História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS

Comissão do Comitê Central do PC(b) da URSS
Capítulo II — Formação do Partido Operário Social-Democrata da Rússia. Surgem duas frações no partido: a bolchevique e a menchevique (1901-1904)

4 — Meneios divisionistas dos líderes mencheviques e aguçamento da luta dentro do Partido depois do II Congresso. — O oportunismo dos mencheviques. — O livro de Lenin "Um Passo Adiante, Dois Passos Atrás". — Bases para a organização do Partido marxista.

Depois do II Congresso, a luta dentro do Partido se acentuou ainda mais. Os mencheviques esforçavam-se com todo o afinco em minar as resoluções do Congresso e apoderar-se dos organismos centrais do Partido. Exigiam que se incorporassem à redação da "Iskra" e ao Comité Central o número de representantes seus necessários para ser maioria na redação do jornal e a paridade com os bolcheviques no C. C. Os bolcheviques rechaçaram esta exigência, que transgredia as resoluções explícitas do Congresso. Em vista disto, os mencheviques criaram, às escondidas do Partido e hostil ao mesmo, sua própria organização fracionista, a cuja frente se achavam Martov, Trotsky e Axelrod, e

"se rebelaram — segundo frase de Martov — contra o leninismo".

Escolheram como método de luta contra o Partido

"a desorganização de todo o trabalho do Partido, sabotando, entorpecendo-o em tudo o que podiam" (Palavras de Lenin).

Entrincheiraram-se na "Liga Estrangeira" dos social-democratas russos, cujos noventa por cento dos componentes eram intelectuais emigrados, desligados de toda atuação prática na Rússia, e começaram a hostilizar dali o Partido, Lenin e os leninistas.

Plekhanov ajudou consideravelmente os mencheviques. No II Congresso, havia marchado de acordo com Lenin, porém depois se deixou assustar pelos mencheviques com a ameaça da cisão e decidiu "reconciliar-se" a todo custo com eles. O peso de seus velhos erros oportunistas o arrastava ao campo menchevique. Não tardou em converter-se, de conciliador com os mencheviques oportunistas em mais um menchevique. Exigiu que fossem incorporados à redação da "Iskra" todos os antigos redatores mencheviques, rechaçados pelo Congresso. E como Lenin não podia, naturalmente, concordar com isto, saiu da redação do jornal para fortalecer-se no Comité Central do Partido e daí derrotar os oportunistas. Plekhanov, por si e perante si mesmo infringindo a vontade do Congresso, incorporou à redação da "Iskra" os redatores mencheviques que tinham sido eliminados dela. Desde este momento, a partir do número 52, os mencheviques converteram o jornal em seu órgão e começaram a pregar por intermédio dele, suas ideias oportunistas.

Desde então se estabeleceu, dentro do Partido, o costume de chamar a velha "Iskra", a "Iskra" leninista, bolchevique, e a nova "Iskra", menchevique, oportunista.

Ao passar às mãos dos mencheviques, a "Iskra" se converteu em órgão de luta contra Lenin e os bolcheviques, em órgão de propaganda do oportunismo menchevique, sobretudo, no tocante aos problemas de organização. Os mencheviques, coligados com os "economistas" e os "bundistas", abriram, das colunas da "Iskra", uma campanha contra o leninismo como eles o chamavam. Plekhanov, na impossibilidade de manter à margem suas posições conciliadoras, se juntou também à campanha, ao cabo de algum tempo. Tampouco podia ser de outro modo, segundo a lógica das coisas: quem desce ao terreno da conciliação com os oportunistas, acaba afundando-se no oportunismo. Das colunas da nova "Iskra" choviam em grosso artigos e declarações, sustentando que o Partido não devia ser um todo orgânico, que devia admitir a existência, dentro de suas fileiras, de grupos e indivíduos livres, não sujeitos à disciplina das resoluções de seus órgãos; que se devia permitir a todo intelectual simpatizante com o Partido, a "qualquer grevista" e a "qualquer manifestante" considerar-se como membro do Partido; que exigir que os filiados se submetessem a todas as resoluções do Partido era focalizar o assunto de um modo "formal e burocrático"; que impor a submissão da minoria à maioria era "sufocar mecanicamente" a vontade dos membros do Partido; que pretender que todos os filiados, tanto os dirigentes como os militantes de fileiras, se submetessem por igual à disciplina do Partido, equivalia a instaurar dentro deste um "regime feudal"; que o que "nós" necessitávamos no Partido não era um regime de centralismo, senão um "autonomismo" anárquico, que desse aos indivíduos e às organizações do Partido direito a não cumprir suas resoluções.

