialismo não pode livrar-se de seu desejo de resolver as contradições na arena internacional através da guerra. Porém, por outro lado, não pode desencadear uma guerra termonuclear mundial sem levar em conta que se expõe ao perigo de desaparecer.
A guerra mundial, com a qual o imperialismo ameaça a humanidade, não é fatalmente inevitável. A crescente superioridade das forças do socialismo sobre as forças do imperialismo, das forças da paz sobre as forças da guerra, faz com que, mesmo antes da vitória total do socialismo na Terra, ainda se conservando o capitalismo numa parte do mundo, seja realmente possível excluir a guerra mundial da vida da sociedade.
Não há dúvida de que, para conjurar essa guerra, é indispensável continuar fortalecendo ao máximo o sistema socialista, unindo ao máximo todas as forças da classe operária internacional e do movimento de libertação nacional, todas as forças democráticas. Todos os que estão ligados aos interesses do socialismo e da paz devem fazer o que é preciso para frustrar os objetivos criminosos da reação mundial, não lhe permitindo desencadear uma guerra termonuclear que arrastaria com ela, para a sepultura, centenas de milhões de seres humanos. O cálculo sereno dos efeitos irremediáveis que teria uma guerra termonuclear para toda a humanidade e para a causa do socialismo coloca imperiosamente, ante os marxistas-leninistas, a tarefa de fazer tudo o que está ao alcance de nossas forças para evitar um novo conflito mundial.
O CC do PCUS orienta-se firmemente pelo que diz a Declaração de 1960, isto é, que
"estando o mundo, como está, dividido em dois sistemas, o único princípio justo e racional das relações internacionais, é o da coexistência pacífica dos estados com diferentes regimes sociais, estabelecido por V. I. Lênin e desenvolvido na Declaração de Moscou e no Manifesto da Paz de 1957, assim como nas resoluções dos XX e XXI Congressos do PCUS e nos documentos de outros partidos comunistas e operários".
Nosso Partido, educado pelo grande Lênin no espírito da luta irreconciliável contra o imperialismo, tem presente a advertência leninista de que o capitalismo, embora moribundo, encontra-se ainda em condições de causar inumeráveis desgraças à humanidade. A União Soviética desenvolve sua economia ao máximo e, sobre esta base, aperfeiçoa sua defesa, aumenta seu potencial bélico e mantém suas forças armadas sempre prontas para a ação. Porém, jamais utilizamos ou utilizaremos o crescente poderio de nosso pais para ameaçar a quem quer que seja ou para insuflar os ânimos bélicos; usamo-lo, sim, para reforçar a paz, conjurar uma nova guerra mundial e defender nosso país e os demais países socialistas. A política de coexistência pacífica corresponde aos interesses vitais de todos os povos, ajuda a assegurar as posições do socialismo e a incrementar a influência internacional dos países socialistas, a elevar a influência e a autoridade dos comunistas.
A coexistência pacífica não significa a transigência entre a ideologia socialista e a ideologia burguesa. Colocar-se nesse caminho significaria renunciar ao marxismo-leninismo, frear a causa da construção socialista. A ideologia burguesa é uma espécie de cavalo de Tróia que o imperialismo procura introduzir nas fileiras do movimento comunista e operário. A coexistência pacífica entre estados com regimes sociais diferentes pressupõe a luta infatigável, ideológica, política e econômica, entre os dois sistemas sociais; a luta de classe dos trabalhadores nos países do sistema capitalista, inclusive a luta armada, quando os povos a considerem necessária; o incremento incessante do movimento de libertação nacional dos povos dos países coloniais e dependentes.
Os fatos demonstram que a luta pela conjuração da guerra mundial não paralisa as forças do movimento comunista mundial e do movimento de libertação nacional, mas, ao contrário, aglutina em torno dos comunistas as mais amplas massas do povo. Precisamente na situação de coexistência pacífica de estados com diferentes regimes sociais teve lugar a revolução socialista em Cuba, o povo argelino conseguiu a independência nacional, mais de quarenta países conquistaram sua independência nacional, fortaleceram-se e cresceram os partidos irmãos, cresceu a influência do movimento comunista mundial.
Aproveitando a situação de coexistência pacífica, os países socialistas conseguem novos êxitos na emulação econômica com o capitalismo. Nossos adversários compreendem que, para eles, é muito difícil contar com o triunfo nessa emulação. Eles não estão em condições de opor-se ao rápido ritmo da ascensão econômica dos países do socialismo e são impotentes ante a força de atração do exemplo dos países socialistas entre os povos que se encontram sob o jugo do capitalismo.
