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Primeira Edição: Jornal "Elva" (O Relâmpago), n.os 5, 9 e 10
de 17, 22 e 23 de março de 1906
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 1º vol. – traduzida da edição
italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni
Rinascita, Roma, 1949.
Tradução:........
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo,
março 2006.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.
Prossegue a demolição da antiga ordem social; o campo agitou-se. Os camponeses, ainda ontem oprimidos e humilhados, hoje se põem de pé e erguem a cabeça. O movimento camponês, ainda ontem impotente, hoje irrompe como caudal impetuosa contra a velha ordem: afasta-te do caminho ou serás varrida! "Os camponeses querem receber as terras da nobreza fundiária" "os camponeses querem destruir os restos do feudalismo": eis as vozes que hoje ressoam nas aldeias insurretas e nos campos da Rússia.
Enganam-se aqueles que acreditam forçar, à bala, os camponeses ao silêncio: a vida demonstrou-nos que isso incita e exacerba ainda mais o movimento revolucionário dos camponeses.
Enganam-se também aqueles que, através de míseras promessas e dos "bancos camponeses", procuram pacificar os camponeses: os camponeses querem a terra; essa terra eles a vêem até em sonho e, naturalmente, não se acalmarão enquanto não se apoderarem das terras da nobreza fundiária. Que podem dar aos camponeses as promessas vazias e alguns "bancos camponeses"?
Os camponeses querem ocupar as terras da nobreza fundiária. Dessa maneira, esforçam-se por destruir os restos do feudalismo, e quem não atraiçoa os camponeses deve envidar esforços no sentido de resolver, justamente nessa base, a questão agrária.
Mas de que maneira receberão os camponeses em suas mãos as terras da nobreza fundiária?
Diz-se que a única saída é o "resgate" das terras "em condições favoráveis". O governo e os proprietários possuem muitas terras livres, dizem-nos esses senhores: se os camponeses resgatarem essas terras, tudo se arranjará naturalmente e assim se salvarão a cabra e a couve. Mas por que não se pergunta como os camponeses poderão resgatar essas terras, desde que já lhes arrancaram não só o dinheiro, como também a pele? E não pensem que com o regaste impingirão aos camponeses só as terras ruins, guardando para si as terras boas, assim como conseguiram fazer por ocasião da "emancipação dos servos da gleba"! E afinal, por que devem os camponeses resgatar as terras que lhes pertencem desde tempos imemoriais? Acaso não estarão empapadas de suor camponês quer as terras dominiais quer as dos nobres? Acaso não pertenciam aos camponeses essas terras? Acaso não foi tirado dos camponeses esse patrimônio de seus pais e antepassados? E onde está a justiça, quando se pede aos camponeses que resgatem as terras que foram tiradas deles próprios? Acaso a questão do movimento camponês será uma questão de compra e venda? Acaso o movimento camponês não é dirigido no sentido da libertação dos camponeses? Mas, quem libertará os camponeses do jugo do feudalismo senão eles próprios? E esses senhores asseguram-nos que a nobreza fundiária libertará os camponeses desde que a ela se atirem alguns ceitis. E como poderíeis pensar nisso! Essa "libertação", ao que parece, deve ser posta em prática sob a direção da burocracia tzarista, a mesma burocracia que mais de uma vez recebeu os camponeses esfomeados com canhões e metralhadoras!...
Não! O resgate das terras não salvará os camponeses. Os que aconselham aos camponeses o "resgate em condições favoráveis" são traidores, porque procuram colher os camponeses nas redes dos agenciadores e não querem que a libertação dos camponeses se efetue pelas mãos dos próprios camponeses.
Se os camponeses querem ocupar as terras da nobreza, se devem por esse meio destruir os restos do feudalismo, se o "resgate em condições favoráveis" não os salvará, se a libertação dos camponeses deve efetuar-se pelas mãos dos próprios camponeses, então é fora de qualquer dúvida que a única saída está em tomar as terras dos nobres, isto é, no confisco dessas terras.
Essa é a saída.
Pergunta-se: até que ponto deve chegar esse confisco, terá ele limites, devem os camponeses tomar só uma parte, ou todas as terras?
