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Desejaria terminar este exame do processo de desenvolvimento desigual com uma discussão do problema das peculiaridades nacionais. Os marxistas são amiúde acusados por seus inimigos de negar, ignorar ou subestimar as peculiaridades nacionais em favor das leis históricas universais. Não é verdade. Não é correta essa crítica, embora alguns marxistas individualmente possam ser acusados de tais erros.
O marxismo não nega a existência e a importância das peculiaridades nacionais. Seria teoricamente estúpido e praticamente sem valor se o fizesse, dado que as diferenças nacionais podem ser decisivas para orientar a política do movimento operário, de uma luta nacional ou de um partido revolucionário, durante um certo período num dado país. Por exemplo, a maior parte dos ativistas operários da Grã-Bretanha seguem o partido trabalhista.
Este monopólio é uma peculiaridade fundamental da Grã-Bretanha e do desenvolvimento político dos seus trabalhadores. Os marxistas que não levarem em conta este fator, como chave de sua orientação organizativa, estarão violando o espírito do seu método. Há outro exemplo remoto: na maior parte dos países coloniais, hoje em dia, as raças de cor estão lutando contra o imperialismo pela independência nacional contra a opressão das nações brancas. Nos Estados Unidos, pelo contrário, a luta dos negros contra seu caráter de cidadãos de segunda classe se caracteriza por não ser um movimento pela separação e sim pela demanda de integração incondicional à vida americana, sobre bases iguais.
Sem ter em conta este caráter específico é impossível compreender as principais tendências da luta dos negros americanos na atual etapa. Longe de rejeitar as diferenças nacionais, o marxismo é o único método histórico, a única teoria sociológica que as explica adequadamente, demonstrando quais são suas raízes nas condições materiais de vida e considerando suas origens históricas, desenvolvimento, desintegração e desaparecimento. As escolas burguesas de pensamento vêem as peculiaridades nacionais com um critério distinto, como acidentes inexplicáveis, como produto da vontade divina ou de características fixas e finais de um determinado povo. O marxismo as vê como um produto histórico que surge de combinações concretas de forças e condições internacionais.
Este procedimento de combinar o geral com o particular e o abstrato com o concreto está de acordo não somente com as exigências da ciência como também com nossos hábitos diários de raciocínio. Cada indivíduo tem um expressão facial diferente, o que nos permite reconhecê-lo e separá-lo dos outros. Ao mesmo tempo, compreendemos que este indivíduo tem o mesmo gênero de olhos, ouvidos, boca, fronte e outros órgãos que o restante da raça humana. De fato, a fisionomia particular que produz sua expressão diferente é só a manifestação fundamental de um conjunto específico dessas estruturas e características humanas comuns. O mesmo ocorre com a vida e a fisionomia de uma dada nação.
Cada nação tem seus próprios traços característicos. Mas essas peculiaridades surgem como conseqüência da modificação de leis gerais em função das condições materiais e históricas específicas. São, em última instância, a cristalização particular de um processo universal.
Trotsky concluiu que as peculiaridades nacionais são o produto mais geral do desenvolvimento histórico desigual, seu resultado final.
Contudo, por mais profundamente assentadas que estejam estas peculiaridades na estrutura social e por mais poderosa que seja sua influência sobre a vida nacional, elas são limitadas. Em primeiro lugar, são limitadas na ação. Não substituem o processo superior da economia e política mundial nem podem abolir o funcionamento de suas leis.
Consideremos, por exemplo, as diferentes conseqüências políticas da crise mundial de 1929, nos EUA e Alemanha, devidas às diferenças no contexto histórico, na estrutura social específica e na evolução política nacional. Num caso, o New Deal de Roosevelt chegou ao poder e no outro, o fascismo de Hitler. O programa de reforma sob os auspícios democrático-burgueses, e o programa da contra-revolução sob a fria ditadura totalitária, foram métodos totalmente diferentes utilizados pelas respectivas classes capitalistas para salvar a pele.
Este contraste entre as forças capitalistas americana e alemã de auto-preservação foi explorada até a exaustão pelos apologistas do capitalismo norte-americano, os quais o atribuíram ao espírito democrático inerente à nação americana e aos seus governantes capitalistas. Na realidade, a diferença se deveu à maior riqueza e recursos do imperialismo dos EUA, por um lado, e à imaturidade das relações de classe e conflitos, por outro. Contudo, na etapa seguinte e antes que sobreviesse a decadência, o processo do imperialismo levou ambas as potências a uma segunda guerra mundial, para determinar quem dominaria o mercado mundial. Apesar de significativas diferenças em seus regimes políticos internos, ambas chegaram ao mesmo destino. Continuaram subordinadas às mesmas leis fundamentais do imperialismo capitalista e não puderam impedir seu funcionamento nem evitar suas conseqüências.
Em segundo lugar, as peculiaridades nacionais têm limites historicamente definidos. Não estão fixadas para sempre nem têm um destino absolutamente determinado. Condições históricas as geram e as suplantam; novas condições históricas podem alterá-las, eliminá-las e ainda transformá-las em seus opostos.
