Primeira publicação: “Rabótchi Put” (“O Caminho Operário”), n.° 24. 29 de setembro de 1917. Artigo não assinado.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 324-326.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
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Fala-se no esfacelamento. Escreve-se sobre o esfacelamento. Fazem-se chantagens agitando o espantalho do esfacelamento, indicando não raro as tendências “anárquicas” dos operários. Mas ninguém quer reconhecer abertamente que frequentes vezes os capitalistas criam o esfacelamento e agravam-no deliberadamente fechando as fábricas e condenando os operários ao desemprego.! Informações interessantes são fornecidas sobre o assunto pela Bírjovka:
“No cotonifício da Sociedade Russo-Francesa, situado na vila de Pávlov da governadoria de Moscou, surgiu um conflito por causa da inobservância do contrato ditado pela Comissão Distrital de Orékhovo-Zuevo sob a presidência do ministro Prokopóvitch. Na fábrica trabalham cerca de 4.000 operários. O comitê dos operários comunicou ao Ministério do Trabalho que se criara uma situação alarmante em consequência da recusa dos empregadores a submeterem-se às decisões arbitrais e por causa da deliberada diminuição da produtividade do trabalho. As negociações arrastaram-se por quatro meses e agora é iminente o perigo do fechamento do estabelecimento. A direção da fábrica da Sociedade Russo-Francesa dirigiu-se concomitantemente à embaixada francesa, declarando que os operários não querem submeter-se à decisão arbitrai e ameaçam cometer excessos e destruições. A embaixada francesa dirigiu-se ao Ministério dos Negócios Exteriores pedindo-lhe que intervenha a fim de resolver o conflito.”
E que aconteceu? Verificou-se que tanto a “direção da fábrica” quanto a “embaixada francesa” mentiram igualmente com relação aos operários, esforçando-se por desculpar o capitalista que recorre ao “lockout”.
Escutai:
“A questão foi entregue para exame ao comissário de Moscou do Ministério do Trabalho, que, tendo-se dirigido para o local e tomado conhecimento do conflito, comunicou ao ministro do trabalho que a administração da fábrica recusou-se sistematicamente a submeter-se à decisão arbitral. O relatório do comissário de Moscou do Ministério do Trabalho foi transmitido ao Ministério dos Negócios Exteriores.”
Como vedes, até o comissário de um ministério contrarrevolucionário teve de reconhecer que a razão estava com os operários.
Mas não basta. A própria Bírjovka publica um outro fato ainda mais interessante:
“De Moscou comunica-se ao Ministério do Trabalho que na fábrica de A. V. Smirnov a administração declarou que deseja proceder ao fechamento do estabelecimento que emprega 3.000 operários, por causa da falta de matérias-primas e de combustível e devendo-se proceder a reparos urgentes. Uma comissão de representantes do ‘Moskovtop’(1) e da Conferência Industrial de Moscou, juntamente com o comitê dos operários da fábrica, efetuou um inquérito no estabelecimento e chegou à conclusão de que as causas apontadas para o fechamento do estabelecimento são infundadas, uma vez que existe um estoque de matérias-primas suficiente para a continuação do trabalho, e os reparos podem ser efetuados sem interromper a atividade da fábrica. Depois disso, os operários prenderam o dono do estabelecimento. A assembleia do zemstvo pronunciou-se pelo sequestro da fábrica. Para resolver o conflito intervieram o Comitê Executivo de Pokrov e o comissário distrital do governo provisório.”
Esses são os fatos.
Os conciliadores social-revolucionários e mencheviques gritam aos quatro ventos que é indispensável a coalizão com as “forças vivas” do país, fazendo uma alusão precisa aos industriais de Moscou. Ademais, sublinham em todas as ocasiões que não se trata de uma coalizão verbal a realizar no Palácio de Inverno, mas de uma coalizão efetiva a realizar no país...
Perguntamos:
É possível qualquer coalizão efetiva entre os industriais que agravam deliberadamente o desemprego e os operários que os prendem por essas suas ações com o consentimento benévolo dos comissários do governo provisório?
Tem um limite a obtusidade dos palradores “revolucionários”, que não cessam de decantar as virtudes da coalizão com os criminosos que recorrem aos “lockouts”?
Apercebem-se esses ridículos trombeteiros da coalizão de que nenhuma outra coalizão é agora possível, exceto a coalizão no papel concluída entre os muros do Palácio de Inverno e condenada de antemão ao fracasso?
Notas de fim de tomo:
(1) Moskovtop, organismo que devia providenciar no sentido de abastecer Moscou de combustível. (retornar ao texto)