Paralelamente ao crescimento da economia da comunidade socialista irão surgindo, de maneira mais brilhante, as vantagens do socialismo e a possibilidade de os trabalhadores desfrutarem nele de maiores bens materiais e espirituais em comparação com o capitalismo. A elevação do nível de vida dos povos dos países socialistas é uma grande força de atração para a classe operária de todos os países capitalistas. Os êxitos da comunidade socialista serão uma espécie de catalisador e um fator revolucionário para o desencadeamento da luta de classes nos países capitalistas e a vitória da classe operária sobre o capitalismo.
Os povos que marcham pelo caminho do socialismo herdaram do passado uma economia e uma cultura que se encontram em diferentes níveis. Mas, independentemente disso — e os exemplos da União Soviética e dos países de democracia popular podem servir para ilustrá-lo —, o socialismo desperta para a vida poderosa forças produtivas. A União Soviética já superou os países capitalistas mais desenvolvidos da Europa no progresso econômico, já ocupa, nesse sentido, o segundo lugar no mundo e, num futuro não muito distante, ocupará o primeiro. Os demais países do socialismo conseguiram também êxitos notáveis. O regime socialista é um regime tão progressista que permite aos povos liquidarem em ritmo rápido o atraso, alcançarem os países mais adiantados e lutarem, juntamente com eles, nas mesmas fileiras pela edificação do comunismo.
Tudo isso anima os povos e lhes dá confiança em que podem marchar pelo caminho do socialismo e conseguir êxitos nesse caminho, independentemente do nível de desenvolvimento histórico em que se encontram atualmente. A marcha dos povos para a nova vida é facilitada pelo fato de que podem escolher o que de melhor existe na experiência mundial na edificação do socialismo, tomando em consideração o que há de positivo e o que há de negativo nessa experiência.
Quanto mais rápida se desenvolvem as forças produtivas dos países socialistas, quanto mais se eleve o seu potencial econômico, tanto mais forte será a influência da comunidade socialista no ritmo e na orientação de todo o desenvolvimento histórico, em benefício da paz e do triunfo total do socialismo. Nosso Partido parte de que na época atual existem condições internacionais e internas para a passagem de novos países ao socialismo. Isto é justo tanto no que diz respeito aos países capitalistas desenvolvidos, como em relação aos países que conquistaram recentemente a independência nacional. O processo revolucionário mundial se desenvolve com maior amplitude abarcando a todos os continentes. A luta da classe operária nos países capitalistas desenvolvidos e o movimento de libertação nacional estão estreitamente vinculados e se ajudam mutuamente. A marcha do progresso social levou a que a luta revolucionária, independentemente do país onde transcorra, tenha o seu gume voltado contra o principal inimigo comum, o imperialismo e a burguesia monopolista. Os partidos marxista-leninistas de todo o mundo têm ante si o objetivo comum de mobilizar todas as forças na luta pela conquista do poder pelos operários e camponeses trabalhadores e pela edificação do socialismo e do comunismo. Ao traçar a linha tática de sua luta, cada partido comunista deve considerar a experiência de todo o movimento comunista mundial e dar atenção àqueles interesses, fins e tarefas estabelecidos em conjunto por nosso movimento, assim como a linha geral do mesmo num dado período.
Mas, ao mesmo tempo, a elaboração das formas e métodos de luta pelo socialismo é assunto interno da classe operária de cada país e de sua vanguarda comunista. Nenhum partido irmão, independentemente de seus efetivos, experiência e prestígio, pode determinar a tática, as formas e os métodos da luta revolucionária em outros países. A revolução é obra das mais amplas massas populares. A análise exata da situação concreta e a apreciação correta da correlação de forças são uma das condições primordiais da revolução. Não é possível conter o ímpeto revolucionário das massas na luta pelo triunfo da revolução socialista quando já amadureceram para isso as condições objetivas e subjetivas. Isso significaria a morte. Mas tampouco é possível acelerar artificialmente a revolução se ainda não amadureceram as condições para isso. Um levante prematuro, e assim o ensina a experiência da luta revolucionária de classes, está condenado ao fracasso. Os comunistas chamam os trabalhadores para marchar sob a bandeira vermelha a fim de triunfar na luta por uma vida melhor na Terra, e não para morrer, ainda que seja heroicamente. O heroísmo e o espírito de sacrifício, indispensáveis no combate revolucionário, não são necessários a não ser em benefício do triunfo das grandes idéias do socialismo.