No século XIX, a Rússia era o país mais reacionário da Europa e da política mundial; no século XX transforma-se no mais revolucionário. Em meados do século XIX os Estados Unidos eram a nação mais revolucionária e progressista; em meados do século XX, substituíram a Rússia como fortaleza da contra-revolução mundial. Mas este papel tampouco pode ser eterno, como assinalaremos no pr6ximo capítulo, onde estudaremos o caráter e conseqüências do desenvolvimento desigual e combinado.
Analisaremos agora o segundo aspecto da lei do desenvolvimento desigual e combinado. Seu nome indica de qual lei geral é ela uma expressão particular, ou seja, a lei da lógica dialética chamada "lei da interpenetração dos opostos". Os dois processos - desigualdade e combinação - que estão unidos nesta formulação representam dois aspectos ou etapas da realidade opostos e, não obstante, integralmente relacionados e interpenetrados.
A lei do desenvolvimento combinado parte do reconhecimento da desigualdade nas proporções de desenvolvimento de vários fenômenos das mudanças históricas. A disparidade no desenvolvimento técnico e social, e a combinação fortuita de elementos, tendências e movimentos pertencentes a diferentes etapas da organização social, dão a base para o surgimento de algo novo e de qualidade superior.
Esta lei permite-nos observar como surge a nova qualidade. Se a sociedade não se desenvolvesse num caminho diferencial, ou seja, através do surgimento de diferenças, às vezes tão agudas que se tomam contraditórias, não haveria possibilidade de combinação e integração de fenômenos contraditórios. Contudo, a primeira fase do processo evolutivo - desigualdade - é o pré-requisito indispensável para a segunda fase: a combinação de características que pertencem a diferentes etapas da vida social nas distintas formações sociais, desviando-se dos padrões deduzidos abstratamente ou tipos "normais".
Esta combinação surge como a necessária superação da desigualdade pré-existente. Podemos ver como ocorrem quase sempre juntas e ligadas na simples lei da combinação e desigualdade do desenvolvimento. Partindo do fato dos níveis diversos de desenvolvimento que resultam da progressão desigual dos distintos aspectos da sociedade, poderemos agora analisar a próxima etapa e a necessária conseqüência desta situação: a sua combinação.
Antes de mais nada, devemos perguntar-nos o que significa combinado. Pudemos ver como características que pertencem a uma etapa da evolução se ligam a outras que são essencialmente próprias de uma etapa mais elevada. A igreja católica, cujo centro está no Vaticano, é uma característica instituição feudal. Na atualidade, o papa usa rádio e televisão - invenções do século XX - para disseminar a doutrina da igreja. Isto, conduz a uma segunda questão: como se combinam as diferentes características? Aqui, as combinações dos metais nos proporcionam uma analogia útil. O bronze, que joga um grande papel no desenvolvimento das mais antigas construções de ferramentas, que deu seu nome a toda uma etapa do desenvolvimento histórico, compôs-se de dois metais elementares, o cobre e o estanho, misturados em proporções específicas. A sua fusão produz uma liga com propriedades importantes que diferem de ambos os metais que o constituem. AIg0 semelhante Ocorre na história quando se unem elementos que pertencem a diferentes etapas da evolução social. Esta fusão dá origem a um novo fenômeno, com suas próprias características especiais. O período colonial da história norte-americana une-se à selvageria e barbárie, quando a civilização européia mudava do feudalismo para o capitalismo. Deste modo, proporcionou um magnífico caldo de cultivo para as combinações e deu o mais instrutivo campo para seu estudo. Quase todos os gêneros de relações sociais conhecidos, desde a selvageria às companhias por ações, podiam ser encontradas no novo mundo durante o período colonial. Várias colônias, como Virgínia e Carolina do Norte e do Sul, foram originalmente civilizadas por empresas capitalistas por ações, cujas licenças haviam sido garantidas pela Coroa. As formas mais avançadas de capitalismo regiam a empresa acionária que entrou em contato com os índios que viviam ainda sob primitivas condições tribais.
As formas pré-capitalistas de vida com as que depararam foram combinadas num grau ou outro com as características fundamentais da civilização burguesa. Tribos indígenas, por exemplo, foram anexadas ao mercado mundial através do comércio de peles; e é verdade que os índios se tomaram, em certa medida, civilizados. Por outro lado, os colonos brancos europeus, caçadores, lenhadores e pioneiros da agricultura barbarizaram-se parcialmente por terem sobrevivido no deserto das planícies e nas montanhas dos campos "virgens". Contudo, o lenhador europeu que penetrava nos desertos da América, com seu rifle e sua enxada de ferro, e também com sua concepção e hábitos de civilização, foi muito diferente do índio Pele-Vermelha, ainda que muitas das atividades da sociedade bárbara do lenhador também lhe correspondessem.
