Sobre a Guerra Prolongada

Mao Tsetung

Maio de 1938


Primeira Edição: O presente trabalho compreende uma série de palestras feitas pelo camarada Mao Tsetung, em Ien-an, de 26 de Maio a 5 de Junho de 1938, na Associação para o Estudo da Guerra de Resistência contra o Japão.
Tradução: A presente tradução está conforme à nova edição das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo II (Edições do Povo, Pequim, Agosto de 1952). Nas notas introduziram-se alterações, para atender as necessidades de edição em línguas estrangeiras.
Fonte: Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Pequim, 1975, Tomo II, pág: 169-317.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
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Apresentação do Problema

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1. Em breve chegará o 7 de Julho, data do primeiro aniversário da grande Guerra de Resistência contra o Japão. Coesas na unidade, perseverando na resistência e na Frente Única, as forças da totalidade da nação vêm combatendo valentemente o inimigo, há já quase um ano. Os povos de todo o mundo seguem com muita atenção esta guerra sem precedentes na história do Oriente, a qual ficará também registada como uma das grandes guerras da história do mundo. Cada chinês que sofre com as desgraças da guerra e luta pela sobrevivência da nação anseia diariamente pela vitória. Mas qual será afinal o desenrolar da guerra? Acaso poderemos vencer? Acaso poderemos vencer rapidamente? Muitos falam duma guerra prolongada; mas por que razão será esta uma guerra prolongada? E como se conduz tal guerra? Muitos falam duma vitória final; mas por que razão terá de pertencer-nos a vitória final? Como alcançaremos tal vitória? Não é toda a gente que pode responder a estas perguntas; a maioria das pessoas, efetivamente, ainda não pode fazê-lo. Daí que os defensores da teoria derrotista da subjugação nacional se tenham adiantado para dizer ao povo que a China será necessariamente dominada, e que a vitória final não caberá a China. Por outro lado, alguns dos nossos amigos, que são impacientes, também se adiantam para dizer ao povo que a China poderá vencer muito rapidamente, sem ter que despender grandes esforços. Acaso estarão corretas tais apreciações? Nós temos sempre dito que não estão. Contudo, muita gente ainda não compreendeu bem o que temos andado a dizer. Isso acontece, em parte porque não temos feito o necessário trabalho de propaganda e explicação e, por outro lado, porque o desenvolvimento da situação objetiva ainda não revelou completa e claramente a sua natureza intrínseca e os seus diversos aspetos aos olhos de todos, que, por isso mesmo, não estão em condições de poder apreciar as tendências e as perspetivas do desenvolvimento dos acontecimentos no seu conjunto, e decidir sobre toda uma série completa de táticas e orientações políticas. Atualmente, as coisas vão melhor; a experiência dos dez meses de guerra foi mais do que suficiente para liquidar essa teoria, completamente destituída de fundamento, que é a teoria da subjugação nacional, e dissuadir os nossos amigos impacientes da sua teoria da vitória rápida. Em tais circunstâncias, muita gente reclama uma explicação global, sobretudo no que se refere a guerra prolongada, não só por causa da oposição das teorias da subjugação nacional e da vitória rápida, mas também porque a sua própria natureza ainda não aparece claramente aos olhos de muitos. “O nosso povo de quatrocentos milhões de homens tem estado a despender um esforço concertado desde o Incidente de Lucouquiao(1), e a vitória final caberá necessariamente a China”. Essa fórmula atingiu uma ampla divulgação. Trata-se duma fórmula justa a que é preciso dar um conteúdo concreto. A nossa perseverança na Guerra de Resistência e na Frente Única tem sido possível em razão de muitos fatores. No plano interno, eles abrangem todos os partidos políticos do país, desde o Partido Comunista ao Kuomintang, todo o povo, desde os operários e camponeses a burguesia, e todas as forças armadas, desde as forças principais as forças de guerrilha; no plano internacional, abrangem o povo do país do socialismo e os povos que amam a justiça em todos os outros países; no campo do inimigo, eles vão desde aquelas pessoas que, no Japão, são contra a guerra, até aos soldados japoneses que, sobre a própria frente, se pronunciam contra a guerra. Em resumo, todas essas forças têm contribuído em graus diversos para a nossa Guerra de Resistência. Todo o indivíduo consciente deve saudá-las. Nós, os comunistas, juntamente com todos os outros partidos políticos anti-japoneses e o povo em todo o país, não temos outro caminho além de esforçar-nos por unir todas as forças para a derrota dos agressores, dos criminosos japoneses.

O dia 1 de Julho deste ano marcará o décimo sétimo aniversário da fundação do Partido Comunista da China. Um sério estudo sobre a guerra prolongada torna-se necessário para que cada comunista fique em condições de desempenhar um melhor e ainda maior papel na Guerra de Resistência. Em consequência, as minhas palestras serão dedicadas a tal estudo. Eu gostaria de falar sobre todos os problemas relativos a guerra prolongada mas, numa única série de palestras, não é possível tocar em tudo.

2. Toda a experiência dos dez meses de guerra prova o erro da teoria da inevitável subjugação da China, assim como o da teoria da vitória rápida. A primeira abre caminho a tendência ao compromisso, enquanto que a última abre caminho a tendência a subestimação do inimigo. As duas maneiras de abordar o problema são subjetivistas e unilaterais, em suma, não são científicas.

3. Antes do rebentar da Guerra de Resistência, falou-se muito sobre a subjugação nacional. Alguns diziam: “A China está pior armada que o inimigo e, por isso mesmo, condenada a perder a guerra”. Outros diziam: “Se a China opõe resistência, é certo e seguro que se transformará em outra Abissínia”. Depois do começo da guerra, porém, as afirmações públicas sobre a subjugação nacional desapareceram, mas as conversas privadas, aliás muito frequentes, ainda continuam. Assim é que, de tempos a tempos, ressurge uma atmosfera favorável ao compromisso, e os defensores do compromisso argumentam que “a continuação da guerra arrasta a subjugação nacional”(2). Numa carta vinda de Hunan, um estudante diz:

“No campo, tudo parece difícil. Ao realizar, isoladamente, o trabalho de propaganda, eu tenho de conversar com as pessoas onde quer que as encontro. As pessoas com quem falo não são de maneira alguma ignorantes; elas manifestam todas um certo grau de compreensão das coisas que se estão passando e mostram-se muito interessadas naquilo que tenho para dizer. Todavia, sempre que me dirijo as pessoas da minha família, estas repetem: ‘A China não pode vencer, está perdida’. Chegam a pôr-me doente! Afortunadamente elas não se empregam a propagar as suas ideias, pois isso seria realmente mau. Como é natural, os camponeses depositam mais confiança nelas do que em mim.”

Esses defensores da teoria da inevitável subjugação da China constituem a base social da tendência para o compromisso. Eles encontram-se espalhados por toda a China, razão por que o problema do compromisso pode surgir em qualquer momento no seio da frente anti-japonesa, mantendo-se provavelmente essa possibilidade até ao fim da própria guerra. Agora que já caiu Siudjou e Vuhan está em perigo, não será inútil, penso, refutar enefetivamentergicamente a teoria da subjugação nacional.

4. Durante estes dez meses de guerra, surgiram igualmente todas as espécies de pontos de vista indicativos de impaciência. Por exemplo, nos primeiros dias da guerra, muitas pessoas manifestavam-se, sem qualquer razão, duma forma otimista, subestimando o Japão e pensando, inclusivamente, que os japoneses não poderiam avançar até a província de Xansi. Alguns menosprezavam o papel estratégico da guerra de guerrilhas no conjunto da Guerra de Resistência, e duvidavam da afirmação segundo a qual, “com respeito ao conjunto, a guerra de movimento é o principal e a guerra de guerrilhas o complementar; com respeito a parte, a guerra de guerrilhas é o principal e a guerra de movimento o complementar”. Eles desaprovavam a estratégia do VIII Exército que diz que “a guerra de guerrilhas é o essencial, mas não se deve perder qualquer oportunidade de fazer a guerra de movimento, desde que as circunstâncias sejam favoráveis”, estratégia que consideravam uma “abordagem mecânica” da questão(3). Durante a batalha de Xangai algumas pessoas afirmavam: “Se nós conseguimos lutar pelo menos durante três meses, a situação internacional muda, a União Soviética envia as suas tropas e a guerra ganha-se”. Quanto ao futuro da Guerra de Resistência, eles depositavam as suas esperanças principalmente na ajuda estrangeira(4). Depois da vitória de Teltchuam(5), algumas pessoas sustentavam que a campanha de Siudjou deveria ser desenvolvida como uma “campanha quase-decisiva”, devendo mudar-se a política de guerra prolongada. Eles diziam coisas como estas: “A atual campanha assinala a agonia do inimigo”, ou ainda, “Se nós vencemos, os caudilhos militares japoneses ficarão desmoralizados e o mais que poderão fazer será esperar pelo Dia do Julgamento”(6). A vitória de Pinsinquan subiu a cabeça de muita gente e a vitória seguinte, em Teltchuam, transtornou mais cabeças ainda. Surgiram até dúvidas sobre se o inimigo atacaria ou não Vuhan. Muitos pensavam que “provavelmente não atacaria”, enquanto que outros diziam que “seguramente não o faria”. Tais dúvidas podem afetar todos os problemas de importância. Por exemplo, acaso já é suficiente o nosso poderio anti-japonês? Algumas pessoas podem responder afirmativamente, dizendo que se o nosso poderio já é suficiente para deter o avanço inimigo, por que razão pois aumentá-lo ainda mais? Ou então, outro exemplo, acaso é ainda correta a palavra de ordem de “consolidação e expansão da Frente Única Nacional Anti-Japonesa”? Algumas pessoas podem responder negativamente, dizendo que se no seu estado atual a Frente Única já é suficientemente forte para rechaçar o inimigo, por que razão pois consolidá-la e expandi-la mais? Ou ainda, por exemplo, acaso devemos intensificar os nossos esforços em diplomacia e propaganda internacional? Aqui também se pode dar, novamente, uma resposta negativa. Ou ainda, acaso é necessário apegarmo-nos sefetivamenteriamente a reforma da estrutura do exército e do sistema político, ao desenvolvimento do movimento de massas, a educação relativa a defesa nacional, a eliminação dos traidores e dos trotskistas, ao desenvolvimento das indústrias de guerra e a melhoria das condições de vida do povo? Ou, por exemplo, acaso são ainda corretas as palavras de ordem de defesa de Vuhan, Cantão e Noroeste, e de desenvolvimento enérgico da guerra de guerrilhas na retaguarda do inimigo? As respostas podem ser todas negativas. Há até algumas pessoas que, assim que ocorre uma ligeira modificação favorável na situação de guerra, estão prontas a intensificar a fricção entre o Kuomintang e o Partido Comunista, desviando as atenções dos assuntos externos para os internos. Geralmente, isso acontece quando se ganha uma batalha relativamente grande ou quando o avanço inimigo sofre uma paragem temporária. Tudo o que se disse acima pode classificar-se de estreiteza de vistas políticas e militares. Tudo isso, embora aparentemente razoável, é na realidade falso e destituído de qualquer fundamento. Pôr fim a todo esse palavreado ajudará, necessariamente, a condução vitoriosa da Guerra de Resistência.

5. No fundo, a questão é a seguinte: pode a China ser subjugada? A resposta é: não, não será subjugada, ela conquistará a vitória final. Pode a China vencer rapidamente? A resposta é: não, não pode vencer rapidamente, a Guerra de Resistência será uma guerra prolongada.

6. Já há uns dois anos atrás nós enunciámos, em geral, os principais argumentos sobre essas questões. Em 16 de Julho de 1936, cinco meses antes do Incidente de Si-an e doze meses antes do Incidente de Lucouquiao, em entrevista ao correspondente norte-americano Edgar Snow, eu fiz uma apreciação geral sobre a situação, relativamente a guerra entre a China e o Japão, e formulei vários princípios para a conquista da vitória. Os extratos que se seguem podem servir como lembrança:

Pergunta: Em que condições poderá a China derrotar e destruir as forças do imperialismo japonês?

Resposta: Três condições são exigidas: primeiro, o estabelecimento duma frente única anti-japonesa na China; segundo, o estabelecimento no plano internacional duma frente única anti-japonesa; terceiro, o avanço do movimento revolucionário dos povos do Japão e das colónias japonesas. Do ponto de vista do povo chinês, dessas três condições a principal é a grande aliança do próprio povo chinês.

Pergunta: Quanto tempo pensa que a guerra pode durar?

Resposta: Isso depende da força da Frente Única Anti-japonesa da China e de muitos outros fatores decisivos que envolvem a China e o Japão. Isso significa que, além das forças próprias da China, que constituem o fator principal, a ajuda internacional a China e a ajuda prestada pela revolução japonesa são também fatores importantes. Se a Frente Única Nacional Anti-japonesa for alargada e efetivamente organizada, tanto no sentido da extensão como no da profundidade, se a necessária ajuda for dispensada a China por aqueles povos e governos que reconhecem a ameaça imperialista japonesa aos seus próprios interesses, e se a revolução rebenta a breve prazo no Japão, a guerra pode terminar rapidamente e a China pode conquistar rapidamente a vitória. Se essas condições não são rapidamente realizadas, a guerra durará mais tempo. De todas as maneiras, porém, o resultado será sempre o mesmo: o Japão será necessariamente derrotado e a China alcançará, necessariamente, a vitória. Simplesmente o sacrifício será maior e haverá um período doloroso a atravessar.

Pergunta: Qual é a sua opinião sobre o desenrolar provável de tal guerra, no plano político e no plano militar?

