O complô continua

J. V. Stálin

28 de agosto de 1917


Primeira publicação: “Rabótchi” (“O Operário”), n.° 5, segunda edição extraordinária. 28 de agosto de 1917. Editorial. O artigo O complô continua foi publicado em 28 de agosto de 1917 no n.° 5 do Rabótchi, e republicado no dia seguinte no n.° 6 do mesmo jornal sob o título Comentários políticos.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 260-264.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
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Quem são?

Escrevíamos ontem que os cadetes são os inspiradores da contrarrevolução. Não nos baseávamos somente em “boatos”, mas em fatos do conhecimento geral, como a saída dos cadetes do governo durante os momentos críticos da “rendição” de Tárnopol no mês de julho e o complô de Kornílov no corrente mês. De fato não podia ser por acaso que no mês de julho como no de agosto os cadetes estivessem no mesmo campo dos traidores na frente e dos piores contrarrevolucionários no interior, contra o povo russo.

Hoje o Izvéstia e os defensistas, esses fautores encarniçados da conciliação com os cadetes, confirmam sem reservas nossas declarações de ontem a respeito dos cadetes:

Lvov, não escondeu — escrevem os defensistas — que esta (isto é, a ditadura militar) não é desejada só pelo general Kornílov, como também por um certo grupo de personalidades que se acham atualmente junto ao quartel-general” (“Izvéstia”).

Segue-se daí que:

É fato que o quartel-general constitui o estado-maior da contrarrevolução.

É fato que o estado-maior geral da contrarrevolução é constituído pelas “conhecidas personalidades públicas.”

Quem são essas “personalidades”?

Escutai mais:

“Foi apurada com exatidão a participação no complô de toda uma série de personalidades que estão muito próximas, por laços ideológicos e pessoais, dos representantes do partido cadete,” (“Izvéstia”).

Segue-se daí que:

É fato que os senhores defensistas, os quais ainda ontem arrulhavam em perfeito idílio com as “forças vivas” do país, personificadas pelos “representantes do partido cadete”, são obrigados hoje a rebaixar estes últimos à categoria de conspiradores contrarrevolucionários.

É fato que o complô foi organizado e dirigido pelos “representantes do partido cadete”.

Nosso Partido tinha razão em sustentar que a primeira condição para a vitória da revolução é a ruptura com os cadetes.

Com que especulam eles?

Escrevíamos ontem que o partido de Kornílov é o pior inimigo da revolução russa, que Kornílov, entregue Riga, não hesitaria em ceder Petrogrado só para assegurar a vitória da contrarrevolução.

Hoje o Izvéstia confirma sem reservas essa nossa afirmativa:

“O chefe de estado-maior, general Lukomski, que de fato foi a alma da revolta, informa que ‘a luta intestina que lavraria na frente, no caso de o governo provisório repelir as reivindicações do general Kornílov, poderia provocar a ruptura da frente e o aparecimento do inimigo onde menos o esperamos.’”

Não há como não dizer: isso se assemelha muito à ameaça de ceder, por exemplo, Petrogrado.

Mas eis uma declaração ainda mais precisa:

“O general Lukomski evidentemente não hesitará em trair abertamente a pátria, só para obter o êxito do complô. Sua ameaça, segundo a qual a recusa em acolher as reivindicações do general Kornílov provocaria a guerra civil na frente, a abertura da frente e a vergonha de uma paz em separado, não pode ser considerada senão como uma firme decisão de pôr-se de acordo com os alemães para assegurar o êxito do complô.”

Ouvistes: “acordo com os alemães”, “abertura da frente”, “paz em separado”…

Os cadetes “participam do complô” e ocultam com sua permanência no quartel-general a ameaça da “abertura da frente”, do “acordo com os alemães”: eis onde estão os verdadeiros “traidores” e os verdadeiros “vilões”!

Por meses inteiros esses heróis da “abertura da frente” vomitaram imundícies sobre o nosso Partido, acusando-o de “traição”, falando de “fundos alemães”. Por meses inteiros os mercenários amarelos dos bancos e colaboradores do Nóvoie Vrêmia e da Bírjovka, do Riétch e da Rússkaia Vólia, bordaram considerações em torno dessa lenda infame. Com que resultado? Agora até os defensistas são obrigados a reconhecer que a traição na frente é obra do comando e dos seus inspiradores ideológicos.

Que os operários e os soldados se recordem disso!

Saibam que os gritos provocatórios da imprensa burguesa acerca da “traição” dos soldados e dos bolcheviques não faziam senão mascarar a traição real dos generais e das “personalidades públicas” do partido cadete.

Saibam que, quando a imprensa faz alarido sobre a “traição” dos soldados, isso é sinal seguro de que aqueles que inspiram essa imprensa já prepararam a traição e esforçam-se por jogar a culpa disso para cima dos soldados.

Saibam-no os operários e os soldados, e daí tirem as devidas conclusões.

Quereis saber com o que especulam esses sujeitos?

Especulam com a “abertura da frente” e com o “acordo com os alemães”, pensando arrastarem a reboque, com a ideia da paz em separado, os soldados martirizados ela guerra, para lançá-los depois contra a revolução.

Os operários e os soldados compreenderão que não é possível ter piedade desses traidores do quartel-general.

O complô continua….

Os acontecimentos precipitam-se. Novos fatos e novos boatos sucedem-se rapidamente diante de nós. Chegam boatos ainda não confirmados acerca de negociações de Kornílov com os alemães. Fala-se precisamente de um tiroteio travado nas imediações de Petrogrado entre os regimentos de Kornílov e os soldados revolucionários. Foi publicado um “manifesto” de Kornílov em que este se proclama ditador, inimigo e coveiro das conquistas da revolução russa.

E o governo provisório, ao invés de enfrentar o inimigo como inimigo, prefere aconselhar-se com o general Alexéev, trata repetidamente com Kornílov e exorta mais de uma vez os conspiradores que traem abertamente a Rússia.

E a chamada “democracia revolucionária” prepara-se para uma nova “conferência especial do tipo da de Moscou, onde estariam representadas todas as forças vivas do país” (vide Izvéstia).

Ao mesmo tempo os cadetes, que ainda ontem soltavam uivos sobre o “complô dos bolcheviques”, hoje, chocados com a descoberta do complô de Kornílov, invocam a “prudência”, o “acordo” (vide Riétch).

Evidentemente querem “concertar” um novo acordo com aquelas “forças vivas” que, vociferando gritos sobre o complô dos bolcheviques, organizam elas próprias um complô contra a revolução e contra o povo russo.

Mas esses conciliadores fazem as contas à revelia do hospedeiro. Porque os verdadeiros donos do país, os operários e os soldados, não querem realizar nenhuma conferência juntamente com os inimigos da revolução. As notícias provenientes dos distritos e dos regimentos são unânimes em atestar que os operários mobilizam suas forças e que os soldados estão em pé de guerra. Evidentemente os operários preferem tratar os inimigos como inimigos.

E não pode ser de outra maneira: não se conferencia com os inimigos, mas luta-se contra eles.

O complô continua… preparai-vos para reprimi-lo.


Inclusão: 18/02/2024