Em sua obra sobre as forças sociais na história norte-americana, A. M. Simon, um dos principais historiadores socialistas, escreveu: "O curso da evolução seguiu em cada colônia uma linha de desenvolvimento muito parecida à que a raça havia seguido" (pág. 30-31). No começo - assinalou - houve um comunismo primitivo. Depois, uma pequena produção individual, e assim prosseguiu até chegar ao capitalismo.
Contudo, a concepção segundo a qual a colônia americana, ou algumas delas, substancialmente repetiram as seqüências das etapas que as sociedades avançadas haviam atravessado antes delas, é excessivamente esquemática e ignota o principal ponto relativo ao seu desenvolvimento e estrutura. A peculiaridade mais significativa da evolução das colônias britânicas na América deriva do fato de que todas as formas de organização e as forças impulsionadoras pertencentes às primeiras etapas do desenvolvimento social, desde a selvageria e igualmente no caso da escravidão, foram incorporadas e condicionadas pelo sistema em expansão do capitalismo internacional. Não há, no solo americano, repetição mecânica das etapas historicamente superadas. Pelo contrário, a vida colonial testemunha uma mescla dialética de todos esses variados elementos; da qual resultam deformações sociais combinadas de um tipo novo e especial. A escravidão nas colônias americanas foi muito distinta da escravidão na Grécia clássica e em Roma. A escravidão norte-americana foi uma escravidão burguesificada, não se tratando apenas de um braço subordinado do mercado capitalista mundial, senão que cada ramificação dessa fusão de escravidão e capitalismo resultou na aparição de traficantes de escravos entre os índios Creek, no Sul. Poder-se-ia encontrar algo mais contraditório que índios comunistas, agora proprietários de escravos, vendendo seu produto num mercado burguês?
O resultado desta fusão de diferentes etapas ou elementos de progresso histórico é, por conseqüência, uma mescla ou ligação particular de coisas. Na união de elementos diferentes e opostos, a natureza dialética da história manifesta-se por si mesma mais poderosa e proeminente. Aqui a contradição simples, óbvia, flagrante, predomina.
A história prega peças a todas as formas rígidas e às rotinas fixas. Surgem todos os gêneros de desenvolvimentos paradoxais que confundem e deixam perplexas as mentes limitadas e formalizadas.
Como um importante exemplo disto, permita-nos considerar a natureza do stalinismo. Na Rússia atual, a mais avançada forma de propriedade, a propriedade nacionalizada, e o mais eficiente modo de organização industrial, a economia planificada, ambas logradas através da revolução proletária de 1917, uniram-se numa só massa com o tipo mais brutal de tirania, criada por uma contra-revolução política da burocracia soviética. Os fundamentos econômicos do regime stalinista historicamente pertencem à era socialista do futuro. Contudo, este fundamento econômico está unido a uma superestrutura política que mostra os aspectos mais malignos das ditaduras de classe do passado. Não devemos admirar-nos com o fato de que este fenômeno extraordinariamente contraditório tenha confundido muita gente e as tenha levado pelo mau caminho.
O desenvolvimento desigual e combinado apresenta-se-nos como uma mescla particular de elementos atrasados com os fatores mais modernos. Muitos católicos devotos levam imagens em seus carros, supondo que os protegerão contra os acidentes. Este costume, combina o fetichismo dos crédulos selvagens com o produto da indústria automobilística, uma das indústrias mais automatizadas, mais avançadas do mundo moderno.
Por outro lado, estas anomalias são mais evidentes nos países mais atrasados. Existem curiosidades como haréns com ar condicionado!
"O desenvolvimento das nações historicamente atrasadas leva necessariamente a uma combinação Peculiar de diferentes etapas do desenvolvimento histórico", escreveu Trotsky na "História da Revolução Russa" (pág. 5).
Carlton. S. Coone escreveu:
" ... Há todavia regiões marginais onde a difusão cultural é desigual, onde simples caçadores da Idade da Pedra surpreendentemente se enfrentam com estranhos caçadores com rifles, onde trabalhadores neolíticos estão mudando suas enxadas de pedra por outras de aço e seus potes de barro por vasilhas de lata para carregar água, onde orgulhosos cidadãos dos antigos impérios costumavam receber as notícias algumas semanas depois das caravanas de camelos, ouvem agora a propaganda através de rádios públicas. E na calçada de ladrilhos azuis e brancos das cidades o claro apelo dos muçulmanos, incitando a fé do crente, será substituído um dia por uma caixa metálica pendurada no minarete. Fora, no aeroporto, os peregrinos dos lugares santos saltam diretamente do lombo de seus camelos aos assentos do DC-4. Estas mudanças na tecnologia levam ao nascimento de novas instituições nestes lugares, como em qualquer outro, mas o recém-nascido geralmente é uma criatura não familiar, que não se recorda nem dos parentes próximos nem dos distantes, superando a ambos". "The History of Man" (pág. 113-114).
