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Primeira Edição: Em Marcha, 22 de Dezembro de 1982
Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Balsemão, esse verbo-de-encher que o Freitas passa à capa como quer, o Balsemão de papelão que acaba de se demitir para não levar uma corrida no congresso do seu partido, jantou ainda há meia dúzia de dias com o chefe supremo do mundo. Nem mais nem menos.
E não me digam que foi só uma questão de cortesia diplomática. Reagan, Bush, Weinberger, não costumam gastar duas horas em rapapés com todo o figurão que lhes aparece. Mas fizeram-no a Balsemão. E prometeram-lhe novos auxílios militares e económicos para Portugal.
“Quando a esmola é gorda, o pobre desconfia”. Balsemão não teve razões para desconfiar. Os padrinhos puseram-lhe tudo em pratos limpos. Querem:
Uma insignificância, como se vê.
Mas, coisa curiosa, os partidos da Oposição não se mostraram grandemente tentados a dramatizar o caso junto da opinião pública. Pelo contrário, tudo se ficou por alguns sóbrios comentários, sem parangonas de primeira página.
Da parte de Mário Soares, a coisa compreende-se pelo ciúme que lhe terá causado a cartada de Balsemão. Mas Cunhal, porque foi tão discreto? E o próprio Governo, porque não explorou mais o êxito do seu chefe?
Fácil! Qualquer politico sério com um mínimo de rodagem sabe que estes negócios delicados de Estado não são para trazer para o sol das praças públicas. Há regras que um partido deve respeitar, esteja no Governo ou na Oposição. O interesse nacional exige-o. Para quê alarmar a opinião pública?
A questão está em saber preparar os espíritos para a nova situação. “A Alemanha Federal não se opõe a que os Estados Unidos passem a utilizar a base de Beja”, noticia descontraidamente “O Jornal”. A Alemanha Federal não se opõe... Não sentem nada remexer por dentro?
Faz agora exactamente 30 anos, o velho Staline deu os últimos conselhos aos seus poucos fiéis discípulos em Moscovo.
“A burguesia, disse ele, deitou fora a bandeira da independência nacional. Só vós, representantes da classe operária, podeis levantar essa bandeira”.
Falava como um livro aberto.
Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha
Inclusão | 02/12/2018 |