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Lenin não assistiu ao primeiro congresso do P.O.S.D.R. Achava-se naquele tempo deportado na Sibéria, na aldeia de Shushnskoe, por ordem do governo czarista, depois de um longo tempo de prisão em Petersburgo, motivada pelo seu trabalho na "União de Luta Pela Emancipação da Classe Operária". Porém Lenin prosseguia seu trabalho revolucionário do desterro. Foi lá onde terminou sua importantíssima obra científica "O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia", que vinha rematar o esmagamento ideológico do populismo. Também escreveu no desterro seu conhecido folheto intitulado "As tarefas dos social-democratas russos".
Apesar de achar-se isolado do trabalho prático revolucionário direto, Lenin sabia manter contato com ativistas revolucionários, mantinha correspondência com eles, informava-se por seu intermédio e lhes dava conselhos. Durante este tempo, Lenin se ocupou especialmente do problema dos "economistas". Compreendia melhor do que ninguém que o "economismo" era a célula fundamental da doutrina conciliadora, do oportunismo e que o triunfo do "economismo" no movimento operário significaria o solapamento do movimento revolucionário do proletariado, a derrota do marxismo.
Por isso Lenin começou a combater os "economistas" desde o primeiro dia de seu aparecimento. Os "economistas" afirmavam que o operariado devia lutar somente no campo econômico, deixando a luta política a cargo da burguesia liberal, a qual os operários deviam apoiar.
Lenin considerava estas prédicas dos "economistas" como próprias de renegados do marxismo, como a negação da necessidade de um partido político independente para a classe operária, como uma tentativa de converter a classe operária num apêndice político da burguesia.
Em 1899, um grupo de "economistas" (Prokopovich, Kuskova e outros, que mais tarde se tornaram kadetes) lançou um manifesto.
Nele se declaravam contrários ao marxismo revolucionário e exigiam que o proletariado renunciasse a criar um partido político independente, que a classe operária renunciasse às suas reivindicações políticas próprias. Os "economistas" achavam que a luta política era tarefa da burguesia liberal e que os operários tinham bastante com que ocuparse na luta econômica contra os patrões.
Depois de conhecer este documento oportunista, Lenin convocou uma conferência dos deportados políticos marxistas nas imediações da aldeia em que se achava, e, 17 camaradas, com Lenin à frente, formularam um enérgico protesto, denunciando as idéias dos "economistas".
Este protesto, redigido por Lenin, circulou pelas organizações marxistas de toda a Rússia e teve uma importância formidável para o desenvolvimento do marxismo e do partido marxista na Rússia.
Os "economistas" russos pregavam as mesmas idéias dos adversários do marxismo nos partidos social-democratas do estrangeiro — os chamados "bernsteinianos", isto é, os partidários do oportunista Bernstein.
Por isso, a luta de Lenin contra os "economistas" era, ao mesmo tempo, uma luta contra o oportunismo internacional. A luta fundamental mantida contra o "economismo" pela criação de um partido político independente do proletariado, ficou a cargo do jornal clandestino "Iskra", criado por Lenin.
Em começos de 1900, Lenin e outros filiados à "União de Luta" regressaram do desterro da Sibéria para a Rússia. Lenin se propôs criar um grande jornal ilegal para todo o país. Existia já uma grande quantidade de círculos e organizações marxistas, porém sem ligação entre si. Naquele momento em que, dizendo com as palavras do camarada Stalin,
"o trabalho de tipo artesão e o mal de círculos isolados minavam o partido de alto a baixo, e no qual a dispersão ideológica era o traço característico da vida interna do partido",
a criação de um jornal clandestino para toda a Rússia era a tarefa fundamental que se apresentava aos marxistas revolucionários. Só este jornal podia ligar entre si as dispersas organizações marxistas e preparar a criação de um verdadeiro partido.
Mas um jornal assim era impossível organizar na Rússia czarista, por causa das perseguições policiais. Em um ou dois meses, seria descoberto pela polícia e destruído. Lenin decidiu, pois, editá-lo no estrangeiro. O jornal, impresso em papel fino e resistente, era introduzido ilegalmente na Rússia. Alguns números da "Iskra" se reproduziam dentro do país, nas Imprensas clandestinas de Bakú, Kishínev, Sibéria, etc.
No outono de 1900, Lenin foi para o estrangeiro a fim de entrevistar-se com os camaradas do grupo "Emancipação do Trabalho" sobre a publicação de um jornal político para toda a Rússia. Este jornal havia sido idealizado por Lenin no desterro, em todos os detalhes. Quando passou de volta do desterro, Lenin teve em Ufá, Pskov, Moscou e Petersburgo uma série de entrevistas sobre o jornal projetado.
