Primeira publicação: “Rabótchi Put” (“O Caminho Operário”), n.° 35. 13 de outubro de 1917. Editorial.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 360-363.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
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Nos primeiros tempos da revolução a palavra de ordem “Todo o poder aos soviets!” era uma novidade. Em abril o “poder dos soviets” contrapõe-se pela primeira vez ao poder do governo provisório. Na capital a maioria é ainda favorável ao governo provisório, mas semi Miliukov e Gutchkov. Em junho essa palavra de ordem é aprovada pela enorme maioria dos operários e dos soldados durante a demonstração. Na capital o governo provisório já está isolado. Em julho, em torno da palavra de ordem “Todo o poder aos soviets!”, estoura a luta entre a maioria revolucionária da capital e o governo Lvov—Kerenski. O Comitê Executivo Central conciliador, que se apoia no atraso da província, passa para o lado do governo. A luta decide-se a favor do governo. Os partidários do poder dos soviets são declarados fora da lei. Segue-se o negro período das repressões “socialistas” e das prisões “republicanas”, das intrigas bonapartistas e dos complôs militares, dos fuzilamentos na frente e das “conferências” no interior. Esse período dura até fins de agosto. Em fins de agosto a situação muda repentinamente. A revolta de Kornílov provoca a tensão de todas as forças revolucionárias. Os soviets no interior e os comitês na frente, que estavam a ponto de sucumbir no período de julho-agosto, agora reanimam-se “de golpe”. E reanimando-se tomam o poder nas suas mãos na Sibéria e no Cáucaso, na Finlândia e nos Urais, em Odessa e em Khárkov. Sem isso, sem a tomada do poder, a revolução teria sido derrotada. Assim o “poder dos soviets”, proclamado em abril por um “pequeno grupo” de bolcheviques em Petrogrado, em fins de agosto recebe um reconhecimento quase universal por parte das classes revolucionárias da Rússia.
Agora é evidente para todos que o “poder dos soviets” não somente é uma palavra de ordem popular, mas é o único verdadeiro instrumento de luta para conseguir vitória da revolução, a única saída da situação que se criou.
Chegou o momento em que a palavra de ordem “Todo o poder aos soviets!” deve ser finalmente realizada.
Mas o que é o “poder dos soviets”, em que ele se distingue de qualquer outro poder?
Diz-se que transmitir o poder aos soviets significa constituir um governo democrático “homogêneo”, organizar um novo “gabinete” formado por ministros “socialistas” e, de um modo geral, pôr em prática uma “séria mudança” das pessoas que compõem o governo provisório. Mas isto é falso. Aqui não se trata absolutamente de substituir algumas pessoas no governo provisório. Trata-se de fazer que novas classes revolucionárias tornem-se as classes dominantes no país. Trata-se de fazer que o poder passe para as mãos do proletariado e do campesinato revolucionário. Mas para se obter isso não é de modo algum suficiente mudar apenas o governo. Para realizar isso é necessário antes de mais nada pôr em prática uma depuração radical em todos os ministérios e em todas as instituições do governo, expulsando de todos esses postos os kornilovistas, colocando por toda a parte homens devotados à classe operária e aos camponeses. Somente então e somente nesse caso será possível falar em passagem do poder para os soviets “no centro e na periferia”.
Como explicar a impotência universalmente conhecida dos ministros “socialistas” do governo provisório?
Como explicar o fato de que esses ministros foram míseros joguetes nas mãos de homens que estavam fora do governo provisório (recordai-vos dos “informes” de Tchernov e de Skóbelev, de Zarudni e de Pechekhónov na “Conferência Democrática”)? Explica-se antes de mais nada pelo fato de que eles não dirigiam seus ministérios, mas eram por estes dirigidos. E, entre outras coisas, pelo fato de que cada ministério constitui uma fortaleza na qual se encontram ainda e sempre os burocratas do período tzarista que transformam as boas intenções dos ministros em “palavras destituídas de significado”, e estão prontos para sabotar qualquer providência revolucionária do governo. Para que o poder passe aos soviets não somente nas palavras como nos fatos, é necessário tomar essas fortalezas e, expulsos delas os servos do regime cadete-tzarista, colocar em seu lugar funcionários eletivos e demissíveis, devotados à causa da revolução.
O poder aos soviets significa a depuração radical de todas as instituições do governo, sem exceção, no interior e na frente, de alto a baixo.
O poder aos soviets significa a eletividade e a demissibilidade de todos os “comandantes” no interior e na frente.
O poder aos soviets significa eletividade e demissibilidade dos “representantes do poder” na cidade e no campo, no exército e na frota, nos “ministérios” e nas “instituições”, nas ferrovias e nos correios e telégrafos.
O poder aos soviets significa a ditadura do proletariado e do campesinato revolucionário.
Essa ditadura distingue-se radicalmente da ditadura da burguesia imperialista, daquela ditadura que não faz muito tempo Kornílov e Miliukov, esforçaram-se por instaurar, com o benévolo consentimento de Kerenski e Terechtchenko.
A ditadura do proletariado e do campesinato revolucionário significa a ditadura da maioria trabalhadora sobre a minoria exploradora, sobre os latifundiários e sobre os capitalistas, sobre os especuladores e sobre os banqueiros, em nome da paz democrática, em nome do controle operário sobre a produção e sobre a distribuição, em nome da terra aos camponeses, em nome do pão para o povo.
A ditadura do proletariado e do campesinato revolucionário significa uma ditadura aberta, de massa, exercida à vista de todos, sem complôs e sem intrigas atrás dos bastidores. De fato essa ditadura não precisa esconder que não terá piedade dos capitalistas que recorrem aos “lockouts”, que agravam o desemprego mediante formas diversas de “exonerações”, e dos banqueiros especuladores que fazem aumentar os preços dos produtos e criam a fome.
A ditadura do proletariado e do campesinato significa uma ditadura que não exerce violência sobre as massas, uma ditadura por vontade das massas, uma ditadura para garrotear os inimigos dessas massas.
Tal a essência de classe da palavra de ordem “Todo o poder aos soviets!”.
Os acontecimentos da política interna e externa, a guerra prolongada e a sede de paz, as derrotas na frente e a questão da “transferência” para Moscou, o esfacelamento e a fome, o desemprego e a exaustão: todos esses fatos impelem irresistivelmente para o poder as classes Revolucionárias da Rússia. Isso significa que o país já está maduro para a ditadura do proletariado e do campesinato revolucionário.
Chegou o momento em que a palavra de ordem revolucionária “Todo o poder aos soviets!” deve ser finalmente realizada.