Sobre Organização

J. Stáline


Os quadros decidem tudo
(Extracto da alocução de STÁLINE por ocasião da promoção dos alunos da Academia do Exército Vermelho, 1935)


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... A antiga palavra de ordem: «A técnica decide tudo», que exprime um período já ultrapassado, um período no qual sofremos de uma carência de técnica, deve ser agora substituída por esta nova palavra de ordem: «Os quadros decidem tudo». Isto é, hoje, o essencial.

Pode-se dizer que todos já compreendemos o grande alcance desta nova palavra de ordem e tomamos inteira consciência dela? Eu não diria que sim. Se fosse assim não veríamos esta atitude escandalosa a respeito dos homens, dos quadros, dos trabalhadores, atitude que muitas vezes observamos na prática. A palavra de ordem: «Os quadros decidem tudo» exige que os nossos dirigentes mostrem a maior solicitude pelos nossos trabalhadores, «pequenos» e «grandes», seja qual for o campo em que trabalham, que os instruam com cuidado, que os ajudem quando tenham necessidade de apoio, que os encorajem nos primeiros sucessos, que os façam avançar, etc.. Ora a verdade é que observamos muitos exemplos de seco burocratismo, uma atitude francamente escandalosa em relação aos nossos colaboradores. Em lugar de aprenderem a conhecer primeiro os homens para depois lhes confiarem as tarefas, deslocam-nos muitas vezes como se fossem simples piões. Aprendemos a apreciar as máquinas e a fazer relatórios sobre a técnica das nossas oficinas e das nossas fábricas. Mas não sei de um único caso em que um relatório tivesse sido feito com igual zelo sobre o número de homens que treinamos durante um dado período, nem sobre a maneira como os ajudamos a desenvolverem-se e a temperarem-se no seu trabalho. Como se explica isto? Explica- se pelo facto de que ainda não aprendemos a apreciar os homens, os trabalhadores, os quadros.

Recordo um incidente ocorrido na Sibéria, onde numa dada altura vivi deportado. Era na primavera, na altura das cheias da primavera. Cerca de trinta homens tinham ido ao rio para agarrar troncos de árvore que tinham sido arrastados pela imensa cheia. Pela noitinha voltaram para a aldeia, mas faltava um. Quando lhes perguntei «onde estava o que faltava», responderam com indiferença que «tinha ficado lá». «O que querem dizer com. esse ficado lá?» Responderam-me com a mesma indiferença: «Ora que pergunta! Afogado, evidentemente!» E, logo a seguir, um deles começou a afastar-se dizendo: «Tenho que ir dar de beber à minha égua». Quando os censurei por se incomodarem mais com os animais do que com os homens, um deles respondeu-me. por entre a aprovação dos restantes: «Porque é que nos haveríamos de incomodar com os homens? Podemos sempre fazer homens. Mas uma égua... experimenta lá fazer uma».

Aqui tendes um caso, talvez pouco importante, mas muito característico. Parece-me que a indiferença de certos dos nossos dirigentes a respeito dos homens, dos quadros, e a sua incapacidade para os apreciar, são uma sobrevivência daquela estranha atitude do homem para com o seu semelhante, evidenciada no episódio da longínqua Sibéria que acabo de vos contar.

Assim portanto, camaradas, se quisermos vencer com êxito a carência de homens e dar ao nosso país quadros em número suficiente capazes de fazerem progredir a técnica e pô-la em acção, devemos antes de tudo saber apreciar os homens, apreciar os quadros, apreciar todos os trabalhadores capazes de contribuírem para a nossa causa comum. É preciso enfim compreender que de todos os capitais preciosos que existem no mundo o mais precioso e o mais decisivo, são os homens, os quadros. É preciso compreender que nas nossas condições actuais «os quadros decidem, tudo». Se tivermos quadros bons e numerosos na indústria, na agricultura, nos transportes e no exército, o nosso país será invencível. Se não tivermos tais quadros coxearemos dos dois pés.

Para terminar, permiti-me beber à saúde e pelo êxito da nossa nova promoção da Academia do Exército Vermelho. Desejo-lhes os melhores. êxitos no trabalho de organizarem e dirigirem a defesa do nosso país.

Camaradas, acabastes a escola superior onde recebestes a vossa primeira têmpera. Mas a escola é apenas um estádio preparatório. Os quadros recebem a sua verdadeira têmpera no trabalho vivo, fora da escola lutando contra as dificuldades, vencendo as dificuldades. Lembrem-se, camaradas, que os bons quadros são os que não receiam as dificuldades, que não fogem das dificuldades, mas que, pelo contrário, vão ao seu encontro a fim de as vencerem e eliminarem. É só na luta contra as dificuldades que os verdadeiros quadros se forjam. E se o nosso exército possuir em número suficiente verdadeiros quadros, quadros aguerridos, será invencível.

A vossa saúde, camaradas!


Inclusão 07/06/2019