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Primeira Edição: “Pravda” (“A Verdade”), n.° 151. 24 de outubro de 1912.
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 2º vol., pág: 246-251, Editorial Vitória, 1952 – traduzida da 2ª edição italiana G. V. Stalin - "Opere Complete", vol. 2 - Edizioni Rinascita, Roma, 1951.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
O máximo interesse pelas eleições é o traço que melhor caracteriza o estado de ânimo dos operários, em confronto com 1907. Se fizermos abstração dos pequenos grupos, esparsos aqui e ali nos estabelecimentos, pode se dizer sem medo de errar que não há em absoluto espírito boicotador. A Obukhov(1) não boicotou, mas foi privada da possibilidade de votar por vontade da administração da oficina. Os estaleiros navais do Neva foram a única empresa onde os boicotadores agiram de maneira organizada, mas também ali a esmagadora maioria dos operários pronunciou-se pela participação. As amplas massas dos operários eram pelas eleições. Ou antes, procuravam conseguir as eleições e votaram com grande interesse quando não se chocaram contra obstáculos intransponíveis. Os recentes protestos de massa contra as “interpretações” são uma prova disso...
Foram eleitos quase que exclusivamente social-democratas ou seus simpatizantes. Somente em alguns estabelecimentos as condições objetivas permitiram explicar amplamente a plataforma da democracia operária consequente, tanto mais que os liquidacionistas escondiam prudentemente dos operários sua plataforma. Mas onde puderam, os operários aprovaram, sob a forma de “mandato”, a plataforma dos antiliquidacionistas. Nesses casos, os liquidacionistas — faltando evidentemente ao respeito por si mesmos e pelas próprias opiniões — declararam que “no fundo, eles também eram por aquele mandato” (estaleiros navais do Neva), e propuseram “emendas” sobre a liberdade de associação, que foram rejeitadas porque julgadas supérfluas. Votou-se por isso sobretudo “nominalmente”. E a esmagadora maioria dos delegados, segundo se verificou, era composta de social-democratas ou de seus simpatizantes.
A social-democracia é o único partido que exprime os interesses da classe operária: eis o que dizem as eleições dos delegados.
Dos 82 delegados reunidos, 26 eram antiliquidacionistas declarados, 15 liquidacionistas declarados; os outros 41 eram “simplesmente social-democratas”, simpatizantes dos social-democratas e elementos de esquerda sem partido.
Por quem se pronunciarão esses 41 delegados, que linha política aprovarão? Este o problema que interessava primeiro que tudo aos “fracionistas”.
A assembleia dos delegados pronunciou-se por esmagadora maioria pelo mandato proposto pelos que apoiam a Pravda. Desse modo a assembleia definia a sua fisionomia. A linha política dos antiliquidacionistas triunfava. Malograva-se a tentativa dos liquidacionistas no sentido de impedir esses triunfo. Porquanto é óbvio que podiam ser candidatos somente os fautores do mandato. Adversários do mandato na roupagem de defensores do mandato: somente bancarroteiros políticos podiam adaptar-se a semelhante papel. E os liquidacionistas a ele se adaptaram! Ocultaram aos delegados suas opiniões, fingiram-se temporariamente “dos seus”, como se “não tivessem nada em contrário” ao mandato aprovado, jogaram na unidade e lamentaram-se dos antiliquidacionistas, tachando-os de divisionistas, para procurar enternecer os delegados que não pertenciam a nenhuma fração e “fazer passar” de qualquer maneira os seus homens. E de fato os fizeram eleger enganando os delegados.
Era claro que o aventureirismo dos liquidacionistas não tinha limites.
Nem era menos claro que a linha política da Pravda, e somente ela, gozava da simpatia do proletariado de Petersburgo; que, segundo a vontade dos delegados, deputado dos operários podia ser somente um partidário da Pravda.
Não podíamos desejar maior vitória...
Antes de passarmos à eleição do deputado, são necessárias duas palavras sobre aquela “unidade” que desempenhou um papel fatal na eleição dos eleitores diretos e à qual se aferraram os liquidacionistas, como aquele que se afoga aferra-se até a uma palha.
Trotski escreveu recentemente no Lutch que a Pravda era antes pela unidade e que agora seria contra. É verdade isso? É verdade e não é verdade. É verdade que a Pravda era pela unidade. Não é verdade que hoje se oponha a ela: a Pravda convida sempre a democracia operária consequente à unidade.
De que se trata então? Do fato de que a Pravda e o Lutch com Trotski veem a unidade de dois pontos de vista completamente diversos. Existem, evidentemente, diferentes tipos de unidade.
