Primeira publicação: “Proletári” (“O Proletário”), n.° 1. 13 de agosto de 1917. Editorial.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 201-206.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
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Instalou-se a Conferência de Moscou. Não se instalou em Petrogrado, centro da revolução, mas longe desta, na “calma de Moscou”.
Durante a revolução as conferências importantes convocam-se habitualmente para Petrogrado, cidadela da revolução, que havia derrubado o tzarismo. Então não se tinha temor de Petrogrado, então cortejava-se Petrogrado. Mas agora, às jornadas da revolução sucederam-se as trevas da contrarrevolução. Agora Petrogrado é perigosa, incute medo como a peste e…. foge-se dela como o diabo da cruz e vai-se longe, a Moscou, “onde não há tanta agitação”, onde, segundo os contrarrevolucionários, é mais fácil fazerem seus negócios sujos.
“A Conferência realizar-se-á sob a égide de Moscou; as ideias de Moscou, os humores de Moscou, estão longe dos da pútrida Petrogrado, chaga que infecta a Rússia” (“Vietchérneie Vrêmia”, 11 de agosto).
Assim falam os contrarrevolucionários.
Os “defensistas” estão completamente de acordo com eles.
— Para Moscou! Para Moscou! — murmuram os “salvadores do país”, fugindo de Petrogrado a bom correr.
— Boa viagem! — responde-lhes Petrogrado revolucionária.
— Boicotamos vossa Conferência! — gritam-lhes nas costas os operários de Petrogrado.
E Moscou? Justificará ela as esperanças dos contrarrevolucionários?
Na verdade, parece que não. Os jornais estão cheios de comunicados sobre a greve geral de Moscou. A greve foi proclamada pelos operários de Moscou. Os operários de Moscou, como os de Petrogrado, boicotam a Conferência. Moscou não fica atrás de Petrogrado.
Vivam os operários de Moscou!
Que fazeis então, fugis de novo?
De Petrogrado para Moscou, e de Moscou aonde ireis?
Talvez para Tzariovokokchaísk?
Vão mal, muito mal, os negócios dos senhores versalheses….
Os senhores “salvadores”, preparando a Conferência de Moscou, fingiram convocar uma “simples conferência”, que não decidisse nada e não obrigasse a nada. Mas a “simples conferência”, pouco a pouco, começou a transformar-se em “Conferência de Estado”, depois em “grande assembleia” e agora fala-se com segurança em sua transformação num “Parlamento Longo” que resolva as questões mais importantes da nossa vida.
“Se na Conferência de Moscou — diz Karaulov, hetman das tropas cossacas do Térek — não se concretizar um centro de unificação do país, o futuro da Rússia delineia-se com tintas sombrias. Penso porém que esse centro será criado…. E se…. esse ponto de apoio se constituir, a Conferência de Moscou não será somente um órgão vital, mas terá provavelmente uma existência bastante longa e luminosa como a do “Parlamento Longo” da época de Cromwell. Da minha parte, como representante dos cossacos, esforçar-me-ei para concorrer por todos os meios para formar esse centro de unificação” (“Rússkie Viédomosti” 11 de agosto, edição da tarde).
Assim fala o “representante dos cossacos”.
A Conferência de Moscou como “centro de unificação” da contrarrevolução: esse, em suma o sentido do longo discurso de Karaulov.
As mesmas coisas são ditas pelos cossacos do Don, no mandato confiado aos seus representantes:
“O governo deve ser organizado pela Conferência de Moscou ou pelo Comitê Provisório da Duma de Estado e não por um partido, qualquer que seja ele, como aconteceu até agora. A esse governo devem ser concedidos plenos poderes e completa independência.”
Assim fala o órgão dirigente dos cossacos do Don.
E quem pode ignorar agora que “os cossacos são a força”?
Nenhuma dúvida é possível: ou a Conferência não será realizada, ou ela se transformará inevitavelmente no “Parlamento Longo” da contrarrevolução.
Os mencheviques e os social-revolucionários, que convocaram a Conferência, facilitaram a organização da contrarrevolução, não importa saber se voluntária ou involuntariamente.
Esses são os fatos.
Quem são eles, esses caudilhos da contrarrevolução?
São, antes de mais nada, a camarilha militar, os chefes do estado-maior seguidos por certos círculos dos cossacos e dos cavaleiros de São Jorge.
É, em segundo lugar, a nossa burguesia industrial, encabeçada por Riabuchinski, aquele mesmo Riabuchinski que ameaça o povo de “fome” e “miséria” se não renunciar às suas reivindicações.
É enfim o partido de Miliukov, que une os generais e os industriais contra o povo russo, contra a revolução.
Tudo isso se esclareceu suficientemente na “conferência preliminar”(2) dos generais, dos industriais e dos cadetes, realizada de 8 a 10 de agosto.
“O nome do general Kornílov está na boca de todos”, escreve a “Bírjovka”. “Na Conferência têm uma influência preponderante os representantes do chamado partido militar, dirigido pelo general Alexéev, e os delegados da União dos Cossacos.” O discurso do general Alexéev, pronunciado na primeira sessão e acolhido pela conferência com tempestuosos aplausos, será repetido na Conferência Estatal de Moscou” (“Vietchérnaia Bírjovka”, 11 de agosto).
