Para a Criação de Tropas de Reserva da República

J. V. Stálin

30 de Agosto de 1920


Primeira Edição: nas Obras Completas de Stálin.
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 4º vol., Editorial Vitória, 1954 – traduzida da edição italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni Rinascita, Roma, 1949.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
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Fernando A. S. Araújo, setembro 2006.
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1. Nota ao Bureau Político do C.C. do P.C.(b) da Rússia

A conduta da França e da América, que apóiam abertamente os poloneses e Wrángel, assim como a da Inglaterra, que com o seu silêncio sancionou esse apoio, por um lado, e, por outro, os êxitos dos poloneses, o esperado fortalecimento de Wrángel com forças novas, a concentração do exército oriental romeno na região de Dorokha, criam para a República uma grave situação internacional e militar. É necessário preocupar-se imediatamente com assegurar à República tropas frescas de infantaria (cerca de cem mil infantes), soldados de cavalaria novos (cerca de trinta mil), e os correspondentes abastecimentos bélicos.

Os últimos êxitos dos poloneses revelaram a insuficiência fundamental dos nossos exércitos, a falta de importantes reservas; pedra angular do atual programa, destinado a reforçar o poderio militar da República, deve constituir portanto a formação de poderosas reservas que podem ser enviadas à frente a qualquer momento.

Na base de tudo quanto disse, proponho que se aceite o seguinte programa para a formação de tropas de reserva da República:

  1. Continuando o completamente normal das divisões eficientes que se encontram na linha de fogo, iniciar imediatamente a retirada da frente das divisões (de infantaria) destituídas ou quase de efetivos e que se tornaram por isso ineficientes.
  2. Calculando que as divisões de infantaria que devem ser retiradas sejam de 12 a 15, concentrá-las em regiões (que estejam absolutamente entre as produtoras de trigo) das quais possam ser enviadas sem grande atraso para as frentes de Wrángel, polonesa ou romena, conforme as circunstâncias (um terço das divisões retiradas poderia ser, por exemplo, concentrado na região de Olviópol, um outro terço na região Konotop-Bakhmatch, e o terço restante na região de Ilovaískaia-Volnovakha).
  3. Completar e abastecer essas divisões de maneira que cada uma delas seja elevada a 7 ou 8 mil homens e que todas estejam completamente prontas a entrar em ação a 1.° de janeiro de 1921.
  4. Proceder imediatamente ao completamente dos nossos destacamentos de cavalaria operantes, de maneira que nos próximos meses (até fins de janeiro) a l.a divisão de cavalaria receba 10.000 homens, a 2.a 8.000, o corpo de Gai 6.000.
  5. Proceder imediatamente à formação de cinco brigadas de cavalaria dispondo de 1.500 homens cada uma (uma de cossacos do Térek, uma segunda de montanheses do Cáucaso, uma terceira de cossacos dos Urais, uma quarta de cossacos de Orenburg, uma quinta de siberianos). Terminar a constituição das brigadas dentro de dois meses.
  6. Tomar todas as medidas necessárias para iniciar e reforçar a indústria automobilística, dedicando particular atenção à reparação e à fabricação de motores das marcas "Austin" e "Fiat".
  7. Reforçar por todos os meios a indústria das blindagens, levando em conta principalmente o revestimento dos carros com couraça.
  8. Reforçar por todos os meios a indústria aeronáutica.
  9. Ampliar o programa de abastecimentos de acordo com os pontos mencionados acima.

J. Stálin.
25 de agosto de 1920.
Moscou, Kremlin.

2. Declarações ao Bureau Político do C.C. do P.O.(b) da Rússia

A resposta de Trotski sobre o assunto das reservas é puramente formal. No seu telegrama anterior, ao qual ele faz referência em sua resposta, não há nem sequer uma alusão ao plano de formação de reservas, à necessidade de tal plano: quando retirar as divisões; em que regiões; em que data terminar o completamento das divisões, a instrução das unidades para preenchimento de claros, o treinamento em conjunto. Todas essas questões (não se trata em absoluto de pormenores!) são descuradas.

