Primeira publicação: Publicado como editorial não assinado no jornal Zëri i Popullit em 7 de julho de 1977.
Fonte: Teoria dhe praktika e revolucionit, 1977, edição inglesa, pág. 3-35, Casa de Publicações “8 Nëntori”.
Tradução e HTML: L. C. Friederich.
Ao analisar a atual situação internacional e os processos revolucionários que nela se desenvolvem, o camarada Enver Hoxha declarou no VII Congresso do PTA que “o mundo está em uma fase em que a causa da revolução e da libertação nacional não é apenas um anseio ou uma perspectiva de futuro, e sim uma questão a ser resolvida.”(1)
Esta importante tese de princípios se baseia na análise leninista do imperialismo, na definição dada por Lênin à essência do atual período histórico, e se inspira na missão histórica do proletariado de libertar-se a si e a toda a humanidade da exploração do homem pelo homem, do sistema capitalista. Ela parte de uma análise marxista-leninista concreta das grandes contradições do nosso tempo. A tese do VII Congresso do Partido é uma reafirmação da estratégia marxista-leninista da revolução nas condições atuais.
Em suas brilhantes obras sobre o imperialismo, V. I. Lênin chegou à conclusão que o imperialismo é o capitalismo em declínio e decadência, a última fase do capitalismo e a véspera da revolução social do proletariado. Analisando os fenômenos que caracterizam o imperialismo, ele escreve: “[...] todos esses fatores transformam a etapa atual do desenvolvimento capitalista na era da revolução proletária socialista. Esta era começou. As condições objetivas tornam urgente a tarefa atual de preparar o proletariado de todas as formas para a conquista do poder político, de modo a realizar as medidas políticas e econômicas que são a essência da revolução socialista.”(2)
Para definir o período atual, Lênin partiu do critério de classe. Ele disse que é importante levar em consideração “qual [é] a classe que está no centro de uma ou outra época, determinando o seu conteúdo principal, a orientação principal do seu desenvolvimento, as particularidades principais da situação histórica dessa época, etc.”(3). Ao definir o conteúdo fundamental do novo período histórico como o período do imperialismo e das revoluções proletárias, Lênin permaneceu invariavelmente leal aos ensinamentos de Marx sobre a missão histórica do proletariado como a nova força social que realizará a derrubada revolucionária da sociedade capitalista da opressão e exploração e construirá a nova sociedade, a sociedade comunista sem classes.
O “Manifesto Comunista” de Marx e Engels e o seu chamado — “Proletários de todos os países, uni-vos” — vieram anunciar que agora a contradição fundamental da sociedade humana era a contradição entre o trabalho e o capital, e chamar o proletariado a resolvê-la através da revolução. Na sua análise do imperialismo, Lênin mostrou que as contradições da sociedade capitalista haviam chegado ao seu ápice e que o mundo entrara no período das revoluções proletárias e do triunfo do socialismo.
A grande Revolução Socialista de Outubro confirmou na prática as brilhantes conclusões de Marx e Lênin. Mesmo após a morte de Lênin, o movimento comunista internacional se ateve resolutamente aos seus ensinamentos sobre a era atual, à sua estratégia revolucionária. O triunfo da revolução socialista em uma série de países confirmou que a tese leninista sobre o período atual, período da transição do capitalismo ao socialismo, reflete a lei fundamental do desenvolvimento da sociedade humana dos dias de hoje. O colapso do sistema colonial e a conquista da independência política pela maioria absoluta dos países da Ásia, África, etc. são outra confirmação da teoria leninista sobre este período e a revolução. O fato de os ensinamentos do marxismo-leninismo terem sido traídos na União Soviética e numa série de países ex-socialistas não altera em nada a tese leninista sobre o caráter da era atual, porque isso não passa de um ziguezague no curso da vitória inevitável do socialismo sobre o capitalismo em uma escala mundial.
O Partido do Trabalho da Albânia sempre defendeu firmemente essas conclusões marxistas-leninistas. O camarada Enver Hoxha afirma: “As características fundamentais da nossa era — a era da transição do capitalismo ao socialismo, da luta entre dois sistemas sociais opostos, a era das revoluções proletárias e de libertação nacional, do colapso do imperialismo e da liquidação do sistema colonial, a era do triunfo do socialismo e do comunismo numa escala mundial — se tornam mais profundas e mais claras a cada dia que passa”(4).
Os marxistas-leninistas sempre basearam sua definição do período atual e a sua estratégia revolucionária na análise das grandes contradições sociais que caracterizam este período. Quais são essas contradições? Após o triunfo da revolução socialista na Rússia, Lênin e Stálin falaram de quatro dessas contradições: a) a contradição entre dois sistemas opostos, o socialismo e o capitalismo; b) a contradição entre o trabalho e o capital nos países capitalistas; c) a contradição entre os povos e nações oprimidas e o imperialismo; d) as contradições entre as potências imperialistas. São essas as contradições que constituem a base objetiva do desenvolvimento dos movimentos revolucionários atuais, que, em sua totalidade, constituem o grande processo da revolução mundial na nossa época. Todo o desenvolvimento mundial atual confirma que, desde os tempos de Lênin, essas contradições não se enfraqueceram e desapareceram, e sim que se tornaram mais agudas e mais claras do que nunca. Portanto, reconhecer e aceitar a existência dessas contradições constitui a base para definir uma estratégia revolucionária correta.
Fazer o contrário, negar a existência dessas contradições, escondê-las, ignorar uma ou outra, distorcer o seu conteúdo real, como fazem vários revisionistas e oportunistas, causa confusão e desorientação no movimento revolucionário e serve como base para a elaboração e promoção de estratégias e táticas distorcidas e pseudorrevolucionárias.
