Contra o nacional-comunismo
(as lições do plebiscito ''vermelho'')

Leon Trotsky


Guerra revolucionária e pacifismo


Os Scheringer e os Stenbock-Fermor consideram generosamente a causa do Partido comunista como a continuação directa da guerra dos Hohenzollern. As vítimas da matança imperialista a mais cobarde continuam para eles heróis caídos pela liberdade do povo alemão. Eles querem chamar guerra ''revolucionária'' a nova guerra pela Alsácia e a Lorena e pela Rússia oriental. Eles estão prontos a aceitar – esperando, em palavras – ''a revolução popular'', se ela pode servir de meio mobilizador dos operários para a sua guerra ''revolucionária''. Todo o seu programa se encontra na ideia da vingança; eles vêm o amanhã que se pode atingir esse objectivo por outros meios, eles não hesitarão em disparar nas costas dos proletários revolucionários. É preciso denunciar tudo isso e não o esconder. É preciso despertar a vigilância dos operários e não adormecê-los. Ora, como age o Partido?

Na fanfara comunista do primeiro de Agosto, em plena agitação pelo referendo vermelho, publica-se, ao lado do retrato de Schringer, uma das mensagens apostólicas. Eis o que aí é dito textualmente:

«Alguém que se oponha hoje à revolução popular, à guerra revolucionária libertadora, trai a causa dos mortos da guerra mundial que deram suas vidas por uma Alemanha livre».

Não cremos nossos olhos lendo essas revelações na imprensa que se diz comunista. E tudo isso é coberto com o nome de Liebknecht e Lénine. Que chicote teria pegado Lénine para chicotear numa polémica tal comunista! E ele não se contentaria com artigos polémicos. Ele pediria a convocação de um Congresso extraordinário internacional para apurar sem piedade as fileiras da vanguarda revolucionaria da gangrena do chauvinismo...

«Nós não somos pacifistas» respondem orgulhosamente os nossos Thaelmann, Remmele e outros. «Nós somos pelo princípio pela guerra revolucionária.» Para o demonstrar, eles estão prontos a nos fazer algumas citações de Marx e de Lénine que ''os professores vermelhos'' ignorantes escolheram, em Moscovo, dirigida a eles. Pode-se acreditar verdadeiramente que Marx e Lénine foram promotores da guerra nacional e não da revolução proletária! Como se a noção da guerra revolucionária em Marx e Lénine tivesse qualquer coisa de comum com a ideologia nacionalista dos oficiais fascistas e dos sub-oficiais centristas. Com uma frase barata sobre a guerra revolucionária, a burocracia estalinista atira uma dezena de aventureiros, mas ela afasta centenas de milhares e milhões de operários sociais-democratas, cristãos e sem partido.

«Vocês nos recomendam então imitar o pacifismo social-democrata?», nos objectará um teórico particularmente profundo do curso mais recente. Não, nós não estamos de forma alguma dispostos a imitar mesmo os sentimentos da classe operária, mas a ter conta disso – aí está o que é indispensável. É ao apreciar justamente os sentimentos das largas massas proletárias que se pode levá-las à revolução. Mas a burocracia que imita a fraseologia do nacionalismo pequeno burguês ignora os verdadeiros sentimentos dos operários que não querem a guerra, que não podem querê-la e que são afastados pela fanfarronice guerreira da nova firma: Thaelmann, Scheringer, o conde Stenbock-Fermor, Heinz Neumann e companhia.

O marxismo pode, bem entendido, considerar a possibilidade de uma guerra revolucionária em caso de tomada do poder pelo proletariado. Mas daí a transformar uma possibilidade histórica, que pode nos ser imposta pela marcha dos acontecimentos após a tomada do poder, numa palavra de ordem política de combate antes da conquista do poder, há uma margem. A guerra revolucionária como consequência, imposta em certas condições, da vitória proletária é uma coisa. A revolução ''popular'' como meio de guerra revolucionária, é uma outra coisa, é mesmo uma coisa diametralmente oposta.

Ainda que o governo soviético de Rússia tenha reconhecido em princípio a guerra revolucionária, ele assinou, como se sabe, o tratado muito duro de Brest-Litovsk. Porquê? Porque os camponeses e os operários, salvo uma pequena camada de operários avançados, não queriam a guerra. Os mesmos camponeses e operários defenderam a seguir heroicamente a revolução soviética contra os seus inimigos sem número. Mas, quando nós tentámos transformar a guerra defensiva, que nos tinha sido imposta por Pilsudski, numa guerra ofensiva, nós sofremos uma derrota, e este erro, nascido de uma má apreciação das forças, bateu muito duramente o desenvolvimento da revolução mundial.

O Exército vermelho existe já há 14 anos. «Nós não somos pacifistas.» Mas porquê então o governo soviético proclama a cada ocasião a sua política de paz? Porquê propõe o desarmamento e conclui pactos de não-agressão? Porquê não se serve do Exército Vermelho como um meio de revolução proletária mundial? É preciso acreditar que não basta ser em princípio pela guerra revolucionária. É preciso ainda, além disso, ter a cabeça sobre os ombros. É preciso ter em conta as circunstâncias, da relação de forças e dos sentimentos das massas.

Isso é obrigatório para um governo operário que possui entre as mãos um potente aparelho de coerção, um partido revolucionário deve tanto mais ter atentamente conta dos sentimentos dos operários e das massas trabalhadoras em geral, porque ele não pode agir de outro jeito senão pela persuasão. A revolução não é para nós um meio auxiliar para a guerra contra o Ocidente, mas, pelo contrário, é um meio de evitar todas as guerras, para as tornar impossíveis para sempre. Nós não lutamos contra a social-democracia, não em associando a vontade de paz que é própria a todo trabalhador, mas desmascarando o seu falso pacifismo, porque a sociedade capitalista, que a social-democracia tenta cada dia salvar, não é concebível sem guerra. ''A libertação nacional'' da Alemanha não reside para nós na guerra contra o Ocidente, mas na revolução proletária que abraçaria toda a Europa central e Ocidental, e a ligaria com a Europa oriental sob a forma de Estado-Unidos Soviéticos. Só, uma tal maneira de colocar a questão pode agrupar a classe operária e fazer disso o centro de atracção para as massas pequeno burguesas desesperadas. Para que o proletariado possa ditar a sua vontade à sociedade contemporânea, o seu Partido não deve ter vergonha de ser um partido proletário e de falar na sua língua própria: não na língua da vingança mas na língua da revolução proletária.


Inclusão 14/05/2017