Alguns dizem que tomar todas as terras é demasiado, que basta tomar só uma parte das terras para satisfazer aos camponeses. Admitamo-lo, porém como proceder se os camponeses pedirem mais? Não seremos nós que nos atravessaremos no caminho deles dizendo: parem, não passem adiante! É claro que isso seria reacionário! E os acontecimentos na Rússia acaso não demonstraram que os camponeses reivindicam efetivamente o confisco de todas as terras da nobreza? Além disso, que significa "tomar uma parte"? Que parte deve ser tomada dos nobres: a metade ou um terço? Quem deve decidir essa questão: os nobres sozinhos ou os nobres e os camponeses juntos? Como vedes, ainda há muito lugar para os agenciadores, ainda é possível mercadejar entre nobres e camponeses e isso contraria radicalmente a causa da libertação dos camponeses. Os camponeses devem convencer-se de uma vez por todas de que com a nobreza fundiária não se deve mercadejar, mas lutar. Não se deve remendar o jugo do feudalismo, mas despedaçá-lo, a fim de destruir-lhe para sempre os restos. "Tomar só uma parte" significa pôr-se a remendar os restos do feudalismo, e isso é incompatível com a causa da libertação dos camponeses.
É claro que o único caminho é tomar da nobreza fundiária todas as terras. Somente assim se pode levar até fim o movimento camponês, somente isso pode intensificar a energia do povo, pode varrer os restos decrépitos do feudalismo.
O atual movimento no campo é, portanto, um movimento democrático dos camponeses. O objetivo desse movimento é a destruição dos restos do feudalismo. Para destruir esses restos é necessário confiscar todas as terras da nobreza e do governo.
Alguns senhores levantam-nos uma acusação: por que a social-democracia não exigiu até agora o confisco de todas as terras, por que ela falou até agora somente em confisco dos "otrezki"? (1*)
Porque, senhores, em 1903, quando o Partido falava dos "otrezki", os camponeses da Rússia não tinham sido ainda atraídos para o movimento. Era dever do Partido lançar no campo uma palavra de ordem que inflamasse os corações dos camponeses e levantasse as massas camponesas contra os restos do feudalismo. Uma palavra de ordem desse gênero eram justamente os "otrezki", que recordavam vivamente aos camponeses da Rússia a injustiça dos restos feudais.
Mas depois os tempos mudaram. O movimento camponês desenvolveu-se. Agora não
é mais necessário lançar-lhe apelos, ele se desencadeia por si só. Hoje não se
trata de saber como devem ser postos em movimento os camponeses, mas o que devem
reivindicar os camponeses que se puseram em movimento. É claro que são
necessárias reivindicações precisas, e por isso o Partido diz aos camponeses que
eles devem reivindicar o confisco de todas as terras dos nobres e do governo.
Mas isso significa que todas as coisas têm seu tempo e seu lugar: não só os
"otrezki", como também o confisco de todas as terras.
Vimos que o atual movimento no campo é um movimento de libertação dos camponeses, vimos também que para a libertação dos camponeses é necessário destruir os restos do feudalismo, e que para a destruição desses restos é necessário tomar todas as terras da nobreza e do governo, para desimpedir o caminho para uma nova vida, para o livre desenvolvimento do capitalismo.
Suponhamos que tudo isso tenha sido feito. Como devem pois ser repartidas essas terras, a quem devem ser dadas em propriedade?
Dizem uns que as terras tomadas devem ser entregues em propriedade comum à aldeia, e imediatamente deve ser destruída a propriedade privada da terra, que, dessa maneira, a aldeia deve ser proprietária integral das terras e que em seguida a própria aldeia distribuirá aos camponeses "lotes" iguais, realizando assim imediatamente o socialismo no campo; ao invés do trabalho assalariado instaurar-se-á a utilização igualitária da terra.
Isso se chama "socialização da terra", dizem-nos os social-revolucionários.
É aceitável para nós essa saída? Entremos no âmago da questão. Comecemos pelo fato de que os social-revolucionários querem iniciar pelo campo a realização do socialismo. É isso possível? Todos sabem que a cidade é mais desenvolvida que o campo, que a cidade é o guia do campo e que por conseguinte qualquer realização socialista deve começar pela cidade. Ao contrário, os social-revolucionários querem transformar o campo em dirigente da cidade e obrigá-lo a iniciar a realização do socialismo, o que, compreende-se é impossível, dado o atraso do campo. É portanto evidente que o "socialismo" dos social-revolucionários será um socialismo natimorto.
