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O jornalista Hermínio Sacchetta teve significativa militância junto à esquerda brasileira ao longo de várias décadas. Nos anos 30 militou no PCB, tendo sido um dos principais editores do jornal A Classe Operária. Posteriormente rompeu com aquela organização —na conhecida cisão partidária de 1937/38 — participando, poucos anos depois, da fundação do Partido Socialista Revolucionário, vinculado à IV Internacional. Participou, ainda, da organização da Liga Socialista Independente, em meados da década de 50, e do Movimento Comunista Internacionalista, nos anos 60.
Este livro retrata toda esta trajetória, do trotskismo ao luxemburguismo, onde a história do militante e da esquerda se mesclam. Ressalte-se, também, que a ficção política — O Caldeirão das Bruxas — que dá título ao volume, é um texto inédito, inacabado, onde o autor descreve o processo que levou à cisão partidária de 1937/38. Este texto — acrescido da “Carta Aberta a todos os Membros do Partido” — agrega elementos para o entendimento da consolidação do stalinismo no interior do PCB na década de 30. A primeira parte do livro — Polêmicas no Interior do PCB — que traz também uma resposta do autor às críticas feitas por Jorge Amado em Os Subterrâneos da Liberdade, conta com uma apresentação do escritor e militante Heitor Ferreira Lima.
A segunda parte, — Outros Caminhos na Esquerda Brasileira — apresentada por Florestan Fernandes e Michael Lowy, lembra as ações de Sacchetta desde as experiências de organizações de esquerda no Brasil nos anos 40, ligadas ao ideário político de Trotsky; passando pela Liga Socialista Independente nos anos 50 e depois pelo Movimento Comunista Internacionalista na década de 60.
Este roteiro permite apreender a importância deste livro: ao trazer documentos, textos e depoimentos inéditos, oferece uma real contribuição à história das idéias da esquerda brasileira e, deste modo, contribui para uma reinterpretação das organizações políticas presentes na história social em nosso país.
Completam o presente volume três textos de homenagem a Hermínio Sacchetta, escritos após a sua morte, por Jacob Gorender, Maurício Tragtenberg e Cláudio Abramo, que aqui republicamos, uma vez que destacam aspectos e dimensões importantes da individualidade Hermínio Sacchetta e da sua atividade política. Junto com as apresentações, feitas especialmente para a publicação deste volume, de Heitor Ferreira Lima, Florestan Fernandes e Michael Lowy, têm-se um retrato expressivo do homem, jornalista e militante que foi Hermínio Sacchetta.
Este livro não seria publicado sem a decisiva participação de Vladimir Sacchetta, filho e admirador de Hermínio, a quem coube a concepção integral do livro. A mim coube, através do Arquivo Edgard Leuenroth, vinculado ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, recolher as apresentações, fazer alguns poucos acréscimos de documentos e propor, junto com Marco Aurélio Garcia, sua publicação à Editora da Unicamp. Vale lembrar que o AEL elaborou, também, um inventário analítico de todo o Acervo Hermínio Sacchetta que se encontra depositado em suas dependências e que poderá ser pesquisado por aqueles que investigam e estudam a história da esquerda brasileira, da qual o referido Acervo tem documentos expressivos.
Presta-se, deste modo, uma justa homenagem a Hermínio Sacchetta, jornalista e militante, marxista e antistalinista, cuja trajetória se confunde em muitos pontos com a própria história da esquerda brasileira.
Outubro de 1991
Ricardo Antunes
Inclusão | 21/04/2014 |