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Escrito: por volta de 20 de setembro de 1844;
Primeira Edição: The New Moral World, nº 15 , de 5 de outubro de 1844; Assinado: Anglo-German;
Fonte: Marx-Engels Collected Works, volume 4, p.212;
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O Socialismo Continental parece merecer e obter uma porção considerável da atenção pública atualmente. Eu apresento a vocês alguns trechos de uma carta endereçada a mim de Barmen, Prússia, por um antigo colaborador do New Moral World.
Em Paris, no meu caminho para casa, eu visitei um Clube Comunista da escola mística. Eu fui apresentado a ele por um russo que fala francês e alemão perfeitamente(2) e que muito sabiamente se opôs ao raciocínio de Feuerbach(3). Lá, eles acreditam que o termo Deus significa tanto quanto o que os Ham Common folks(4) chamam de Love-Spirit. Eles, no entanto, declaram isso como uma questão secundária e para todos os intentos práticos eles concordam conosco e dizem “enfin, l'athéisme c'est votre religion" — finalmente, o ateísmo é sua religião. Religião, em francês, significa convicção, sentimento, não veneração. Eles afirmam que o burburinho da Bourgeois, ou classes médias, contra a Inglaterra, é sem sentido; e que eles estão muito ansiosos para nos convencer que eles não têm o menor preconceito nacional, que os trabalhadores da França não se preocupam com o Marrocos(5), mas sabem que os ouvriers, trabalhadores, de todos os países são aliados, tendo os mesmos interesses. A classe média francesa é tão egoísta, avarenta e insuportável socialmente quanto a inglesa, mas os ouvriers franceses são companheiros legais. Nós fizemos muito progresso com os russos em Paris. Há três ou quatro nobres e proprietários de servos em Paris que são comunistas e ateus radicais. Nós temos em Paris um jornal alemão comunista, o Vorwärts!, publicado duas vezes por semana. Na Bélgica, há alguma agitação comunista ativa acontecendo e um jornal, o Débat Social, publicado em Bruxelas. Em Paris, há quase meia dúzia de jornais comunistas. Socialiste, Socialitaire são nomes muito estimados na França; e Louis Philippe, o arquibourgeois, apoia o Démocratie Pacifique com dinheiro e proteção. O exterior religioso dos socialistas franceses é o mais hipócrita; as pessoas são profundamente laicas e as primeiras vítimas da próxima revolução serão as paróquias. O povo de Cologne fez enorme progresso. Quando nós nos reunimos em um salão, nós enchemos uma parte com nossa companhia, na maioria advogados, médicos, artistas etc., além de três ou quatro tenentes da artilharia, sendo um deles um companheiro muito esperto. Em Düsseldorf, nós temos poucos homens, entre eles um poeta muito talentoso. Em Elberfeld, por volta de meiadúzia dos meus amigos e alguns outros são comunistas. Na verdade é que dificilmente há uma cidade na Alemanha do Norte que não tenha algum ateu e antiproprietários radicais. Edgar Bauer, de Berlin, foi recentemente sentenciado a 3 anos de prisão pelo seu último livro.(6)
Acreditando que os fatos acima seriam de interesse de seus leitores, eu os encaminho para a publicação em seu jornal.
Notas:
(1) Nota 72 do volume 4 do MECW: O artigo de Engels sobre “Socialismo Continental” foi escrito na forma de uma carta privada, endereçada à redação do semanário The New Moral World, precedida e seguida com textos de acompanhamento (o texto apareceu dessa forma no jornal). No entanto, há motivos para se acreditar que os textos introdutórios e conclusivos também foram escritos por Engels, que tinha suas razões em lançar mão da via indireta para publicar seus escritos. Essa hipótese é apoiada pelo fato de que o texto de acompanhamento é assinado pelo pseudônimo “Anglo-German”, mais provavelmente apontando para Engels, que viveu quase dois anos na Inglaterra e conhecia as condições de lá. Aparentemente a nota para o texto da carta foi escrita também por Engels. (retornar ao texto)
(2) Nota do Tradutor: A pessoa em questão é M. A. Bakunin. (retornar ao texto)
(3) O pensamento de Feuerbach em questão é sobre “a resolução da ideia de Deus no homem” (Nota original do texto publicado no jornal). (retornar ao texto)
(4) Nota 73 do volume 4 do MECW: Ham Common folks é um grupo de socialistas utópicos ingleses que organizaram a colônia Concordium em Ham Common, cidade perto de Londres em 1842; seguidores do místico inglês James Pierrepont Greaves (1777-1842), os socialistas de Ham Common pregavam a perfeitção moral e uma vida ascética; a colônia terminou após uma curta existência. (retornar ao texto)
(5) Nota 74 do volume 4 do MECW: A referência feita é acerca da tentativa feita pela França, durante sua conquista da Argélia, de trazer o vizinho Marrocos para o seu controle. Em Agosto de 1844, acusando o Sultão do Marrocos de ajudar Abd-el-Kader, o chefe das tribos argelinas que estavam resistindo à dominação francesa, os franceses começaram a atacar o Marrocos. O Sultão foi derrotado e forçado a romper sua ajuda a Abd-el-Kader e em 1845 assinar um tratado vantajoso para a França. (retornar ao texto)
(6) NT: O livro de Edgar Bauer em questão é A Querela da Crítica com a Igreja e o Estado [Der Streit der Kritik mit Kirche und Staat]. (retornar ao texto)
Inclusão | 30/01/2009 |