Na África atual, entre os kikuyos do Quênia, como também entre os povos da Costa do Ouro, as antigas ligações e costumes ajudam a fortalecer sua solidariedade na luta pelo avanço social e pela independência nacional contra o imperialismo britânico. No movimento nacionalista de Nkrumah, o partido parlamentar nacional está ligado aos sindicatos e ao tribalismo - os três pertencem a diferentes etapas da história social.
A mescla de elementos atrasados com os mais modernos fatores pode ser vista quando comparamos a China moderna com os Estados Unidos da América. Atualmente, muitos camponeses chineses de pequenas aldeias têm retratos de Marx e Lênin em suas paredes e inspiram-se em suas idéias. O operário norte-americano médio vive em cidades mais modernas e tem, em contraste, pinturas de Cristo ou fotografias de Eisenhower ou do Papa sobre suas paredes pré-fabricadas. Contudo, os camponeses chineses não têm água corrente, estradas asfaltadas, automóveis, rádios ou televisão, como têm os operários norte-americanos.
Desta maneira, ainda que os Estados Unidos e a sua classe operária tenham progredido mais que a China em seu desenvolvimento industrial e padrão de vida e de cultura, em certos aspectos os camponeses chineses superaram o operário norte-americano.
"A dialética histórica não conhece nada semelhante ao atraso absoluto ou ao progresso quimicamente puro" como assinalou Trotsky.
Se analisarmos a estrutura social da Grã-Bretanha contemporânea, poderemos ver que a mesma conserva características de três períodos histórico-sociais distintos, inextricavelmente relacionados. No cume de seu sistema político há uma monarquia e uma igreja estabelecidas, ambas herdadas do feudalismo. Estas estão conectadas à estrutura de propriedade capitalista monopolista pertencente à etapa mais elevada do capitalismo. Junto a essa indústria capitalista existe a indústria socializada, sindicatos e um partido trabalhista, todos precursores do socialismo.
É significativo que esta particular combinação contraditória na Grã-Bretanha deixe perplexos os norte-americanos. Os norte-americanos liberais não podem compreender porque os ingleses têm uma monarquia e uma igreja estabelecidas. Os norte-americanos com mentalidade capitalista surpreendem-se com o fato da classe dominante britânica tolerar o Partido Trabalhista.
Ao mesmo tempo, a Grã-Bretanha é atingida pelo mais formidável de todos os movimentos combinados de forças sociais de nosso tempo em escala mundial, ou seja, a combinação do movimento anticapitalista da classe operária com a revolução anticolonial dos povos de cor. Estes dois movimentos muito diferentes, ambos opostos ao domínio imperialista, reforçam-se mutuamente.
Contudo, estes dois movimentos não têm o mesmo efeito em todos os países imperialistas. São sentidos, por exemplo, mais forte e diretamente na França e Grã-Bretanha que nos EUA. Não obstante, nos EUA a luta dos povos coloniais pela independência e da minoria negra pela igualdade influenciam-se mutuamente.
A manifestação mais importante da interação do desenvolvimento desigual e combinado é o surgimento de "saltos" no fluxo histórico. Os maiores saltos tornam-se possíveis pela coexistência de povos de diferentes níveis de organização social. No mundo atual, estas organizações sociais variam muito, desde a selvageria até o verdadeiro limiar do socialismo. Na América do Norte, enquanto os esquimós no Ártico e os índios Seri na Baixa Califórnia vivem ainda na selvageria, os banqueiros de Nova Iorque e os operários de Detroit vivem na mais elevada etapa do capitalismo monopolista. Os "saltos" históricos se tomam inevitáveis porque os setores atrasados da sociedade enfrentam tarefas que só podem ser resolvidas com a utilização dos métodos mais modernos. Sob a pressão das condições externas, vêem-se obrigados a saltar ou precipitar etapas da evolução que originalmente requerem um período histórico inteiro para desenvolver as suas potencialidades.
Quanto mais amplas são as diferenças do desenvolvimento e maior o número de etapas presentes num dado período, mais dramáticas são as possíveis combinações de condições e forças, e mais rápida a natureza dos saltos Algumas combinações produzem extraordinárias erupções e rápidos movimentos na história. O transporte fez evoluir lentamente a locomoção humana e animal, desde os veículos de rodas até o trem, automóveis e aviões. Recentemente, contudo, os povos da América do Sul e da Sibéria passaram diretamente, e de um só salto, do animal ao uso de aviões.
Tribo, nação e classe são capazes de comprimir etapas ou de saltar sobre elas, assimilando as conquistas dos povos mais avançados. Usam isto como uma alavanca para se elevarem sobre as etapas intermediárias e ultrapassam obstáculos de um só salto. Mas não podem fazer nada até que os países pioneiros na vanguarda do gênero humano tenham previamente aberto o caminho, pré-fabricando as condições materiais. Outros povos preparam os meios e modelos para, uma vez maduros, adaptá-los às suas condições peculiares.