Resposta: A política continental do Japão já está fixada, de tal maneira que todos os que pensam que podem deter o avanço japonês por meio de compromissos com o Japão e a custa do território e dos direitos soberanos da China, não fazem mais do que abandonar-se a meras ilusões. Nós sabemos com segurança que o vale do baixo Yang-tsé e os nossos portos do Sul já estão incluídos no programa continental do imperialismo japonês. Além disso, o Japão pretende ocupar as Filipinas, o Sião, o Vietnam, a península da Malaia e as índias Orientais Neerlandesas, a fim de isolar a China e monopolizar o Sudoeste do Pacífico. Tal é a política marítima do Japão. Nesse período, a China encontrar-se-á por certo numa posição extremamente difícil. A maioria da nação chinesa, porém, está segura de que essas dificuldades podem ser vencidas; só os ricos das grandes cidades portuárias são derrotistas, dado o medo que têm de perder as suas propriedades. Muita gente pensa que seria impossível a China continuar a guerra, uma vez bloqueadas as suas costas pelo Japão. Trata-se duma insensatez. Para refutá-la, nós não precisamos mais do que citar a história de guerra do Exército Vermelho. Na atual Guerra de Resistência contra o Japão, a posição da China é muito melhor do que a posição do Exército Vermelho na guerra civil. A China é um vasto país, donde resulta que, mesmo no caso de o Japão conseguir ocupar uma parte do país com uma população de cerca de cem a duzentos milhões de habitantes, nós ainda estaremos muito longe da derrota. Nós teríamos ainda uma grande força para combater o Japão, enquanto que este se veria obrigado a travar batalhas defensivas na sua própria retaguarda, ao longo de toda a guerra. A heterogeneidade e o desigual desenvolvimento da economia da China são, no fundo, vantagens na Guerra de Resistência. Por exemplo, o isolamento de Xangai do resto da China não seria tão desastroso para esta como o isolamento de Nova Iorque para os Estados Unidos. E se o Japão bloquear as costas da China, ele não poderá bloquear também o Noroeste, o Sudoeste e o Oeste do país. Assim, uma vez mais, o ponto central do problema é a unidade do conjunto do povo chinês e a formação, a escala nacional, duma frente anti-japonesa. É justamente isso que temos estado a defender desde há muito.

Pergunta: Se a guerra se prolonga por muito tempo e o Japão não é completamente derrotado, poderá o Partido Comunista aceitar uma negociação de paz com o Japão e reconhecer o domínio deste sobre o Nordeste?

Resposta: Não. Da mesma maneira que a totalidade do povo, o Partido Comunista da China jamais aceitará que o Japão retenha uma só polegada do território chinês.

Pergunta: Em sua opinião, qual será o principal princípio estratégico a seguir na atual guerra de libertação?

Resposta: A nossa estratégia deve consistir no emprego das nossas forças principais para operar sobre uma frente vasta e instável. Para obterem êxito, as forças chinesas devem fazer uma guerra de alto grau de mobilidade, em amplos teatros de guerra, realizando avanços e retiradas rápidas, bem como rápidas concentrações e dispersões. Isso significa uma guerra de movimento em grande escala, e não uma guerra de posições que dependa exclusivamente de obras de defesa, com profundas trincheiras, altas fortalezas e linhas sucessivas de posições defensivas. Isso não significa, porém, o abandono dos pontos militares vitais que devem ser defendidos por uma guerra de posições, durante tanto tempo quanto seja vantajoso. Contudo, o eixo da estratégia deve ser constituído pela guerra de movimento. A guerra de posições também é necessária mas, estratégicamente, tem uma importância auxiliar e secundária. Dum ponto de vista geográfico, o teatro da guerra é tão vasto que se nos torna possível conduzir a guerra de movimento com o maior sucesso. Frente as vigorosas ações das nossas forças, o exército japonês terá de agir cautelosamente. A sua máquina de guerra é muito pesada e a sua ação é lenta e possui uma eficácia limitada. Se concentramos as nossas forças numa frente estreita para fazermos uma guerra defensiva de desgaste, privamo-nos de todas as vantagens da nossa situação geográfica e organização económica, e repetimos o erro da Abissínia. No começo da guerra, devemos evitar as grandes batalhas decisivas e começar por empregar a guerra de movimento, a fim de quebrar, gradualmente, o moral e a combatividade das forças inimigas.

Além de empregarmos tropas treinadas para a guerra de movimento, devemos organizar numerosas unidades de guerrilhas entre os camponeses. As unidades de voluntários anti-japonesas das três províncias do Nordeste são apenas uma pálida demonstração das forças, latentes, de resistência que podem ser mobilizadas por todo o país, no seio das massas camponesas. As massas camponesas da China dispõem de forças potenciais enormes; corretamente organizadas e dirigidas, elas podem manter debaixo de dente as tropas japonesas todas as vinte e quatro horas do dia, sem lhes deixarem um só momento de descanso. Há ainda que recordar o fato de a guerra ter de fazer-se na China, o que significa que o exército japonês acabará por ser completamente cercado por todo o povo chinês que lhe é hostil; será obrigado a fazer vir de fora e a proteger tudo o que necessita, devendo empregar forças poderosas para defender as suas linhas de comunicação e estar constantemente em guarda contra todos os ataques, além de que necessitará de grandes quantidades de tropas para guarnecer tanto a Manchúria como o próprio Japão.

No decorrer da guerra, a China poderá aprisionar muitos soldados japoneses e capturar muitas armas e munições com que se armará a si própria; simultaneamente, ela conseguirá uma ajuda estrangeira, o que reforçará gradualmente o equipamento das suas tropas. Em consequência, a China poderá fazer uma guerra de posições no último período da guerra e lançar ataques de posições nas áreas ocupadas pelos japoneses. Desse modo, a economia japonesa decompor-se-á em resultado da resistência prolongada da China, e o moral das suas tropas quebrar-se-á sob a pressão de incontáveis combates de desgaste. Do lado chinês, as potencialidades da resistência ao Japão entrarão cada vez mais em jogo, e grandes levas de revolucionários precipitar-se-ão ininterruptamente para a frente, lutando pela sua própria liberdade. A conjugação desses e doutros fatores tornar-nos-á capazes de lançar ataques finais decisivos contra as fortificações e as bases situadas nas áreas ocupadas pelo Japão, e rechaçar da China as forças japonesas de agressão. (Edgar Snow: Impressões sobre o Noroeste da China)

Tudo o que se disse acima ficou comprovado pela experiência dos dez meses de guerra e será ainda melhor confirmado no futuro.

7. Já em 25 de Agosto de 1937, isto é, menos de dois meses depois do Incidente de Lucouquiao, o Comité Central do Partido Comunista da China tinha apontado claramente, na sua “Resolução sobre a Situação Atual e as Tarefas do Partido”, o seguinte:

A provocação militar dos agressores japoneses em Lucouquiao e a ocupação de Pepim e Tientsim, representam apenas o começo da invasão da China em grande escala, ao sul da Grande Muralha. Eles já começaram a mobilização nacional para a guerra. A sua propaganda segundo a qual “não desejam uma expansão posterior” não passa duma cortina de fumaça para cobrir maiores ataques.

A resistência de 7 de Julho, em Lucouquiao, marca o ponto de arranque da Guerra de Resistência da China a escala nacional.

Assim, a situação política da China entrou numa nova fase, a fase da efetiva resistência. A fase da preparação para a resistência já passou. Na fase atual, a tarefa central consiste em mobilizar todas as forças da nação para a vitória na Guerra de Resistência.

A chave da vitória na guerra está em desenvolver a resistência que já começou numa guerra geral de toda a nação. A vitória final só pode ser ganha por meio dessa guerra geral de resistência de toda a nação.

O fato de existirem sérias debilidades na Guerra de Resistência pode conduzir a muitos reveses, retiradas, cissões internas, traições, compromissos temporários e parciais, bem como a outras situações desfavoráveis no decurso dessa guerra. Assim, há que prever uma guerra árdua e prolongada. Todavia, nós confiamos em que, com os esforços do nosso Partido e do conjunto do povo do país, a resistência agora começada varrerá todos os obstáculos do seu caminho e continuará a avançar e a desenvolver-se.

A tese que acaba de ser apresentada ficou igualmente comprovada pela experiência dos dez meses de guerra, e será ainda melhor confirmada no futuro.

8. No plano do conhecimento, a origem de todas as opiniões erradas sobre a guerra está nas tendências idealistas e mecanistas a respeito dessa questão. As pessoas em que se manifestam tais tendências são subjetivistas e unilaterais ao abordarem os problemas. Elas deixam-se levar por um palavreado puramente subjetivo e sem fundamento, ou então, baseando-se num simples aspeto ou manifestação temporária, exageram-no, com um mesmo subjetivismo, tomando-o como o todo. Todavia, há duas categorias de opiniões erradas: uma compreende os erros de princípio, permanentes pois, e que são difíceis de corrigir, enquanto que a outra compreende os erros acidentais, temporários, portanto mais fáceis de eliminar. Como as duas categorias são erradas, ambas necessitam de correção. Por consequência, na questão da guerra, só opondo-nos as tendências idealistas e mecanistas e adotando um ponto de vista objetivo e multilateral poderemos chegar a conclusões corretas.

A Base do Problema

9. Por que é que a Guerra de Resistência contra o Japão terá de ser uma guerra prolongada? Por que é que a vitória final terá de pertencer a China? Que argumentos podem fundamentar tais afirmações?

A guerra entre a China e o Japão não é precisamente uma guerra qualquer, mas sim uma guerra de vida ou morte entre a China semi-colonial e semi-feudal e o Japão imperialista, guerra que se desenrola nos anos trinta do século XX. Nisso está todo o fundo do problema. Vistas em separado, as duas partes em guerra têm muitas caraterísticas reciprocamente contraditórias.

10. Quanto ao Japão: Primeiro, o Japão é um poderoso país imperialista que, no Oriente, ocupa o primeiro lugar nos planos militar, económico e de organização política, chegando mesmo a ser um dos cinco ou seis países imperialistas mais poderosos do mundo. Tais são as condições básicas da guerra de agressão realizada pelo Japão. A inevitabilidade da guerra e a impossibilidade duma vitória rápida da China são devidas ao sistema imperialista japonês e ao seu grande poderio militar, económico e de organização política. Segundo, o caráter imperialista do sistema económico e social do Japão determina o caráter imperialista da sua guerra, uma guerra retrógrada e bárbara. Ao chegar aos anos trinta do séc. XX, as contradições internas e externas próprias do imperialismo japonês obrigaram-no a uma guerra de aventura sem paralelo, levando-o assim as vésperas da ruína final. Do ponto de vista do desenvolvimento social, o Japão já não é um país que se encontra no auge. A guerra não poderá conduzi-lo a prosperidade sonhada pelas suas classes dominantes, mas sim ao resultado contrário, a queda do imperialismo japonês. É justamente isso que queremos dizer ao falarmos do caráter retrógrado da guerra feita pelo Japão. É essa nota retrógrada que, ligada ao caráter militarista-feudal do imperialismo japonês, determina a barbaridade particular com que o Japão faz a sua guerra. Tudo isso agravará em extremo o antagonismo entre as classes no interior do Japão, o antagonismo entre a nação japonesa e a chinesa, bem como o antagonismo entre o Japão e a maioria dos outros países do mundo. O caráter retrógrado e bárbaro da guerra japonesa constitui a principal razão da sua derrota inevitável. Mas isso ainda não é tudo. Terceiro, a guerra que o Japão prossegue baseia-se no seu grande poderio militar, económico e de organização política mas, ao mesmo tempo, ela permanece inadequada desde a origem. Do ponto de vista militar e económico, e no plano da organização política, o poderio japonês é grande mas, ao mesmo tempo, é quantitativamente insuficiente. O Japão é um país relativamente pequeno, deficiente em recursos humanos, militares, financeiros e materiais, não podendo por isso sustentar uma guerra prolongada. Os governantes japoneses pretendem resolver as suas dificuldades com a guerra, mas obterão precisamente o resultado contrário aos seus desejos, isto é, a guerra que desencadearam para solucionar os seus problemas vai acabar por agravá-los e, inclusivamente, esgotará os recursos de que inicialmente dispunham. Quarto e último, embora o Japão possa conseguir um apoio internacional por parte dos países fascistas, a oposição internacional que está condenado a encontrar será maior do que essa ajuda. Essa oposição crescerá cada dia mais, podendo não somente reduzir a nada toda aquela ajuda mas ainda fazer pressão sobre o próprio Japão. Tal é a lei que determina que uma causa injusta encontre sempre um frágil apoio; essa é uma consequência da própria natureza da guerra feita pelo Japão. Resumindo, a vantagem do Japão está na grande capacidade para desencadear a guerra, enquanto que as suas desvantagens estão no carácter retrógrado e bárbaro dessa guerra, na insuficiência de recursos humanos e materiais, bem como no frágil apoio internacional de que beneficia. Essas são as características pelo que respeita ao lado japonês.