Era uma propaganda desenfreada que tendia a relaxar os laços da organização, minar a coesão e a disciplina do Partido, glorificar o individualismo peculiar dos intelectuais e justificar uma indisciplina anárquica.

Os mencheviques arrastavam claramente o Partido aos tempos anteriores ao II Congresso, aos velhos tempos de sua dispersão orgânica, aos tempos dos círculos isolados e do trabalho à maneira artesã.

Era necessário dar uma resposta completa aos mencheviques.

Lenin deu esta resposta, com sua célebre obra intitulada "Um passo adiante, dois passos atrás" que veio à luz em maio de 1904.

Eis aqui as teses fundamentais de organização desenvolvidas por Lenin neste livro, e que mais tarde serviram de base para a organização do Partido bolchevique:

1) O Partido marxista é uma parte da classe operária, um destacamento dela. Porém destacamentos da classe operária há muitos, e não podemos considerá-los a todos como Partido da classe operária. O Partido se distingue de outros destacamentos da classe operária antes de tudo, em que não é um destacamento puro e simples, senão um destacamento de vanguarda, um destacamento consciente, um destacamento marxista, da classe operária, armado com o conhecimento da vida social, com o conhecimento das leis que regem o desenvolvimento da vida social, com o conhecimento das leis da luta de classes, o que o capacita para conduzir a classe operária e dirigir sua luta. Por isso não se deve confundir o Partido com a classe operária, como não se deve confundir a parte com o todo, nem pretender que qualquer grevista possa considerar-se como membro do Partido, pois confundir o Partido com a classe equivale a rebaixar o nível de consciência do Partido até o nível de "qualquer grevista", equivale a destruir o Partido, como destacamento consciente de vanguarda da classe operária. A missão do Partido não é rebaixar seu nível até o de "qualquer grevista", senão elevar as massas operárias, elevar "qualquer grevista" ao nível do Partido.

"Nós — escrevia Lenin — somos um Partido de classe e por isso quase toda a classe (e em tempo de guerra, em épocas de guerra civil, a classe em sua integridade) tem que atuar sob a direção de nosso Partido, tem que aderir a ele o mais estreitamente possível; porém seria uma "maniloviada" e "seguidismo" crer que quase toda ou toda a classe pode estar em qualquer tempo, sob o capitalismo, em condições de elevar-se ao grau de consciência e de atividade de seu destacamento de vanguarda, de seu Partido social-democrata. Nenhum social-democrata que ainda esteja em são juízo pôs nunca em dúvida que, sob o capitalismo, nem mesmo a organização sindical (mais primitiva e mais acessível ao grau de consciência das camadas menos desenvolvidas) está em condições de abarcar toda ou quase toda a classe operária. Esquecer a diferença que existe entre o destacamento de vanguarda e toda a massa que marcha atrás dele, esquecer o dever constante que tem o destacamento de vanguarda de elevar a seu próprio nível avançado, camadas cada vez mais amplas, só significa enganar-se a si mesmo, cerrar os olhos à imensidade de nossas tarefas e amesquinhar estas". (Lenin, t VI, págs. 205-206, ed. russa).

2) O Partido não é somente o destacamento de vanguarda, o destacamento consciente da classe operária, senão que é, além disso, seu destacamento organizado, com sua disciplina própria, obrigatória para todos os seus membros. Por isso os filiados ao Partido se acham obrigados a estar filiados também a uma de suas organizações. Se o Partido não fosse um destacamento organizado da classe operária, um sistema de organizações, mas uma simples soma de indivíduos que se consideram por si mesmos membros do Partido, porém que não fazem parte de nenhuma de suas organizações e que, portanto, não estão organizados, e, não o estando não se acham sujeitos às resoluções do Partido, este não teria jamais uma vontade única, não poderia conseguir jamais a unidade de ação de seus membros e, por conseguinte, não estaria em condições de dirigir a luta da classe operária. Para que o Partido possa dirigir praticamente a luta da classe operária e encaminhá-la para uma meta única, é indispensável que todos seus membros estejam organizados num grande destacamento único, soldado por uma vontade única, pela unidade de ação e a unidade de disciplina.