Trata-se daquele mesmo discurso que Miliukov propôs publicar em folheto separado.
Há mais:
“Grande atenção atraiu sobre si o general Kalédin. Foi seguido e ouvido com particular atenção. Em torno dele agrupa-se todo o setor militar” (“Vietchérneie Vrêmia”, 11 de agosto).
Enfim todos conhecem o ultimátum dos cavaleiros de São Jorge e das uniões dos cossacos, encabeçados pelos mesmos generais já destituídos do cargo ou ainda a serem destituídos.
Portanto o ultimátum tem um vencimento imediato, uma vez que os militares não gostam de “falar em vão”.
Nenhuma dúvida é possível: está se procedendo à instauração e ao aperfeiçoamento da ditadura militar.
A burguesia patrícia e a aliada “limitar-se-ão” a financiá-la.
Não é por acaso que “Sir Buchanan se interessa tanto pela Conferência” (vide Bírjovka) e prepara-se também, ao que parece, para partir rumo a Moscou.
Não é por acaso que triunfam os sequazes do senhor Miliukov.
Não é por acaso que Riabuchinski se sente um Mínin, um “salvador”,(3) etc.
Eles desejam o triunfo completo da contrarrevolução. Escutai a resolução da Conferência preliminar. “Que no exército seja restaurada a disciplina e que o poder passe ao comando.”
Em outros termos: reprimir os soldados!
“Que um poder central, forte e unido, elimine o sistema da administração irresponsável dos organismos colegiados.”
Em outros termos: abaixo os Soviets dos Operários e dos Camponeses!
Que o governo “elimine decididamente todos os traços de sujeição para com qualquer comitê, soviet ou outra organização similar.”
Em outros termos: o governo deverá depender somente dos “soviets” dos cossacos e dos “conferentes”(4) dos cavaleiros de São Jorge.
A resolução assegura que somente dessa maneira pode ser “salva a Rússia”.
É claro, ao que parece.
Bem, senhores conciliadores, social-revolucionários e mencheviques, estais dispostos a entrar em acordo com os representantes das “forças vivas”?
Ou talvez mudastes de opinião? Desgraçados conciliadores….
E Moscou desenvolve sua obra revolucionária. Os jornais comunicam que, em seguida ao apelo dos bolcheviques, em Moscou já começou a greve geral, malgrado as decisões do Comitê Executivo de Toda a Rússia, que se arrasta sempre no séquito dos inimigos do povo.
Vergonha para o Comitê Executivo!
Viva o proletariado revolucionário de Moscou!
Que ecoe mais forte a voz dos nossos camaradas de Moscou a fim de que exultem todos os oprimidos e os escravizados!
Saiba a Rússia toda que existem ainda no mundo homens prontos a defender com o próprio peito a causa da revolução.
Moscou faz greve. Viva Moscou!
Notas de fim de tomo:
(1) O “Parlamento Longo”, que foi, sobretudo por obra de Cromwell e de seus adeptos, o protagonista de importantes acontecimentos que assinalaram o início da revolução burguesa na Inglaterra, foi assim chamado pela sua duração (treze anos, de 1640 a 1653), em contraposição com o “Parlamento Curto” que, convocado em abril de 1640, fora dissolvido violentamente pelo rei Carlos I depois de três semanas. (retornar ao texto)
(2) A chamada Conferência preliminar ou “Conferência privada das personalidades públicas” realizou-se em Moscou de 8 a 10 de agosto de 1917. A Conferência tinha sido convocada com o objetivo de unificar os círculos dos latifundiários e da burguesia com a camarilha militar e de elaborar um programa comum a ser apresentado à iminente Conferência de Estado. Nessa Conferência foi constituída a contrarrevolucionária “União das personalidades públicas”. (retornar ao texto)
(3) Uma das mais célebres personagens dos chamados “tempos tumultuosos” do reino moscovita, no início do século XVII. No outono de 1611, os poloneses e lituanos haviam-se apoderado de territórios ocidentais e da própria Moscou, os suecos das costas do golfo da Finlândia e não existia mais um poder central; Mínin, zemski stárosta (síndico mais idoso) de Nijni-Novgorod, tomou a iniciativa de constituir uma milícia para a salvação do reino. A essa milícia uniram-se outras, formadas em outras cidades. Por proposta de Mínin foi escolhido, para comandar o exército popular, o príncipe Pojarski, que já se havia distinguido nas batalhas contra os poloneses. Após uma intensa atividade no sentido de restabelecer a ordem no país e de criar órgãos de governo, as milícias criadas por Mínin marcharam sobre Moscou. Quando a sorte da batalha parecia pender para o lado dos poloneses, Mínin, tomando 600 homens de Pojarski, atravessou o rio Moscova e pôs em fuga o inimigo. A 26 de outubro de 1612 os poloneses renderam-se e Moscou foi libertada. (retornar ao texto)
(4) Termo pelo qual Stálin designa os cavaleiros de São Jorge (oficiais agraciados com a mais alta condecoração militar russa) que participavam da Conferência de Moscou. (retornar ao texto)