A indústria soviética foi capaz de progredir tão rápido porque, entre outras razões, pôde importar as técnicas e maquinários do Ocidente. Agora também a China pode marchar em um ritmo mais acelerado em sua industrialização porque se baseia não somente nas conquistas técnicas dos países capitalistas avançados, como também em métodos de planificação da economia soviética.
Em seus esforços para superar a Europa Ocidental, os colonizadores da costa do Atlântico Norte passaram através da "barbárie selvagem", saltando virtualmente, por cima do feudalismo, implantando e extirpando a escravidão, constituindo grandes povoações e cidades sobre uma base capitalista. Isto se fez em ritmo acelerado. Aos povos europeus foram necessários três mil anos para saltar da etapa superior da barbárie da Grécia homérica à Inglaterra vitoriosa da revolução burguesa de 1849. A América do Norte cobriu as mesmas transformações em trezentos anos, ou seja, a um ritmo de desenvolvimento dez vezes mais rápido. Mas isto foi possível pelo fato de que a América do Norte pôde beneficiar-se com as aquisições prévias da Europa, combinando-as com a impetuosa expansão do mercado capitalista em todos os cantos do globo.
Ao longo desta aceleração e compressão do desenvolvimento social foi-se acelerando também o tempo de desenvolvimento dos acontecimentos revolucionários. O povo britânico tardou oito séculos desde o começo do feudalismo no século IX, até a sua revolução burguesa vitoriosa no século XVII. Os colonos norte-americanos somente em cento e setenta e cinco anos passaram de seus primeiros assentamentos no século XVII à sua revolução vitoriosa no último quarto do século XVIII.
Nestes saltos históricos as etapas do desenvolvimento são algumas vezes comprimidas e outras omitidas, o que depende das condições e das forças particulares. Nas colônias norte-americanas, por exemplo, o feudalismo - que floresceu na Europa e na Ásia por muitos séculos - mal conseguiu existir. As instituições características do feudalismo (feudo, servos, monarquia, a igreja estabelecida e as corporações medievais) não tiveram um ambiente favorável e foram comprimidas entre a escravidão comercial por um lado, e a sociedade burguesa enxertada por outro. Paradoxalmente, ao mesmo tempo que o feudalismo ia sendo atrofiado e estrangulado nas colônias norte-americanas, adquiria uma vigorosa expansão no outro lado do mundo, na Rússia.
A história tem as suas reversões, assim como seus movimentos para frente, seus períodos de reação, formas infantis e características caducas próprias de etapas primitivas de desenvolvimento. Podem unir-se com estruturas avançadas para gerar formações extremamente regressivas e impedir o avanço social. Um exemplo primário de tal combinação regressiva foi a escravidão na América do Norte, onde um modo de propriedade e uma forma de produção anacrônica, pertencente à infância da civilização se inseriu num ambiente burguês que pertencia a uma sociedade de classe madura.
A recente história política familiarizou-nos com os exemplos do fascismo e do stalinismo, que são fenômenos históricos do século XX simétricos, ainda que não idênticos. Ambos representam reversões de formas de governos democráticos pré-existentes que tinham bases sociais completamente diferentes. O fascismo foi o destruidor e substituto da democracia burguesa no período final da decadência e destruição do imperialismo. O stalinismo foi o destruidor e substituto da democracia operária da Rússia revolucionária no período inicial da revolução socialista internacional.
Desta forma, encontramos misturadas duas etapas no movimento dialético da sociedade. Primeiro, algumas partes do gênero humano e certos elementos da sociedade movem-se mais rapidamente e desenvolvem-se antes que outros. Mais tarde, sob o choque de forças externas produz-se um retrocesso, ou uma estagnação, em relação ao ritmo de progresso de seus precursores, pela combinação das últimas inovações com velhos modos de existência.
Mas a história não se detém neste ponto. Cada síntese única surgida do desenvolvimento desigual e combinado engendra em si mesma posteriores crescimentos e mudanças, as quais, por sua vez, podem levar a uma eventual desintegração e destruição da síntese.
Uma formação combinada é um amálgama de elementos derivados de diferentes níveis de desenvolvimento social. A sua estrutura interna é, portanto, altamente contraditória. A oposição dos seus pólos constituintes não só provoca instabilidade na formação, senão que leva diretamente a posteriores desenvolvimentos. Mais claramente que a qualquer outra formação, a luta dos opostos caracteriza o curso de vida de uma formação combinada.
Há dois tipos principais de combinação. Em um caso, o produto de unia cultura avançada é absorvida na estrutura de um organismo social arcaico. Em outro, aspectos de uma ordem primitiva são incorporados a um organismo social em grau mais elevado de desenvolvimento.