Em todas estas cidades, combinou com os camaradas códigos para correspondência clandestina e senhas para o envio de publicações, e examinou com eles o plano para a luta futura.
O governo czarista compreendia que tinha em Lenin um inimigo perigosíssimo. Em sua correspondência secreta, o agente da "okhrana" czarista, o policial Zubatov escrevia:
"Hoje não há ninguém mais importante que Ulianov (Lenin) no campo da revolução"
e por isso julgou oportuno tomar medidas, para organizar o assassinato de Lenin.
Chegando ao estrangeiro Lenin se entrevistou com o grupo "Emancipação do Trabalho", isto é, com Plekhanov, Axelrod e Zazulich, combinando com eles a edição em comum do jornal "Iskra".
Todo o plano desta publicação tinha sido concebido e traçado por Lenin do princípio ao fim.
Em dezembro de 1900, apareceu no estrangeiro o primeiro número do jornal "Iskra". Logo abaixo do título vinha o seguinte lema: "Da chispa nascerá a chama". Eram palavras tomadas da resposta dos "dekabristas" à mensagem do poeta Pushkin saudando-os quando estavam desterrados na Sibéria. Com efeito, a "Iskra", isto é, a chispa acesa por Lenin, havia de provocar, com o tempo, a chama do grande incêndio revolucionário que arrasou até aos alicerces a monarquia czarista com sua nobreza, os latifundiários e o Poder da burguesia.
O Partido Operário Social-Democrata marxista na Rússia surgiu, principalmente, da luta contra o populismo, contra suas idéias falsas e nocivas para a causa da revolução.
Só destruindo ideologicamente as concepções dos populistas podia preparar-se o terreno para a criação do Partido operário marxista na Rússia. Plekhanov e seu grupo "Emancipação do Trabalho" assestaram um golpe decisivo no populismo na decada de 80 do século passado[1800].
Na década de 90, Lenin rematou o esmagamento ideológico do populismo e terminou com ele.
O grupo "Emancipação do Trabalho", fundado em 1883, realizou um grande trabalho de difusão do marxismo na Rússia; lançou as bases teóricas da social-democracia e deu o primeiro passo para sair ao encontro do movimento operário. Com o desenvolvimento do capitalismo na Rússia, cresceu rapidamente o contingente do proletariado industrial. Em meados da década de 80, a classe operária começou a marchar pelo caminho da luta organizda, pelo caminho da atuação de massas e sob a forma de greves organizadas.
Porém os grupos e círculos marxistas só se ocupavam de propaganda, sem compreender bem a conveniência de passar ao trabalho de agitação de massas dentro da classe operária; por esse motivo ainda não se achavam em contato com o movimento operário, não o dirigiam.
A "União de Luta Pela Emancipação da Classe Operária", criada por Lenin em Petersburgo no ano de 1895, que desenvolveu um trabalho de agitação de massas entre os operários e dirigiu greves de massas, representava uma nova etapa, a passagem para a agitação de massas entre os operários e a fusão do marxismo com o movimento operário. Esta "União de Luta Pela Emancipação da Classe Operária foi o primeiro gérmen do partido operário revolucionário na Rússia. Seguindo as pegadas da "União de Luta" de Petersburgo, criaram-se organizações marxistas em todos os principais centros industriais da Rússia e nas nacionalidades encravadas na periferia.
Em 1898 fez-se a primeira tentativa, que não prosperou, de unificar as organizações social-democratas marxistas em um partido, reunindo-se o primeiro Congresso do P.O.S.D.R. Porém este Congresso não conseguiu ainda criar o Partido: não existia programa nem estatutos do Partido, nem centro único de direção, nem quase nenhuma ligação entre os círculos e grupos marxistas.
Para unir e ligar entre si as organizações marxistas dispersas, formando um partido único, Lenin concebeu e realizou o plano de criação do primeiro jornal revolucionário marxista para toda a Rússia, a "Iskra".
Os principais adversários da criação de um partido político operário único eram, nesta época, os "economistas". Eles negavam a necessidade de semelhante partido. Apoiavam a dispersão e o trabalho à maneira artesã e achavam justo o grande mal de círculos isolados. Contra eles, precisamente, era que Lenin e a "Iskra" criada por ele, dirigiam seus golpes.
O aparecimento dos primeiros números da "Iskra" (1900-1901) representou a passagem para o novo período, o período da verdadeira criação, na base dos círculos e grupos dispersos, do Partido Operário Social-Democrata da Rússia.
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Inclusão | 27/09/2010 |