Passemos agora ao fato de que estes querem realizar desde já o socialismo no campo. A realização do socialismo é a eliminação da produção mercantil, a abolição da economia monetária, a destruição do capitalismo pela base e a socialização de todos os meios de produção. Os social-revolucionários, ao invés, querem deixar intacto tudo isso e socializar unicamente a terra, o que é absolutamente impossível. Se a produção mercantil permanecer intacta, também a terra se tornará mercadoria, e, mais hoje mais amanhã, aparecerá no mercado e o "socialismo" dos social-revolucionários voará pelos ares. É claro que eles querem por em prática o socialismo no âmbito do capitalismo, o que, compreende-se, é inconcebível. Por isso diz-se também que o "socialismo" dos social-revolucionários é socialismo burguês.
No que diz respeito à utilização igualitária da terra, é preciso observar que essas são somente palavras vazias. A utilização igualitária da terra exige igualdade na propriedade, mas entre os camponeses existe a desigualdade na propriedade, que a atual revolução democrática não tem forca para destruir. Pode-se conceber que o dono de oito juntas de bois usufrua a terra na mesma medida do lavrador que não possui um boi sequer? Entretanto os social-revolucionários pensam que a "utilização igualitária da terra" destruirá o trabalho assalariado e assinalará o fim do desenvolvimento do capital, o que obviamente é um absurdo. Evidentemente os social-revolucionários querem lutar contra o ulterior desenvolvimento do capitalismo e fazer girar para trás a roda da história; nisso vêem eles a salvação. Mas a ciência nos diz que a vitória do socialismo depende do desenvolvimento do capitalismo e quem luta contra esse desenvolvimento luta contra o socialismo. Por isso os social-revolucionários são também chamados social-reacionários.
Nada diremos do fato de que os camponeses querem lutar pela abolição da propriedade feudal, não contra a propriedade burguesa, mas nos limites da propriedade burguesa: desejam repartir entre si, como propriedade privada, as terras tomadas e não se contentam com a "socialização da terra".
Como se vê, a "socialização da terra" é inaceitável.
Outros dizem que as terras tomadas devem ser dadas ao Estado democrático: os camponeses serão somente arrendatários da terra do Estado.
Chama-se a isso "nacionalização da terra".
É aceitável a nacionalização da terra? Se considerarmos que o Estado futuro, por mais democrático que possa ser, será todavia burguês, que em seguida à transferência das terras a um tal Estado ter-se-á um fortalecimento político da burguesia, o que é extremamente desvantajoso para o proletariado urbano e rural; se considerarmos, além disso, que os próprios camponeses serão contra a "nacionalização da terra" e não ficarão satisfeitos com o simples papel de arrendatários, tornar-se-á evidente que a "nacionalização da terra" não corresponde aos interesses do movimento atual.
Conseqüentemente a "nacionalização da terra" também é inaceitável.
Dizem ainda outros que a terra deve ser dada em propriedade às administrações locais e que os camponeses serão arrendatários da terra das administrações locais.
Chama-se a isso "municipalização da terra".
É aceitável a municipalização da terra? Que significa "municipalização da terra"? Significa em primeiro lugar que os camponeses não receberão em propriedade as terras por eles arrancadas, no curso da luta, aos nobres e ao governo. Como verão os camponeses essa solução? Os camponeses querem repartir as terras tomadas, até em sonho vêem essas terras como sua propriedade e quando se disser que as terras devem ser transferidas não a eles, mas à administração local, os camponeses sem dúvida não estarão de acordo com os partidários da "municipalização". Não devemos esquecê-lo.
Além disso, como proceder se os camponeses, arrastados pela revolução, apropriarem-se de todas as terras tomadas e não deixarem nada para a administração local? Não seremos nós que lhes barraremos o caminho dizendo: alto lá, estas terras devem ser transferidas à administração local e não a vós, para vós basta o arrendamento!
Em segundo lugar, se aceitamos a palavra de ordem da "municipalização", por isso mesmo devemos desde já lançar essa palavra de ordem ao povo e devemos imediatamente explicar aos camponeses que as terras pelas quais eles lutam e que desejam tomar em suas mãos, serão dadas em propriedade à administração local e não aos camponeses. Certo, se o Partido tem uma grande influência sobre os camponeses, existe a possibilidade de que eles o apóiem, mas é supérfluo dizer que os camponeses não lutarão mais com o primitivo ardor, o que será extremamente prejudicial à revolução atual. Se, ao invés, o Partido não tem uma grande influencia sobre os camponeses, então os camponeses abandoná-lo-ão e virar-lhe-ão as costas, o que provocará um conflito entre os camponeses e o Partido e debilitará consideràvelmente as forças da revolução.
