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Este título aborda numerosos problemas essencialmente diferentes um do outro, entretanto eu os reúno num só capítulo, não para misturá-los, mas exclusivamente para abreviar a exposição.
O problema da abolição das contradições entre a cidade e o campo, entre a indústria e a agricultura, é um problema conhecido, já há muito tempo equacionado por Marx e Engels. A base econômica destas contradições é a exploração do campo pela cidade, a expropriação do campesinato e a ruína da maioria da população rural devidas ao processo do desenvolvimento da indústria, do comércio e do sistema de crédito no capitalismo. Por esta razão, a contradição entre a cidade e o campo, no capitalismo, deve ser considerada como uma contradição de interesses. Nesta base surgiu a atitude hostil do campo para com a cidade e, em geral, para com a "gente da cidade".
Sem dúvida, com a destruição do capitalismo e do sistema de exploração, com o fortalecimento do regime socialista no nosso país deveria também desaparecer a contradição de interesses entre a cidade e o campo, entre a indústria e a agricultura. Assim aconteceu. A imensa ajuda dada ao nosso campesinato por parte da cidade socialista, por parte da nossa classe operária, para liquidar os grandes latifundiários e os kulaks, consolidou a base da aliança da classe operária com os camponeses; o fornecimento sistemático aos camponeses e aos seus kolkhoses de tratores e outras máquinas de primeira qualidade, transformou em amizade a aliança entre a classe operária e os camponeses. Naturalmente, os operários e os camponeses kolkhosianos constituem, apesar de tudo, duas classes, que se distinguem uma da outra por sua situação. Mas esta diferença, de nenhum modo enfraquece a amizade que os une. Ao contrário, seus interesses se encontram dentro de uma linha comum, a linha do fortalecimento do regime socialista e da vitória do comunismo. Não admira, por isso, que da antiga desconfiança, e mais ainda, do ódio do campo contra a cidade, já não restem vestígios.
Tudo isso significa que a base das contradições entre a cidade e o campo, entre a indústria e a agricultura, já foi liquidada pelo nosso atual regime socialista.
Isto, naturalmente, não significa que a abolição das contradições entre a cidade e o campo deva acarretar a "ruína das grandes cidades" (ver "Anti-Dühring", de Engels). As grandes cidades não se arruinarão, mas, ao contrário, outras novas grandes cidades surgirão, como centros não somente da grande indústria, mas também da transformação dos produtos agrícolas e de um poderoso desenvolvimento de todos os ramos da indústria alimentar. Esta circunstância facilitará o florescimento cultural do nosso país e conduzirá a um nivelamento das condições de existência da cidade e do campo.
Posição análoga temos com o problema da abolição das contradições entre o trabalho intelectual e o trabalho físico. Este problema é também um problema conhecido, há muito equacionado por Marx e Engels. A base econômica da contradição entre o trabalho intelectual e o físico é a exploração dos homens que realizam o trabalho físico, por parte dos representantes do trabalho intelectual. Todo mundo conhece a separação existente no capitalismo entre as pessoas que realizam o trabalho físico nas empresas e o pessoal da direção. É sabido que esta separação fez surgir uma atitude hostil dos operários para com os diretores, contramestres, engenheiros e outros representantes do pessoal técnico, considerados pelos operários como inimigos. Compreende-se que, com a destruição do capitalismo e do sistema de exploração, devia também desaparecer a contradição de interesses entre o trabalho físico e o intelectual. E realmente desapareceu no nosso atual regime socialista. Hoje, os homens que realizam o trabalho físico e o pessoal dirigente não são inimigos, mas camaradas e amigos, membros de um único coletivo de produção, interessados vitalmente no progresso e no melhoramento da produção. Da antiga inimizade não restou vestígio. Caráter completamente distinto tem o problema do desaparecimento das diferenças entre a cidade (indústria) e o campo (agricultura), entre o trabalho físico e o intelectual. Este problema não foi focalizado pelos clássicos do marxismo. É um problema novo, equacionado pela prática de nossa construção socialista.
Não será imaginário este problema? Terá ele para nós alguma importância prática ou teórica? Não, não se pode considerar este problema como imaginário. Ao contrário, ele é, para nós, problema sério, no mais alto grau.