O PCUS sempre saudou e continuará saudando a classe operária revolucionária e os trabalhadores de qualquer país, que, encabeçados por sua vanguarda comunista, aproveitem habilmente a situação revolucionária para assestar um golpe demolidor no inimigo de classe e instaurar um novo regime social.
A tática e a política dos partidos comunistas dos países capitalistas têm traços comuns especiais, relacionados com a atual etapa da crise geral do capitalismo e com a correlação de forças existente na arena mundial. Como resultado do desenvolvimento do capitalismo monopolista de estado, não apenas se agravaram as contradições da sociedade capitalista, aparecidas anteriormente, como se engendraram outras novas. O capitalismo monopolista de estado levou a um maior estreitamento da base social do imperialismo no interior do país, e determinou a concentração do poder em mãos de um pequeno grupo de monopolistas influentes. Isto engendra em outro pólo uma corrente antimonopolista única, que inclui a classe operária, o campesinato, a pequena burguesia, a intelectualidade trabalhadora e algumas outras camadas da sociedade capitalista, interessadas em livrar-se da onipotência dos monopólios e da exploração, interessadas na passagem ao socialismo.
Cresce sensivelmente, em nossa época, a importância dos movimentos democráticos: a luta pela paz geral, para conjurar a catástrofe mundial termonuclear, pela manutenção da soberania nacional, pela defesa da democracia contra os ataques do fascismo, pelas reformas agrárias, pelo movimento humanista em defesa da cultura e outros.
Nosso Partido se mantém integralmente nas posições leninistas, atém-se às posições da Declaração de 1960, segundo as quais a revolução socialista não está inevitavelmente ligada à guerra. Se é verdade, que as guerras mundiais levam no seu bojo revoluções triunfantes, também o é que as revoluções podem realizar-se sem guerras.
Se os comunistas vinculassem o triunfo da revolução à guerra mundial, isto além de não despertar simpatia para o socialismo afastaria, deles, as massas. Com os atuais meios de fazer a guerra e as tremendas conseqüências destruidoras, aquela vinculação favoreceria apenas a nossos inimigos.
A classe operária e sua vanguarda — os partidos marxista-leninistas — aspiram a realizar a revolução socialista por via pacífica, sem guerras civis. A realização desta possibilidade corresponderia aos interesses da classe operária e de todo o povo, aos interesses nacionais do país. Paralelamente a isso, deve-se assinalar que a escolha do caminho de desenvolvimento da revolução não depende apenas da classe operária. Se as classes exploradoras recorrerem à violência contra o povo, a classe operária ver-se-á obrigada a optar pelo caminho não-pacífico para a tomada do poder. Tudo dependerá das condições concretas, da disposição das forças das classes no interior do país e em âmbito internacional.
Compreende-se que, independentemente da forma em que se realize a passagem do capitalismo ao socialismo, tal passagem só será possível mediante a revolução socialista e a ditadura do proletariado em suas diferentes formas. Avaliando a luta abnegada do proletariado, encabeçada pelos comunistas, nos países do capital, o PCUS considera seu dever dar à mesma toda a ajuda e apoio possíveis.
Nosso Partido considera o movimento de libertação nacional coma parte do processo revolucionário mundial e como poderosa força que destrói a frente do imperialismo. Os povos das antigas colônias erguem-se agora em toda a sua estatura para a criação histórica independente e buscam os caminhos da ascensão de sua cultura e economia nacionais. O incremento das forças socialistas contribuiu ativamente para a libertação dos povos oprimidos, para a conquista por esses povos da independência econômica, para o desenvolvimento ulterior e a expansão do movimento de libertação nacional e para a sua luta contra todas as formas de colonialismo, novo e velho.
O movimento de libertação nacional entrou na fase final da liquidação dos regimes coloniais. Já não está longe a hora em que todos os povos que ainda se encontram sob a opressão dos colonizadores conquistarão sua liberdade e independência. Os povos que se libertam têm de encarar de frente o problema do fortalecimento da independência política, da liquidação do atraso econômico e cultural e da liquidação de todas as formas de dependência ao imperialismo.
As tarefas prementes do renascimento nacional nos países que sacudiram o jugo colonial podem ser cumpridas com êxito somente através da luta resoluta contra o imperialismo e os restos do feudalismo e mediante a reunião numa frente única nacional de todas as forças patrióticas da nação: a classe operária, o campesinato, a burguesia nacional e a intelectualidade democrática. Os povos que lutam por sua libertação nacional, e os que já conquistaram a independência política, deixaram ou estão deixando de ser reservas do imperialismo, e, com o apoio dos estados socialistas e de todas as forças progressistas, infligem, freqüentemente, derrotas às potências e coligações imperialistas.