O efeito que produz a assimilação de elementos mais modernos numa estrutura depende de muitas circunstâncias. Por exemplo, os índios puderam substituir a enxada de pedra pela de ferro sem deslocamentos fundamentais da sua ordem social, porque esta mudança significou apenas uma dependência mínima da civilização branca, da qual a enxada de ferro foi tomada. A introdução do cavalo mudou consideravelmente a vida dos índios das pradarias, ao estender o alcance de seus campos de caça e de suas habilidades guerreiras. Contudo, o cavalo não transformou sua relação tribal básica. Mas, em contrapartida, a participação num nascente comércio e a penetração da moeda teve conseqüências revolucionárias sobre os índios destruindo seu sistema tribal, opondo os interesses. privados aos costumes comunitários, lançando uma tribo contra outra e subordinando os novos comerciantes e caçadores índios ao mercado mundial.
Sob certas condições históricas a introdução de novas coisas pode, também, prolongar por algum tempo a vida das instituições mais arcaicas. A entrada dos grandes consórcios de petróleo capitalistas no Oriente Médio fortaleceu temporariamente os sheiks, dando-lhes enormes quantidades de riquezas. Mas a longo prazo, a invasão de técnicos e idéias modernas não pode ajudar, e sim minar os velhos regimes tribais, porque rompem as condições sobre as quais eles se apóiam e criam novas forças que se lhes opõe para substituí-los.
Um poder primitivo pode afirmar-se rapidamente sobre um mais moderno, ganhando renovada vitalidade, e pode também aparecer por um certo período como superior ao outro. Mas o poder menos desenvolvido levará uma existência essencialmente parasita e não poderá sustentar-se indefinidamente às expensas do mais desenvolvido. Falta-lhe adequado terreno e atmosfera para seu crescimento, enquanto as instituições mais desenvolvidas não só são superiores por natureza, como além disso, podem contar com um favorável ambiente para a sua expansão.
O desenvolvimento da escravidão na América do Norte dá um excelente ilustração dessa dialética. Do ponto de vista da história mundial, a escravidão foi um anacronismo desde o seu nascimento neste continente. Como modo de produção pertencia à infância da sociedade de classes; havia praticamente desaparecido da Europa Ocidental. Contudo, a importância das demandas, por parte da Europa Ocidental, de matérias-primas como açúcar, algodão e tabaco, combinada com a carência de trabalhadores para levar a cabo operações agrícolas em grande escala, obrigaram a implantar a escravidão na América do Norte. A escravidão colonial cresceu como um braço do capitalismo comercial. Desta maneira um modo de produção e uma forma de propriedade superados há muito tempo, surgiram novamente como conseqüência das exigências de um sistema mais moderno e fizeram parte dele.
Esta contradição agudizou-se quando o surgimento do capitalismo industrial na Inglaterra e nos Estados Unidos incrementou a produção de algodão dos estados do Sul levando a um lugar de destaque na vida econômica e política da América do Norte. Durante décadas os dois sistemas opostos funcionaram como equipe. Quando a guerra civil norte-americana estourou, os mesmos se romperam. O sistema capitalista que numa etapa de seu desenvolvimento alentou o crescimento da escravidão, em outra criou uma nova combinação de forças que a destruiu.
A formação combinada do velho e do novo, do mais baixo e do mais alto, da escravidão e do capitalismo demonstrou não ser permanente nem indissolúvel; foi condicional, temporária, relativa. A associação forçada dos dois tendia para a dissolução e para um conflito crescente. Se uma sociedade anda para frente, a vantagem preponderante corresponderá, em larga escala, à estrutura superior, que prosperará à custa de características inferiores, superando-as e deslocando-as eventualmente.
Uma das conseqüências mais importantes e paradoxais do desenvolvimento desigual e combinado é a solução dos problemas de uma classe através de outra. Cada etapa do desenvolvimento social gera, coloca e resolve os seus próprios complexos específicos de tarefas históricas. A barbárie, por exemplo, desenvolveu as técnicas produtivas de cultivo das plantas, do pastoreio de animais e a agricultura, como ramos de sua atividade econômica. Estas atividades foram também pré-requisitos para a suplantação da barbárie pela civilização.
Na época burguesa, a unificação de províncias separadas em estados centralizados nacionais e a industrialização destes estados foram tarefas históricas colocadas pelo surgimento da burguesia. Mas, em alguns países, o baixo desenvolvimento da economia capitalista e a conseqüente debilidade da burguesia toma insustentável a realização destas tarefas históricas da burguesia. No coração da Europa, por exemplo, a unidade do povo alemão foi lograda desde 1866 a 1869 não pela burguesia ou pela classe operária, senão por uma casta social já superada, os proprietários rurais "junkers" prussianos, encabeçados pela monarquia Hohenzollern e dirigida por Bismarck. Neste caso, a tarefa histórica da classe capitalista foi levada a cabo por forças capitalistas.
No século atual, a China representa outro exemplo oposto, num nível histórico mais elevado. Sob a dupla exploração de suas velhas relações feudais e da subordinação imperialista, a China não podia ser unificada nem industrializada. Tomou-se necessário nada menos que uma revolução proletária, (ainda que deformada em seu começo) que, apoiando-se numa insurreição camponesa, abriu caminho para a solução dessas tarefas burguesas longamente adiadas. Hoje em dia, a China está unificada pela primeira vez e industrializa-se rapidamente. Contudo, estas tarefas não foram levadas a cabo pelas forças capitalistas ou pré-capitalistas, senão pela classe operária e sob sua própria direção. Neste caso, as tarefas não completadas da abortada era de desenvolvimento capitalista foram realizadas por uma classe pós-capitalista.