A objeção que os mencheviques opõem a isto quando dizem que neste caso ficarão fora do Partido muitos intelectuais, professores, estudantes, etc, que não querem entrar nesta ou naquela organização do Partido porque não suportam a disciplina deste ou porque, como se expressava Plekhanov no II Congresso, consideram "deprimente para eles entrar nesta ou noutra organização de base"; esta objeção se volta contra os próprios mencheviques, pois não fazem nenhuma falta ao Partido filiados deste género, que não suportem a disciplina do Partido e se assustam de entrar em suas organizações. Os operários não têm medo da disciplina nem da organização e entram de bom grado nas organizações do Partido, quando se decidem filiar-se a este. Os que temem a disciplina e a organização são os intelectuais de tendência individualista, e estes se mantêm, na realidade, à margem do Partido. E fazem bem, pois o Partido se livrará da afluência de elementos inseguros que acodem a ele, sobretudo, neste período em que começa o movimento ascendente da revolução democrático-burguesa.

"Quando digo — escreve Lenin — que o Partido deve ser uma soma (não uma soma simplesmente aritmética, senão um complexo) de organizações... expresso de um modo perfeitamente claro e preciso meu desejo, minha exigência de que o Partido, como destacamento de vanguarda, da classe operária, reúna o máximo de organização possível e só acolha em seu seio aqueles elementos que admitam, pelo menos, um grau mínimo de organizações" (Lenin t. VI, págs. 203, ed. russa).

E mais adiante:

"De palavra, a fórmula de Martov parece defender os interesses das extensas camadas do proletariado porém, de fato, esta fórmula serve aos interesses da intelectualidade burguesa, que recusa a disciplina e a organização proletárias. Ninguém se atreverá a negar que a intelectualidade, como uma camada especial dentro das sociedades capitalistas contemporâneas, se caracteriza, em conjunto, precisamente por seu individualismo e por sua inadaptabilidade à disciplina e à organização". (Obra citada, pág. 212).

E noutro lugar: *

"O proletariado não teme a organização nem a disciplina... E não vai preocupar-se de que os senhores professores e estudantes, que não querem entrar em nenhuma organização, sejam considerados como membros do Partido porque trabalham sob o controle de suas organizações...Não é o proletariado, mas são alguns intelectuais enquadrados em nosso Partido, os que sofrem de falta de educação própria em matéria de organização e disciplina". (Obra citada, pág. 307).

3) O Partido não é um destacamento organizado puro e simples, senão "a forma mais alta de organização", entre todas as da classe operária, a chamada a dirigir todas as demais organizações do proletariado. O Partido, como a forma mais alta de organização, composta dos melhores homens da classe operária, armados com uma teoria de vanguarda, com o conhecimento das leis da luta de classes e a experiência do movimento revolucionário, conta com todas as possibilidades para dirigir, como está obrigado a fazê-lo, todas as demais organizações da classe operária. A tendência dos mencheviques a diminuir e rebaixar o papel dirigente do Partido conduz a debilitar todas as demais organizações do proletariado, dirigidas por ele, consequentemente, a debilitar e desarmar o proletariado, pois este

"não dispõe, em sua luta pelo Poder, de outra arma que a organização". (Lenin, t. VI, pág. 328, ed. russa).

4) O Partido é a encarnação dos vínculos que unem o destacamento de vanguarda da classe operária com as massas de milhões de homens do proletariado. Ainda que o Partido fosse o melhor destacamento de vanguarda e se achasse magnificamente organizado, não poderia viver nem desenvolver-se sem ter vínculos de união com as massas sem partido, sem multiplicar e garantir estes vínculos. Um Partido em si mesmo, isolado das massas, perdidos seus vínculos ou com vínculos débeis que o unam à sua classe, tem necessariamente que perder a confiança e o apoio das massas e se acha, portanto, inevitavelmente, condenado a perecer. Para poder viver com plenitude e desenvolver-se, o Partido tem que multiplicar seus vínculos com as massas e conquistar a confiança das massas de milhões de homens de sua classe.

"Para ser um partido social-democrata — dizia Lenin — é preciso conquistar o apoio da classe propriamente". (Obra citada, pág. 208).

5) Para funcionar bem e dirigir as massas de acordo com um plano, o Partido deve estar organizado sobre a base do centralismo, com estatutos únicos, com uma disciplina de partido igual para todos, com um só órgão de direção à frente, a saber: o Congresso do Partido e, nos intervalos entre congresso e congresso, o Comité Central, com a submissão da minoria à maioria, das diferentes organizações aos organismos centrais, e das organizações inferiores às superiores. Sem ajustar-se a estas condições, o partido da classe operária não pode ser verdadeiro partido, nem cumprir com seus deveres de direção do proletariado.

Está claro que o regime de ilegalidade, em que vivia o Partido sob a autocracia czarista, não permitia às suas organizações, naqueles momentos, estruturar-se sobre o princípio da eleição a partir de baixo, por cuja razão o Partido se via obrigado a manter um caráter estritamente conspirativo. Porém Lenin entendia que isto era, na vida de nosso Partido, uma situação passageira, que desaparecia no dia seguinte à derrubada do czarismo, e então o Partido começaria a atuar abertamente, dentro da legalidade, e suas organizações se estruturariam sobre a base da eleição democrática, sobre a base do centralismo democrático.