11. Quanto à China: Primeiro, nós somos um país semi-colonial e semi-feudal. A Guerra do Ópio, a Revolução dos Taipins, o Movimento Reformista de 1898(7), a Revolução de 1911 e a Expedição do Norte — movimentos revolucionários ou reformistas que visavam arrancar a China ao seu estado semi-colonial e semi-feudal — todos terminaram em sérios reveses, permanecendo a China tal como era antes, semi-colonial e semi-feudal. Nós continuamos ainda a ser um Estado frágil e manifestamente inferior ao inimigo, no que respeita à capacidade militar, económica e de organização política. De novo se pode encontrar, nessa circunstância, o fundamento da inevitabilidade da guerra e da impossibilidade duma vitória rápida da China. Em segundo lugar, não obstante o que se disse, o movimento de libertação da China, que não deixou de desenvolver-se nestes últimos cem anos, é hoje em dia diferente do que era em qualquer dos períodos passados. Se, por um lado, as forças nacionais e estrangeiras que a ele se opõem lhe infligiram sérios reveses, por outro lado, elas também foram temperando paralelamente o povo chinês. Embora a China de hoje não seja tão forte como o Japão, do ponto de vista militar, económico, político e cultural, já existem na China fatores mais progressivos do que em qualquer outro período da sua história. O Partido Comunista da China e o exército que se encontra sob a sua direção representam precisamente esses fatores progressivos. E na base desse progresso que a atual guerra de libertação da China pode ser uma guerra prolongada e atingir a vitória final. Em contraste com o imperialismo japonês que se encontra em decadência, a China é um país em ascensão como o sol da madrugada. A guerra que a China prossegue é uma guerra pelo progresso, donde o seu carácter justo. Pelo facto de ser uma guerra justa, ela pode levar a Nação à unidade, despertar a simpatia do povo japonês e conquistar o apoio da maior parte dos países do mundo. Em terceiro lugar, e sempre em contraste com o Japão, a China é um grande país possuidor dum vasto território, rico em recursos, com uma população imensa e um grande exército, sendo por isso capaz de sustentar uma guerra de longa duração. Em quarto e último lugar, regista-se todo um enorme apoio internacional a China, o qual resulta do caráter progressista e justo da guerra que esta prossegue, apoio que está igualmente em contraste com o magro apoio dispensado ao Japão pela sua guerra injusta. Resumindo, a desvantagem da China está na sua fraqueza militar, enquanto que as suas vantagens estão no caráter progressista e justo da sua guerra, na sua imensidade territorial e no largo apoio internacional de que beneficia. Tais são as caraterísticas pelo que respeita a China.

12. Assim, embora o Japão disponha dum grande poder militar, económico e de organização política, a guerra que prossegue é retrógrada e bárbara, os seus recursos humanos e materiais são insuficientes, e encontra-se numa posição desfavorável do ponto de vista internacional. Pelo contrário, a China, embora apresentando uma inferioridade militar, económica e no plano de organização política, atravessa uma era de progresso, faz uma guerra justa e progressista e, além disso, é um grande país, fator que a habilita a sustentar uma guerra prolongada, no que será apoiada pela maioria dos países do mundo. Tudo o que se disse acima resume as caraterísticas fundamentais e reciprocamente contraditórias da Guerra Sino-Japonesa. Elas determinaram e determinam todas as medidas políticas, estratégia e táticas militares adotadas pelas duas partes; determinaram e determinam o caráter prolongado da guerra e a sua conclusão, isto é, o fato de a vitória final vir a pertencer a China e não ao Japão. A guerra é uma competição entre essas caraterísticas. Tais caraterísticas modificar-se-ão no decurso da guerra, cada uma segundo a natureza que lhe é própria; tudo o que vier a produzir-se dependerá dessas modificações. Elas existem objetivamente e não são inventadas para enganar o povo; elas constituem os elementos básicos da guerra e não fragmentos isolados. Estão na base de todos os problemas, grandes e pequenos, que surgem de ambos os lados e em todas as fases da guerra, não sendo de maneira alguma questões insignificantes. Se se esquecerem essas caraterísticas ao fazer-se o estudo da Guerra Sino-Japonesa, seguir-se-á certamente um caminho errado; e mesmo que as opiniões que assim se formem cheguem a ganhar crédito durante um certo tempo e possam parecer corretas, a sua falsidade acabará inevitavelmente por ser provada no decorrer da própria guerra. Baseando-nos nessas caraterísticas, vamos agora passar a exposição dos problemas que nos importa tratar.

Refutação da Teoria da Subjugação Nacional

13. Os teóricos da subjugação nacional, que não veem mais do que o contraste entre o poderio inimigo e a nossa fraqueza, diziam que “a resistência significa subjugação”, e andam dizendo agora que “a continuação da guerra arrasta a subjugação nacional”. Claro que não podemos convencê-los com a simples afirmação de que o Japão, embora forte, é um país pequeno, enquanto que a China, sendo fraca, é um país extenso. Eles podem apresentar exemplos históricos, como a destruição da dinastia dos Som pelos Iuan e a destruição da dinastia dos Mim pelos Tsim, provando que um país pequeno e forte pode vencer um país grande e fraco e, o que é mais, provando que um país atrasado pode derrotar um país progressista. E se nós dissermos que esses fatos se produziram nos tempos idos e que por isso não podem servir como exemplo, eles citar-nos-ão a subjugação da índia pela Grã-Bretanha, para provar que um país capitalista, pequeno e forte, pode vencer um país grande, fraco e pouco desenvolvido. Assim, temos de apresentar outras razões mais para calar e convencer os partidários da subjugação nacional e armar cada um dos indivíduos empenhados no trabalho de propaganda com os argumentos adequados, de modo a que possam persuadir os que ainda se encontram confundidos e hesitantes, reforçando-lhes a fé na Guerra de Resistência.

14. Quais são pois essas novas razões? São as caraterísticas da época. Tais caraterísticas refletem-se concretamente no caráter retrógrado do Japão e na escassez da ajuda de que beneficia, bem como no caráter progressista da China e no grande apoio de que ela goza.

15. A nossa guerra não é uma guerra qualquer, ela é precisamente uma guerra entre a China e o Japão e desenrola-se nos anos trinta do séc. XX. O nosso inimigo, o Japão, é antes de mais um imperialismo moribundo; ele já se encontra na fase de declínio e não só é diferente da Inglaterra do tempo da subjugação da Índia, quando o capitalismo britânico ainda se encontrava na sua fase de ascensão, como também daquilo que era o próprio Japão, há vinte anos, no período da Primeira Guerra Mundial. A guerra atual foi desencadeada na véspera do colapso geral do imperialismo mundial e, particularmente, dos países fascistas; eis a principal razão por que o inimigo se meteu na aventura dessa guerra que tem, no fundo, a natureza dum último combate desesperado. Por consequência, não será a China mas sim a camarilha dominante do Japão imperialista que será destruída em resultado da guerra. Isso é algo inevitável a que não se pode fugir. Por outro lado, o Japão passou a guerra num momento em que muitos países já estão intervindo ou se preparam para intervir na guerra, num momento em que estamos todos combatendo ou preparando-nos para combater essa bárbara agressão, ligando-se os destinos da China aos destinos da maioria dos países e povos do mundo. Essa a razão principal da oposição que o Japão tem provocado e que, mais acentuadamente ainda, seguirá provocando entre a maioria dos países e povos do mundo.

16. E quanto a China? A China de hoje não pode ser comparada a China de qualquer outro período histórico. A China é uma sociedade de caráter semi-colonial e semi-feudal e, por isso mesmo, é considerada um país fraco. De qualquer maneira, porém, a China atravessa uma era de progresso no seu desenvolvimento histórico, fato que constitui a principal razão das suas possibilidades de vitória sobre o Japão. Quando dizemos que a Guerra de Resistência contra o Japão é progressista, nós não usamos o termo progressista no sentido geral e comum da palavra, nem no sentido em que afirmamos que a guerra da Abissínia contra a Itália é uma guerra progressista, ou no sentido em que a Revolução dos Taipins e a Revolução de 1911 foram progressistas, o que queremos significar com a palavra progressista é que a China atual é, ela mesma, progressista. De que maneira é a China de hoje progressista? Ela é progressista na medida em que já não é um país completamente feudal, na medida em que já existe nela um certo capitalismo, e porque tem uma burguesia e um proletariado, grandes massas populares que estão despertas ou se despertam, um Partido Comunista, um exército politicamente progressista — o Exército Vermelho chinês, dirigido pelo Partido Comunista — e ainda a tradição e a experiência de muitas dezenas de anos de revolução, particularmente a experiência dos dezassete anos contados a partir da fundação do Partido Comunista da China. Essa experiência educou o povo e os partidos políticos chineses, e serve precisamente de base para a atual unidade contra o Japão. Se pode dizer-se que sem a experiência de 1905 a vitória de 1917 teria sido impossível na Rússia, podemos igualmente afirmar que sem a experiência dos últimos dezassete anos seria impossível vencer na Guerra de Resistência. Esta a nossa situação interna.

A situação internacional é tal que a China não está isolada na guerra, o que igualmente constitui um fato sem precedentes na História. No passado, as guerras da China, como as guerras da índia, eram guerras que se travavam em condições de isolamento. Só hoje é que nos deparamos com um movimento popular, nascido ou a ponto de nascer, a escala mundial e extraordinariamente desenvolvido em extensão e profundidade, e que serve de apoio a China. A Revolução de 1917 na Rússia também encontrou ajuda mundial, por isso, os operários e camponeses russos conquistaram a vitória. Naquela altura, porém, a escala dessa ajuda não era tão grande, e pelo seu caráter não era tão profunda como o apoio de que a China goza nos nossos dias. Os movimentos populares do mundo de hoje desenvolvem-se numa escala e numa profundidade sem precedentes. A existência da União Soviética é um fator particularmente vital na presente situação política internacional, e esse país apoiará seguramente a China com todo o entusiasmo; nada disso existia há vinte anos. Todos esses fatores criaram e estão criando importantes condições indispensáveis a vitória final da China. Uma assistência direta em grande escala ainda não existe, só se verificará no futuro, mas o importante é que a China é um país grande e progressista, fatores que a habilitam a prolongar a guerra, suscitar a ajuda internacional e esperar que esta chegue.

17. Há ainda o fator adicional de o Japão ser um pequeno país de reduzido território, fracos recursos, pouca população e um limitado número de soldados, enquanto que a China é um grande país de extenso território, ricos recursos, imensa população e pleno de soldados, de tal maneira que, além do contraste entre a força e a fraqueza, existe ainda o contraste entre um pequeno país, retrógrado e debilmente apoiado, e um grande país progressista, amplamente apoiado. Essa a razão por que a China jamais será subjugada. Do contraste entre a força e a fraqueza segue-se que o Japão pode, por algum tempo e dentro de certos limites, cometer excessos na China, e que esta tem necessariamente de atravessar um difícil pedaço no seu caminho, devendo a Guerra de Resistência ser, por consequência, uma guerra prolongada e não uma guerra de decisão rápida; todavia, do outro contraste — pequeno país retrógrado e fracamente apoiado, contra um grande país progressista e amplamente apoiado — segue-se que o Japão não poderá cometer excessos na China indefinidamente, sendo ao contrário seguro que terminará sofrendo uma derrota, não podendo pois a China ser de modo algum subjugada, antes devendo estar certa de conquistar a vitória final.

18. Por que é que foi subjugada a Abissínia? Primeiro, porque não só era fraca como também pequena. Segundo, porque não era tão progressista como a China; tratava-se dum velho país que passava da escravidão a servidão, um país onde não existia o capitalismo nem partidos políticos burgueses e muito menos um Partido Comunista, um país sem um" exército como o exército chinês e muito menos um exército como o nosso VIII Exército. Em terceiro lugar, ela não foi capaz de aguentar-se até que recebesse uma ajuda internacional, e teve de combater numa situação de isolamento. Em quarto e mais importante lugar, foram cometidos erros na direção da sua guerra contra a Itália. A Abissínia foi pois subjugada. Todavia, ainda se mantém uma guerra de guerrilhas bastante vasta na Abissínia, guerra que, a continuar-se, habilitará os abexins a reconquistarem o seu próprio país quando a situação internacional se modificar.

19. Se os partidários da teoria da subjugação citam a história do fracasso dos movimentos de libertação na China moderna, para provar as suas afirmações segundo as quais “a resistência significa subjugação” e “a continuação da guerra arrasta a subjugação nacional”, mais uma vez a nossa resposta é a de que “os tempos estão mudados”. Hoje, tanto a China em si mesma, como a situação interna japonesa e a situação internacional, já não são o que eram antes. Constitui uma circunstância muito importante o fato de o Japão ser agora mais forte do que anteriormente e a China continuar ainda na sua débil posição de país semi-colonial e semi-feudal. Igualmente é certo que o Japão ainda pode continuar a subjugar o povo no interior do seu próprio país e explorar as contradições internacionais a fim de invadir a China. Todavia, no decorrer duma guerra de longa duração, todos esses fatores estão condenados a modificar-se precisamente no sentido contrário. Tais modificações ainda não constituem fatos consumados mas hão-de sê-lo no futuro. Os partidários da teoria da subjugação não têm esse Ponto em conta. E quanto a China? Pelo que respeita a China, nós contamos já com gente nova, com um novo partido político, um novo exército e uma nova política anti-japonesa, uma situação completamente diferente pois da que existia há pouco mais de dez anos e, o que é mais, tudo isso se desenvolve inevitavelmente. É um fato que, historicamente, os movimentos de libertação sofreram repetidos reveses, razão por que a China não pôde acumular maiores forças para a atual Guerra de Resistência — essa é uma lamentável lição histórica que devemos ter em conta para futuro, de modo a nunca mais destruirmos qualquer das nossas forças revolucionárias. Mas mesmo na presente situação, se fazemos grandes esforços, podemos seguramente avançar, pouco a pouco, e aumentar as forças da nossa resistência. Todos esses esforços devem convergir na grande Frente Única Nacional Anti-japonesa. No que se refere a ajuda internacional, embora não se registe ainda duma maneira direta e em grande escala, ela já se vai concretizando, sendo a situação internacional fundamentalmente diferente da anterior. Os numerosos fracassos do movimento de libertação da China moderna têm as suas causas subjetivas e objetivas, mas a situação de hoje é inteiramente diferente da anterior. Atualmente, muito embora existam várias dificuldades que tornam árdua a Guerra de Resistência — como por exemplo a força do inimigo e a nossa fraqueza, o fato de as suas dificuldades estarem apenas no começo e o nosso progresso estar ainda longe de ser suficiente, etc., etc. — existem também muitas circunstâncias favoráveis para a derrota do inimigo; precisamos apenas de aumentar os nossos esforços subjetivos para sermos capazes de saltar todas as dificuldades e conquistar a vitória. Todas essas são condições favoráveis que nunca existiram em qualquer outro período da nossa história, razão por que a Guerra de Resistência contra o Japão não poderá, ao contrário do que aconteceu com os movimentos de libertação do passado, terminar-se por uma derrota.