Os jovens estados nacionais se desenvolvem sob a emulação dos dois sistemas sociais mundiais. Esta circunstância exerce enorme influência no desenvolvimento econômico e político dos mesmos e na escolha dos caminhos pelos quais marcharão no futuro. Os estados que conquistaram recentemente sua liberdade nacional não fazem parte nem do sistema de estados socialistas, nem do sistema de estados capitalistas, mas a imensa maioria deles ainda não escapou à órbita da economia capitalista mundial, embora ocupe aí um lugar especial. Trata-se de uma parte do mundo que ainda é explorada pelos monopólios capitalistas.
Agora, que a independência política foi conseguida, passa a primeiro plano a luta dos jovens estados nacionais contra o imperialismo, pelo definitivo renascimento nacional e pela independência econômica. A conquista da independência plena pelos países subdesenvolvidos significará um novo e sensível debilitamento do imperialismo, pois em tal caso seria destruído inevitavelmente todo o sistema atual de espoliação e desigualdade na divisão internacional do trabalho: seria solapado o fundamento da exploração econômica da "aldeia mundial" pelos monopólios capitalistas. O desenvolvimento nacional independente dos países subdesenvolvidos, que se apóia na ajuda eficiente do sistema socialista, dará um novo e sensível golpe no imperialismo.
Na luta pela conquista e manutenção da independência é necessário unir por todos os meios as diferentes forças da nação dispostas a lutar contra o imperialismo. A ala direita da burguesia nacional, que aspira a manter sua situação dominante depois da conquista da independência, durante algum tempo procura instaurar regimes políticos reacionários e desencadear perseguições contra os comunistas e outros democratas. No entanto, tais regimes são de pouca duração porque se constituem em obstáculo ao progresso e à solução das tarefas nacionais prementes, antes de tudo, à consecução da independência econômica e ao desenvolvimento das forças produtivas. Esta é a razão por que, não obstante o apoio ativo por parte dos imperialistas, tais regimes serão varridos pela luta das massas populares.
O PCUS julga a união fraternal com os povos que se livraram da opressão colonial e com os povos semicoloniais uma das pedras angulares de sua política internacional. Nosso Partido considera um dever internacionalista a ajuda a todos os povos que marcham pelo caminho da conquista e do fortalecimento da independência nacional, a todos os povos que lutam pela liquidação total do sistema colonial. A União Soviética apoiou e apóia as guerras sagradas dos povos por sua liberdade, dando toda classe de ajuda moral, econômica, militar e política ao movimento de libertação nacional.
O povo soviético prestou uma grande ajuda ao povo argelino quando este lutava contra os colonialistas franceses. Fomos os primeiros a estender a mão em ajuda ao povo do Iêmen quando este se levantou contra a escravidão de seu país. Demos uma ajuda multilateral ao povo indonésio em sua luta pela libertação do Irã ocidental e contra os imperialistas holandeses, que se apoiavam nos imperialistas dos EUA. Saudamos a luta do povo indonésio pelo Kalimantã setentrional.
Os velhos e novos colonialistas tecem redes de intrigas e complôs contra o movimento libertador dos povos do Sudeste da Ásia. Nossas simpatias e ajuda são, invariavelmente, para o lado dos que lutam por sua liberdade e independência nacionais. Estamos profundamente convencidos de que os povos do Vietnã do Sul e da Coréia do Sul, apesar de todos os esforços dos imperialistas norte-americanos e de seus títeres, conseguirão o triunfo na luta e lograrão a integração de seus territórios pátrios.
Ao declarar-se contra a exportação da revolução, nosso Partido fez e continua fazendo tudo o que é possível para cortar o caminho à exportação da contra-revolução. Estamos firmemente convencidos de que a concatenação das três grandes forças revolucionárias da atualidade — os povos que edificam o socialismo e o comunismo, o movimento operário internacional revolucionário e o movimento de libertação nacional — constitui o fundamento da luta dos povos contra o imperialismo e a garantia do seu triunfo.
Toda a marcha do desenvolvimento mundial nos últimos anos confirmou integralmente a justeza da linha do movimento comunista, que deu magníficos resultados na prática. Graças à realização dessa linha, as forças que lutam contra o imperialismo, pela paz, pela independência nacional e pelo socialismo conseguiram novos êxitos. O PCUS julga seu dever levar tal linha à prática de maneira firme e conseqüente.
