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Lição VII: Os Fundamentos do Materialismo Histórico
Vimos na ultima preleção como os materialistas e historiadores franceses não puderam definir o que é o “meio”.
Tentemos analisar o meio.
Que vemos nele? — Vemos diante de nós homens que mantém relações entre si, e perguntamos: — qual será a causa principal dessas relações e em que consiste este entrelaçamento de relações ente os homens? Devemos tomar aqui o sentido mais elementar da vida social e talvez encontremos aí a matéria de sua evolução.
Para existir, deve o homem desempenhar uma certa atividade em relação á natureza exterior. Ele deve adaptar-se á natureza para poder viver e não ser por ela aniquilado. E essa adaptação se realiza graças á atividade do homem. Mas só na adaptação não poderemos encontrar o conteúdo, o característico da vida social humana. Uma adaptação á natureza encontramos também nos seres inferiores. Na simples adaptação há, portanto, pouco de humano, menos ainda de social. Que é então o que distingue a adaptação humana á natureza? Em primeiro lugar a forma social. Essa adaptação se realiza não em forma individual; o homem se adapta á natureza, socialmente. Duas formas de atividade humana estão ligadas á sua adaptação à natureza: 1º, uma atividade que serve diretamente à satisfação das necessidades de sua existência (nutrição, reprodução). Para satisfazer suas necessidades desta natureza precisa o homem exercer certa atividade (por exemplo, comer, beber, respirar, manter relações sexuais, etc.), mas essas atividades são provocadas diretamente pelas proprias necessidades de momento. 2º, há uma outra atividade que serve indiretamente á satisfação das necessidades (cozinhar para comer, puxar água para beber, colher frutas para comer, etc.). A atividade do homem na primeira forma, serve-lhe para satisfazer diretamente suas necessidades, só pode ser útil ao individuo que exerce essa atividade (não se pode comer por outros). A atividade da segunda forma (satisfazer indiretamente suas necessidades) pode ser também útil a outros (pode-se colher frutas para outros, pode-se trazer água não só para si, como também para que outros bebam). Essa atividade do homem, que serve diretamente a satisfazer suas necessidades, tem uma característica especial, que consiste na possibilidade de se tornar social. A essa atividade, em geral, denominamos: trabalho.
Analisemos mais detidamente o que acabamos de referir. Trabalho, isto é, não só atividade direta, mas também indireta, notamos também em certa proporção, nos seres inferiores. O que, pois, distingue o trabalho humano do trabalho dos seres inferiores? Tentou-se definir o homem como o animal racional (homo sapiens); mas, sendo a razão no homem, o resultado de um desenvolvimento muito adiantado, não pode ela servir de característica para a definição do homem. Muito mais certo é a definição dada por Franklin: “o homem é um ser que faz e usa instrumentos”.
O trabalho de fazer e usar instrumentos é sempre uma atividade indireta. Mais ainda, esse trabalho é uma condição necessária ao desenvolvimento do próprio trabalho. Nos seres inferiores, essa atividade não desempenha, por isso, grande papel. Eles não têm as possibilidades de se desenvolver. No homem, ao contrario, a atividade, o trabalho, começa a desempenhar o papel mais importante em sua vida. O instrumento é, portanto, o momento principal que distingue a atividade do homem, seu trabalho, de todos os outros seres vivos. A matéria, isto é, a base concreta da sociedade, consistirá, portanto, no trabalho para satisfazer as necessidades humanas, nas quais o instrumento, como meio de adaptação á natureza, desempenhará o papel principal.
A totalidade dos instrumentos que o homem cria no processo de sua adaptação à natureza é chamada técnica. A técnica pode também ser chamada de meio artificial. O homem se adapta ao meio natural criando um meio artificial. No meio artificial esta corporificada a matéria da vida social.
Vejamos agora como se opera o desenvolvimento da sociedade humana. Os seres inferiores que se adaptam à natureza pelos seus órgãos naturais, estão em certo sentido, limitados pela construção esses mesmos órgãos, pelo seu estado fisiológico. O seu desenvolvimento opera lentamente levando milhares de anos para apresentar pequenas modificações, aumentando muito pouco suas qualidades de adaptação.
Os instrumentos, que podem ser considerados como órgãos artificiais, têm a grande virtude de terem um desenvolvimento quase ilimitado. Em todo caso, os instrumentos se tornam quase independentes do organismo humano e são de possibilidades quase ilimitadas, como as forças da natureza. A criação de instrumentos mais aperfeiçoados depende da correspondente exploração da natureza, cujas riquezas são inesgotáveis. Podemos ver, portanto, qual o papel que deviam e podiam exercer os instrumentos na historia da humanidade. Os instrumentos tornam possível a exploração da natureza com menos dispêndio de energias, conseguindo deste modo resultados mais favoráveis e assim permitindo ao homem adaptar-se cada vez mais ao meio.
A historia nos mostra que com o desenvolvimento do homem, ele adquire cada vez mais necessidades e novas qualidades. Surge então a questão: qual a origem dessas novas necessidades e dessas novas qualidades? Onde devam ser procuradas as causas do seu aparecimento? Bem entendido, as causas do aparecimento dessas novas necessidades cada vez mais diversas não podem ser encontradas no próprio homem, mas sim fora dele, isto é, na influencia exercida sobre ele pela natureza que o circunda, pelo meio. A própria natureza, muda, porem, muito lentamente. Se a evolução do homem dependesse somente da mutação do meio natural, no qual ele se encontra, essa evolução seria tão lenta que se tornaria quase imperceptível. Nas primeiras etapas do desenvolvimento humano notamos quão lentamente se opera essa evolução. O meio natural age pouco sobre o desenvolvimento das necessidades do homem, sobre o aperfeiçoamento de suas habilidades, sobre a mudança de sua natureza.
A causa, por conseguinte, só pode ser encontrada no meio artificial, que cresce vertiginosamente.
A causa do desenvolvimento humano, deve pois, estar na adaptação do homem ao meio natural, na atividade indireta do homem que é o trabalho, na criação de instrumentos que é a técnica, no meio artificial que cresce e se expande sem limites.
Estabelecemos, portanto, que o trabalho e a técnica formam a base da vida social e da evolução humana.
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Inclusão | 10/03/2010 |
Última alteração | 22/11/2011 |