Compromisso ou Resistência? Corrupção ou Progresso?

20. Ficou amplamente demonstrado acima que a teoria da subjugação nacional não tem qualquer fundamento. Todavia, para muitos patriotas honestos que não são partidários da teoria da subjugação, a situação atual é profundamente preocupante. Duas questões os atemorizam, o medo do compromisso com o Japão e as dúvidas sobre a possibilidade dum progresso político. Esses dois inquietantes problemas têm sido amplamente debatidos entre as massas populares, mas ainda não se encontrou a chave para a respetiva solução. Examinemo-los pois, agora.

21. Como se disse anteriormente, a questão do compromisso tem as suas raízes sociais e, enquanto essas raízes existirem, ela não deixará de surgir. Todavia, a linha do compromisso não levará a melhor. Para prová-lo, temos apenas de olhar de novo para a situação do Japão, da China e para a situação internacional. Vejamos primeiramente o Japão. Logo no começo da Guerra de Resistência, nós previmos que viria um momento em que se formaria uma atmosfera propícia ao compromisso, noutros termos, que depois da ocupação do Norte da China, do Quiansu e do Tchequiam, o Japão provavelmente trataria de aplicar o esquema de incitar a China a capitulação. Tanto isso era verdade que ele passou efetivamente a aplicação de tal esquema; a crise, porém, passou rapidamente, sendo uma das causas o fato de o inimigo realizar por toda a parte uma política bárbara e entregar-se abertamente a uma guerra de rapina. Se a China tivesse capitulado, cada cidadão chinês ter-se-ia convertido num escravo sem pátria. A política de rapina do inimigo, a sua política de subjugação da China, tem dois aspetos, um material e outro espiritual, os quais se aplicam de maneira universal a todos os chineses, tanto aos das camadas mais baixas como aos das camadas mais altas da sociedade; naturalmente, os últimos são tratados duma maneira mais polida, mas a diferença é apenas de grau, e não de princípio. Em geral, o inimigo está transplantando para o interior da China as velhas medidas que adotou nas três províncias do Nordeste. Do ponto de vista material, ele rouba, as pessoas simples, inclusivamente roupas e comida, deixando-as sofrer a fome e ao frio; ele apodera-se dos meios de produção, arruinando e escravizando as indústrias nacionais chinesas. Espiritualmente, ele está trabalhando para destruir a consciência nacional do povo chinês. Sob a bandeira do “Sol” os chineses não podem ser mais do que dóceis vassalos, bestas de carga proibidas de manifestar o menor vestígio de espírito nacional. Essa bárbara política do inimigo será estendida pelo interior do nosso país. Com o apetite voraz que o carateriza, o Japão é incapaz de parar a guerra. Como era fatal, a política proclamada pelo gabinete japonês(8), a 16 de Janeiro de 1938, continua a ser realizada com obstinação, o que provoca a indignação de todas as camadas do povo chinês. Tal indignação é motivada pelo caráter retrógrado e bárbaro da guerra que o Japão prossegue, pois, como “não se pode fugir ao destino”, as pessoas acabam por opor uma resistência implacável aos invasores japoneses. Deve-se esperar que o inimigo volte mais uma vez, no futuro, ao esquema de incitamento a capitulação, e que, portanto, alguns dos partidários da subjugação hão-de voltar a mover-se e, muito provavelmente, a conluiar-se com certos elementos estrangeiros (na Inglaterra, nos Estados Unidos e na França, e especialmente no seio das camadas sociais mais altas da Inglaterra), funcionando como compartes no crime. Contudo, a orientação geral dos acontecimentos não permitirá a capitulação; o caráter particularmente bárbaro e obstinado da guerra que o Japão faz já decidiu sobre esse aspeto da questão.

22. Vejamos em segundo lugar a China. Há três fatores que contribuem para a perseverança da China na sua Guerra de Resistência. Primeiro, a existência do Partido Comunista, que é a força segura que dirige o povo na resistência. Depois, o Kuomintang, que depende da Inglaterra e dos Estados Unidos e que, por consequência, não capitulará enquanto estes não lhe ordenarem que o faça. Por último, a existência de outros partidos e grupos políticos, cuja maioria é contrária ao compromisso e apoia a Guerra de Resistência. Se a unidade se realiza entre esses três fatores, todos os que agirem no sentido do compromisso colocar-se-ão no campo dos traidores, pelo que qualquer cidadão terá o direito de puni-los. Todos os que não querem ser traidores não têm outra saída senão unirem-se e fazerem a Guerra de Resistência até ao fim; o compromisso será pois difícil de conseguir-se.

23. Terceiro, tomemos o aspeto internacional. Excetuando os aliados do Japão e certos elementos das camadas mais altas de outros países capitalistas, o mundo inteiro está a favor da resistência da China e não a favor do compromisso. Esse fato reforça as esperanças da China. Atualmente, o povo inteiro alimenta a esperança de que as forças internacionais deem uma crescente ajuda a China. E não se trata apenas duma vã esperança; a existência da União Soviética encoraja particularmente a China na sua Guerra de Resistência. A União Soviética socialista, hoje mais forte do que nunca, tem estado sempre ao lado da China, nos bons como nos maus dias. Em contraste flagrante com todos os elementos das camadas mais altas dos países capitalistas, que não veem mais do que o lucro, a União Soviética tem como um dever prestar ajuda a todas as nações fracas e a todas as guerras revolucionárias. A China não está isolada na sua guerra, ela beneficia não apenas do apoio internacional geral, mas também do apoio particular da União Soviética. A China e a União Soviética estão muito próximas uma da outra no domínio geográfico, fato que agrava a crise do Japão e facilita a Guerra de Resistência da China. A proximidade geográfica do Japão aumenta as dificuldades da resistência da China. Por outro lado, a proximidade da União Soviética constitui uma condição favorável para a China na Guerra de Resistência.

24. Daí podemos concluir que o perigo de compromisso existe mas pode ser vencido. Mesmo que O inimigo possa modificar a sua política até certo ponto, jamais ele poderá mudá-la radicalmente. Na China, as raízes sociais do compromisso existem, mas a oposição ao compromisso forma a maioria. No plano internacional, igualmente existem algumas forças que são pelo compromisso, mas as forças principais estão em favor da resistência. A combinação desses três fatores torna possível a eliminação do perigo de compromisso e a perseverança, até ao fim, na Guerra de Resistência.

25. Passemos agora a resposta da segunda questão. O progresso político no plano interno e a perseverança na Guerra de Resistência são inseparáveis. Quanto maior for o progresso político, tanto melhor poderemos perseverar na guerra, e quanto mais perseverarmos na guerra tanto maior será o progresso político. Fundamentalmente, porém, tudo depende da nossa perseverança na Guerra de Resistência. Nos diferentes domínios da atividade do Kuomintang existem numerosos fatores perniciosos e pesados de consequências, cuja acumulação, ao longo dos anos, tem provocado preocupação e inquietação de grandes filas de patriotas. De todas as maneiras, Porém, não há razão para ser pessimista, uma vez que a experiência da Guerra de Resistência já provou que o povo chinês fez tantos progressos nos dez últimos meses como, outrora, em vários anos. Embora os efeitos acumulados de longos anos de corrupção retardem sefetivamenteriamente o crescimento das forças populares para a resistência ao Japão, reduzam a extensão das nossas vitórias e nos causem perdas na guerra, a situação geral na China, no Japão e no mundo é tal que o povo chinês não pode deixar de fazer progressos. Tal progresso será lento em virtude dos fatores de corrupção que o entravam. O progresso e a lenta marcha do progresso constituem duas caraterísticas da situação atual, sendo que a segunda caraterística não se harmoniza em absoluto com as exigências urgentes da guerra, o que é uma causa de grande apreensão para os patriotas. Mas nós estamos no centro duma guerra revolucionária, e uma guerra revolucionária é um anti-tóxico que não só elimina o veneno inimigo mas também nos purga daquilo que temos de malsão. Toda a guerra justa, revolucionária, contém uma força imensa e pode transformar muitas coisas ou abrir caminho para tal transformação. A Guerra Sino-Japonesa transformará tanto a China como o Japão. Desde que a China persevere na Guerra de Resistência e na Frente Única, o velho Japão será seguramente transformado num Japão novo e a velha China, numa China nova, assim como o povo e todas as coisas, quer na China quer no Japão, se transformarão também durante e após a guerra. É correto ligarmos a Guerra Anti-japonesa com a edificação do nosso país. Dizer que o Japão também pode transformar-se significa que a guerra de agressão realizada pelos seus dirigentes acabará numa derrota, e que isso poderá levar o povo japonês a revolução. O dia em que a revolução do povo japonês triunfar será o dia da transformação do Japão. Tudo isso está estreitamente ligado a Guerra de Resistência da China e constitui uma perspetiva que temos de considerar.

A Teoria da Subjugação Nacional é Errada, Assim Como é Errada a Teoria da Vitória Rápida

26. No estudo comparativo que fizemos sobre o inimigo e nós próprios, a respeito das caraterísticas contraditórias fundamentais, como sejam a força relativa, a grandeza relativa, o progresso ou o retrocesso, a extensão relativa do apoio, nós já refutámos a teoria da subjugação nacional, assim como explicámos a razão por que o compromisso não é fácil e o progresso político é possível. Os defensores da teoria da subjugação sobrestimam a contradição entre a força e a fraqueza, de tal maneira que ela se transforma na base de toda a sua argumentação sobre a matéria, e perdem de vista todas as outras contradições. A sua exclusiva preocupação com esse contraste quanto a forças mostra o seu unilateralismo, assim como o fato de darem a esse aspeto da questão as dimensões do todo mostra o seu subjetivismo. Se se toma a questão como um todo, Vê-se que eles não têm base para sustentar-se e persistem num erro. Quanto aqueles que nem são subjugacionistas nem pessimistas inveterados, mas apenas indivíduos temporariamente caídos num estado de espírito pessimista, pela razão simples de estarem confundidos pela disparidade entre a nossa fraqueza e a força que o inimigo revela em certos aspetos e em certo período, ou pela corrupção existente no nosso país, devemos salientar-lhes o fato de a abordagem que fazem do problema tender também para o unilateralismo e o subjetivismo. Todavia, no seu caso, a correção é relativamente fácil; uma vez alertados, eles acabam por compreender, pois são patriotas e o seu erro é apenas momentâneo.

27. Os defensores da vitória rápida estão igualmente enganados. Eles esquecem completamente a contradição entre a força e a fraqueza, lembrando-se unicamente doutras contradições, ou exageram as vantagens da China para além de toda a realidade e reconhecimento, ou tomam presunçosamente a correlação de forças, em dado lugar e tempo, pelo conjunto da situação, como no velho ditado que diz que “uma folha diante dos olhos impede-os de ver a montanha Tai”, e pensam que têm razão. Numa palavra, não têm a coragem para admitir que o inimigo é forte e nós somos fracos. Eles negam frequentemente esse ponto e, por consequência, negam um aspeto da verdade, assim como lhes falta igualmente coragem para admitir limites as nossas vantagens, donde resulta negarem um outro aspeto da verdade. Daí o cometerem erros, grandes e pequenos, o que, mais uma vez, se deve ao unilateralismo, ao subjetivismo. Esses amigos têm igualmente os seus corações no devido lugar, também são patriotas. Todavia, “embora as suas aspirações sejam elevadas”, os seus pontos de vista são errados, pelo que agir em conformidade com eles conduzir-nos-ia a um beco sem saída. Como as suas análises não correspondem a realidade, a sua ação não pode atingir os respetivos objetivos; e como agir forçando a nota significaria a derrota do exército e a subjugação da pátria, o resultado seria idêntico ao dos derrotistas. Assim é que a teoria da vitória rápida tão-pouco serve para coisa alguma.

28. Acaso poderemos negar o perigo de subjugação nacional? Não, não podemos negá-lo. Nós reconhecemos que a China enfrenta duas perspetivas possíveis, libertação ou subjugação, perspetivas que estão em conflito violento. A nossa tarefa é realizar a libertação e evitar a subjugação. A condição para a libertação é, fundamentalmente, o progresso da China, mas também constituem uma condição as dificuldades do inimigo e o apoio internacional. Nós divergimos dos subjugacionistas. Adotando um ponto de vista objetivo e multilateral, nós reconhecemos as duas possibilidades simultâneas: a subjugação e a libertação; sustentamos que a libertação é a possibilidade dominante, sublinhamos as condições da respetiva realização e esforçamo-nos por assegurá-las. Pelo que lhes diz respeito, os subjugacionistas, adotando um ponto de vista subjetivo e unilateral, reconhecem apenas uma possibilidade, a da subjugação; eles não admitem a possibilidade de libertação e muito menos sublinham as condições que lhe são necessárias, nem se esforçam por garanti-las. Além disso, ao mesmo tempo que destacamos a tendência para o compromisso e a existência de corrupção, nós vemos outras tendências e fenómenos que, segundo indicámos, hão-de predominar gradualmente, encontrando-se já em conflito violento com aquelas; mais, nós salientamos as condições necessárias para que essas sãs tendências e esses fenómenos prevaleçam, e lutamos para vencer a tendência para o compromisso e modificar o estado de corrupção. Por consequência, ao contrário dos pessimistas, nós não estamos de ânimo caído.