Estamos profundamente convencidos de que não existe qualquer fundamento para rever essa linha.
Paralelamente a isso, o CC do PCUS considera que seria proveitoso, no curso dos preparativos para a Conferência, e também na própria Conferência de Representantes de Partidos Comunistas e Operários, trocar opiniões sobre o novo com que a vida enriqueceu, durante os últimos anos, a linha do movimento comunista internacional, estabelecida nas duas Declarações.
Em sua carta, queridos camaradas, assinala-se com justeza que a garantia de todos os nossos êxitos é o fortalecimento da unidade das fileiras do movimento comunista e da coesão dos países socialistas. Nos últimos tempos, o PCUS, reiteradas vezes, expôs em seus congressos e nos encontros comunistas internacionais a maneira como compreende ele os princípios das relações entre os partidos marxista-leninistas. Assinalamos perante o mundo inteiro que no movimento comunista, da mesma maneira que na comunidade socialista, todos os partidos comunistas e operários, todos os países socialistas foram e são completamente iguais em direitos. No movimento comunista não ha partidos "superiores" e "inferiores". Não pode ser de outra maneira. O caudilhismo de qualquer um partido ou o aparecimento de qualquer hegemonia nada tem de positivo; ao contrário, é negativo, e nenhuma contribuição dá ao movimento operário comunista e mundial. Todos os partidos comunistas são independentes e iguais, todos respondem pela sorte do movimento comunista, por suas vitórias e reveses, e todos devem basear suas relações no internacionalismo proletário e na ajuda mútua.
Partimos também do critério de que o internacionalismo proletário impõe obrigações iguais a todos os partidos, grandes e pequenos, sem qualquer exceção. Todos os partidos irmãos devem preocupar-se igualmente a fim de que suas atividades se fundamentem nos princípios do marxismo-leninismo e correspondam aos interesses do fortalecimento da unidade dos países socialistas e de todo o movimento comunista e operário mundial.
A formação e o desenvolvimento do sistema socialista mundial emprestam particular importância ao problema da existência de relações justas entre os partidos marxista-leninistas. Os partidos comunistas e operários dos países socialistas são partidos governantes que respondem pela sorte de seus estados e povos. Em tais circunstâncias, a violação dos princípios marxista-leninistas das relações entre os partidos não apenas pode afetar os interesses dos partidos, como também os das amplas massas populares.
O PCUS, guiado pelos altos interesses de nossa causa, liquidou os efeitos do culto à personalidade de Stálin e fez tudo o que era necessário para restabelecer totalmente os princípios leninistas da igualdade nas relações entre os partidos irmãos e do respeito à soberania dos países socialistas. Isto desempenhou um imenso papel positivo para fortalecer a unidade de toda a comunidade socialista. Criou-se uma situação favorável para que nossa amizade se fortificasse em pé de igualdade, de respeito à soberania de cada estado, da ajuda mútua e da colaboração fraternal, do cumprimento voluntário por cada país de seu dever internacional. Ao mesmo tempo, desejaríamos assinalar que a igualdade socialista não significa unicamente ter direito igual na elaboração coletiva de uma linha comum, mas significa também uma igual responsabilidade dos partidos irmãos dos países socialistas pela sorte de toda a comunidade.
Na Declaração da Conferência de Moscou dos partidos irmãos deu-se ênfase à tese de que é indispensável a mais estreita aliança entre os países que se desprendem do capitalismo, a unificação de seus esforços na construção do socialismo e do comunismo. Os interesses de todo o sistema socialista e os interesses nacionais se conjugam harmoniosamente. A vida prova que cada país pode resolver da melhor maneira possível seus problemas nacionais unicamente em estreita colaboração com os demais países socialistas, baseando-se na verdadeira unidade e na ajuda mútua.
Nossa unidade e nossas ações solidárias não surgem por acaso, Elas são impostas por uma necessidade objetiva e são resultado de uma ação consciente e da política internacionalista — constantemente orientada para objetivos determinados — dos partidos marxista-leninistas, bem como de seu desvelo incansável pela coesão de nossas fileiras.