Na campanha de verão teve considerável influência (negativa) o afastamento das reservas com relação às frentes (Urais, Sibéria, Cáucaso Setentrional): as reservas não chegavam a tempo, mas sim com grande atraso, e em grande parte não conseguiam o objetivo prefixado. Por isso as zonas de concentração das reservas devem ser determinadas de antemão, constituindo um fator importantíssimo.

Uma influência igualmente considerável (e também negativa) teve a falta de preparo das unidades para preenchimento de claros: estavam mal instruídas, com pouco treinamento em conjunto e, se vieram a ser utilizáveis num momento de impetuosa ofensiva geral, de um modo genérico não resistiram à forte reação do adversário, abandonaram quase todo o equipamento e renderam-se às dezenas de milhares. Por isso, o período de instrução e de permanência nas tropas complementares, outro fator importantíssimo, também deve ser fixado de antemão.

Uma influência ainda mais considerável (e também negativa) teve o caráter fortuito, improvisado das nossas reservas: uma vez que não possuíamos unidades especiais de reserva, elas foram freqüentes vezes constituídas, de maneira casual e assaz apressadamente, com fragmentos de unidades de toda a espécie, inclusive as tropas de defesa interna da República[N108], o que minou a estabilidade dos nossos exércitos.

Em suma: é preciso iniciar (imediatamente!) um trabalho planificado para assegurar à República importantes reservas; em caso contrário, corremos o risco de achar-nos ainda diante de uma nova catástrofe militar "inesperada" ("como uma telha na cabeça").

Os abastecimentos não são "a coisa mais importante", como erroneamente pensa Trotski. A história da guerra civil ensina que, apesar da nossa pobreza, em matéria de abastecimentos saímo-nos igualmente bem; contudo, a metade das "túnicas" e das "botas" fornecidas aos soldados foi parar nas mãos dos camponeses. Por que? Porque o soldado deu túnicas e botas (e continua a dá-las) ao camponês em troca de leite, manteiga, carne, isto é, em troca daquilo que não estamos em condições de dar-lhes. Quanto aos abastecimentos também nos saímos bem nesta campanha (de verão), e apesar disso sofremos um insucesso (ao que parece, a ninguém ocorreu a idéia de apontar os que estão à testa dos nossos abastecimentos como responsáveis pelos nossos insucessos na frente polonesa. . .). Evidentemente existem fatores mais importantes que os abastecimentos (vide acima).

É preciso de uma vez por todas renunciar à prejudicial "doutrina", segundo a qual os organismos civis devem abastecer as tropas, e tudo o mais deve ser da competência do Estado-Maior que dirige as operações. O C.C. deve conhecer e controlar todo o trabalho dos órgãos militares, não se excluindo a formação das reservas e os preparativos para as operações, se não quiser se encontrar diante de uma nova catástrofe. Eis por que insisto nestes pontos:

  1. — que os órgãos militares não procurem sair-se bem com uma frase sobre as "túnicas dos soldados", mas elaborem (comecem logo a elaborá-lo) um plano concreto para a formação de reservas militares da República;
  2. — que o C.C. examine (através do Conselho de Defesa) esse plano;
  3. — que o C.C. reforce o controle sobre o Estado-Maior que dirige as operações, introduzindo um sistema de relatórios periódicos do comandante supremo ou do chefe do Estado-Maior operativo ao Conselho de Defesa ou a uma comissão especial composta de membros do Conselho de Defesa.

J. Stálin.


Notas de fim de tomo:

[N108] Em 1919-1920, essas tropas foram empregadas na defesa da cidade, das oficinas, das estradas de ferro, dos depó sitos, etc., na retaguarda e nas zonas da frente. (retornar ao texto)

pcr
Inclusão 15/04/2008