29. Não é que nós não queiramos uma vitória rápida; toda gente estaria em favor da remoção dos “diabos” amanhã já, pela manhã. Somente fazemos notar que, na ausência de certas e determinadas condições, a vitória rápida é qualquer coisa que só existe na cabeça das pessoas e não na realidade objetiva, é uma mera ilusão, uma falsa teoria. Assim, depois de apreciarmos objetivamente, e em todos os seus aspetos, as circunstâncias que respeitam tanto ao inimigo como a nós próprios, nós sublinhamos que o único caminho para a vitória final é a estratégia de guerra prolongada, pelo que rejeitamos a infundada teoria da vitória rápida. Nós insistimos em que se lute para garantir as condições indispensáveis a vitória final; quanto mais plenamente e quanto mais cedo as realizarmos, tanto mais seguros estaremos da vitória e tanto mais cedo a ganharemos. Nós acreditamos que só por essa via se pode encurtar a guerra, e rejeitamos a teoria da vitória rápida, que não é mais do que conversa vã e esforço para conseguir as coisas a baixo preço.

Por Que Razão uma Guerra Prolongada?

30. Examinemos agora o problema da guerra prolongada. Uma resposta acertada a questão “por que razão uma guerra prolongada?” só pode ser dada se nos referirmos a todos os contrastes fundamentais que existem entre a China e o Japão. Por exemplo, se dizemos apenas que o inimigo é uma forte potência imperialista e nós um fraco país semi-colonial e semi-feudal, corremos o risco de cair na teoria da subjugação nacional. Com efeito, uma guerra não pode tornar-se prolongada, nem em teoria nem na prática, pelo simples fato de o fraco se opor ao forte. E também não pode tornar-se prolongada só pelo simples fato de uma das partes ser grande e a outra pequena, ou uma progressista e a outra reacionária, nem pelo fato de uma beneficiar de ajuda abundante e a outra de magra ajuda. A anexação dum pequeno país por um grande país ou dum grande país por um pequeno é fato frequente. Acontece várias vezes que um país Progressista, mas não forte, é destruído por um país grande, reacionário, fato que igualmente se pode verificar em relação a tudo que seja progressista mas não forte. A ajuda abundante ou reduzida é um fator importante mas secundário, cujo grau de efeitos depende dos fatores fundamentais existentes de ambos os lados. Por consequência, quando dizemos que a Guerra de Resistência contra o Japão é uma guerra prolongada, a nossa conclusão resulta da interrelação de todos os fatores que existem em ambos os lados. O inimigo é forte e nós fracos, é aí que reside o perigo de subjugação. Em relação a outros aspetos, porém, o inimigo tem desvantagens e nós vantagens. As vantagens do inimigo podem ser reduzidas e as suas desvantagens agravadas pelos nossos esforços. Por outro lado, as nossas vantagens podem ser desenvolvidas e as nossas desvantagens remediadas pelos nossos esforços. Daí resulta que podemos conquistar a vitória final e evitar a subjugação, enquanto que o inimigo acabará por ser vencido e será incapaz de evitar a derrocada de todo o seu sistema imperialista.

31. Se o inimigo só tem vantagens num aspeto e desvantagens em todos os outros aspetos, enquanto que nós apenas temos desvantagens num único aspeto e vantagens em todos os outros aspetos, por que razão isso não há-de provocar um equilíbrio mas antes uma posição de superioridade para ele e de inferioridade para nós na hora presente? Está completamente claro que não podemos considerar a questão dessa maneira formalista. O que sucede é que a disparidade entre a força do inimigo e a nossa própria força é atualmente tão grande que as desvantagens do inimigo ainda não se agravaram, nem podem pelo momento agravar-se em grau tal que contrabalancem a sua força, enquanto que as nossas vantagens ainda não se desenvolveram nem podem pelo momento desenvolver-se de modo a compensarem a nossa fraqueza. Eis a razão por que não pode haver já um equilíbrio, mas sim um desequilíbrio.

32. Muito embora os nossos esforços para perseverar na Guerra de Resistência e na Frente Única tenham alterado a força e a superioridade do inimigo em relação a nossa fraqueza e inferioridade, não se verificou ainda qualquer modificação fundamental. Daí resulta que durante uma certa fase da guerra, e dentro dum certo limite, o inimigo será vitorioso e nós sofreremos derrotas. Mas por que é que nessa fase da guerra as vitórias do inimigo e as nossas derrotas estão necessariamente limitadas em grau e não podem evoluir para uma vitória ou derrota completas? A razão está em que, primeiro, desde o início, a força do inimigo e a nossa fraqueza têm sido apenas relativas e não absolutas e, segundo, os nossos esforços de perseverança na Guerra de Resistência e na Frente Única acentuaram em muito essa relatividade. Em comparação com a situação inicial, o inimigo ainda é forte, mas certos fatores desfavoráveis reduziram-lhe a força, embora isso não se tenha ainda verificado em grau tal que lhe elimine a superioridade; pelo nosso lado, ainda continuamos fracos, mas existem fatores favoráveis que compensaram a nossa fraqueza, embora isso não se tenha verificado em grau suficiente Para transformar a nossa inferioridade. Daí resulta que o inimigo é relativamente forte e nós relativamente fracos, estando o inimigo numa posição de relativa superioridade e nós numa posição de relativa inferioridade. De ambos os lados, a força e a fraqueza, a superioridade e a inferioridade, nunca foram absolutas. Além disso, os nossos esforços de perseverança na resistência ao Japão e na Frente Única provocaram grandes modificações na relação original de forças entre nós e o inimigo. Por consequência, nesta fase, a vitória do inimigo e a nossa derrota são necessariamente limitadas em grau, donde resulta o caráter prolongado da guerra.

33. As circunstâncias, porém, mudam continuamente. No decorrer da guerra, desde que empreguemos táticas militares e políticas corretas, desde que não cometamos erros de princípio e façamos os nossos melhores esforços, as desvantagens do inimigo e as vantagens da China desenvolver-se-ão com a prolongação da guerra, do que resultará inevitavelmente uma contínua mudança na diferença entre as forças em presença e, por consequência, nas posições relativas das duas partes. Quando se chegar a uma nova fase, verificar-se-á uma grande modificação na balança de forças e na questão de superioridades, o que conduzirá a derrota do inimigo e a nossa vitória.

34. Atualmente, o inimigo ainda pode conseguir explorar melhor ou pior a sua força, pois a nossa Guerra de Resistência ainda não o enfraqueceu profundamente. A sua insuficiência em recursos humanos e materiais ainda não é tal que impeça a sua ofensiva; pelo contrário, ele ainda pode continuar a sua ofensiva até um certo ponto. A natureza retrógrada e bárbara da sua guerra, um fator que intensifica os antagonismos de classe no interior do próprio Japão e a resistência da nação chinesa, ainda não criou uma situação que impedisse radicalmente o seu avanço. O isolamento internacional do inimigo tem estado a aumentar, mas ainda não é completo. Em muitos dos países que têm manifestado uma vontade de ajudar-nos, os capitalistas que dominam a produção de munições e demais material de guerra, e que não olham senão para os seus lucros, ainda fornecem grandes quantidades de provisões de guerra ao Japão(9), estando ainda os respetivos governos(10) relutantes em juntar-se a União Soviética para a aplicação de sanções práticas aquele país. De tudo isso segue-se que a nossa Guerra de Resistência não pode ser ganha rapidamente, tendo pois de ser uma guerra prolongada. Pelo que respeita a China, muito embora durante estes dez meses de resistência se tenham verificado certos progressos em matéria militar, económica, política e cultural, onde se manifesta a nossa fraqueza, ainda resta um longo caminho a percorrer até que se atinja o necessário para deter a ofensiva inimiga e preparar a nossa contra-ofensiva. Além disso, para falar em termos de quantidade, nós tivemos de suportar algumas perdas. Embora todos os fatores que nos são favoráveis tenham produzido um efeito positivo, isso não bastará para deter a ofensiva do inimigo e preparar a nossa contra-ofensiva, a-menos que façamos um esforço imenso. Nem a liquidação da corrupção e a aceleração do progresso no interior, nem O refluxo das forças pró-japonesas e a expansão das forças anti-japonesas no estrangeiro constituem atualmente fatos consumados. De tudo isso segue-se, igualmente, que a nossa guerra não pode ser ganha rapidamente, tendo pois de ser uma guerra prolongada.

As Três Fases da Guerra Prolongada

35. Uma vez que a Guerra Sino-Japonesa é uma guerra prolongada cuja vitória final pertencerá a China, pode logicamente prever-se que tal guerra passará por três fases. A primeira cobrirá o período de ofensiva estratégica do inimigo e nossa defensiva estratégica. A segunda cobrirá o período de consolidação estratégica do inimigo e preparação da nossa contra-ofensiva. A terceira cobrirá o período da nossa contra-ofensiva estratégica e da retirada estratégica do inimigo. É impossível predizer o que se passará concretamente nessas três fases, mas podem enunciar-se certos traços fundamentais da guerra, a luz das condições atualmente existentes. O curso objetivo dos acontecimentos será excessivamente rico e variado, com curvas e contra-curvas, não se podendo estabelecer um “horóscopo” para a Guerra Sino-Japonesa; de toda a maneira, torna-se necessário, para a direção estratégica da guerra, definir as linhas essenciais das tendências do seu desenvolvimento. Embora o nosso esquema não possa estar em absoluta concordância com todos os fatos que ocorrerão no futuro e o corrigirão, é necessário elaborá-lo a fim de se dar uma firme e bem definida direção estratégica a guerra prolongada.

36. A primeira fase da guerra ainda não terminou. O intuito do inimigo é ocupar três pontos — Cantão, Vuhan e Landjou — para ligá-los posteriormente. Para realizar esse objetivo, o inimigo terá de utilizar pelo menos cinquenta divisões, seja cerca de um milhão e meio de homens, consagrar a tudo isso o tempo de um ano e meio a dois anos, bem como gastar mais de dez mil milhões de yuan japonês. Ao penetrar assim tão profundamente, o inimigo encontrará sérias dificuldades e expor-se-á a desastres que ultrapassam os limites da nossa imaginação. Na sua tentativa de ocupar em todo o comprimento a via férrea de Cantão-Hancou e a rota Si-an-Landjou, ele terá de travar perigosas batalhas e, mesmo assim, poderá não realizar completamente os seus fins. Contudo, ao estabelecermos o nosso plano de guerra, devemos basear-nos na pressuposição de que ele pode efetivamente ocupar aqueles três pontos e ainda outras regiões, bem como ligá-los, pelo que devemos tomar medidas para uma guerra prolongada, de tal maneira que, se o inimigo atuar como prevemos, estejamos em condições de fazer-lhe frente. Nessa fase, a forma de combate que devemos adotar é sobretudo a guerra de movimento, tendo por complemento a guerra de guerrilhas e a guerra de posições. Pelos erros subjetivistas cometidos pelas autoridades militares do Kuomintang, atribuiu-se a guerra de posições um papel primordial no começo da primeira fase, mas ela não poderá desempenhar mais do que um papel complementar, do ponto de vista da fase como um todo. Para essa fase, a China já forjou uma ampla frente única e atingiu uma unidade sem paralelo. Embora o inimigo tenha usado e usará ainda processos cínicos e cobardes para levar a China a capitulação, numa tentativa de realização do seu plano de decisão rápida e conquista, sem grande esforço, de todo o país, ele falhou até aqui e dificilmente terá êxito no futuro. E mesmo nessa primeira fase, a despeito de consideráveis perdas, a China já realizou sensíveis progressos, os quais se converteram na sua principal base para a continuação da resistência na segunda fase. Na fase atual, a União Soviética tem estado a dispensar uma ajuda substancial a China. No campo do inimigo já existem sinais de abatimento moral, o ímpeto ofensivo do seu exército de terra é menor no meio da fase atual do que era no começo, e diminuirá ainda mais no respetivo período de conclusão. Começam já a aparecer sinais de esgotamento nas suas finanças e economia; o cansaço da guerra começa a manifestar-se entre as suas tropas e população e, no próprio seio da camarilha dirigente, começam a surgir as “frustrações de guerra”, enquanto o pessimismo sobre as perspetivas da guerra segue crescendo.