Dir-nos-ão: freqüentemente as aspirações dos camponeses estão em contradição com o curso do desenvolvimento e não podemos ignorar o curso da história e seguir sempre as aspirações dos camponeses; o Partido deve possuir os seus princípios. É a pura verdade! O Partido deve orientar-se segundo os seus princípios. Mas trairia os seus princípios um Partido que repelisse todas aquelas aspirações dos camponeses. Se a tendência dos camponeses a ocupar as terras dos nobres e a dividi-las não está em contradição com o curso da história, se, pelo contrário, essa tendência emana inteiramente da revolução democrática atual, se a verdadeira luta contra a propriedade feudal é possível somente nos limites da propriedade burguesa, se as aspirações dos camponeses exprimem precisamente essa tendência, então é óbvio que o Partido não pode repelir essas reivindicações dos camponeses, uma vez que negar-se a apoiar essas reivindicações significaria recusar-se a desenvolver a revolução. Por outro lado, se o Partido possui princípios, se não quer transformar-se em freio da revolução, deve favorecer a realização dessas aspirações dos camponeses. Mas essas aspirações estão radicalmente em contradição com a "municipalização da terra"!
Como se vê, a "municipalização da terra" também é inaceitável.
Vimos que nenhuma das três soluções — nem a "Socialização", nem a "nacionalização", nem a "municipalização" — pode satisfazer devidamente aos interesses da revolução atual.
Como devem ser repartidas as terras tomadas, a quem devem ser dadas em propriedade?
É claro que as terras arrebatadas pelos camponeses devem ser transferidas aos próprios camponeses para dar-lhes a possibilidade de repartir essas terras entre si. Assim deve ser resolvida a questão acima levantada. A divisão da terra provocará um revolucionamento da propriedade. Os menos abastados venderão as terras e enveredarão pelo caminho da proletarização, os endinheirados adquirirão novas terras e por-se-ão a melhorar a técnica das culturas, o campo dividir-se-á em classes, lavrará aguda luta de classes, e dessa maneira serão lançadas as bases para o ulterior desenvolvimento do capitalismo.
Como se vê, a divisão da terra é a conseqüência natural do atual desenvolvimento econômico.
Por outro lado, a palavra de ordem: "a terra aos camponeses, somente aos camponeses e a ninguém mais", encorajará os camponeses, infundir-lhes-á nova energia e contribuirá para levar até ao fim o movimento revolucionário já iniciado no campo.
Como se vê, também o curso da revolução atual nos indica a necessidade da repartição das terras.
Os adversários acusam-nos de fazer renascer, por meio de tudo isso, a pequena burguesia, o que está em contradição radical com a doutrina de Marx. Eis o que escreve a Revoliutsiónnaia Rossíia: (2*)
"Ajudando os camponeses a expropriarem a nobreza fundiária favoreceis inconscientemente a formação de uma economia pequeno-burguesa sobre as ruínas das formas já mais ou menos desenvolvidas da economia agrícola capitalista. Não é isso um "passo atrás" do ponto de vista do marxismo ortodoxo?" (vide Revolutsiónnaia Rossíia, n.º 75).
Devo dizer que os senhores "críticos" confundiram os fatos. Esqueceram-se de que a economia da nobreza fundiária não é uma economia capitalista, que ela é uma sobrevivência da economia feudal e, por conseguinte, com a expropriação da nobreza fundiária, destroem-se os restos da economia feudal e não a economia capitalista. Esqueceram-se também de que, do ponto de vista do marxismo, à economia feudal nunca se seguiu e não pode seguir-se imediatamente a economia capitalista: entre uma e outra está a economia pequeno-burguesa, que substitui a economia feudal e transforma-se em seguida em economia capitalista. Já no terceiro volume do O Capital, Carlos Marx dizia que, na história, à economia feudal seguiu-se primeiro a economia agrícola pequeno-burguesa e só depois desenvolveu-se a grande economia capitalista; não houve e não poderia haver um salto direto de uma à outra. E todavia esses estranhes "críticos" dizem-nos que tomar as terras dos nobres e dividi-las é um retrocesso do ponto de vista do marxismo! Dentro em pouco passarão a acusar-nos considerando também a "supressão da servidão" como um retrocesso do ponto de vista do marxismo, porque então algumas terras foram tomadas dos nobres e transferidas aos camponeses pequenos lavradores! Indivíduos ridículos! Não compreendem que o marxismo considera todas as coisas do ponto de vista histórico, que, do ponto de vista do marxismo, a economia pequeno-burguesa camponesa é progressista em relação à economia feudal, que a destruição da economia feudal e a introdução da pequeno-burguesa são uma condição necessária do desenvolvimento do capitalismo, o qual, em seguida, suplantará essa economia pequeno-burguesa...
