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Durante os anos da reação, o trabalho nas organizações do Partido era muitíssimo mais difícil que no período precedente de avanço da revolução. O contingente de filiados ao Partido desceu bruscamente. Muitos elementos pequeno-burgueses que haviam aderido circunstancialmente ao Partido, principalmente entre os intelectuais, começaram a abandonar suas fileiras, temerosos das perseguições do governo czarista.
Lenin assinalava que em momentos como estes os partidos revolucionários devem completar sua aprendizagem. Nos períodos de auge da revolução aprendem a avançar, nos períodos de reação devem aprender a recuar acertadamente, a passar à clandestinidade, a manter e fortalecer o Partido como organização clandestina, a utilizar todas as possibilidades legais e todas as organizações legais, principalmente as organizações de massas para fortalecer os vínculos com estas.
Os mencheviques batiam em retirada, cheios de pânico, sem fé no novo avanço da revolução, renegando vergonhosamente as reivindicações revolucionárias do programa e as consignas revolucionárias do Partido, e pretendiam liquidar, destruir o Partido clandestino revolucionário do proletariado. Daí o nome de liquidacionistas com que se começou a designar esta espécie de mencheviques.
Ao contrário dos mencheviques, os bolcheviques estavam convencidos de que dentro de poucos anos sobreviria um novo avanço da revolução e de que era dever do Partido preparar as massas para este novo avanço. Os problemas fundamentais da revolução não haviam sido resolvidos. Os camponeses não tinham obtido as terras dos latifundiários, os operários não tinham conseguido a jornada de 8 horas, não tinha sido derrubada a autocracia czarista, odiada pelo povo, e voltaram a ser estranguladas as pequenas liberdades políticas que haviam sido arrancadas ao czarismo em 1905. Em suma, as causas que provocaram esta revolução continuavam de pé. Por isso, os bolcheviques estavam convencidos de que sobreviria um novo avanço do movimento revolucionário, preparavam-se para ele e concentravam as forças da classe operária.
Outra das razões que dava aos bolcheviques a segurança de que era inevitável um novo avanço da revolução foi que a revolução de 1905 havia ensinado aos operários a conquistar seus direitos por meio da luta revolucionária de massas. Durante os anos de reação, durante os anos de ofensiva do capital, os operários não podiam esquecer os ensinamentos de 1905.
Lenin citava cartas de operários, nas quais estes, expondo os abusos e as burlas de que voltavam a ser vítimas por parte dos patrões, exclamavam:
"Aguardai, que já virá um novo 1905"
O objetivo político fundamental dos bolcheviques continuava sendo o mesmo de 1905: derrubar o czarismo, levar a termo a revolução democrático-burguesa, passar à revolução socialista. Os bolcheviques não perdiam de vista nem um minuto este objetivo e continuavam esclarecendo às massas com as consignas revolucionárias fundamentais: República democrática, confiscação das terras dos latifundiários, jornada de 8 horas.
Porém a tática do Partido não podia continuar sendo a mesma que no período de auge da revolução de 1905. Por exemplo, durante os primeiros tempos não era possível chamar as massas à greve política geral, nem à insurreição armada, porque o Partido se achava num período de declínio do movimento revolucionário, ante um cansaço enorme da classe operária e ante um fortalecimento considerável das classes reacionárias. O Partido não podia deixar de ter em conta a nova situação. Tinha que substituir a tática da ofensiva pela tática da defensiva, pela tática da acumulação de forças, pela tática de retirar os quadros para a clandestinidade e organizar o trabalho clandestino do Partido, pela tática de combinar o trabalho ilegal do Partido com o trabalho nas organizações operárias legais.
E os bolcheviques souberam cumprir esta missão.
"Soubemos trabalhar durante longos anos com vistas à revolução — diz Lenin —. Não é em vão que dizem que somos firmes como a rocha. Os social-democratas criaram um Partido proletário que não desanima ante o fracasso da primeira acometida guerreira, que não perde a cabeça nem se deixa levar por aventuras" (Lenin, t. XII, pág. 126, ed. russa).
Os bolcheviques lutavam por manter e assegurar as organizações clandestinas do Partido. Porém, ao mesmo tempo, consideravam necessário utilizar todas as possibilidades legais, até o menor vestígio legal, para manter e fortalecer os vínculos com as massas, reforçando com isso o Partido.
"Foi o período em que nosso Partido fez a mudança da luta revolucionária aberta contra o czarismo à luta por meio de rodeios, à utilização de todas e cada uma das possibilidades legais, desde as associações operárias de socorros mútuos até a tribuna da Duma. Foi o período de recuo depois de terem sido derrotados na revolução de 1905.
Esta mudança exigia de nós a assimilação de novos métodos de luta para, depois de acumularmos forças, lançarmo-nos de novo à luta revolucionária aberta contra o czarismo." (Stalin, "Atas taquigráficas do XV Congresso do P. C. (b.) da U.R.S.S.", 1935, págs. 366-367).