37. A segunda fase pode ser designada por fase do equilíbrio estratégico. No final da primeira fase, o inimigo será forçado a fixar certos pontos-limite a sua ofensiva estratégica, em virtude da sua insuficiência de tropas e da nossa firmeza na resistência, pontos que uma vez atingidos levá-lo-ão a deter a ofensiva estratégica e a entrar na fase de salvaguarda das regiões que tiver ocupado. Na segunda fase, o inimigo tentará defender as regiões ocupadas e transformá-las em áreas suas, para o que usará o método fraudulento de forjar governos fantoches, ao mesmo tempo que pilhará o povo chinês até um limite extremo, vendo-se então confrontado com uma encarniçada guerra de guerrilhas. Tirando proveito do fato de a retaguarda do inimigo estar sem defesa, a nossa guerra de guerrilhas desenvolver-se-á extensivamente na primeira fase, sendo estabelecidas muitas bases de apoio que representarão um sério perigo para a consolidação das regiões ocupadas pelo inimigo, devendo haver portanto um combate ainda mais generalizado na segunda fase. Nessa fase, a nossa forma de combate será principalmente a guerra de guerrilhas, tendo por complemento a guerra de movimento. Nessa altura, a China continuará ainda a dispor dum grande exército regular, mas ser-lhe-á ainda difícil desencadear imediatamente uma contra-ofensiva estratégica, já que, por um lado o inimigo adotará uma posição estratégicamente defensiva nas grandes cidades e ao longo das principais vias de comunicação por ele ocupadas e, por outro lado, a China não estará ainda adequadamente equipada do ponto de vista técnico. Com exceção das tropas empenhadas numa defesa frontal contra o inimigo, as nossas forças deverão ser introduzidas em grande escala na retaguarda inimiga, em ordem relativamente dispersa, para, com base nas regiões não ocupadas, e em coordenação com as forças armadas populares, desencadearem com encarniçamento uma vasta guerra de guerrilhas contra as regiões ocupadas pelo inimigo, obrigando-o, tanto quanto possível, a constantes deslocações, a fim de liquidá-lo numa guerra de movimento, como já se está verificando atualmente na província de Xansi. Na segunda fase da guerra a luta será encarniçada e essas regiões hão-de sofrer sérias destruições. Contudo, a guerra de guerrilhas vencerá e, se for bem conduzida, o inimigo apenas Poderá reter cerca de um terço dos territórios que ocupa, ficando os outros dois terços em nosso poder, o que constituirá uma grande derrota para o Japão e uma grande vitória para a China. Então, o conjunto do território ocupado pelo inimigo ficará dividido em três categorias: primeiro, as bases inimigas; segundo, as bases da nossa guerra de guerrilhas; terceiro, as regiões de guerrilhas disputadas pelas duas partes. A duração dessa fase dependerá do grau da modificação operada na balança de forças existente entre nós e o inimigo, bem como das modificações da situação internacional; dum modo geral, devemos esperar que essa segunda fase seja relativamente longa, sendo-nos necessário escalar um caminho difícil. Será um período muito duro para a China; os dois problemas maiores serão as dificuldades económicas e as atividades subversivas dos traidores. O inimigo despenderá todos os esforços para romper a Frente Única da China, enquanto que as organizações traidoras das regiões ocupadas fundir-se-ão num pseudo “governo unificado”. Devido a perda das grandes cidades e as dificuldades da guerra, os elementos vacilantes no seio das nossas fileiras reclamarão um compromisso, e o pessimismo alcançará uma séria extensão. A nossa tarefa consistirá em mobilizar o povo inteiro para que se una como um só homem e mantenha a guerra com uma perseverança inquebrantável, em alargar e consolidar a Frente Única, eliminar todo o pessimismo e toda a ideia de compromisso, promover a vontade de combater dura-mente e aplicar novas políticas para o tempo de guerra, de maneira a aguentar essa prova até ao fim. Na segunda fase, nós teremos de apelar para a totalidade da nação a fim de que mantenha firmemente um governo unificado, teremos de opor-nos as divisões e aperfeiçoar sistematicamente as nossas técnicas de combate, reformar as forças armadas, mobilizar o povo inteiro e preparar-nos para a contra-ofensiva. A situação internacional tornar-se-á ainda mais desfavorável ao Japão e as principais forças do campo internacional inclinar-se-ão a prestar maior ajuda a China, muito embora possa existir esse palavreado sobre o “realismo” tipo Chamberlain, que se acomoda aos “fatos consumados”. A ameaça do Japão com relação ao Sudeste Asiático e a Sibéria tornar-se-á ainda maior, podendo estoirar uma nova guerra. Pelo que respeita ao Japão, várias dezenas das suas divisões ficarão envolvidas inextricavelmente na China, donde será impossível retirá-las depois. Uma poderosa guerra de guerrilhas e o movimento popular anti-japonês acabarão por esgotar esse enorme exército japonês, impondo-lhe pesadas perdas e desintegrando-lhe o moral através duma estimulação da saudade pela pátria, da repulsão e mesmo da hostilidade com relação a guerra. Muito embora seja errado dizer que o Japão não obterá quaisquer êxitos na pilhagem da China, dada a sua escassez de capitais e dado o fato de ser acossado pela nossa guerra de guerrilhas, ele não poderá conseguir grandes e rápidos sucessos nesse domínio. Essa segunda fase será a fase de transição de toda a guerra; ela será a fase mais difícil e, contudo, a fase-chave de viragem. Se a China vai Passar a ser um país independente ou um país colonial é questão que depende não da retenção ou Perda das grandes cidades, na primeira fase, mas sim do grau dos esforços despendidos pela nação inteira na segunda fase. Se perseverarmos na Guerra de Resistência, na Frente Única e na guerra prolongada, a China adquirirá no desenrolar dessa fase o poderio suficiente para transformar a sua fraqueza em força. Isso será o segundo ato do drama em três atos que é a Guerra de Resistência da China. E com os esforços de toda a equipe, tornar-se-á possível executar com brilhantismo o último ato.

38. A última fase será a fase da contra-ofensiva para recuperar os nossos territórios perdidos. Essa recuperação dependerá principalmente das forças que a China tiver preparado na fase precedente, as quais continuarão a crescer na terceira fase. Mas as forças da China, por si sós, não serão suficientes, pelo que devemos apoiar-nos também na ajuda que nos dispensarão as forças internacionais, bem como nas modificações que se registarão no próprio interior do Japão, pois, de contrário, não poderemos vencer; isso aumenta a importância das tarefas da China no que respeita a diplomacia e propaganda no plano internacional. Na terceira fase, a nossa guerra já não será uma guerra defensiva do ponto de vista estratégico, mas sim uma contra-ofensiva estratégica que se manifestará por ofensivas estratégicas; ela não se desenrolará mais, do ponto de vista estratégico, no interior das linhas, mas sim passará, gradualmente, para o exterior das linhas. Tal guerra não terminará senão quando tivermos atingido o rio Ialu. A terceira fase será a última da guerra prolongada, daí que, quando falamos em perseverar na guerra até ao fim, queremos dizer que é preciso atravessar toda essa fase. A nossa forma principal de combate será ainda a guerra de movimento, mas a guerra de posições ganhará igualmente importância. Se a defesa de posições não pode ser vista como importante na primeira fase em virtude das circunstâncias então existentes, o ataque de posições passará a ser de grande importância na terceira fase, em razão da modificação dessas circunstâncias e por força das exigências das tarefas a cumprir. Na terceira fase, a guerra de guerrilhas desempenhará de novo um papel auxiliar de apoio estratégico a guerra de movimento e a guerra de posições, não sendo mais a forma principal de combate, como acontecia na segunda fase.

39. Assim, é evidente que a guerra será prolongada e, por consequência, encarniçada. O inimigo não será capaz de tragar a China inteira, mas poderá ocupar várias regiões durante muito tempo. A China também não será capaz de repelir rapidamente o inimigo, mas a maior parte do território permanecerá em seu poder. No fim de tudo, o inimigo acabará por perder e nós por ganhar, muito embora tenhamos ainda um bom pedaço de mau caminho a percorrer.

40. O povo chinês há-de temperar-se bem nessa guerra longa e encarniçada. Os próprios partidos políticos que participarem na guerra também sairão mais temperados e serão postos a prova. É preciso perseverar na Frente Única; só perseverando na Frente Única poderemos perseverar na guerra; e só perseverando na Frente Única e na guerra poderemos conquistar a vitória final. Só assim é que podem ser vencidas todas as dificuldades. Depois de termos percorrido esse pedaço de mau caminho, nós atingiremos a reta que conduz a vitória. Tal é a lógica natural da guerra.

41. Nas três fases, as modificações na relação de forças existente entre nós e o inimigo verificar-se-ão na ordem seguinte: na primeira fase, o inimigo é superior em forças, e nós somos inferiores. Pelo que respeita a nossa inferioridade, devemos ter em conta dois tipos diferentes de mudanças que ela registará, desde a véspera da Guerra de Resistência até ao fim da primeira fase. O primeiro tipo consiste numa mudança para pior. A inferioridade inicial da China será agravada pelas perdas de guerra na primeira fase, nomeadamente a perda de territórios, de população, de força económica, de poderio militar e de instituições culturais. Mais para o fim dessa primeira fase, o enfraquecimento será provavelmente considerável, em especial no plano económico. Isso será explorado por certas pessoas, como base para as suas teorias de subjugação nacional e compromisso. Todavia, há que notar igualmente um segundo tipo de mudança, a mudança para melhor. Essa mudança inclui a experiência ganha na guerra, os progressos feitos pelas forças armadas, o progresso político, a mobilização do povo, o desenvolvimento da cultura numa nova direção, o surgir da guerra de guerrilhas, o aumento da ajuda internacional, etc. No decorrer da primeira fase, a antiga quantidade e a antiga qualidade declinam, sendo esse fenómeno principalmente de ordem quantitativa, enquanto que a quantidade e a qualidade do que é novo progridem, sendo esse fenómeno de ordem principalmente qualitativa. É o segundo tipo de modificação que fornece uma base a nossa possibilidade de sustentar uma guerra prolongada e conquistar a vitória final.

42. Na primeira fase, produzem-se igualmente dois tipos de modificações no campo do inimigo. O primeiro tipo é uma modificação para pior, que se manifesta em centenas de milhares de mortos e feridos, desgaste em armas e munições, declínio do moral das tropas, descontentamento popular no seu próprio país, baixa no comércio, despesa de mais de dez biliões de yuan japonês, condenação pela opinião mundial, etc. Tal tipo de modificação fornece igualmente uma base a nossa possibilidade de sustentar uma guerra prolongada e conquistar a vitória final. Contudo, devemos também reconhecer um segundo tipo de modificação no campo inimigo, uma modificação para melhor, consistindo num aumento de território, população e recursos. Isso é também uma prova do caráter prolongado da guerra e da impossibilidade duma vitória rápida, o que certos indivíduos utilizarão igualmente como fundamento das suas teorias de subjugação nacional e compromisso. Contudo, devemos ter em conta o fato de essa modificação para melhor no campo do inimigo ter um caráter parcial e transitório. O Japão é uma potência imperialista irremediavelmente condenada a falência, e a sua ocupação do território chinês não pode deixar de ser temporária. O desenvolvimento vigoroso da guerra de guerrilhas na China reduzirá a atual ocupação a zonas bem estreitas. Além disso, essa ocupação do território chinês cria ou intensifica contradições entre o Japão e outras potências estrangeiras. Inclusivamente, falando dum modo geral, tal ocupação implica que num período bastante longo o Japão tenha de fazer um investimento de capitais sem obter com isso qualquer ganho, como se vê pela experiência das três províncias do Nordeste. Tudo isso constitui ainda uma base para demolir as teorias da subjugação nacional e compromisso, e fundamentar as nossas teses de guerra prolongada e vitória final da China.

43. Na segunda fase, as modificações indicadas acima com relação aos dois campos continuarão a desenvolver-se. Muito embora a situação não possa ser prevista em detalhe, em termos globais o Japão continuará a declinar e a China a progredir(11). Por exemplo, os recursos militares e financeiros do Japão sofrerão uma grave sangria em virtude da guerra de guerrilhas, aumentará o descontentamento no seio das populações japonesas, o moral das suas tropas baixará ainda mais, e o seu estado de isolamento internacional agravar-se-á. Com respeito a China, ela fará ainda maiores progressos no domínio político, militar e cultural, bem como na mobilização popular; a guerra de guerrilhas desenvolver-se-á ainda mais; registar-se-á uma certa ascensão no campo económico, na base da pequena indústria e da agricultura de vastas zonas do interior; a ajuda internacional aumentará gradualmente, sendo portanto o conjunto do quadro completamente diferente do que é hoje. Essa segunda fase poderá durar muito tempo, no decorrer do qual se produzirá uma grande modificação na relação de forças entre nós e o inimigo, progredindo cada vez mais a China e declinando cada vez mais o Japão. A China sairá da sua posição de inferioridade e o Japão perderá a superioridade; primeiramente, os dois países encontrar-se-ão num ponto de equilíbrio, mas depois, as suas posições relativas inverter-se-ão. Nessa altura a China terá concluída, no fundamental, a sua preparação para a contra-ofensiva estratégica, e passará a fase da contra-ofensiva e da expulsão do inimigo. Deve sublinhar-se, mais uma vez, que a passagem da inferioridade à superioridade e a conclusão dos preparativos para a contra-ofensiva hão-de envolver o aumento das forças da China, o aumento das dificuldades do Japão e um aumento da ajuda internacional ao nosso país; é a combinação de todos esses fatores que provocará a superioridade da China e a conclusão dos preparativos para a sua contra-ofensiva.

44. Em virtude da desigualdade do desenvolvimento político e económico da China, a contra-ofensiva estratégica da terceira fase não apresentará, num primeiro momento, um quadro uniforme e harmonioso por todo o país, sendo, pelo contrário, regional no seu caráter, levantando-se aqui e abaixando-se ali. Durante essa fase, o inimigo não deixará de fazer toda a espécie de manobras para romper a Frente Única da China, donde resulta tornar-se ainda mais importante a tarefa de manter a unidade interna, sendo inadmissível que a contra-ofensiva estratégica se desfaça a meio caminho, em virtude de dissensões interiores. Nesse período, a situação internacional tornar-se-á muito favorável a China. A tarefa da China consistirá em aproveitar isso de maneira a conseguir a sua completa libertação e a fundação dum Estado independente e democrático, o que, ao mesmo tempo, constituirá uma ajuda ao movimento anti-fascista mundial.