Mas deixemos em paz os "críticos".
O fato é que a transferência das terras aos camponeses e depois sua repartição minam as bases dos restos feudais, preparam o terreno para o desenvolvimento da economia capitalista, reforçam consideràvelmente o ímpeto revolucionário e justamente por isso são aceitáveis para o Partido Social-Democrata.
Portanto, para destruir os restos feudais é necessário o confisco de todas as terras dos nobres; e os camponeses devem tomar em propriedade essas terras e reparti-las entre si de acordo com seus interesses.
Nessa base deve ser elaborado o programa agrário do Partido.
Dir-nos-ão: tudo isso diz respeito aos camponeses, porém que pretendeis fazer com os proletários agrícolas? Respondemos que se para os camponeses é necessário um programa agrário democrático, para os proletários urbanos e rurais há o programa socialista, em que se exprimem seus interesses de classe, ao passo que seus interesses imediatos são tomados em consideração nos dezesseis pontos do programa mínimo, em que se fala no melhoramento das condições de trabalho (vide o Programa do Partido, aprovado pelo segundo Congresso). Por ora, o trabalho socialista imediato do Partido exprime-se na propaganda socialista que ele promove entre os proletários agrícolas, unindo-os em organizações socialistas próprias e fundindo-os com os proletários urbanos em um partido político distinto. O Partido ocupa-se continuamente com essa parte dos camponeses e diz-lhes: na mesma medida em que realizais a revolução democrática mantende-vos unidos com os camponeses que lutam, e lutai contra a nobreza fundiária; na mesma medida em que marchais para o socialismo, uni-vos decididamente aos proletários urbanos e lutai implacàvelmente contra todos os burgueses, sejam camponeses ou nobres. Juntamente com os camponeses pela república democrática! Juntamente com os operários pelo socialismo! Eis o que diz o Partido aos proletários agrícolas.
Se o movimento dos proletários e seu programa socialista reavivam a chama da luta de classes, para destruir para sempre com esta luta todo classismo, por sua vez o movimento camponês e o seu programa agrário democrático reavivam no campo a chama da luta de camadas sociais para destruir com isso mesmo pelas raízes todas as divisões em camadas.
P. S. - No fim deste artigo, não se pode deixar de responder à carta de um leitor, que nos escreve o seguinte: "Contudo, vosso primeiro artigo não me satisfez. Acaso não era o Partido contra o confisco de todas as terras E se é assim, por que não falou sobre isso?"
Não, egrégio leitor, o Partido nunca esteve contra esse confisco. Já no segundo Congresso, isto é, no Congresso em que foi aprovado o ponto sobre os "otrezki", já naquele Congresso (1903), o Partido pela palavra de Plekhanov e de Lênin disse que teríamos apoiado os camponeses, se estes houvessem reivindicado o confisco de todas as terras (1) Dois anos depois (em 1905), ambas as frações do Partido, os "bolcheviques" no terceiro Congresso e os "mencheviques" na primeira Conferência, declaram por unanimidade que teriam sustentado por todas as formas os camponeses na questão do confisco de todas as terras (2) Em seguida, nos jornais de ambas as tendências do Partido, seja na Iskra e no Proletari, seja na Nóvaia Jizn (3*) e no Natchalo (4*), os camponeses foram repetidamente chamados a confiscar todas as terras... Como vedes, o Partido era desde o princípio pelo confisco de todas as terras e não tendes por isso nenhuma razão ao pensar que o Partido se haja deixado levar a reboque do movimento camponês. O movimento camponês ainda não havia começado seriamente, os camponeses ainda não reivindicavam sequer os "otrezki, e já o Partido falava no confisco de todas as terras em seu segundo Congresso.