"Antes — escrevia Lenin — nosso Partido não era uma unidade formalmente organizada, senão simplesmente uma soma de grupos privados, razão pela qual não existia nem podia existir entre eles mais relação que a da influência ideológica. Agora já somos um Partido organizado, e isto inclui a criação de uma autoridade, a transformação do prestígio da idéia em prestígio da autoridade, a submissão dos organismos inferiores aos organismos superiores do Partido" (Lenin, t. VI, pág. 291, ed. russa).

Acusando os mencheviques de nihilismo em matéria de organização e de anarquismo senhorial, ao não admitir sobre suas pessoas a autoridade do Partido e sua disciplina, Lenin dizia:

"Este anarquismo senhorial é muito peculiar do nihilista russo. A organização do Partido se lhe afigura uma "fábrica" monstruosa, a submissão da parte ao todo e da minoria à maioria lhe parece um "avassalamento"... a divisão dos trabalhos sob a direção dos organismos centrais suscita nele gritinhos tragicômicos contra os que pretendem converter os homens em "rodas e engrenagens" de um mecanismo (e entre estas transformações, a que julga mais espantosa é a dos redatores em simples colaboradores), toda menção dos estatutos de organização do Partido o leva a um gesto de desprezo e à observação desdenhosa (dirigida aos "formalistas") de que se pode viver sem estatutos" (Obra citada, pág. 310).

6) Se o Partido, em sua atuação prática, quer conservar a unidade de suas fileiras, tem que manter uma disciplina proletária única; que obrigue por igual a todos os membros do Partido, tanto aos dirigentes como aos militantes de fileiras. Por isso, no Partido não podem fazer-se distinções entre pessoas "seletas", às quais não é obrigada a disciplina do Partido, e pessoas "do monturo", obrigadas a se submeter a ela. Sem uma disciplina única e igual para todos, não se poderá manter a integridade do Partido e a unidade dentro de suas fileiras.

"A carência total, por parte de Martov & Cia., de argumentos razoáveis contra a redação nomeada pelo Congresso, ilustra melhor que nada — diz Lenin — sua frasezinha de "nós não somos servos"... Nesta frase transparece com notável nitidez a psicologia do intelectual burguês, que crê estar por cima da organização e da disciplina das massas, que se considera um "espírito seleto"... Para o individualismo intelectual... toda organização e toda disciplina proletárias são um avassalamento feudal". (Lenin, t. VI, pág. 282, ed. russa).

E mais adiante:

"A medida que se estruturar em nosso país um verdadeiro Partido, o operário consciente irá aprendendo a distinguir a psicologia do combatente do exército proletário da psicologia do intelectual burguês que se pavoneia com frases anarquistas; irá aprendendo a exigir que cumpram seus deveres de membros do Partido não só os militantes de fileiras, senão também "os de cima". (Obra citada, pág. 312).

Resumindo a análise das divergências e definindo a posição dos mencheviques como "oportunismo nos problemas de organização", Lenin entendia que um dos pecados capitais do menchevismo era o menosprezar a importância da organização do Partido, como arma do proletariado na luta por sua emancipação. Os mencheviques opinavam que a organização do Partido do proletariado não tinha grande importância para o triunfo da revolução. Pelo contrário, Lenin entendia que a união ideológica do proletariado por si só não bastava para vencer, senão que para isto era necessário "garantir" a unidade ideológica com a "unidade material de organização" do proletariado; Lenin considerava que só sob esta condição o proletariado podia converter-se em uma força invencível.

"O proletariado — escrevia Lenin — não dispõe, em sua luta pelo Poder, de outra arma que a organização. O proletariado, disseminado pelo império da anárquica concorrência dentro do mundo burguês, esmagado pelos trabalhos forçados, ao serviço do capital, lançado constantemente ao "abismo" da miséria mais completa, do embrutecimento e da degeneração, só pode fazer-se e se fará inevitavelmente invencível, sempre e quando sua união ideológica por meio dos princípios do marxismo se consolidar mediante a unidade material da organização, que serve de base aos milhões de trabalhadores no exército da classe operária. Perante este exército não prevalecerão nem o Poder senil da autocracia russa nem o Poder caduco do capitalismo internacional", (Lenin, t. VI, pág. 328, ed. russa).

Com estas proféticas palavras termina a obra de Lenin "Um passo adiante, dois passos atrás".