Atualmente, muito se fala da divisão do mundo entre os pretensos “primeiro”, “segundo” e “terceiro” mundos, sobre o mundo “não-alinhado”, o mundo dos “países em desenvolvimento”, do “Norte e Sul global”, etc. Cada apoiador dessas divisões apresenta a sua própria “teoria” como a estratégia mais correta, que supostamente corresponde às condições reais da situação internacional atual. No entanto, como ressaltou o camarada Enver Hoxha no VII Congresso, “todos esses termos, que se referem a várias forças políticas atuantes no mundo de hoje, encobrem e não levam em conta o caráter de classe dessas forças políticas, as contradições fundamentais da nossa era e o problema-chave que predomina hoje em uma escala nacional e internacional — a luta encarniçada entre o mundo burguês-imperialista, de um lado, e o socialismo, o proletariado mundial e os seus aliados naturais, do outro”.(5)
Ao falar do mundo e dos vários países e classificá-los, os marxistas-leninistas fazem seu julgamento de acordo com os princípios do materialismo histórico-dialético. Julgam, em primeiro lugar, a partir da ordem socioeconômica existente em vários países, a partir do critério de classe proletário. Precisamente desse ângulo, V. I. Lênin escreve em 1921, isto é, quando apenas um país socialista existia no mundo, a Rússia Soviética, que: “hoje existem dois mundos: o velho mundo do capitalismo, que está em um estado de confusão, mas que jamais se renderá voluntariamente, e o emergente novo mundo, que ainda está muito fraco, mas que crescerá, porque é invencível”.(6) Por sua vez, J. V. Stálin, em seu conhecido artigo “Dois Campos”, publicado em 1919, também enfatizou que: “O mundo dividiu-se decidida e irrevogavelmente em dois campos: o campo do imperialismo e o campo do socialismo. [...] A luta entre esses dois campos constitui o eixo de toda a vida contemporânea, alimenta toda a política interna e externa dos expoentes do velho e do novo mundo.”(7)
A visão do nosso partido é de que ainda hoje devemos falar do mundo socialista como falaram Lênin e Stálin, de que o critério leninista está sempre certo, que o leninismo em si é vital e correto. O argumento dos teóricos dos “três mundos”, do “mundo não-alinhado”, etc, que eliminaram dos seus esquemas a existência do socialismo, referindo-se ao evento da restauração do capitalismo na União Soviética e em alguns países ex-socialistas, daí a desintegração do campo socialista, é infundado. Está em oposição total aos ensinamentos leninistas e ao critério de classe.
A traição revisionista, o retorno da União Soviética e de uma série de países ex-socialistas ao capitalismo, a ampla proliferação do revisionismo moderno no movimento comunista e operário internacional e a divisão deste movimento foram um duro golpe contra a causa da revolução e do socialismo. Isso não significa, no entanto, que o socialismo tenha sido liquidado enquanto sistema e que o critério da divisão do mundo em dois sistemas opostos deva ser mudado, que a contradição entre o socialismo e o capitalismo tenha deixado de existir. O socialismo existe e segue avançando nos países verdadeiramente socialistas que permanecem leais ao marxismo-leninismo, como a República Popular Socialista da Albânia. Portanto, o sistema socialista, como sistema que se opõe ao sistema capitalista, existe objetivamente, do mesmo modo que a contradição e a luta de vida ou morte entre ele e o capitalismo também existem.
Ao ignorar o socialismo como sistema social, a chamada “teoria dos três mundos” ignora a maior vitória histórica do proletariado internacional, ignora a contradição fundamental da época: a entre o socialismo e o capitalismo. É claro que tal “teoria” que ignora o socialismo é antileninista. Ela leva ao enfraquecimento da ditadura do proletariado nos países em que o socialismo está sendo construído, enquanto apela ao proletariado mundial para não lutar, para não se erguer em revolução socialista. E isto não deve impressionar ninguém: o abandono do critério de classe proletário ao analisar a situação só pode levar a conclusões opostas aos interesses da revolução e do proletariado.
Lênin, grande e firme marxista que foi, analisou frequentemente em suas obras o mundo capitalista e a correlação de forças dentro dele, e sempre o fez para servir à revolução, para definir as tarefas do proletariado, as tarefas dos partidos comunistas, as tarefas do primeiro Estado socialista rumo à revolução proletária mundial, para mostrar quem eram os verdadeiros aliados da revolução e quem eram os seus inimigos.
Lênin nos dá um brilhante exemplo nesse sentido nas suas teses e relatórios ao II Congresso da Internacional Comunista em 1920: “Agora é preciso ‘demonstrar’ com a prática dos partidos revolucionários que eles têm suficiente consciência, organização, ligação com as massas exploradas, decisão e habilidade para aproveitar esta crise para uma revolução com êxito, para uma revolução vitoriosa. Foi principalmente para preparar essa ‘demonstração’ que nos reunimos no presente congresso da Internacional Comunista.”(8)
No entanto, a chamada teoria dos “três mundos” não define nenhuma tarefa para a revolução. Pelo contrário, ela se “esquece” disso. No esquema dos “três mundos”, a contradição fundamental entre o proletariado e a burguesia não existe. Além disso, outra coisa que salta aos olhos nesta divisão do mundo é a visão à margem de classe(A) do que constitui o “terceiro mundo”, a desconsideração das classes e da luta de classes e o tratamento dos países que essa teoria inclui nesse mundo, dos regimes que ali dominam e das variadas forças políticas que ali operam como se fossem uma só entidade. Ela ignora a contradição entre os povos oprimidos e as forças reacionárias e pró-imperialistas dos seus próprios países.
É sabido que nos países explorados pelo imperialismo, nos países da Ásia, África e América Latina, os povos amantes da liberdade promovem uma luta árdua por liberdade, independência e soberania nacional contra o velho e o novo colonialismo. Esta é uma luta justa, revolucionária e de libertação que possui o apoio incondicional dos marxistas-leninistas nos países verdadeiramente socialistas, do proletariado mundial e de todas as forças progressistas. Esta luta é dirigida — e não poderia ser de outra maneira — contra uma série de inimigos: contra os opressores imperialistas, sobretudo contra as duas superpotências, como maiores exploradores e como polícia internacional, como maiores inimigos de todos os povos do mundo; contra a burguesia reacionária local, ligada por milhares de laços com os imperialistas estrangeiros, com esta ou aquela superpotência, com os monopólios internacionais, que é uma inimiga da liberdade e independência nacional; contra os ainda fortes resquícios feudais, que se apoiam nos imperialistas estrangeiros e se unem com a burguesia reacionária contra a revolução popular; contra os regimes reacionários e fascistas, representantes e defensores da dominação por esses três inimigos.