E se, não obstante, nos perguntardes por que não introduzimos no programa a reivindicação do confisco de todas as terras naquele mesmo ano de 1903, responder-vos-emos com uma pergunta: por que os social-revolucionários não introduziram em seu programa, desde 1900, a reivindicação da república democrática? Acaso eram contra essa reivindicação? (3) Por que então falavam somente em nacionalização e hoje romperam-nos os tímpanos com a socialização? E se nós hoje no programa mínimo não dizemos nada sobre a jornada de trabalho de sete horas, acaso isso quererá dizer que somos contra ela? Então, de que se trata? Somente do fato de que em 1903, quando o movimento ainda não havia tomado consistência, o confisco de todas as terras teria ficado no papel; o movimento, ainda não consistente, não teria conseguido essa reivindicação, e por isso a reivindicação dos "otrezki" era mais adequada àquele período. Mas, em seguida, quando o movimento se desenvolveu e pôs em discussão as questões práticas, então o Partido devia mostrar que o movimento não pode e não deve parar nos "otrezki", que é indispensável o confisco de todas as terras.
Estes são os fatos.
Enfim, algumas palavras sobre o Tsnobis Purtseli (5*) (vide n.º 30033) - Esse jornal diz certas tolices a propósito do "costume" e do "princípio" e assevera que o Partido, não sei quando, teria transformado em princípio os "otrezki". O leitor pode ver também acima que isso é mentira, que o Partido reconheceu publicamente. como um princípio, desde o início, o confisco de todas as terras. No que se refere ao fato de que o Tsnobis Purtseli não distingue das questões práticas os princípios, nada de mau há nisso: ele crescerá e aprenderá a distingui-los (4).
Jornal "Elva" (O Relâmpago), n.os 5, 9 e 10; (6*)
Assinado: I. Besochvili.
Notas:
(1) Vide "Atas do segundo Congresso". (retornar ao texto)
(2) Vide "Atas do terceiro Congresso" e "A primeira Conferência". (retornar ao texto)
(3) Vide "As nossas tarefas", edição da "União dos social-revolucionários", 1900. (retornar ao texto)
(4) O "Tsnobis Purtseli" "ouviu" em algum lugar que "os social-democratas da Rússia aprovaram um novo programa agrário segundo o qual... apóiam a municipalização das terras". Devo declarar que "os social-democratas da Rússia não aprovaram nenhum programa desse gênero". A aprovação do programa é tarefa do Congresso e tal Congresso ainda não houve. É claro que o "Tsnobis Purtseli" foi induzido em erro por algo ou por alguém, O "Tsnobis Purtseli" faria muito bem em não propiciar a seus leitores boatos infundados. (retornar ao texto)
(1*) No momento da libertação dos camponeses da servidão (1861) os proprietários nobres haviam tomado dos camponeses uma parte considerável das terras de que desfrutavam primeiro. Os lotes assim tirados das terras camponesas (e eram os melhores e os mais necessários ao patrimônio) foram chamados pelos camponeses "otrezki" (retalhos). (retornar ao texto)
(2*) Revoliutsiónnaia Rossíia (A Rússia Revolucionária), órgão dos social-revolucionários. Publicou-se desde fins de 1900 até 1905. No começo era editado pela "União dos Social-Revolucionários". Em janeiro de 1902 tornou-se o órgão central do Partido dos Social-Revolucionários. (retornar ao texto)
(3*) Nóvaia Jizn (Vida Nova), primeiro jornal legal bolchevique. Publicou-se em Petersburgo de 27 de outubro a 3 de dezembro de 1905. Após a chegada de Lênin da emigração, a Nóvaia Jizn saiu sob a sua direção. Gorki colaborou ativamente no jornal, que foi suprimido no 27.º número, pelas autoridades. Um último número do jornal, o n.º 28, saiu ilegalmente. (retornar ao texto)
(4*) Natchalo (O Início), diário legal dos menchevique. Publicou-se em São Petersburgo de 13 de novembro a 2 de dezembro de 1905. (retornar ao texto)
(5*) Tsnobis Purtseli (Jornal de Informações), diário georgiano; publicou-se em Tíflis de 1896 a -1906. Desde fins de 1900, o jornal foi o porta-voz dos nacionalistas georgianos; em 1904, tornou-se órgão dos social-federalistas georgianos. (retornar ao texto)
(6*) Elva (O Relâmpago), diário georgiano, órgão do Comitê Unificado de Tíflis do P.O.S.D.R. Iniciou as publicações, após a supressão do Gantiadi, em 12 de março de 1906. O último número saiu a 15 de abril de 1906. Para os bolcheviques, os artigos de fundo eram escritos por Stálin. Ao todo, foram publicados 27 números. (retornar ao texto)
Inclusão | 31/03/2006 |