Comentários (1)

J. V. Stálin

27 de setembro de 1917


Primeira publicação: “Rabótchi Put” (“O Caminho Operário”), n.° 21. 27 de setembro de 1917. Artigo não assinado.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 309-312.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


capa

A greve dos ferroviários e os bancarroteiros da democracia

A greve dos ferroviários,(1) concebida de maneira grandiosa e organizada magnificamente, ao que parece, está para acabar. A vitória cabe aos ferroviários, porque é óbvio que a pueril coalizão no campo dos kornilovistas e dos defensistas não tem força para resistir à poderosa pressão de todas as forças democráticas do país. Agora todos vêem claramente que a greve não foi “provocada” pela má vontade dos ferroviários, mas pela política antirrevolucionária do diretório. Agora todos vêem claramente que a greve não foi imposta ao país pelos comitês dos ferroviários, mas pelas ameaças contrarrevolucionárias de Kerenski e de Nikítin. Agora todos vêem claramente que a derrota dessa greve teria significado a provável militarização das ferrovias e... o reforçamento do poder da burguesia imperialista. Os ferroviários tiveram razão ao responderem às indignas calúnias de Kerenski e de Nikítin com essa terrível acusação.

“Não somos nós, cidadãos Kerenski e Nikítin, que traímos a Pátria, mas sois vós que traístes vossos ideais e é o governo Provisório que traiu suas promessas, e agora não nos poderão de novo deter nem as palavras nem as ameaças.”

Tudo isso, como repetimos, é claro e universalmente conhecido.

Todavia, ao que parece, existem neste mundo indivíduos que, embora dizendo-se democratas, julgam lícito neste momento grave atirar uma pedra nos ferroviários sem compreender ou não querendo compreender que desse modo levam água para o moinho dos tubarões do Riétch e do Nóvoie Vremia.

Referimo-nos ao corpo de redação da menchevique Rabótchaia Gazieta.

Acusando os dirigentes da greve “de haverem cedido ao espontaneísmo” ao proclamarem a greve, o jornal declara em tom ameaçador:

“A democracia não perdoará essa ação ao estado-maior geral dos ferroviários. Não se põem em risco com semelhante leviandade os interesses de todo o país e de toda a democracia”. (“Rabótchaia Gazieta”, n.° 170).

É incrível mas é verdade: esse miserável jornal que ignora a democracia acredita ter o direito de fazer ameaças a quem representa a verdadeira democracia, aos trabalhadores das estradas de ferro.

“A democracia não perdoará”… Mas em nome de que democracia falais, senhores da Rabótchaia; Gazieta*! '

Não falais, por acaso, em nome daquela democracia dos soviets, que se desligou de vós e cuja vontade falseastes na Conferência?

Quem vos deu o direito de falar em nome dessa democracia?

Ou talvez falais em nome de Tsereteli e de Dan, de Líber e de outros mistificadores que falsearam a vontade dos soviets na conferência e traíram a própria conferência nas “consultas” realizadas no Palácio de Inverno?

Mas quem vos deu o direito de identificar esses traidores da democracia com as “forças democráticas de todo o país”?

Compreendereis um belo dia que os caminhos da Rabótchaia Gazieta e das “forças democráticas de todo o país” apartaram-se irrevogavelmente?

Pobres bancarroteiros da democracia...

Os camponeses russos e o partido dos desmiolados

Não faz muito tempo, escrevemos que o partido social-revolucionário não tomou uma decisão única sobre a questão fundamental da luta do governo contra os soviets. Enquanto a ala direita dos social-revolucionários invocava a destruição dos soviets “anarquistas” (lembrai-vos de Tachkent), organizando expedições punitivas, e a ala esquerda apoiava os soviets, o centro, formado pelos sequazes de Tchernov, tomado de dúvidas hamléticas, não tinha opinião própria e preferia observar a “neutralidade”. Em verdade o centro depois encontrou de novo “a si mesmo”, porque cassou o mandato dos membros social-revolucionários do Soviet de Tachkent e apoiou com isso a política das expedições punitivas. Mas quem ignora atualmente que essa cassação de mandato demonstrava somente a infâmia do partido social-revolucionário? De fato os social-revolucionários não saíram do Soviet de Tachkent, e não se viu que “as ações contrarrevolucionárias” não eram as do Soviet, mas as do governo de Kerenski e dos seus acólitos?…

Os social-revolucionários nem bem haviam conseguido desvencilhar-se desse “caso” e já se encontravam implicados num outro “caso” mais abominável ainda. Referimo-nos à sua votação sobre a questão da terra no chamado Antiparlamento.

O fato é que os social-revolucionários de esquerda durante o debate sobre a declaração de 14 de agosto(2) haviam apresentado a proposta de se transferir todas as terras dos latifundiários aos comitês camponeses. É necessário dizer que constituía dever da democracia apoiar essa proposta? Será necessário talvez dizer, ainda, que a questão da terra é questão fundamental da nossa revolução? E que aconteceu? Enquanto os bolcheviques e os social-revolucionários de esquerda propunham a passagem das terras aos camponeses e os social-revolucionários e direita, juntamente com os liberdántsi,(3) pronunciavam-se contra essa proposta, os centristas de Tchernov revelavam mais uma vez não possuírem “opinião própria”, abstendo-se...

O “ministro camponês” Tchernov não ousou pronunciar-se pela passagem das terras dos latifundiários aos camponeses, deixando que resolvessem a questão os falsificadores da vontade dos camponeses.

O partido social-revolucionário, partido da “revolução agrária” e do “socialismo integral”, mostrou não saber propor uma solução precisa da questão fundamental dos camponeses num momento crítico da revolução russa!

É na verdade um partido de trapaceiros desmiolados!

Pobres camponeses russos...


Notas de fim de tomo:

(1) A greve dos ferroviários durou de 24 a 26 de setembro de 1917. Os operários e os empregados das ferrovias exigiam um aumento de salários, a introdução da jornada de trabalho de oito horas, um melhor abastecimento de víveres. A greve foi geral e desenrolou-se entre a simpatia e a solidariedade dos operários da indústria. (retornar ao texto)

(2) A declaração de 14 de agosto constituía o programa da chamada “democracia revolucionária” apresentado por Tchkheidze na Conferência de Estado (realizada em Moscou) em nome da maioria social-revolucionária e menchevique do Comitê Executivo Central dos Soviets dos Deputados Operários e Soldados, do Comitê Executivo do Soviet dos Deputados Camponeses de Toda a Rússia e de outras organizações. A declaração convidava a apoiar o governo provisório. (retornar ao texto)

(3) Lilberdantsi, apelido dado aos líderes mencheviques Líber e Dan juntamente com seus partidários após a publicação no jornal bolchevique de Moscou Sotzial-Demokrat (O Social-Democrata), a 25 de agosto de 1917, de um escrito de D. Biédni intitulado Liberdan. (retornar ao texto)

Inclusão: 18/02/2024