45. A China movendo-se da inferioridade para a paridade e, posteriormente, para a superioridade, e o Japão movendo-se da superioridade para a paridade e, posteriormente, para a inferioridade; a China movendo-se da defensiva para o equilíbrio, e daí para a contra-ofensiva, e o Japão movendo-se da ofensiva para a salvaguarda dos seus ganhos, e daí para a retirada — tal será o curso da Guerra Sino-Japonesa, a sua tendência inevitável.

46. Daí as perguntas e as respostas seguintes; a China será subjugada? A resposta é: não, ela não será subjugada, muito pelo contrário ela conquistará a vitória final. A China poderá vencer rapidamente? A resposta é: não, ela não poderá vencer rapidamente, a guerra terá de ser uma guerra prolongada. E são corretas todas essas conclusões? Eu penso que sim.

47. A esse respeito, os defensores da subjugação nacional e do compromisso intervirão de novo, declarando: “Para passar da inferioridade a paridade a China precisa de adquirir um potencial militar e económico equivalente ao japonês, e para passar da paridade a superioridade ela terá de dispor duma força militar e económica ainda maior do que a do Japão. Ora isso é impossível, donde resulta que as conclusões anteriores são incorretas.”

48. Essa é a chamada “teoria da omnipotência das armas”(12), a qual representa uma abordagem mecânica do"problema da guerra e uma visão subjetivista e unilateral. A nossa maneira de ver é contrária a essa; nós consideramos as armas e também os homens. As armas são um fator importante na guerra, mas não são o fator decisivo. É o homem, e não as coisas, quem constitui o fator decisivo. A correlação de forças não é apenas uma correlação de poder militar e económico, ela é também uma correlação de recursos humanos e força moral. O poder militar e económico está necessariamente dominado pelo homem. Ora, se a grande maioria dos chineses, japoneses e povos do mundo se coloca do lado da nossa Guerra de Resistência, como será então ainda possível qualificar de superioridade o poder militar e económico que um punhado de homens detém, pela força, no Japão? E, se isso não é possível, não será então a China que caberá a superioridade, muito embora o seu potencial militar e político inferior? Não há dúvida que a China crescerá gradualmente em força militar e económica, desde que persevere na Guerra de Resistência e na Frente Única. Quanto ao nosso inimigo, enfraquecido como ele há-de encontrar-se por causa da longa duração da guerra e das suas contradições internas e externas, o seu potencial militar e económico está condenado a modificar-se no sentido contrário. Em tais circunstâncias, poderá haver alguma razão para que a China não se torne superior? Mas ainda não é tudo. Atualmente, nós ainda não podemos considerar o potencial militar e económico dos diversos países como estando aberta e amplamente do nosso lado, mas haverá alguma razão para que tal não possa ocorrer no futuro? Se o inimigo do Japão não é apenas a China, se no futuro um ou mais países usarão abertamente o seu considerável poder militar e económico para defender-se ou para atacar o Japão, e para ajudar abertamente a China, como não há-de ser ainda maior a nossa superioridade? O Japão é um pequeno país, a guerra que faz é retrógrada e bárbara, e ele há-de isolar-se cada vez mais no plano internacional. Pelo contrário, a China é um grande país, a sua guerra é progressista e justa, ela há-de beneficiar cada vez mais do apoio internacional. Acaso poderá existir alguma razão para que o desenvolvimento a longo prazo de todos esses fatores não modifique de maneira definitiva a posição relativa entre nós e o inimigo?

49. Os defensores da vitória rápida, porém, não veem que a guerra é uma competição de forças, e que, antes de ocorrer uma certa modificação na correlação de forças existente entre as partes beligerantes, não há base alguma para tentar travar batalhas decisivas no plano estratégico nem para procurar encurtar o caminho da libertação do país. Se as suas ideias fossem postas em prática, nós iríamos certamente dar com a cabeça na parede. Mas talvez eles estejam falando pelo simples prazer de falar, e não pensem realmente em passar das palavras aos atos. No fim de contas, hão-de ser os fatos que administrarão a todos esses faladores um banho de água fria, apresentando-os como meros fanfarrões que pretendem obter as coisas sem sacrifício, colher sem semear. Nós já tivemos dessa tagarelice no passado e temo-la agora de novo, se bem que não esteja muito generalizada. Todavia ela poderá ampliar-se quando a guerra passe a fase do equilíbrio e, daí, a da contra-ofensiva. Ao mesmo tempo, porém, se as perdas da China no decurso da primeira fase forem relativamente importantes, e se a segunda fase se prolongar por muito tempo, a teoria da subjugação inevitável da China e a tendência ao compromisso voltarão a encontrar uma larga audiência. Por consequência, o nosso fogo deve ser dirigido principalmente contra estas últimas, e só secundariamente contra a conversa fiada sobre a vitória rápida.

50. Que a guerra há-de ser longa é um fato, mas ninguém pode predizer exatamente quantos meses ou anos ela vai durar, pois isso depende inteiramente do grau das modificações na correlação de forças. Todos aqueles que desejam encurtar a guerra não têm outra alternativa além de trabalhar com afinco por desenvolver as nossas próprias forças e reduzir as do inimigo. Especificamente, o único caminho é redobrar de esforços para ganhar mais batalhas e desgastar as forças armadas do inimigo, desenvolver a guerra de guerrilhas a fim de reduzir ao mínimo os territórios ocupados pelo inimigo, consolidar e expandir a Frente Única a fim de unir as forças do conjunto da nação, formar novos exércitos e desenvolver novas indústrias de guerra, promover o progresso político, económico e cultural, mobilizar os operários, camponeses, homens de negócios, intelectuais e outros setores da população, desintegrar as forças do inimigo e ganhar para nós os seus soldados, intensificar a propaganda internacional a fim de garantir um apoio exterior, e conquistar o apoio do povo japonês e dos demais povos oprimidos. Só fazendo tudo isso se pode reduzir a duração da guerra. Fora disso, nenhuma saída mágica é possível.

Uma Guerra de Interpenetração

51. Nós podemos afirmar com segurança que a Guerra Prolongada de Resistência contra o Japão escreverá uma página gloriosa e excepcional na história das guerras da humanidade. Um traço muito particular dessa guerra é o seu caráter de interpenetração, cuja razão está na existência de fatores contraditórios, tais como o barbarismo do Japão e a sua insuficiência em forças armadas, por um lado, e o caráter progressista da China e a vastidão do seu território, por outro lado. A História registou outras guerras de interpenetração, como foi por exemplo o caso dos três anos de guerra civil na Rússia, após a Revolução de Outubro. O que distingue, porém, a guerra na China, é a sua duração e amplidão excepcionais. Nesse domínio, ela baterá todos os recordes da história. A interpenetração manifesta-se como se segue.

52. As linhas interiores e exteriores. Tomando-se a Guerra Anti-japonesa no seu conjunto, ela está a travar-se no interior das linhas. Todavia, pelo que respeita as relações entre as forças principais e as unidades de guerrilhas, as primeiras operam no interior das linhas e as segundas no exterior, o que oferece o espetáculo interessante do inimigo encerrado em tenazes. O mesmo pode dizer-se quanto as relações entre as várias regiões de guerrilhas. Tomada isoladamente, cada região de guerrilhas opera no interior das linhas, enquanto que as demais regiões operam no exterior das linhas com relação a ela, constituindo-se de novo um grande número de tenazes onde cai o inimigo. Na primeira fase da guerra, o exército regular, que opera estratefetivamentegicamen-te no interior das linhas, vai recuando, enquanto que as unidades de guerrilhas, que operam estratefetivamentegica-mente no exterior das linhas, vão avançando a grandes passadas, sobre grandes extensões, em direção a retaguarda do inimigo. Esse avanço prosseguirá com maior energia ainda na segunda fase. Daí resulta uma combinação extremamente original do avanço e da retirada.

53. Existência e ausência de retaguarda. As forças principais, cuja linha de frente corre ao longo dos limites exteriores do território ocupado pelo inimigo, operam a partir da retaguarda geral do país, enquanto que as unidades de guerrilhas, cuja linha de frente se situa na retaguarda inimiga, estão isoladas da retaguarda geral do país. Contudo, em cada região de guerrilhas elas têm, em pequena escala, a sua própria retaguarda, sobre a qual se apoiam para estabelecer a sua frente móvel. O caso é diferente com relação aos destacamentos de guerrilhas que são enviados por uma região de guerrilhas para ações a curto termo na retaguarda do inimigo que se encontra nessa mesma região; tais destacamentos não têm retaguarda nem linha de frente. “Operar sem retaguarda” é uma caraterística da guerra revolucionária da nova época nos países territorialmente vastos e que dispõem dum povo progressista, dum partido político avançado e dum exército igualmente progressista; nada há a recear daí, pelo contrário, há muito a ganhar, de tal maneira que, em vez de termos dúvidas a esse respeito, devemos antes promover semelhante situação.

54. Cerco e contra-cerco. Tomando a guerra como um todo, não há dúvida que nós estamos estratégicamente cercados pelo inimigo, pois ele realiza uma ofensiva estratégica e opera no exterior das linhas, enquanto que nós estamos na defensiva estratégica e operamos no interior das linhas. Essa é a primeira forma de cerco pelo inimigo. Pelo nosso lado, nós podemos cercar uma ou mais das colunas inimigas que avançam contra nós ao longo de itinerários separados, pois aplicamos a política de realizar combates e campanhas no exterior das linhas, empregando forças numericamente superiores contra essas colunas inimigas que estratégicamente se lançam contra nós a partir das linhas exteriores. Essa é a primeira forma de contra-cerco realizado por nós sobre o inimigo. E ainda, se encaramos as bases de apoio da guerra de guerrilhas situadas na retaguarda do inimigo, cada uma dessas bases, considerada isoladamente, está cercada por todos os lados pelo inimigo, como acontece em relação as montanhas Vutai, ou apenas por três lados, como se verifica com o noroeste da província de Xansi. Essa é a segunda forma de cerco pelo inimigo. Contudo, se consideramos todas as bases de apoio das guerrilhas nas suas ligações mútuas, e cada base nas suas ligações com as posições ocupadas pelas forças regulares, pode ver-se que, por nosso turno, nós cercamos uma grande quantidade de tropas inimigas. Na província de Xansi, por exemplo, nós cercámos a via férrea Tatom-Pudjou por três lados (os flancos leste e oeste da linha e o seu extremo sul), bem como a cidade de Tai-iuan, por todos os lados. Nas províncias de Hopei e Xantum também há muitos exemplos semelhantes. Essa é a segunda forma do nosso contra-cerco sobre o inimigo. Por consequência, há duas formas de cerco pelas forças inimigas e duas formas de contra-cerco pelas nossas forças, o que recorda o jogo de Veitchi. As campanhas e os combates travados pelas duas partes parecem a captura recíproca de peças pelos dois jogadores, e o estabelecimento de pontos de apoio por parte do inimigo (como por exemplo, Tai-iuan), e as nossas bases de apoio (como por exemplo as montanhas Vutai) assemelham-se as jogadas para controlar os espaços no tabuleiro. Se imaginamos o jogo de Veitchi a escala do mundo, ainda existe uma terceira forma de cerco recíproco, que é a interrelação entre a frente de agressão e a frente de paz. O inimigo cerca a China, a União Soviética, a França, a Checoslováquia e outros países com a sua frente de agressão, enquanto nós fazemos o contra-cerco da Alemanha, Japão e Itália com a nossa frente de paz. Mas o nosso cerco, tal como a mão de Buda, transformar-se-á na montanha de Cinco Elementos que domina o Universo e esmagará finalmente o moderno Suen Vu-com — os agressores fascistas — de tal forma que ele jamais poderá levantar-se(13). Assim, se, no plano diplomático, nós conseguirmos criar uma frente anti-japonesa no Pacífico, tendo a China como uma unidade estratégica, e a União Soviética e os demais países que porventura se lhe venham a juntar como outras unidades estratégicas, e tomando também o movimento popular japonês como outra unidade estratégica, formando uma rede gigantesca da qual o rei-macaco fascista não possa escapar-se, teremos fixado a hora da morte do inimigo. Com efeito, o dia em que essa rede gigantesca venha a formar-se no fundamental, será sem dúvida o dia da liquidação definitiva do imperialismo japonês. E não estamos de maneira alguma a gracejar; essa é a tendência inelutável do desenvolvimento da guerra.