O desenvolvimento extremamente desigual da sociedade fez necessária esta mudança de papel histórico entre as classes: a grandiosidade da etapa histórica fez possível a substituição. Como Hegel assinalou, a história recorre freqüentemente aos mecanismos mais indiretos e astutos para lograr seus fins.
Um dos maiores problemas que a revolução democrático-burguesa dos Estados Unidos deixou sem resolver foi a abolição dos velhos estigmas da escravidão, com a integração sem restrições dos negros na vida norte-americana. Esta tarefa foi parcialmente solucionada pela burguesia industrial do norte durante a guerra civil. Este fracasso da burguesia industrial foi igualmente uma grande fonte de problemas e dificuldades para os seus representantes. A questão que agora está colocada é se os atuais governantes capitalistas ultra-reacionários dos EUA poderão levar a cabo uma tarefa nacional que foram incapazes de completar em sua época revolucionária.
Os porta-vozes dos democratas e republicanos consideram necessário dizer que poderão de fato cumprir esta tarefa; os reformistas de todo tipo juram que o governo burguês poderá fazê-lo. É nossa opinião, contudo, que só a luta conjunta do povo negro e das massas operárias contra os governantes capitalistas será capaz de combater os restos da escravidão até sua conclusão vitoriosa. Nesse sentido, a revolução socialista completará o que resta realizar da revolução democrático-burguesa.
Aqueles que fazem um culto do progresso puro crêem que grandes conquistas num certo número de campos pressupõem equivalente perfeição em outros. Muitos norte-americanos tiram a conclusão imediata de que os Estados Unidos ultrapassam o resto do mundo em todas as esferas da atividade humana, justamente porque assim ocorre na tecnologia, na produção material. e no padrão de vida. Contudo, na política e na filosofia, para não mencionar outros campos, o desenvolvimento geral dos Estados Unidos não foi mais além do século XIX, enquanto que países da Europa e Ásia, muito menos favorecidos economicamente, estão muito além dos EUA nestes campos.
Nos últimos anos do seu governo, Stálin tratou de impor a noção de que somente "cosmopolitas sem raízes" podiam sustentar que o Ocidente superava a URSS em algum ramo do esforço humano desde as invenções mecânicas até a ciência da genética. Esta expressão do nacionalismo "pan-russo" não foi menos estúpida que a concepção ocidental de que nada superior pode derivar da barbárie asiática da União Soviética.
A verdade é que cada etapa do desenvolvimento social, cada tipo de organização social, cada nacionalidade, tem suas virtudes e defeitos essenciais, vantagens e desvantagens. O progresso tem os seus inconvenientes: há que pagar por ele. Avanços em certos terrenos podem significar retrocessos em outros. Por exemplo, a civilização desenvolveu o poder de produção e a riqueza do gênero humano sacrificando a igualdade e a fraternidade das sociedades primitivas que suplantou. Por outro lado, sob certas condições o atraso tem seus benefícios. Mais ainda, o que é progressivo numa" etapa de desenvolvimento pode tornar-se uma pré-condição para o estabelecimento de um atraso numa etapa subseqüente ou num terreno a ele ligado. E o que é um atraso pode tornar-se a base para um salto adiante.
Parece ridículo dizer a povos oprimidos pelo atraso, e que desejam vivamente superá-lo, que o seu arcaísmo tem suas vantagens. Para eles o atraso aparece como um mal evidente. Mas a consciência deste "mal" aparece em primeiro lugar depois destes povos terem tomado contato com formas superiores de desenvolvimento social. É o contato das duas formas, atrasada e adiantada, que demonstra as deficiências da cultura atrasada. Na medida em que a civilização é desconhecida, o selvagem primitivo mantém-se contente. É somente a justaposição das duas que introduz a visão de algo melhor e planta as sementes do descontentamento. Nesse sentido, a presença e o conhecimento da etapa superior toma-se um motor do progresso.
A crítica e condenação resultante da velha situação gera a urgência de superar a disparidade no desenvolvimento e leva os atrasados para frente por fazer surgir neles o desejo de superar os mais avançados. Cada pessoa que conhece o que é aprender já sentiu isto pessoalmente.
Quando povos atrasados fazem novas e imperativas reivindicações, a ausência de instituições acumuladas e intermediárias pode ser positiva, pelos poucos obstáculos que se apresentam para obstruir o avanço e a assimilação do novo. Se as forças sociais existem e atuam efetiva e inteligentemente e no momento oportuno, o que tem sido um inconveniente pode tomar-se uma vantagem.