Assim sendo, é um absurdo supor que se possa combater apenas os inimigos externos imperialistas sem ao mesmo tempo combater e atacar os inimigos internos, aliados e colaboradores do imperialismo, e todos esses fatores que obstruem esta luta. Até hoje não houve luta de libertação ou revolução nacional democrática e anti-imperialista que não teve inimigos internos, reacionários e traidores, elementos vendidos antinacionais. Nenhum setor da burguesia, sem exceção, incluindo a burguesia compradora, pode ser identificado como força anti-imperialista, como base e fator para o avanço da luta contra o imperialismo, como faz a teoria dos “três mundos”. Seguir essa “teoria” é desviar o movimento revolucionário do caminho correto, abandonar a revolução proletária no meio do caminho, separá-la da revolução proletária dos outros países, é colocar a luta dos povos e do proletariado desses países em um caminho antimarxista e revisionista.
O marxismo-leninismo nos ensina que a questão nacional deve ser sempre vista como subordinada à causa da revolução. Partindo desse ponto de vista, os marxistas-leninistas apoiam todo movimento que seja efetivamente direcionado contra o imperialismo e sirva à causa geral da revolução proletária mundial. Lênin enfatiza: “nós, como comunistas, só devemos apoiar e só apoiaremos os movimentos libertadores burgueses nos países coloniais nos casos em que esses movimentos sejam verdadeiramente revolucionários, em que os seus representantes não nos impeçam de educar e organizar num espírito revolucionário o campesinato e as amplas massas de explorados. Mas se não existirem essas condições, os comunistas devem lutar nestes países contra a burguesia reformista, à qual também pertencem os heróis da II Internacional.”(9)
Enquanto isso, os defensores da tese do “terceiro mundo” chamam de movimento de libertação, inclusive de “principal força na luta contra o imperialismo”, até mesmo a barganha do rei da Arábia Saudita ou do xá do Irã com os monopólios petrolíferos dos EUA e as negociações de armas com o Pentágono, que envolvem bilhões e bilhões de dólares. Seguindo essa lógica, os xeiques do petróleo, que depositam seu dinheiro de petróleo nos bancos de Wall Street e de City, supostamente são combatentes contra o imperialismo e apoiadores da luta popular que se direciona contra a dominação imperialista, enquanto os imperialistas americanos, que vendem armas para os regimes opressores reacionários desses xeiques, supostamente as fornecem para as “forças patrióticas” que estão lutando para derrubar os imperialistas das “areias douradas” da Arábia e da Pérsia!
Os fatos provam que hoje também a revolução de libertação anti-imperialista democrática pode ser promovida firmemente e levada a cabo apenas se for liderada pelo proletariado, com seu partido à cabeça, e em aliança com as amplas massas do campesinato e demais forças anti-imperialistas e patrióticas. Já em 1905, em seu livro “Duas Táticas da Social-Democracia na Revolução Democrática”, Lênin provou com argumentos sólidos que, nas condições do imperialismo, a particularidade das revoluções democrático-burguesas é que a força mais interessada em levar adiante essa revolução não é a burguesia, que vacila e tende a se unir com as forças reacionárias feudais contra o ímpeto revolucionário das massas, e sim o proletariado, que considera a revolução democrático-burguesa como uma fase intermediária para a transição à revolução socialista. O mesmo pode ser dito sobre os movimentos de libertação nacional do nosso tempo. J. V. Stálin destacou que, após a Revolução de Outubro, “começou a era das revoluções libertadoras nas colônias e nos países dependentes, a era do despertar do proletariado destes países, a era de sua hegemonia na revolução.”(10)
Esses ensinamentos leninistas adquirem valor e importância especiais nas condições atuais. Hoje duas tendências se desenvolveram no mundo e atuam com grande força, tendências às quais Lênin nos chama a atenção: de um lado, a tendência da quebra das barreiras nacionais e da internacionalização da vida econômica e política pela parte dos monopólios capitalistas; do outro, a tendência do fortalecimento da luta por independência nacional pela parte de vários países. Assim, em relação à primeira tendência, em muitos países libertos do colonialismo, os laços da burguesia local com o capital estrangeiro imperialista não só se preservaram, como também têm se fortalecido e expandido em muitas formas neocolonialistas, como nas companhias multinacionais, nas várias integrações econômico-financeiras, e por aí vai. Essa burguesia, que ocupa posições-chave na vida econômica e política desses países e que está em crescimento, é uma força pró-imperialista e uma inimiga do movimento revolucionário e de libertação.
Em relação à outra tendência, a de fortalecimento da independência nacional contra o imperialismo nos países ex-coloniais, ela está ligada sobretudo com o crescimento do proletariado nesses países. Assim, condições ainda mais favoráveis estão surgindo para o amplo e firme desenvolvimento das revoluções democráticas anti-imperialistas, para que o proletariado as lidere e, como resultado, para a sua transição para uma fase superior, a fase da luta pelo socialismo.
Os marxistas-leninistas não confundem os ardentes anseios e desejos libertadores, revolucionários e socialistas dos povos e do proletariado dos países do chamado “terceiro mundo” com os objetivos e políticas da burguesia compradora opressora desses países. Eles sabem que existem correntes progressistas sãs nas fileiras dos povos dos países da Ásia, África e América Latina, que certamente levarão adiante a sua luta revolucionária até a vitória.
Falar, no entanto, em termos gerais sobre o dito “terceiro mundo” como a principal força da luta contra o imperialismo e pela revolução, como fazem os apoiadores da teoria dos “três mundos”, sem fazer nenhuma distinção entre as forças verdadeiramente anti-imperialistas e revolucionárias e as forças pró-imperialistas, reacionárias e fascistas que estão no poder em uma série de países em desenvolvimento significa prescindir de maneira flagrante dos ensinamentos do marxismo-leninismo e defender visões tipicamente oportunistas, causando confusão e desorganização entre as forças revolucionárias. Em essência, de acordo com a teoria dos “três mundos”, os povos desses países não devem lutar, por exemplo, contra as ditaduras fascistas sanguinárias de Geisel no Brasil, de Pinochet no Chile, de Suharto na Indonésia, do xá do Irã, do rei do Jordão, etc, porque estas são supostamente parte da “força motriz revolucionária que está movendo a roda da história mundial”. Pelo contrário, de acordo com essa teoria, os povos e os revolucionários devem se unir com as forças e regimes reacionários do “terceiro mundo” e apoiá-los; em outras palavras, devem desistir da revolução.