Tais são as teses fundamentais de organização desenvolvidas por Lenin neste célebre livro.

A importância desta obra reside, antes de tudo, em haver mantido o princípio do Partido contra o regime dos círculos, haver defendido o Partido contra os desorganizadores, aniquilado o oportunismo menchevique no que se refere aos problemas de organização, e haver assentado as bases orgânicas para o Partido bolchevique.

Mas, não se reduz a isto a importância da obra em questão. Sua significação histórica consiste em que nela, Lenin traça, pela primeira vez na história do marxismo a teoria do Partido como organização dirigente do proletariado e como arma fundamental em mãos deste, sem a qual é impossível triunfar na luta pela ditadura proletária.

A difusão desta obra de Lenin entre os militantes do Partido fez com que a maioria das organizações de base se agrupassem estreitamente em torno de Lenin.

Porém, quanto mais estreitamente se agrupavam as organizações em torno dos bolcheviques, maior era a irritação de que os líderes mencheviques davam mostras.

No verão de 1904, os mencheviques se apoderaram da maioria dentro do Comité Central, graças à ajuda que lhes prestou Plekhanov e à traição de dois bolcheviques degenerados: Krasin e Noskov. Era evidente que os mencheviques marchavam rumo à cisão. A perda das posições da "Iskra" e do C. C. colocou os bolcheviques numa posição difícil. Era necessário organizar um jornal bolchevique próprio. Era necessário organizar um novo Congresso do Partido, o III Congresso, para eleger um novo C. C. e destruir os mencheviques.

Lenin e os bolcheviques se encarregaram desta tarefa.

Os bolcheviques começaram a fazer campanha em prol da convocação do III Congresso do Partido. Em agosto de 1904 se celebrou na Suíça, sob a direção de Lenin, uma conferência à qual assistiram 22 bolcheviques. Nela se aprovou o chamado dirigido "Ao Partido", que foi, para os bolcheviques, o programa de luta em prol da convocação do III Congresso.

Em três conferências regionais de Comités bolcheviques (a do Sul, a do Cáucaso e a do Norte) foi eleito um Bureau de Comités da maioria, que se encarregou de realizar o trabalho prático de preparação para o III Congresso.

A 4 de janeiro de 1905 apareceu o primeiro número do jornal bolchevique "Vperiod" ("Adiante").

Dentro do Partido se haviam formado, como se vê, duas frações independentes, a bolchevique e a menchevique, cada uma com seus organismos centrais e seus órgãos na Imprensa.

Resumo

Durante os anos de 1901 a 1904, crescem e se fortalecem, na Rússia, na base do auge do movimento operário revolucionário, as or-

ganizações social-democratas marxistas. Mediante uma luta tenaz de princípios contra os "economistas", triunfa a linha revolucionária leninista da "Iskra" e se superam a dispersão ideológica e o trabalho à "maneira artesã".

A "Iskra" serve de traço de união entre os grupos e círculos soci-al-democratas dispersos, e prepara o II Congresso do Partido. Neste Congresso, celebrado em 1903, se formou o Partido Operário Social-Democrata da Rússia, foram aprovados o programa e os estatutos do Partido, e se criaram os organismos centrais deste.

Na luta travada no II Congresso pelo triunfo definitivo da linha da "Iskra", dois grupos manifestaram-se dentro do P.O.S.D.R, o dos bolcheviques e o dos mencheviques.

As principais divergências existentes entre os bolcheviques e os mencheviques, depois do II Congresso, versavam sobre os problemas de organização.

Os mencheviques se aproximaram dos "economistas" e vieram ocupar o posto destes no Partido. No momento, o oportunismo dos mencheviques se manifesta no terreno dos problemas de organização. Os mencheviques são contrários a um partido revolucionário combativo de tipo leninista. Batem-se por um partido informe, não organizado, que vá a reboque dos acontecimentos. Seguem uma linha di vi sionista dentro do Partido. Com a ajuda de Plekhanov, se apoderam da "Iskra" e do C. C, valendo-se destas posições centrais para seus fins divisionistas.

Ante a ameaça de uma cisão por parte dos mencheviques, os : bolcheviques tomam medidas para cerrar a passagem aos divisionistas, mobilizam as organizações de base em prol da convocação do III Congresso, e editam um jornal próprio, intitulado "Vperiod".

Portanto, em vésperas da primeira revolução russa e já nos começos da guerra russo-japonesa, os bolcheviques e os mencheviques aparecem como dois grupos políticos independentes um do outro.


pcr
Inclusão 22/10/2010
Última alteração 05/12/2010