As organizações legais que tinham saído indenes serviam como de anteparo para as organizações clandestinas do Partido e de meio de ligação com as massas. Para manter os vínculos com estas, os bolcheviques se valiam dos sindicatos e das demais organizações sociais de caráter legal: associações de socorros mútuos, cooperativas operárias, clubes e sociedades culturais, Casas do Povo, etc. Utilizavam a tribuna da Duma para desmascarar a política do governo czarista, para desmascarar os kadetes, para atrair os camponeses para o lado dos operários. A manutenção da organização clandestina do Partido e a direção através dela de todas as demais formas de ação política garantiam ao Partido a aplicação da linha política acertada e a preparação das forças para o novo avanço revolucionário.
Os bolcheviques aplicaram sua linha revolucionária, lutando em duas frentes: contra os liquidacionistas, inimigos abertos do Partido, e contra os chamados otsovistas, adversários encobertos dele.
Os bolcheviques, com Lenin à frente, mantiveram uma luta intransigente contra os liquidacionistas desde o primeiro momento em que surgiu esta tendência oportunista. Lenin assinalava que os liquidacionistas eram agentes da burguesia liberal dentro do Partido.
Em dezembro de 1908, celebrou-se em Paris a Quinta Conferência (nacional) do P.O.S.D.R. Por proposta de Lenin, esta conferência condenou a posição dos liquidacionistas, ou melhor, as tentativas de uma parte dos intelectuais filiados ao Partido (mencheviques) de
"liquidar a organização existente do P.O.S.D.R. e substituí-la por uma agrupação informe, mantida a todo custo dentrto do aspecto da legalidade, ainda que para isso houvesse que renunciar de um modo claro e franco ao programa, à tática e às tradições do Partido" ("Resoluções do P. C. (b.) da U.R.S.S.", parte I, pág. 128).
A Conferência fez um chamado a todas as organizações do Partido para que lutassem energicamente contra estas tentativas dos liquidacionistas.
Porém os mencheviques não se limitaram a esta resolução da Conferência do Partido e foram descendo cada vez mais pela senda dos liquidacionistas, traindo a revolução e aproximando-se dos kadetes. Os mencheviques voltavam as costas cada vez mais descaradamente ao programa revolucionário do Partido do proletariado, às reivindicações da República democrática, da jornada de 8 horas e da confiscação das terras dos latifundiários. A custa de renunciar ao programa e à tática do Partido, queriam obter do governo czarista a autorização para que funcionasse um partido pretendidamente "operário", com existência aberta e legal. Estavam dispostos a fazer as pazes com o regime stolypiniano e a adaptar-se a ele, razão por que se dava também aos liquidacionistas o nome de "partido operário stolypiniano".
Ao mesmo tempo que lutavam contra estes adversários descarados da revolução, contra os liquidacionistas — acaudilhados por Dan, Axelrod e Potresov, ajudados por Martov, Trotsky e outros mencheviques —, os bolcheviques mantinham também uma luta implacável contra os liquidacionistas encobertos, contra os "otsovistas", que disfarçavam seu oportunismo com frases "esquerdistas". Começou-se a dar o nome de "otsovistas" a um grupo de ex-bolcheviques que exigiam que o Partido retirasse os deputados operários da Duma e renunciasse em geral a toda atuação dentro das organizações legais.
Estes filiados ao Partido bolchevique, que em 1908 exigiam a retirada dos deputados social-democratas da Duma, e daí o nome de "otsovistas" (do russo "otsavat" — revogar, retirar), formaram um grupo a parte (constituído por Bogdanov, Lunacharski, Alexinski, Paravski, Bubnov e outros), o qual começou a lutar contra Lenin e contra a linha leninista. Os "otsovistas" negavam-se resolutamente a trabalhar nos sindicatos operários e nas demais organizações legais. Com isso, infringiam um grave dano à causa operária. Rompiam os vínculos entre o Partido e o proletariado, privavam aquele da ligação com as massas sem partido, queriam encerrar-se na organização clandestina e ao mesmo tempo expunham esta aos golpes do inimigo, ao privá-la da possibilidade de entrincheirar-se atrás das organizações legais. Os "otsovistas" não compreendiam que na Duma e através dela os bolcheviques podiam influir sobre os camponeses, podiam desmascarar a política do governo czarista, a política dos kadetes, os quais pretendiam arrastar com eles os camponeses por meio do engano. Os "otsovistas" entorpeciam o trabalho de acumular forças para o novo avanço revolucionário. Eram, portanto, "liquidacionistas ao reverso", pois aspiravam liquidar a possibilidade de valer-se das organizações legais e de fato renunciavam à direção proletária sobre as grandes massas sem partido, renunciavam ao trabalho revolucionário.
Numa Conferência ampliada da redação do periódico bolchevique "Proletari" (O Proletário), convocada em 1909 para julgar a conduta dos "otsovistas", foi condenada a atitude deste grupo. Os bolcheviques declararam que não tinham a menor afinidade com eles e os expulsaram do Partido.
Tanto os liquidacionistas como os "otsovistas" nunca foram mais do que elementos pequeno-burgueses circunstancialmente aderidos ao proletariado e a seu Partido e que, ao chegarem os momentos difíceis para o proletariado, tiraram a máscara e descobriram sua verdadeira face.
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Inclusão | 11/11/2010 |