A Pravda pensa que podem ser unidos num todo único somente os bolcheviques e os mencheviques partidistas. Unidade sobre a base de uma separação dos elementos antipartidistas, dos liquidacionistas! A Pravda é e será sempre por tal unidade.
Trotski considera as coisas de outro modo: põe todos num só monte, tanto os adversários do partido como aqueles que o apoiam. E, naturalmente, daí não sai nenhuma unidade: há cinco anos prega ele puerilmente a união do que não se pode unir e teve como resultado que possuímos dois jornais, duas plataformas, duas conferências e nem sequer um resquício de unidade entre a democracia operária e os liquidacionistas!
Enquanto os bolcheviques e os mencheviques parti- distas unem-se cada vez mais num todo único, os liquidacionistas cavam um abismo entre si mesmos e esses todo.
A prática do movimento dá razão ao plano pró unidade sustentado pela Pravda.
A prática do movimento reduz a cacos o plano pueril de Trotski que deseja unir o que não se pode unir.
Há mais. De pregador de uma unidade fantasiosa, Trotski transforma-se num serviçal dos liquidacionistas, cuja obra redunda em vantagem para estes últimos.
Trotski fez tudo para que tivéssemos dois jornais, duas plataformas em concorrência recíproca, duas conferências em recíproca contradição e agora esses atleta dos músculos postiços canta-nos, justamente ele, a canção da unidade!
A sua unidade não é unidade, mas uma simulação digna de um comediante.
E se essa simulação deu aos liquidacionistas a possibilidade de fazer eleger três de seus eleitores diretos, isso aconteceu porque não foi possível, em breve tempo, desmascarar os comediantes da unidade, que ocultavam aos operários a própria bandeira...
De tudo quanto foi dito não é difícil compreender de que “unidade” podiam falar os liquidacionistas quando propuseram aos partidários da Pravda um único candidato à Duma. Propunham simplesmente votar no candidato dos liquidacionistas, a despeito da vontade dos delegados, a despeito do mandato do proletariado de Petersburgo. Que podiam responder os partidários da Pravda senão que o mandato dos delegados é sagrado e que somente um partidário do mandato podia ser deputado? Ir contra a vontade dos delegados para favorecer a falta de caráter dos liquidacionistas, ou transcurar os caprichos destes últimos para favorecer o mandato do proletariado de Petersburgo? O Lutch estrila sempre contra o divisionismo da Pravda e lança contra os eleitores diretos acusações totalmente inventadas. Mas por que os liquidacionistas não quiseram tirar à sorte dentre os seis eleitores diretos dos operários, como fora proposto pelos que apoiam a Pravda? Para ter uma só candidatura estávamos dispostos também a essa concessão; mas por que, perguntamos, os liquidacionistas recusaram-se a tirar à sorte? Por que os partidários do Lutchpreferiram seis candidatos à Duma, em vez de um? No interesse da “unidade”, talvez?
O Lutch diz que Gúdkov propôs como candidato Badáiev, partidário da Pravda; porém, acrescenta modestamente o jornal liquidacionista, a proposta não foi aprovada. Mas os liquidacionistas do Lutch se esqueceram talvez de que o seu partidário Petróv, e não o “pravdista”, recusou-se a retirar sua candidatura, mostrando assim, com os fatos, o que é o amor dos liquidacionistas pela “unidade”? E dizer que a isto chamam de unidade! Pode também suceder que a apresentação da própria candidatura por parte do partidário do Lutch, Gúdkov, como aconteceu depois que já estava eleito o partidário da Pravda, Badáiev, seja ela também uma prova de unidade? Quem o acreditaria?
O Lutch louva farisaicamente Sudákov, que não tem nenhuma tendência política, e que teria retirado sua candidatura no interesse da unidade... Mas é possível que o Lutch não saiba que Sudákov não podia participar do segundo escrutínio simplesmente porque tivera dois únicos votos? Como qualificar um jornal que ousa mentir diante de todos ?
Nenhum caráter político: é possível que esta seja a única “qualidade” dos liquidacionistas?
Os liquidacionistas tentaram fazer eleger à Duma um de seus homens por vontade dos cadetes e dos outubristas e contra a vontade dos operários de Petersburgo. Mas será possível que o Lutch, mesmo desligado das massas como está, não compreenda que os operários de Petersburgo manifestariam sua desconfiança de semelhante deputado?
Assinado: K. St.
Notas de fim de tomo:
(1) Oficina de Petersburgo. (retornar ao texto)
Inclusão | 25/10/2019 |