Não fechamos os olhos ante o fato de que nas relações entre países socialistas possam surgir diferentes interpretações deste ou daquele problema da edificação interna e do movimento comunista internacional, uma compreensão diferente das formas e métodos de nossa colaboração. Isto é possível, pois os países do sistema mundial do socialismo se acham em etapas diversas da construção da nova sociedade, nem todos têm a mesma experiência de relações com o mundo exterior. Não podemos também excluir que a causa dás divergências possa ser, igualmente, um equacionamento diferente para a solução de alguns problemas do marxismo-leninismo por um ou outro partido irmão. O exagero do papel das peculiaridades específicas nacionais pode afastar-nos do marxismo-leninismo. Por outro lado, ignorar as peculiaridades nacionais pode afastar-nos da vida, das massas, causar danos ao socialismo.
Tudo isso obriga-nos a uma constante preocupação no sentido de elaborar meios e métodos que nos permitam resolver, de posições de princípio, com o menor prejuízo para nossa causa comum, as divergências que apareçam.
Os comunistas podem discutir entre si. Mas em todos os casos o seu dever sagrado continua sendo o de educar os povos de seus países no espírito da profunda solidariedade com todos os povos da comunidade socialista. Nós, comunistas, estamos obrigados a incutir nos povos não somente o amor a seu país, como também a toda a comunidade socialista, a todos os povos, e a educar a cada pessoa que viva em qualquer país socialista no espírito da compreensão de seu dever fraternal em relação aos trabalhadores de todo o mundo. Deixar de fazer isso significa violar o preceito dos comunistas, preceito que os obriga a unir os partidos marxista-leninistas e os povos que edificam o socialismo, que os obriga a cuidar da unidade como da menina dos olhos.
As divergências ideológicas e táticas não devem ser usadas sob qualquer pretexto para reavivar os sentimentos e preconceitos nacionalistas, a desconfiança e a hostilidade entre os povos socialistas. Com toda a responsabilidade declaramos que o PCUS jamais deu e jamais dará um só passo que possa semear entre os povos de nosso país a hostilidade em relação ao povo irmão da China e de outros países. Ao contrário, em todas as circunstâncias nosso Partido propaga invariável e conseqüentemente as idéias do internacionalismo e da estreita amizade com os povos dos países socialistas e com todos os povos do mundo. Julgamos da maior importância frisar que confiamos em que o CC do PCC tem posição idêntica.
Nos movimentos internacionais comunista, operário e de libertação nacional é necessário reunir os esforços comuns, mobilizar os povos na luta contra o imperialismo. O lema combativo "Proletários de todos os países, uni-vos!", lançado por Marx e Engels, significa que a base de tal união está na solidariedade antiimperialista. de classe, e não na nacionalidade, na cor da pele ou em consideração de ordem geográfica. A coesão das massas para a luta contra o imperialismo, de acordo com o princípio de se ser de um ou outro continente — quer seja a África, a Ásia, a América Latina ou a Europa —, pode prejudicar os povos em luta. Isto não seria uma união, e sim, em essência, a desunião das forças da frente única antiimperialista.
A força do movimento comunista internacional reside na fidelidade ao marxismo-leninismo e ao internacionalismo proletário. O PCUS lutou e lutará contra os desvios do marxismo-leninismo e contra toda classe de oportunismo. Sustentamos com firmeza as teses da Declaração de 1960, nas quais se indica a necessidade de lutar em duas frentes: contra o oportunismo de direita e de esquerda. Na Declaração, assinala-se com justeza que o principal perigo no movimento comunista mundial é o revisionismo e se indica, paralelamente a isso, a conveniência de lutar resolutamente contra o sectarismo e o dogmatismo, que podem converter-se no perigo principal em uma ou outra etapa do desenvolvimento de alguns partidos, se não se trava contra eles uma luta conseqüente.
Nosso Partido, orientando-se pelos interesses do fortalecimento da unidade do movimento comunista mundial de acordo com os princípios do marxismo-leninismo, também no futuro continuará lutando decididamente tanto contra o oportunismo de direita, como contra o de esquerda, hoje tão perigosos quanto o revisionismo. Continuamos intransigentes nas questões fundamentais e de princípio da teoria e tática do movimento comunista; prosseguimos lutando contra o revisionismo e o sectarismo e não pouparemos forças para, mediante um exame paciente e fraternal, esclarecer as questões em que apareça uma interpretação diferente, limpar a estrada dos obstáculos que se acumularam e que impedem nossa coesão. Partimos da presunção de que ao criticar estes ou aqueles erros sobre questões de princípio do marxismo-leninismo, os partidos irmãos, assim como as conferências internacionais do movimento comunista, se propõem indicar o perigo que encerra tal gênero de erros e desejam resolvê-los e não eternizá-los. Nossa aspiração é cooperar para a união em todos os sentidos: não queremos nem desunir as forças revolucionárias nem impor limitações a uns ou outros destacamentos de nosso movimento. Compreende-se que os comunistas não possam fazer concessões em questões de princípio da teoria marxista-leninista.