O imperialismo americano, os demais Estados capitalistas e o social-imperialismo soviético se amarraram com mil cordas às classes dominantes dos países do dito “terceiro mundo”. Essas classes, dependentes dos monopólios internacionais e desejando prolongar a sua dominação sobre as amplas massas dos seus próprios povos, tentam, é claro, dar a impressão de que supostamente formam um bloco democrático de Estados independentes, que visa pressionar o imperialismo americano e o social-imperialismo soviético e barrar sua ingerência nos seus assuntos internos.
Lênin salientou aos partidos comunistas “a necessidade constante de explicar e denunciar às amplas massas trabalhadoras de todos países, sobretudo dos países atrasados, a mentira sistemática das potências imperialistas que criam, sob a fachada de Estados politicamente independentes, Estados completamente dependentes no sentido econômico, financeiro e militar.”(11).
O Partido do Trabalho da Albânia sempre se manteve leal a estes ensinamentos imortais de Lênin.
“Quanto à análise da política seguida por vários Estados e governos, disse o camarada Enver Hoxha no VII Congresso do PTA, os marxistas partem do critério de classe, das posições que esses governos e países mantêm em relação ao imperialismo e ao socialismo, em relação ao seu próprio povo e à reação. Com base nesses ensinamentos, os movimentos revolucionários e o proletariado elaboram as suas estratégias e táticas, encontram e se unem aos seus verdadeiros aliados na luta contra o imperialismo, a burguesia e a reação. Os termos ‘terceiro-mundo’, ‘Estados não-alinhados’ ou ‘países em desenvolvimento’ criam entre as amplas massas que lutam por libertação nacional e social a ilusão de que um teto foi supostamente encontrado para abrigá-los da ameaça das superpotências. Esses termos encobrem a real situação da maioria desses países que, de um jeito ou de outro, estão amarrados e dependem política, ideológica e economicamente das superpotências e das antigas metrópoles coloniais.”(12)
As teorias atuais sobre os chamados “terceiro mundo”, “países não-alinhados”, etc, visam frear a revolução e defender o capitalismo, que não deve ser atrapalhado no exercício da sua hegemonia, mas que deve praticar certas formas de dominação um pouco mais aceitáveis aos povos. Apesar da diferença de rótulos, os chamados “terceiro mundo” e “mundo dos não-alinhados” são tão idênticos quanto duas gotas d’água. Ambos são guiados pela mesma política e ideologia, estão tão entrelaçados que é difícil distinguir quais países são de “terceiro mundo” e o que os diferencia dos “não-alinhados” e quais países estão incluídos nos “não-alinhados” e o que os diferencia daqueles do “terceiro mundo”.
Fazem-se esforços para criar ainda outro grupo dos chamados “países em desenvolvimento”, no qual se amontoam ambos os países do “terceiro mundo” e os “não-alinhados”. Os autores dessa teoria também encobrem as contradições de classe, defendem o statu quo, defendem que não se incomode o imperialismo, o social-imperialismo e as demais potências imperialistas desde que estes deem esmolas para erguer a economia dos “países em desenvolvimento”. De acordo com os autores dessa teoria, as grandes potências devem fazer certos “sacrifícios”, dar algo para os famintos, para que sejam capazes de sobreviver e não se revoltem. Dessa maneira, dizem eles, um meio-termo será encontrado, “uma nova ordem internacional” será estabelecida na qual todos, ricos e pobres, exploradores e explorados, viverão “sem guerras”, “sem armamento”, “em unidade”, “em paz de classes”, em coexistência à la Khrushchov.
Precisamente pelo fato dessas três “invenções” possuírem o mesmo conteúdo e os mesmos objetivos, nota-se que as lideranças dos “países não-alinhados”, do “terceiro mundo” e do “mundo dos países em desenvolvimento” estão em perfeita harmonia. Em uníssono elas enganam as massas, o proletariado e os povos com suas teorias e sermões de modo a dissuadi-los da luta revolucionária.
A teoria dos “três mundos” não só desconsidera a contradição entre os dois sistemas sociais opostos — o socialismo e o capitalismo —, assim como a contradição maior entre o trabalho e o capital, como também não analisa a outra grande contradição entre os povos oprimidos e o imperialismo mundial, reduzindo-a à contradição unicamente com as duas superpotências, inclusive com uma delas principalmente. Essa “teoria” ignora completamente a contradição entre os povos e nações oprimidas com as outras potências imperialistas. Além do mais, os partidários da teoria dos “três mundos” pedem uma aliança entre “terceiro mundo” com esses países imperialistas e com o imperialismo americano contra o social-imperialismo soviético.
Um dos argumentos usados para justificar a divisão do mundo em três é que, na atual conjuntura, o campo imperialista que existia após a Segunda Guerra Mundial, no qual os Estados Unidos possuíam dominação total, supostamente se desintegrou e deixou de existir como resultado do desenvolvimento desigual de vários imperialismos. Os apoiadores dessa “teoria” defendem que não se pode falar hoje de um só mundo imperialista porque, de um lado, os imperialistas ocidentais se levantaram contra os mandantes americanos e, do outro lado, existe uma dura e crescente rivalidade entre as duas superpotências imperialistas — os Estados Unidos e a União Soviética.
No estágio do imperialismo, como produto do desenvolvimento desigual de vários países capitalistas, existem e se aprofundam mais e mais as contradições inter-imperialistas, formam-se e quebram-se as alianças, blocos e grupos inter-imperialistas de acordo com as circunstâncias e conjunturas. Este é o abc do marxismo-leninismo. Lênin provou amplamente que esse fenômeno típico do imperialismo — que mostra que o imperialismo, enquanto fase final do capitalismo, caminha inevitavelmente em direção à decadência — é uma lei objetiva. Mas isso quer dizer que, como resultado desses contradições, o mundo imperialista enquanto sistema social deixou de existir e se dividiu em vários mundos, ou que a natureza socioeconômica deste ou daquele imperialismo mudou? De modo algum. Os fatos atuais mostram não a desintegração do mundo imperialista, e sim a existência de um sistema imperialista mundial único, caracterizado hoje por dois grandes blocos imperialistas: por um lado, pelo bloco imperialista ocidental, encabeçado pelo imperialismo americano, cujos instrumentos são órgãos inter-imperialistas como a OTAN, o Mercado Comum Europeu, etc; pelo outro, o bloco do Leste, dominado pelo social-imperialismo soviético, cujos instrumentos da sua política expansionista, hegemonista e belicista são o Pacto de Varsóvia e a COMECON.
