Primeira publicação: “Rabótchi i Soldat” (“O Operário e o Soldado”) 6 de agosto de 1917. Editorial.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 189-193.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
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Instalou-se há alguns dias em Moscou o II Congresso dos comerciantes e dos industriais de toda a Rússia. Seus debates foram iniciados com um discurso-programa do milionário Riabuchinski, líder dos nacionalistas.
De que falou Riabuchinski?
Qual é o programa dos capitalistas?
É indispensável que os operários saibam essas coisas, especialmente agora que os capitalistas controlam o poder e que os social-revolucionários e os mencheviques piscam o olho para os capitalistas e os consideram como “forças vivas”.
De fato, os capitalistas são os inimigos jurados dos operários, e para vencer os inimigos é preciso antes de mais nada conhecê-los.
Que querem então os capitalistas?
Os capitalistas não tagarelam a esmo. São homens de negócios. Sabem que a questão do poder é a questão fundamental da revolução e da contrarrevolução. Não admira portanto que Riabuchinski tenha iniciado seu discurso com essa questão fundamental.
“O nosso governo provisório — disse ele — que representava uma espécie de simulacro de poder, estava submetido à pressão de indivíduos estranhos. Entre nós reinava de fato um bando de charlatães políticos. Os dirigentes dos soviets, falsos líderes do povo, levaram o povo pelo caminho da ruína, e todo o império russo encontrou-se diante de um abismo escancarado” (“Riétch”).
Que “entre nós reinava de fato um bando de charlatães políticos” indubitavelmente é verdade. Mas não é menos verdade que é preciso procurar esses “charlatães” não entre os “líderes dos soviets”, mas entre os próprios Riabuchinski, entre os amigos de Riabuchinski que a 2 de julho saíram do governo provisório, que por semanas mercadejaram as pastas ministeriais, fizeram chantagem com os ingênuos social-revolucionários e mencheviques com a ameaça de cortar os financiamentos ao governo e que enfim atingiram seu objetivo, obrigando estes últimos a uma obediência sem reservas.
De fato foram eles, esses “charlatães” e não os “líderes dos soviets”, que impuseram ao governo as prisões e os empastelamentos, os tiroteios e a pena de morte.
De fato foram eles, esses “charlatães”, que “exerceram pressão” sobre o governo, transformando-o em um anteparo que o defende da cólera do povo.
De fato são eles, esses “charlatães”, e não os “líderes dos soviets” fora do poder, os que “agora reinam de fato” na Rússia.
Mas aqui a questão é naturalmente outra. O fato é que os soviets, diante dos quais ainda ontem os capitalistas faziam rapapés e que agora estão derrotados, conservaram ainda uma migalha de poder e os capitalistas querem arrancar-lhes também essas últimas migalhas para reforçar mais solidamente ainda seu próprio poder.
Eis o que diz antes de mais nada o senhor Riabuchinski.
Quereis saber o que desejam os capitalistas?
Todo o poder aos capitalistas: desejam isso.
Riabuchinski não fala só do presente. Não se abstém ele de “lançar um olhar também aos meses anteriores”.
Qual é a sua conclusão? “Fazendo as contas”, ele vê entre outras coisas que “fomos empurrados a um beco do qual não podemos sair... A questão alimentar é desastrosa, sem remédio; a vida econômica e financeira da Rússia está em desordem, etc.”
Ao que parece, são culpados dessa situação aqueles mesmos “camaradas” dos soviets, aqueles “dissipadores” que é preciso “colocar sob tutela”.
“A Rússia gemerá ao abraço desses camaradas, enquanto o povo não houver compreendido quem são eles, mas quando o houver compreendido dirá: ‘Mistificadores do povo!’”.
Certamente é verdade que a Rússia foi empurrada para um beco sem saída, que atravessa uma crise profunda, que está à beira da ruína.
Mas não será talvez estranho que:
Não será talvez evidente que a guerra e somente a guerra empurrou a Rússia para um beco sem saída?
Mas quem impeliu a Rússia no caminho da guerra? Quem a impele agora no caminho da continuação da guerra, senão os mesmos Riabuchinski e Konoválov, Miliukov e Vinaver?
Na Rússia há muitos “dissipadores” e estes levam a Rússia à ruína: isso é fora de dúvida, mas não é preciso procurá-los entre os “camaradas”, e sim entre os Riabuchinski e os Konoválov, capitalistas e banqueiros, que, com as encomendas de guerra e com os empréstimos estatais, embolsam milhões.
E se o povo russo compreender um belo dia quem são esses senhores, ajustará contas com eles de uma vez por todas: disso podem estar certos.
Mas aqui a questão é naturalmente outra. O fato é que os capitalistas desejam a “guerra até ao fim”, que os cumule de lucros, mas temem dever responder pelas consequências da guerra e por isso empenham-se em lançar a culpa às costas dos “camaradas”, a fim de que seja mais fácil fazer naufragar a revolução nos vagalhões da guerra.
Eis a que tende o discurso do senhor Riabuchinski,
Quereis saber o que desejam os capitalistas?
A guerra até à vitória total sobre a revolução: desejam isso.
Pintando a situação crítica da Rússia, Riabuchinski indica também a “saída dessa situação”. Mas escutai de que “saída” se trata.
“O Estado não deu à população nem pão, nem carvão, nem produtos manufaturados... Talvez que para sair dessa situação seja necessário que a mão descarnada da fome, a miséria do povo, aperte pela garganta os falsos amigos do povo, os soviets e os comitês democráticos.”
Ouvistes: “é necessária a mão descarnada da fome, a miséria do povo”...
Ao que parece, os senhores Riabuchinski não se alhearam de presentear a Rússia com a “fome” e a “miséria” para “apertar pela garganta” “os soviets e os comitês democráticos”.
Ao que parece, não se alhearam ao fechamento das oficinas e das fábricas, de criar desemprego e fome para provocar o povo a uma batalha prematura e para poder com maior êxito ajustar contas com os operários e com os camponeses.
Eis as “forças vivas” do país, como atestam a Rabótchaia Gazieta e o Dielo Naroda.
Eis os verdadeiros traidores da Rússia.
Na Rússia agora se fala muito de traição. Os ex-gendarmes e os atuais esbirros da polícia secreta, os mercenários incapazes e os intermediários depravados, todos falam agora em traição, aludindo aos “soviets e aos comitês democráticos”. Saibam os operários que os discursos mentirosos sobre os “traidores” não fazem senão mascarar os que verdadeiramente traem a tão martirizada Rússia.
Quereis saber que desejam os capitalistas?
Que triunfem os interesses da sua bolsa, mesmo ao preço da ruína da Rússia: desejam isso.
Notas de fim de tomo:
(1) Um pud equivale a cerca de 16 quilogramas. (retornar ao texto)