O PCUS, como partido internacionalista, estuda atentamente a experiência de luta dos partidos marxista-leninistas de todos os países do mundo. Avaliamos a grande importância da luta da classe operária e sua vanguarda revolucionária, da luta dos partidos comunistas da França, Itália, EUA, Inglaterra e de outros países capitalistas, dos partidos comunistas dos países da Ásia, África e América Latina, partidos que lutam heroicamente contra a prepotência dos monopólios imperialistas, do colonialismo e do neocolonialismo, pela liberdade nacional e social.
Os partidos comunistas se transformaram em forças influentes das nações, em destacamentos avançados de lutadores pela felicidade de seus povos. Não é por acaso que a reação descarrega sobre os comunistas um golpe após outro, tentando dobrar sua vontade. Em sua luta contra o movimento comunista, a reação esgrime sua surrada mentira da "mão de Moscou", isto é, como se os partidos comunistas não fossem uma força nacional, como se eles aplicassem a política de outro país do qual fossem instrumentos. Os imperialistas, de má fé, procedem assim, em sua luta contra a influência crescente dos partidos comunistas, para provocar a desconfiança em relação a eles por parte das massas populares, a fim de justificar a repressão policial contra os comunistas.
Mas todas as pessoas honestas sabem que os partidos comunistas são precisamente os verdadeiros intérpretes e defensores dos interesses nacionais, patriotas fiéis que unem, na luta pela felicidade do povo, o seu amor à Pátria e ao internacionalismo proletário. O PCUS considera seu dever apoiar por todos os meios a luta heróica de seus irmãos nos países do capital e fortalecer a solidariedade internacional com eles.
Estas são, em traços gerais, algumas de nossas considerações sobre importantes questões de princípio do momento atual e da estratégia e tática do movimento comunista internacional, que julgamos oportuno referir nesta carta.
Firmemente convencidos de que o rumo atual do movimento comunista internacional, exposto nas Declarações de 1957 e 1960 dos partidos irmãos, é o único justo, julgamos que na próxima entrevista de representantes do PCUS e do PCC seria oportuno discutir os seguintes problemas mais importantes da atualidade:
Nas conversações podem ser abordados todos os problemas referidos em vossa carta, que são de interesse geral e fluem das tarefas da luta pela aplicação das resoluções das conferências de Moscou. Seria de grande importância discutir os problemas vinculados com o fortalecimento da coesão entre a URSS e a República Popular da China.
Em sua carta faz-se referência aos problemas albanês e iugoslavo. Como já lhes dissemos, somos de opinião que essas questões, embora de princípio, não podem nem devem obscurecer os problemas capitais do momento atual, que precisam ser examinados em nossa entrevista. Ao condenar as ações divisionistas dos dirigentes albaneses, nosso Partido deu, ao mesmo tempo, os passos necessários para normalizar as relações do PAT com o PCUS e outros partidos irmãos. Apesar de nos últimos tempos os dirigentes do PAT haverem lançado é continuarem lançando reiteradamente ataques caluniosos contra nosso Partido e o povo soviético, nós, guiados por interesses superiores, não renunciamos à idéia de que as relações entre o PCUS e o PAT podem ser melhoradas.
Em fins de fevereiro deste ano, o CC do PCUS tomou, uma vez mais, a iniciativa e propôs ao CC do PAT realizar uma entrevista bilateral de representantes de nossos Partidos. Contudo, esse ato de camaradagem não teve qualquer acolhida por parte da direção albanesa. Os dirigentes do PAT não julgaram necessário nem mesmo receber nossa carta, na qual transmitíamos a proposta do CC do PCUS para a realização de conversações bilaterais. Mais tarde, ao que parece, reconsiderando a questão, os dirigentes albaneses enviaram uma carta, na qual, depois de colocar uma série de condições e de fazer várias restrições, falam da entrevista referida. Se manifestarem, de verdade, desejo disso, nós, de nossa parte, estamos dispostos a celebrar a entrevista.