No esquema dos “três mundos”, o chamado “segundo mundo” inclui países capitalistas e revisionistas, que do ponto de vista do seu regime social não possuem nenhuma diferença essencial das duas superpotências ou dos vários países incluídos no “terceiro mundo”. É verdade que os países desse “mundo” possuem determinadas contradições com as duas superpotências, mas elas são contradições de caráter inter-imperialista, como são também as contradições entre as próprias duas superpotências. Em primeiro lugar, são contradições sobre mercados, esferas de influência, zonas de exportação de capital e de exploração das riquezas dos demais, entre imperialismos tais como o alemão ocidental, o japonês, o britânico, o francês, o canadense, etc, com uma ou outra superpotência, e também entre si mesmos.
Certamente essas contradições enfraquecem o sistema imperialista mundial e são do interesse da luta do proletariado e dos povos. Entretanto, é antimarxista igualar as contradições entre várias potências imperialistas e as duas superpotências à luta das massas trabalhadoras e dos povos contra o imperialismo pela destruição deste.
Os chamados países de “segundo mundo” — em outras palavras, a grande burguesia monopolista que ali reina — jamais podem se tornar aliados dos povos e nações oprimidas na luta contra as duas superpotências e o imperialismo mundial sob quaisquer circunstâncias. A História desde a Segunda Guerra Mundial mostra claramente que esses países apoiaram e ainda apoiam a política e os atos de agressão do imperialismo americano na Coreia, no Vietnã, no Oriente Médio, na África, etc. Eles são defensores ardentes do neocolonialismo e da velha ordem de desigualdade nas relações econômicas internacionais. Os aliados do social-imperialismo soviético no “segundo mundo” participaram conjuntamente na ocupação da Tchecoslováquia e são firmes apoiadores da sua política predatória expansionista em várias zonas do mundo. Os países do chamado “segundo mundo” são o principal apoio econômico e militar das alianças agressoras e expansionistas das duas superpotências.
Os apoiadores da teoria dos “três mundos” argumentam que ela dá grandes possibilidades de exploração das contradições inter-imperialistas. As contradições no campo inimigo devem ser exploradas, mas de que maneira e com qual objetivo? O princípio é de que elas devem ser exploradas sempre em favor da revolução, em favor dos povos e da sua liberdade, em favor da causa do socialismo. O princípio é de que a exploração das contradições nas fileiras inimigas deve levar à intensificação e ao fortalecimento do movimento do movimento revolucionário e de libertação, não ao seu enfraquecimento, levar a uma mobilização cada vez mais ativa das forças revolucionárias na luta contra os inimigos, sobretudo contra os principais, sem permitir a criação de qualquer tipo de ilusão sobre eles entre os povos.
Absolutizar as contradições inter-imperialistas e subestimar a contradição básica, a contradição entre a revolução e a contrarrevolução; colocar no centro da estratégia apenas a exploração das contradições no campo inimigo e esquecer do principal: a elevação do espírito revolucionário e o desenvolvimento do movimento revolucionário dos trabalhadores e dos povos; e deixar de lado a preparação da revolução — tudo isso está em oposição total aos ensinamentos do marxismo-leninismo. É antimarxista pregar a união com os imperialismos supostamente mais fracos para se opor ao imperialismo mais forte, bem como aliar-se à burguesia do país para se opor à burguesia de outro país, sob o pretexto de explorar as contradições. Lênin evidenciou que a tática da exploração das contradições nas fileiras inimigas deve ser usada para elevar, e não para reduzir, o nível geral de consciência proletária, o espírito revolucionário e a capacidade das massas de lutar e vencer.(13)
O Partido do Trabalho da Albânia sempre defendeu firmemente e segue defendendo esses ensinamentos leninistas imortais. “Nestes momentos de grande crise do imperialismo e do revisionismo moderno, diz o camarada Enver Hoxha, nós devemos intensificar a luta contra eles, devemos explorar adequada e corretamente as grandes contradições entre os inimigos em nosso favor, em favor do Estados socialistas e dos povos que se erguem em revolução, devemos denunciá-los incessantemente e não nos contentarmos com as ditas concessões que os imperialistas e revisionistas fazem relutantemente de modo a fugirem do perigo e se vingarem mais tarde. Portanto, devemos manter sempre quente o ferro e golpeá-los sem parar.”(14)
Ao apresentar o chamado “segundo mundo”, composto em sua maioria por países capitalistas e neocolonialistas, que constituem o principal apoio das duas superpotências, como suposto aliado do “terceiro mundo” na luta contra o imperialismo americano e o social-imperialismo soviético, fica evidente o caráter antirrevolucionário e pseudo-anti-imperialista da teoria dos “três mundos”.
Essa é uma “teoria” antirrevolucionária porque prega a paz social, a colaboração com a burguesia, e portanto a desistência da revolução, ao proletariado europeu, japonês, canadense, etc, que deve combater a burguesia monopolista e o sistema de exploração dos países do “segundo mundo” porque os interesses da defesa da independência nacional e particularmente a luta contra o social-imperialismo soviético supostamente exigem isso.
Essa teoria também é pseudo-anti-imperialista, porque justifica e apoia a política neocolonialista e exploradora das potências imperialistas do “segundo mundo” e apela aos povos da Ásia, África e América Latina para que não se oponham a essa política, supostamente em nome da luta contra as superpotências. Na verdade, a luta anti-imperialista e antissocial-imperialista dos povos dos chamados “terceiro mundo” e “segundo mundo” é enfraquecida e sabotada dessa maneira.
A estratégia revolucionária é aquela que coloca a revolução no centro das coisas. “A estratégia e a tática do leninismo, escreve Stálin, são a ciência da direção da luta revolucionária do proletariado.”(15)
A estratégia leninista considera a revolução proletária mundial como um processo único, formada por várias grandes correntes revolucionárias do nosso tempo, no centro do qual está o proletariado internacional.