A recente história da Rússia dá o exemplo mais extraordinário desta conversão de um inconveniente histórico num privilégio. No início do século XX, a Rússia era, entre as grandes nações da Europa, a mais atrasada. Este atraso abarcava todos os estratos, desde o campesinato até a dinastia absolutista dos Romanov. O povo russo e as suas nacionalidades oprimidas sofriam, ambos, as misérias do feudalismo decadente e do atraso do desenvolvimento burguês na Rússia.
Contudo, quando chegou o momento da solução revolucionária destes problemas acumulados, esse atraso demonstrou suas vantagens em muitos terrenos. Primeiro, o czarismo estava totalmente separado das massas. Segundo, a burguesia era muito fraca para tomar o poder em seu próprio nome e mantê-lo. Terceiro, o campesinato, ao não receber satisfações por parte da burguesia, foi obrigado a virar-se para a classe operária em busca de direção. Quarto, a classe operária não tinha formas de atividade petrificadas ou sindicatos pelegos e burocracias políticas que a fizessem retroceder. Foi mais fácil para essa jovem e enérgica classe, que tinha muito pouco a perder e muito a ganhar, adotar rapidamente a mais avançada teoria, o mais claro programa de ação e o mais elevado tipo de organização partidária. A revolta camponesa contra o feudalismo, um movimento que no ocidente da Europa caracterizou o surgimento de revoluções democrático-burguesas, misturou-se com a revolução proletária contra o capitalismo, exclusiva do século XX. Como Trotsky assinalou na "História da Revolução Russa", foi a conjunção destas duas revoluções diferentes que deu o poder expansivo ao levante do povo russo e quê explica a extraordinária rapidez do seu triunfo.
Mas os privilégios do atraso não são inesgotáveis; estão limitados por condições históricas e materiais. Efetivamente, o atraso herdado da Rússia dos czares reagiu, na etapa seguinte de seu desenvolvimento, sob novas condições históricas e sobre uma base social inteiramente nova. Os privilégios prévios deveriam ser pagos nas próximas décadas pelos amargos sofrimentos, privações econômicas e perda das liberdades que o povo russo suportou sob a ditadura stalinista. O grande atraso que havia fortalecido a revolução e impulsionado as massas russas à cabeça do resto do mundo , transformou-se então no ponto de partida da reação política e da contra-revolução burocrática, em conseqüência da qual a revolução internacional fracassou na conquista dos países industriais mais avançados. O atraso econômico e cultural da Rússia combinado com o atraso da revolução mundial foram as condições básicas que permitiram à camarilha stalinista golpear o partido bolchevique e à burocracia usurpar o poder político. Por estas razões, o regime stalinista se converteu no mais contraditório da história moderna, uma coagulação das mais avançadas formas de propriedade e conquistas sociais surgidas da revolução, com uma ressurreição das mais repulsivas características do domínio de classe. Fábricas gigantes, providas das maquinarias mais modernas, eram mantidas por operários aos quais, como os servos, não se lhes permitiam deixar seus lugares de trabalho; aviões que voavam por intransitáveis caminhos cheios de barro; uma economia planificada que funcionava junto a "campos de trabalho escravo"; colossais avanços industriais paralelos à regressão política; enfim, o prodigioso crescimento da Rússia como poder mundial acompanhado por uma igualmente prodigiosa decadência interna do regime.
Contudo, o desenvolvimento dialético da revolução russa não se deteve nesse ponto. A extensão da revolução no Leste europeu e na Ásia, depois da Segunda Guerra Mundial, a expansão da indústria soviética e o ascenso em número e nível de cultura dos operários soviéticos, prepararam condições para uma transformação das velhas tendências, o renascimento da revolução em uma etapa superior e a decadência e parcial superação da calamidade do stalinismo. A primeira manifestação desse movimento frente às massas na Rússia e seus satélites, com a classe operária na sua direção, já foi anunciada ao mundo.
Desde o discurso de Kruschev até a revolução húngara, produziu-se uma série contínua de acontecimentos que demonstra a dialética do desenvolvimento revolucionário. A cada passo da revolução russa, podemos ver a interação de seu atraso e de seu progresso com a conversão de um no outro, de acordo com as circunstâncias concretas do desenvolvimento internacional e nacional. Somente a compreensão da dialética dessas mudanças pode dar-nos uma imagem exata do desenvolvimento extremamente complexo e comtradit6rio da URSS, durante os 40 anos de sua existência revolucionária. As dezenas de caracterizações ultra-simplificadas da natureza da atual sociedade moderna russa, que servem apenas para confundir o movimento revolucionário, derivam de uma falta de compreensão das leis da dialética, e do uso de métodos metafísicos nas análises do processo histórico.
A lei do desenvolvimento desigual e combinado é uma ferramenta indispensável para analisar a revolução russa e para precisar seu crescimento e decadência através de suas complexas fases, seus triunfos, sua degeneração e sua próxima regeneração.
Inclusão | 23/10/2005 |
Última alteração | 20/05/2014 |