Se examinarmos, por exemplo, a diferença entre a agricultura e a indústria, veremos que entre nós ela não consiste apenas em que as condições de trabalho na agricultura diferem das da indústria, mas, antes de tudo, e principalmente em que na indústria temos a propriedade de todo o povo sobre os meios de produção e os produtos, enquanto na agricultura temos a propriedade, não de todo o povo, mas de um grupo: a propriedade kolkhosiana. Já se disse que esta circunstância determina a conservação da circulação de mercadorias, que somente com o desaparecimento dessa diferença entre a indústria e a agricultura pode desaparecer a produção mercantil com todas as conseqüências daí decorrentes. Por conseguinte, não se pode negar que o desaparecimento desta diferença essencial entre a agricultura e a indústria deva ter, para nós, uma importância de primeira ordem.
A mesma coisa é preciso dizer do problema da liquidação da diferença essencial entre o trabalho intelectual e o trabalho físico. Este problema tem para nós, também, uma significação da mais alta importância. Antes do começo do desenvolvimento da emulação socialista em massa, o crescimento da indústria em nosso país se fazia emperradamente e muitos camaradas levantaram a questão de até tornar mais lento o ritmo do desenvolvimento da indústria. Explica-se isto, principalmente, pelo fato de ser àquela época, o nível técnico-cultural dos operários bastante baixo e muito distanciado do nível do pessoal técnico. Na verdade, entretanto, essa situação mudou de modo radical, depois que a emulação socialista tomou, em nosso país, caráter de massa. Justamente depois disso, a indústria adiantou-se em ritmo acelerado. Por que a emulação socialista tomou o caráter de massa? Porque no meio dos operários se formaram grupos inteiros de camaradas que não somente assimilaram um mínimo de conhecimentos técnicos, mas foram além, alcançaram o nível do pessoal técnico, passaram a corrigir os técnicos e engenheiros, a quebrar as normas existentes, como caducas, e a introduzir novas formas, atualizadas, etc. Que aconteceria se em vez de grupos isolados de operários, a maioria desses tivesse elevado seu nível técnico e cultural até o nível dos técnicos e dos engenheiros? Nossa indústria teria alcançado uma altura inatingível para a indústria de outros países. Portanto é inegável que a liquidação da diferença essencial entre o trabalho intelectual e o físico, por meio da elevação do nível técnico-cultural dos operários até o nível do pessoal técnico, não pode deixar de ter, para nós, uma importância de primeira ordem.
Alguns camaradas afirmam que, com o decorrer do tempo, desaparecerá não somente a diferença essencial entre a indústria e a agricultura, entre o trabalho físico e o intelectual, mas desaparecerá também qualquer diferença entre eles. Isto não é certo. A liquidação da diferença essencial entre a indústria e a agricultura não pede conduzir à liquidação de toda diferença entre elas. Certa diferença, embora não essencial, incontestavelmente permanecerá, devido às diferenças nas condições de trabalho na indústria e na agricultura. Mesmo na indústria, se temos em vista seus vários ramos, as condições de trabalho não são as mesmas, em toda parte: as condições de trabalho dos mineiros empregados na extração de carvão, por exemplo, diferem das dos operários de uma fábrica mecanizada de calçados, as condições de trabalho dos mineiros empregados na extração de metais diferem das dos operários das usinas de construção de máquinas. Se isto é certo, então com maior razão se conservará certa diferença entre a indústria e a agricultura.
A mesma coisa é preciso dizer a respeito da diferença entre o trabalho intelectual e o trabalho físico. A diferença essencial entre eles, a diferença do seu nível técnico-cultural, indiscutivelmente desaparecerá. Mas uma certa diferença, embora não essencial, subsistirá, quando mais não seja porque as condições de trabalho do pessoal dirigente das empresas não são idênticas às condições de trabalho dos operários.
Os camaradas que afirmam o contrário apóiam-se, provavelmente, na conhecida fórmula contida em alguns dos meus trabalhos, em que se fala da liquidação da diferença entre a indústria e a agricultura, entre o trabalho físico e o intelectual, sem especificar que se trata da liquidação da diferença essencial e não de qualquer diferença. Os camaradas assim justamente compreenderam minha fórmula, na suposição de que ela significava a liquidação de qualquer diferença. Isto quer dizer, porém, que a fórmula era imprecisa, insatisfatória. É preciso rejeitá-la e substituí-la por outra fórmula que fale da liquidação das diferenças essenciais e da permanência das diferenças não essenciais entre a indústria e a agricultura, entre o trabalho intelectual e o trabalho físico.
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Inclusão | 28/07/2009 |