Este processo revolucionário se desenvolve incessantemente nos países que marcham no caminho do verdadeiro socialismo, como uma luta árdua e irreconciliável entre dois caminhos — o socialista e o capitalista — para garantir a vitória final e total do primeiro sobre o segundo, para dar um fim ao perigo de retrocesso através da violência contrarrevolucionária e da agressão imperialista ou através da degeneração pacífica burguesa-revisionista. Os revolucionários e os povos de todo o mundo observam esta luta com o maior dos interesses, considerando-a uma questão vital para a causa da revolução e do socialismo em todo o mundo. Eles dão seu apoio e respaldo total e incondicional aos países socialistas frente a qualquer tentativa imperialista contra estes países porque veem nos países uma base e um centro poderoso da revolução, veem a realização na prática dos ideais pelos quais eles mesmos estão lutando. As ideias de Lênin sobre a necessidade e a suma importância da ajuda e apoio do proletariado internacional ao país onde triunfou a revolução socialista são imortais. Mas isso sempre pressupõe que falamos de um país genuinamente socialista, que implementa os ensinamentos revolucionários do marxismo-leninismo com todo o rigor e se atém firmemente ao internacionalismo proletário. Do contrário, se ele é transformado em um país capitalista, mantendo apenas uma falsa fachada de “socialista”, ele não deve ser apoiado.
Os revolucionários e os povos sabem que os êxitos e a luta dos países socialistas são golpes que enfraquecem o imperialismo, a burguesia e a reação internacional, que são ajuda e apoio direto à luta revolucionária e de libertação dos trabalhadores e dos povos.
Lênin e Stálin sempre consideraram que a tarefa revolucionária do proletariado de um país socialista era não apenas fazer todo esforço para desenvolver o socialismo no seu próprio país, mas também apoiar os movimentos revolucionários e de libertação nos outros países em todos os aspectos. “Lênin não considerou nunca a República dos Sovietes como uma finalidade em si mesma, escreveu Stálin. Considerou-a sempre como um elo indispensável para reforçar-se o movimento revolucionário nos países do Ocidente e do Oriente, como um elo indispensável para facilitar-se a vitória dos trabalhadores de todo o mundo sobre o capital. Lênin sabia que somente esta concepção era acertada, não só do ponto de vista internacional, como também do ponto de vista da manutenção da própria República dos Sovietes.”(16) Precisamente por isso, um país verdadeiramente socialista não pode incluir-se em grupos tais como os chamados “terceiro mundo” e “países não-alinhados”, onde se apagaram todas as fronteiras de classe e que servem unicamente para dissuadir os povos do caminho da luta contra o imperialismo e pela revolução.
Somente as forças revolucionárias, amantes da liberdade e progressistas, o movimento revolucionário da classe operária e o movimento anti-imperialista dos povos e nações oprimidas podem ser aliados verdadeiros e confiáveis dos países socialistas. Portanto, defender a divisão em “três mundos”, ignorar as contradições fundamentais do nosso tempo, pedir uma aliança do proletariado com a burguesia monopolista e dos povos oprimidos com as potências imperialistas do chamado “segundo mundo” não é vantajoso para o proletariado internacional, para os povos ou para os países socialistas. É antileninista. J. V. Stálin ressalta: “Não consigo imaginar uma ocasião em que os interesses da nossa república soviética possam requerer que nossos partidos irmãos façam desvios à direita. [...] Não consigo imaginar como os interesses da nossa república, que é a base do movimento proletário revolucionário em todo o mundo, possam exigir não o máximo de espírito revolucionário e de atividade política dos trabalhadores do Ocidente, e sim a redução desta atividade e o enfraquecimento do espírito revolucionário.”(17)
Nas metrópoles do capitalismo, o processo da revolução proletária mundial se materializa hoje nas crescentes lutas de classe do proletariado e demais setores trabalhadores e progressistas contra a exploração e opressão burguesa, contra as tentativas da burguesia de colocar o fardo da crise atual do sistema capitalista mundial nas costas dos trabalhadores, contra o ressurgimento do fascismo nesta ou naquela forma, etc. Entre as amplas massas de trabalhadores, encabeçadas pelo proletariado, se desenvolve mais e mais a cada dia que passa a consciência de que a única saída para a crise e demais males do capitalismo, a exploração burguesa, a violência fascista e as guerras imperialistas é a revolução socialista e o estabelecimento da ditadura do proletariado. A vida e os fatos provam que nem a burguesia nem seus lacaios declarados e disfarçados, dos social-democratas aos revisionistas modernos, são capazes de parar a crescente onda de luta revolucionária das massas. “A luta atual do proletariado mundial, disse o camarada Enver Hoxha no VII Congresso do PTA, prova mais uma vez a tese fundamental do marxismo-leninismo de que a classe operária e a sua luta revolucionária no mundo burguês e revisionistas não podem ser reprimidas nem com violência nem com demagogia.”(18)
As condições objetivas estão se tornando cada vez mais favoráveis à revolução nos países capitalistas desenvolvidos. Agora a revolução proletária é ali uma questão a ser resolvida. Com razão, os partidos marxistas-leninistas, que pegaram em mãos a bandeira da revolução, traída e rejeitada pelos revisionistas, se lançaram seriamente à tarefa de preparar o proletariado e os seus aliados para as futuras batalhas revolucionárias, para a derrubada da ordem burguesa. Esta luta revolucionária, que está atacando o sistema capitalista e imperialista mundial nas suas principais fortalezas, recebe e deverá receber o apoio total dos países verdadeiramente socialistas e de todos os povos revolucionários e amantes da liberdade do mundo inteiro. Hoje, entretanto, os revisionistas modernos, os apoiadores da teoria dos “três mundos” e os teóricos do “movimento não-alinhado”, enquanto nada falam da revolução e da preparação para esta, tentam, na verdade, sabotá-la e manter o statu quo da ordem capitalista vigente.
Ao tentar tirar a atenção do proletariado da revolução, os autores da teoria dos “três mundos” defendem que atualmente a questão principal é a preservação da independência nacional do perigo de agressão por parte das superpotências, especialmente por parte do social-imperialismo soviético, que consideram ser o principal inimigo. A questão de definir qual é o principal inimigo em uma escala internacional em um determinado momento é de grande importância para o movimento revolucionário. Levando em conta o curso dos acontecimentos e a análise de classe da atual situação, o nosso partido ressalta que o imperialismo americano e o social-imperialismo soviético, as duas superpotências, são hoje “os principais e os maiores inimigos dos povos” e, dessa maneira, “representam o mesmo perigo”.(19)
O social-imperialismo soviético é um imperialismo selvagem, agressivo, sedento por expansão, que segue uma política tipicamente colonialista e neocolonialista, que se assenta no poder do capital e das armas.