Quanto à Iugoslávia, nós, partindo da análise e apreciação das condições objetivas econômicas e políticas que ali existem, achamos que é um país socialista, e, nas relações com tal país, aspiramos a conseguir a aproximação da RPFI com a comunidade socialista, o que corresponde à linha dos partidos irmãos de unir todas as forças antiimperialistas do mundo. Levamos também em consideração certas tendências positivas que se manifestam nos últimos tempos na vida econômica, social e política da Iugoslávia. Ao mesmo tempo, o PCUS tem sérias divergências com a Liga dos Comunistas da Iugoslávia em uma série de questões ideológicas e acha necessário falar abertamente sobre isso com os camaradas iugoslavos, criticando aqueles pontos de vista que julga incorretos.
Na carta de 9 de março de 1963, o CC do PCC manifesta seu acordo conosco em que teve início nos dias atuais um momento de muita responsabilidade na vida do movimento comunista internacional. De nós, de nossos partidos e da justeza de nossa política dependerá o fato de marcharmos daqui para frente unidos, na mesma formação, ou de nos enredarmos em uma luta prejudicial para a classe operária, para os povos de nossos países e todos os trabalhadores, luta que só pode conduzir ao afastamento recíproco, ao debilitamento das forças do socialismo e à ruptura da unidade do movimento comunista internacional.
Não há dúvida de que o PCUS e o PCC, como partidos grandes e fortes, sairão de uma tal situação com menores prejuízos. Mas em outros partidos irmãos, especialmente os que trabalham em condições difíceis, surgirão dificuldades grandes e desnecessárias, o que, como é compreensível, não constitui nosso objetivo.
Tudo depende de como agiremos nesta séria e complexa situação, isto é, se marchamos pelo caminho da polêmica, deixando-nos arrastar pelas paixões e transformando a discussão em conflito em acusações e ataques infundados contra os partidos irmãos; ou se tomando consciência da grande responsabilidade pela sorte de nossa grande causa, orientamos o desenvolvimento dos acontecimentos por outro caminho, se temos valor para elevar-nos acima daquilo que hoje nos divide, e, suspendendo a polêmica nada fraternal, concentramos esforços na procura do caminho para fortalecer a colaboração combativa soviético-chinesa e fortalecer a amizade de todos os partidos irmãos.
Compreendemos que sem luta de opiniões não se consegue nenhum avanço, inclusive o do comunismo. Apesar disso, nenhuma classe de divergência e nenhuma classe de descontentamento pela conduta de um ou outro partido pode justificar métodos de luta prejudiciais aos interesses do movimento comunista internacional. Quanto maiores sejam a profundidade e extensão com que compreendamos os objetivos e tarefas da classe operária internacional, com tanta maior energia devemos conseguir que nossas divergências, por mais sérias que hoje nos pareçam, sejam analisadas tranqüilamente e a fundo, a fim de que não impeçam nosso trabalho positivo e não desorganizem a atividade revolucionária da classe operária internacional.
Lutemos juntos para manter, de modo conseqüente, no movimento comunista internacional a orientação marxista-leninista, contra o revisionismo e o dogmatismo, pela coesão das fileiras do movimento comunista internacional, pelo respeito à linha elaborada coletivamente, contra quaisquer violações e interpretações errôneas da mesma.
Nosso Partido não se deixa arrastar pelo frenesi da luta polêmica, senão que, consciente de sua responsabilidade comum em face ao movimento comunista internacional, procura frear o perigoso processo de deslizamento para uma nova etapa de discussões. É evidente para todo mundo que não seria pequeno o número de argumentos que teríamos para apresentar em defesa da linha leninista do PCUS, em defesa da orientação geral do movimento comunista internacional, em resposta a ataques infundados lançados nos últimos artigos publicados na imprensa chinesa. E se não o fazemos agora é porque não queremos dar essa alegria aos inimigos do movimento comunista. Estamos confiantes de que se compreenderá o quanto é nociva a polêmica aguda, e que se colocarão, acima de tudo, os interesses da coesão do sistema socialista e do movimento comunista internacional. É por isso que não propomos o encontro para agravar a luta, mas para chegar a um entendimento em torno dos problemas mais importantes surgidos no movimento comunista internacional.
Temos consciência de que esse encontro é aguardado por nossos amigos em todos os países do mundo e nele são depositadas grandes esperanças. De nós, de nossa vontade e bom-senso, depende que consigamos em nosso encontro resultados que encham de alegria nossos amigos e que decepcionem os inimigos do comunismo. Será essa a nossa contribuição conjunta à luta para libertar a todos os oprimidos, pela vitória da paz e do socialismo na Terra, pelo triunfo da grande doutrina revolucionária do marxismo-leninismo.
Com saudações comunistas,
O Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética.
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Inclusão | 16/04/2012 |