Rivalizando com o imperialismo americano, esse novo imperialismo está lutando para ocupar posições estratégicas e pôr as suas garras em todas as regiões e continentes. Destaca-se como extintor da revolução e repressor da luta de libertação dos povos. Mas isso não quer dizer de modo algum que o outro inimigo dos povos e do mundo inteiro, o imperialismo americano, seja menos perigoso, como dizem os defensores da teoria dos “três mundos”. Distorcendo a realidade e enganando os povos, eles defendem que o imperialismo americano supostamente não é mais belicista, que ele se enfraqueceu, está em declínio, tornou-se um “rato tímido”; em uma palavra, que o imperialismo americano está se tornando pacífico. As coisas chegaram a um ponto que até a presença militar americana em vários países, como a Alemanha, a Bélgica, a Itália, o Japão e outros países, é justificada e descrita como fator de defesa. Tais pontos de vista são extremamente perigosos para a liberdade dos povos e o futuro da revolução. Tais teses criam ilusões sobre a natureza agressiva, hegemônica e expansionista de ambos o imperialismo americano e o social-imperialismo soviético.
O proletariado e a revolução proletária se encontram diante da tarefa de derrubar todo o imperialismo, e as duas superpotências imperialistas em especial. Qualquer imperialismo é sempre um inimigo selvagem da revolução proletária por natureza. Assim sendo, classificar os imperialismos como mais ou menos perigosos é errado do ponto de vista estratégico da revolução mundial. A prática provou que as duas superpotências representam, no mesmo grau e na mesma medida, o principal inimigo do socialismo e da liberdade e independência das nações, a maior força defendendo os sistemas exploradores, o perigo direto da humanidade se ver lançada a uma terceira guerra mundial. Ignorar esta grande verdade, subestimar o perigo de uma ou outra superpotência, ou ainda pior, pedir unidade com uma superpotência contra a outra, está repleto de consequências catastróficas e grandes perigos para o futuro da revolução e da liberdade dos povos.
É claro, acontece e pode acontecer que este ou aquele país seja oprimido ou ameaçado diretamente por uma das superpotências, mas isso não quer dizer de modo algum e em hipótese alguma que a outra superpotência não constitua um perigo para esse mesmo país, muito menos que a outra superpotência tenha se tornado amiga desse país. O princípio de que “o inimigo do meu inimigo é meu amigo” não pode ser aplicado quando se trata das duas superpotências imperialistas, a União Soviética e os Estados Unidos da América. Essas duas superpotências combatem a revolução de todas as maneiras, fazem todo esforço para sabotar a revolução e o socialismo e afogá-los em sangue. As duas superpotências buscam estender seu domínio e exploração sobre vários povos e países. A experiência mostra que elas lançam duros ataques às vezes contra uma região, às vezes contra outra, para estender suas garras sanguinárias sobre os povos, e que cada uma almeja ferozmente substituir a outra. Assim que o povo de um país consegue se livrar do domínio de uma superpotência, a outra aparece. O Oriente Médio e a África têm muitas provas disso.
A outra grande corrente da revolução mundial do nosso tempo é o movimento de libertação nacional dos povos, que é dirigida contra o imperialismo, o neocolonialismo e os resquícios coloniais. Os marxistas-leninistas e o proletariado mundial são totalmente solidários e dão seu apoio total ao movimento de libertação nacional dos povos oprimidos, considerando-o um fator de extrema importância e insubstituível no desenvolvimento do processo revolucionário mundial. O Partido do Trabalho da Albânia sempre apoiou os povos que estão lutando por sua liberdade e independência nacional. “Nós somos pela unidade do proletariado mundial e todas as forças verdadeiramente anti-imperialistas e amantes do progresso que, com sua luta, derrotarão os planos agressores dos belicistas imperialistas e social-imperialistas. Firme em sua linha marxista-leninista, o Partido do Trabalho da Albânia e o povo albanês [...] não pouparão esforços e lutarão, no futuro também, ao lado de todos os povos anti-imperialistas e antissocial-imperialistas, de todos os partidos marxistas-leninistas, de todos os revolucionários e do proletariado mundial e de todos os progressistas para frustrar os planos e manobras dos inimigos e garantir o triunfo da causa da liberdade e segurança dos povos. A todo momento, nosso país se encontrará ao lado dos povos cuja liberdade e independência são ameaçadas e cujos direitos são violados.”(20) O camarada Enver Hoxha, em nome do Partido e do governo albanês, declarou esta firme posição também no discurso que fez na Assembleia Popular em relação à aprovação da nossa nova constituição. “Hoje, diz ele, a maioria dos povos do mundo fazem grandes esforços e se opõem fortemente às leis coloniais e ao domínio neocolonialista, àquelas regras, práticas e costumes, aos acordos desiguais, velhos e novos, estabelecidos pela burguesia para manter a exploração dos povos, as distinções odiosas e a discriminação nas relações internacionais. [...] Os povos progressistas e os Estados democráticos que se recusam a se reconciliar com essa situação e lutam para estabelecer a soberania nacional sobre os seus próprios recursos, para fortalecer a sua independência política e econômica, e por igualdade e justiça nas relações internacionais têm plena solidariedade e apoio do povo e do Estado albanês.”(21)
Desde os tempos de Lênin, os marxistas-leninistas sempre consideraram a luta de libertação nacional dos povos e nações oprimidas pelas mãos do imperialismo como uma poderosa aliada e uma grande reserva da revolução mundial do proletariado.
Nos países que conquistaram independência política total ou parcial, a revolução está em variadas etapas de desenvolvimento e não está diante das mesmas tarefas em todos os lugares. Dentre eles, há países que estão diretamente diante da revolução proletária, enquanto em muitos outros países as tarefas da revolução nacional democrática anti-imperialista estão na ordem do dia. Mas em qualquer caso, desde que a revolução se dirija também contra a burguesia internacional, contra o imperialismo, ela será uma aliada e uma reserva da revolução proletária mundial.
Isso quer dizer, no entanto, que esses países devem permanecer no estágio nacional democrático e que os revolucionários não devem falar sobre e preparar a revolução socialista, por medo de que pulem ou queimem etapas e alguém os chame de blanquistas? Lênin falava da importância da transformação da revolução democrática burguesa na revolução socialista nos países coloniais desde o tempo em que as revoluções democráticas burguesas nesses países ainda estavam no embrião. Ao criticar o blanquismo, Marx e Engels não descreveram nem a Revolução de 1848 ou a Comuna de Paris como prematuras. O marxismo-leninismo nunca confunde a impaciência pequeno-burguesa que leva a queimar etapas com a necessidade essencial do desenvolvimento ininterrupto da revolução.
Lênin pontuou que a revolução nos países coloniais e dependentes deve ser levada adiante. Desde os tempos de Lênin, grandes mudanças aconteceram nesses países. Lênin, de maneira genial, previu essas mudanças e sua resposta a elas se encontra nas teses leninistas sobre o processo revolucionário mundial. A realização da revolução proletária é uma lei universal e a principal tendência da nossa era. Todos os países, sem exceção, incluindo até mesmo a Indonésia, o Chile, o Brasil, o Zaire, e por aí vai, devem e irão passar por ela independentemente de quais etapas serão necessárias para chegar lá. Se você perde o foco deste objetivo, defende a manutenção do statu quo, teoriza sobre “evitar pular etapas” e se esquece de lutar contra Suharto, Pinochet, Geisel e Mobutu, então você não é a favor nem da luta de libertação nacional nem da revolução nacional democrática.
A Europa também deve e irá passar pela revolução proletária. Quem ignora essa perspectiva, falha em se preparar para esse fim e defende que a revolução se mudou para a Ásia e a África, que o proletariado europeu deve se unir com a sua própria “sábia e benevolente burguesia” sob o pretexto de defender a independência nacional, está uma posição antileninista e não é a favor nem da defesa da pátria nem da liberdade da nação. Quem “se esquece” de que tanto o Pacto de Varsóvia quanto a OTAN devem ser combatidos, e que tanto a COMECON quanto o Mercado Comum devem ser rejeitados, escolheu o seu lado e tornou-se escravo deles.
No Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels escreveram: “Um espectro ronda a Europa — o espectro do comunismo. Todas as potências da velha Europa se aliaram para uma santa caçada contra este espectro”. Essa observação de Marx e Engels segue válida para os nossos dias. O revés temporário sofrido pela revolução por causa da traição revisionista e pelo potencial econômico e a força militar opressora que o imperialismo e o social-imperialismo opõem ao movimento revolucionário e às ideias do comunismo não foram e jamais serão capazes de mudar o curso da História ou superar a grande força do marxismo-leninismo.
O marxismo-leninismo é a ideologia revolucionária que adentrou profundamente a consciência do proletariado e exerce uma influência cada vez maior nas amplas massas dos povos que buscam emancipação. O impacto desta teoria é tão forte que os ideólogos burgueses sempre foram obrigados a levá-la em conta e nunca cessaram os esforços de encontrar caminhos e meios de distorcer o marxismo-leninismo e minar a revolução.
As teorias antileninistas atuais dos “três mundos”, do “não-alinhamento”, e por aí vai, também visam minar a revolução, extinguir a luta contra o imperialismo, especialmente contra o imperialismo americano, dividindo o movimento marxista-leninista e a unidade do proletariado defendida por Marx e Lênin, criando todo tipo de grupos de elementos antimarxistas para combater os partidos verdadeiramente marxistas-leninistas que seguem leais ao marxismo-leninismo e à revolução.
As tentativas de analisar as situações de uma forma supostamente nova, diferente da de Lênin e Stálin, e de mudar a estratégia revolucionária que o movimento comunista marxista-leninista sempre defendeu levam, por diversas maneiras incorretas antimarxistas, ao abandono da luta contra o imperialismo e o revisismo. A lealdade ao marxismo-leninismo e à estratégia revolucionária do movimento marxista-leninista, a luta contra todos os desvios oportunistas que os revisionistas modernos de todas as cores espalham, a mobilização revolucionária da classe operária e dos povos contra a burguesia e o imperialismo e a preparação séria para a revolução são o único caminho correto, o único caminho para a vitória.
Notas da edição:
(1) Enver Hoxha, Report at the 7th Congress of the PLA, p. 159. (retornar ao texto)
(2) V. I. Lênin, Obras, volume 24, p. 506, edição albanesa. (retornar ao texto)
(3) V. I. Lênin, Sob uma Bandeira Alheia. (retornar ao texto)
(4) Enver Hoxha, Report at the 5th Congress of the PLA, p. 5. (retornar ao texto)
(5) Enver Hoxha, Report at the 7th Congress of the PLA, p. 173. (retornar ao texto)
(6) V. I. Lênin, IX Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia, edição inglesa. (retornar ao texto)
(7) J. V. Stálin, Dois Campos. (retornar ao texto)
(8) V. I. Lênin, II Congresso da Internacional Comunista. (retornar ao texto)
(9) V. I. Lênin, II Congresso da Internacional Comunista. (retornar ao texto)
(10) J. V. Stálin, O Caráter Internacional da Revolução de Outubro. (retornar ao texto)
(11) V. I. Lênin, Obras Completas, tomo 41, p. 167, edição espanhola. (retornar ao texto)
(12) Enver Hoxha, Report at the 7th Congress of the PLA, p. 174. (retornar ao texto)
(13) V. I. Lênin, Obras, volume 31, p. 69-70, edição albanesa. (retornar ao texto)
(14) Enver Hoxha, Raporti e fjalime, 1970-1971, p. 460-461. (retornar ao texto)
(15) J. V. Stálin, Sobre os Fundamentos do Leninismo. (retornar ao texto)
(16) J. V. Stálin, Por motivo da morte de Lênin. (retornar ao texto)
(17) J. V. Stálin, Obras, volume 8, p. 111, edição albanesa. (retornar ao texto)
(18) Enver Hoxha, Report at the 7th Congress of the PLA, p. 159. (retornar ao texto)
(19) Enver Hoxha, Report at the 7th Congress of the PLA, p. 186. (retornar ao texto)
(20) Enver Hoxha, Report at the 7th Congress of the PLA, p. 193. (retornar ao texto)
(21) Enver Hoxha, Speech at the People’s Assembly, 27 de dezembro de 1976. (retornar ao texto)
Nota da tradução:
(A) Visão não de classe. Shikimi joklasor em albanês. (retornar ao texto)