55. Grandes regiões e pequenas regiões. É possível que o inimigo venha a ocupar a maior parte do território chinês ao sul da Grande Muralha, e que apenas permaneça intacta uma pequena parte do nosso território. Esse é um aspeto da situação. Todavia, nessa grande porção de território ocupado, com exceção das três províncias do Nordeste o inimigo só poderá dominar efetivamente as grandes cidades, as principais linhas de comunicação e algumas planícies — pontos que têm uma importância de primeira ordem, mas que com toda a probabilidade não constituirão mais do que a parte mais pequena do território ocupado, no que respeita a tamanho e população, enquanto a parte maior será coberta por regiões de guerrilhas que crescerão por todos os lados. Esse é outro aspeto da situação. E se nós consideramos mais do que as províncias situadas a sul da Grande Muralha e incluímos a Mongólia, o Sinquiam, o Tsinghai e o Tibete, então as áreas não ocupadas constituirão a maior parte do território da China, transformando-se a área ocupada na parte mais pequena, mesmo se incluirmos as três províncias do Nordeste. Esse é mais outro aspeto da situação. Sem dúvida que a área não ocupada é de grande importância, razão por que devemos devotar-lhe os nossos maiores esforços, a fim de desenvolvê-la política, militar e economicamente e, o que é também importante, desenvolvê-la do ponto de vista cultural. O inimigo transformou os nossos velhos centros culturais em regiões culturalmente atrasadas, e nós devemos transformar as velhas regiões culturalmente atrasadas em verdadeiros centros culturais. Ao mesmo tempo, a tarefa de desenvolvimento das vastas regiões de guerrilhas por detrás das linhas inimigas é também de extrema importância, devendo nós desenvolvê-las em todos os aspetos, incluindo o aspeto cultural. Resumindo, nós podemos dizer que as grandes regiões rurais da China hão-de transformar-se em regiões de progresso e luz, enquanto que as pequenas partes do território chinês, isto é, as zonas ocupadas pelo inimigo, e especialmente as grandes cidades, converter-se-ão temporariamente em regiões de atraso e obscuridade.

56. Assim, prolongada e em grande escala, a Guerra de Resistência contra o Japão será uma guerra de interpenetração, quer no domínio militar, quer no domínio político, económico e cultural. Será um espetáculo maravilhoso nos anais da guerra, um feito heroico da nação chinesa, uma façanha gloriosa que estremecerá o mundo. Tal guerra não afetará apenas a China e o Japão, impelindo-os vivamente ao progresso, ela afetará também, o mundo inteiro, fazendo avançar todas as nações, especialmente as nações oprimidas, como por exemplo a índia. Os chineses devem participar conscientemente nessa guerra de interpenetração, pois é essa a forma de guerra por meio da qual a nação chinesa se libertará a si própria, a forma especial de guerra de libertação realizada por um grande país semi-colonial, nos anos 30 e 40 do séc. XX.

A Guerra Pela Paz Perpétua

57. O caráter prolongado da Guerra Anti-japonesa da China está inseparavelmente ligado ao combate pela paz perpétua na China e no mundo. Nunca houve um período histórico em que, como no presente, a guerra estivesse tão próxima da paz perpétua. Ao longo de vários milhares de anos, porque surgiram as classes, a vida do homem tem sido cheia de guerras; cada nação tem travado guerras sem conta, tanto internas como contra outras nações. Na época imperialista da sociedade capitalista, as guerras fazem-se numa escala particularmente grande e com um encarniçamento peculiar. A Primeira Guerra Mundial imperialista de há vinte anos foi a primeira desse tipo na História, mas não foi a última. Só a guerra que acaba de começar nos aproxima da última das guerras, quer dizer, aproxima-nos da paz perpétua entre os homens. Atualmente, um terço da população mundial já entrou em guerra. Vejam! a Itália, e logo o Japão; a Abissínia, e logo a Espanha e logo a China. A população dos países atualmente em guerra orça pelos seiscentos milhões de indivíduos, ou seja, quase um terço da população total do mundo. A caraterística da presente guerra é o fato de ela ser ininterrupta e aproximar-nos da paz permanente. Por que razão ela é ininterrupta? Depois de atacar a Abissínia a Itália atacou a Espanha, e a Alemanha juntou-se a Itália; a seguir, o Japão atacou a China. O que virá depois? Sem dúvida Hitler atacará as grandes potências. “O fascismo é a guerra”(14) — essa é uma perfeita verdade. Não haverá interrupção no desenvolvimento da guerra atual em guerra mundial; a Humanidade não será capaz de evitar a calamidade da guerra. Então por que razão dizemos que a atual guerra nos aproxima da paz perpétua? A presente guerra é o resultado do desenvolvimento da crise geral do capitalismo mundial, que começou com a Primeira Guerra Mundial; essa crise geral está conduzindo os países capitalistas para uma nova guerra e, em particular, está conduzindo os países fascistas para uma guerra de aventura. Essa guerra, porém, podemos predizê-lo, não salvará o capitalismo, mas antes apressará o seu desmoronamento. Ela será duma escala maior e duma maior crueldade do que a guerra de há vinte anos; todas as nações serão inevitavelmente envolvidas nela, durará muito tempo e a Humanidade terá de passar por grandes sofrimentos. Todavia, graças a existência da União Soviética e a cada vez mais elevada consciência política dos povos do mundo, seguramente que hão-de estalar grandiosas guerras revolucionárias no decurso dessa guerra, em oposição a todas as guerras contra-revolucionárias, o que dará a essa guerra o caráter duma luta pela paz perpétua. E mesmo se mais tarde tiver de registar-se um novo período de guerra, a paz perpétua no mundo já não estará longe. Uma vez que liquidem o capitalismo, os homens entrarão na era da paz perpétua, e deixará de existir qualquer necessidade de guerra. Deixarão de ser necessários os exércitos, os barcos de guerra, os aviões militares e os gases venenosos. Daí para diante, e definitivamente, a Humanidade deixará de ver mais guerras. As guerras revolucionárias que já estão em curso formam parte da guerra pela paz perpétua. A guerra entre a China e o Japão, dois países que em conjunto têm uma população de mais de quinhentos milhões de habitantes, ocupará um lugar importante no conjunto dessa guerra pela paz perpétua, no fim da qual a nação chinesa obterá a sua libertação. A nova China libertada do futuro constituirá uma parte inseparável do novo mundo libertado do futuro, donde resulta que a nossa Guerra de Resistência contra o Japão assume o caráter duma luta pela paz perpétua.

58. A História mostra que as guerras se dividem em duas categorias: justas e injustas. Todas as guerras progressistas são justas, e todas as guerras que impedem o progresso são injustas. Nós, os comunistas, opomo-nos a todas as guerras injustas que impedem o progresso, mas não nos opomos as guerras progressistas, as guerras justas. E não só não nos opomos as guerras justas, como ainda tomamos ativamente parte nelas. Como exemplo de guerra injusta temos a Primeira Guerra Mundial, onde as duas partes lutaram por interesses imperialistas, razão por que os comunistas do mundo inteiro se opuseram firmemente a ela. O modo de opor-se a uma guerra desse tipo é fazer todo o possível por impedir que estale, mas se chega a estalar, o modo de opor-se a ela é combater a guerra com a guerra, contrapor a guerra justa a injusta, tanto quanto possível. A guerra que o Japão faz é uma guerra injusta, impede o progresso, razão por que os povos de todo o mundo, incluindo o próprio povo japonês, devem opor-se a ela, e estão a opor-se-lhe na prática. No nosso país, o povo e o governo, o Partido Comunista e o Kuomintang, todos desfraldaram a bandeira da justiça e fazem a guerra nacional revolucionária contra a agressão. A nossa guerra é sagrada e justa, é uma guerra progressista e tem a paz como objetivo. O seu objetivo é a paz não apenas no nosso país mas em todo o mundo, e não apenas uma paz temporária mas sim uma paz perpétua. Para atingirmos esse objetivo, nós devemos travar uma luta de vida ou morte, estar preparados para todos os sacrifícios, perseverar até ao fim, e não parar enquanto o objetivo não tiver sido alcançado. Seja qual for o sacrifício e o tempo necessário para atingi-lo, já se desenha claramente diante dos nossos olhos a imagem dum novo mundo de luz e paz perpétuas. A nossa fé ao fazermos essa guerra baseia-se na convicção de que dos nossos esforços vai nascer uma China nova e um mundo novo de luz e paz perpétuas. O fascismo e o imperialismo querem perpetuar a guerra, enquanto que nós queremos acabar com ela num futuro não muito distante. A grande maioria da humanidade deve despender os seus maiores esforços nesse sentido. Os quatrocentos e cinquenta milhões de chineses constituem a quarta parte da população mundial, e se, pelos seus esforços combinados, eles derrubam o imperialismo japonês e criam uma China nova plena de liberdade e igualdade, seguramente que contribuirão de maneira considerável para a luta em favor da paz perpétua no mundo. E não se trata duma vã esperança, pois o mundo inteiro já se está aproximando desse momento no decorrer do seu desenvolvimento social e económico e, desde que a maioria da humanidade trabalhe em conjunto, o nosso objetivo será de toda a certeza atingido numas quantas décadas.

O Papel Dinâmico do Homem na Guerra

59. Já expusemos a razão por que a guerra será prolongada e a vitória final caberá a China. Até aqui nós ocupamo-nos principalmente de saber “o que é” e “o que não é”. Passemos agora à questão de saber “o que se deve” e “o que se não deve fazer”. Como fazer a guerra prolongada? Como conquistar a vitória final? Tais são as questões a que vamos responder em seguida. Para isso, temos de esclarecer sucessivamente os problemas seguintes: o papel dinâmico do homem na guerra, a guerra e a política, a mobilização política na Guerra de Resistência, o objetivo da guerra, a ofensiva na defensiva, a decisão rápida na guerra prolongada, as linhas exteriores nas linhas interiores, a iniciativa, a flexibilidade, o plano, a guerra de movimento, a guerra de guerrilhas, a guerra de posições, a guerra de aniquilamento, a guerra de desgaste, a possibilidade de explorar os erros do inimigo, a questão dos combates decisivos na Guerra Anti-japonesa, o exército e o povo como base da vitória. Comecemos pelo problema do papel dinâmico do homem na guerra.

60. Quando nós dizemos que nos opomos a uma abordagem subjetiva dos problemas, queremos dizer que nos opomos as ideias que não se baseiam nos fatos objetivos, e que não correspondem a esses fatos, e isso porque tais ideias são pura invenção, são falaciosas e conduzem a derrota no caso de se agir de acordo com elas. Há pois que lutar contra tais pontos de vista. Tudo quanto se faz é sempre feito pelo homem. A guerra prolongada e a vitória final não podem realizar-se sem a ação do homem. Para que tal ação seja eficaz é necessário que existam pessoas que, partindo dos fatos objetivos, formulem ideias, teses ou pontos de vista e tracem planos, diretivas, linhas políticas, estratégias e táticas. As ideias, os pontos de vista, etc., são de ordem subjetiva, enquanto que a prática, as ações, traduzem o subjetivo no objetivo, e uns e outros representam o papel dinâmico peculiar aos seres humanos. A esse tipo de papel dinâmico nós chamamos “papel dinâmico consciente do homem”, e é isso que distingue o homem de todos os outros seres. Todas as ideias que se baseiam em fatos objetivos e correspondem a esses fatos são corretas, e toda a prática, todas as ações que se baseiam em ideias corretas são igualmente corretas. Nós devemos desenvolver essas ideias e ações, esse papel dinâmico consciente. A Guerra Anti-japonesa está sendo levada a cabo Para expulsar o imperialismo e transformar a velha China numa China nova; isso só poderá conseguir-se quando se tiver mobilizado todo o povo chinês e quando se tiver conseguido o completo desenvolvimento do seu papel dinâmico consciente na resistência ao Japão. Se nós nos sentarmos de braços cruzados e não agirmos, nada mais pode esperar-nos do que a subjugação, não podendo haver nem guerra prolongada nem vitória final.

61. É próprio do homem exercer um papel dinâmico consciente. Essa caraterística é manifestada intensamente pelo homem na guerra. É certo que a vitória, ou a derrota, na guerra é decidida pelas condições militares, políticas, económicas e geográficas das duas partes, pela natureza da guerra feita por cada um dos lados e pelo apoio internacional de que cada parte goza, mas não é apenas isso que decide. Em si mesmas, tais condições só oferecem a possibilidade de vitória ou derrota, mas não decidem efetivamente do resultado da guerra. Para decidir do resultado é necessário ainda que se façam esforços subjetivos, nomeadamente a direção e a realização da guerra, o papel dinâmico consciente do homem na guerra.

62. Na sua busca da vitória, aqueles que dirigem uma guerra não podem ultrapassar os limites impostos pelas condições objetivas; contudo, dentro desses limites, eles podem e devem desempenhar um papel dinâmico, esforçando-se por alcançar a vitória. A cena onde se desenrola a ação dos comandantes numa guerra deve ser constituída com base nas possibilidades objetivas, mas nessa cena eles podem dirigir a representação de muito drama cheio de som e cor, de poder e de grandeza. Dada uma base material objetiva, os comandantes da Guerra Anti-Japonesa devem pôr em pleno jogo a sua capacidade e conjugar todas as suas forças para esmagar o inimigo da nação, transformar a situação presente, em que o nosso país e a nossa sociedade são vítimas da agressão e opressão, e criar uma China nova de liberdade e igualdade. É nesse campo que as nossas faculdades subjetivas de direção da guerra podem e devem ser postas em prática. Nós não queremos que os nossos comandantes na guerra se desliguem das condições objetivas, convertendo-se em temerários que golpeiem a torto e a direito; pelo contrário, nós insistimos por que eles se convertam em capitães simultaneamente corajosos e clarividentes. Os nossos comandantes devem ter não só a coragem para esmagar o inimigo, mas também a habilidade para permanecerem senhores da situação no meio de todas as modificações e vicissitudes da guerra. Ao nadarem no oceano da guerra, em vez de se afogarem, os nossos comandantes devem ser capazes de atingir terra a braçadas bem medidas. Como leis de condução da guerra, a estratégia e a tática constituem a arte de nadar no oceano da guerra.

A Guerra e a Política

63. “A guerra é a continuação da política”. Nesse sentido a guerra é política e é, em si mesma, um ato político; desde os tempos mais antigos, nunca houve uma guerra que não tivesse caráter político. A Guerra Anti-Japonesa é uma guerra revolucionária feita pelo conjunto da nação, sendo a vitória inseparável do objetivo político da guerra — expulsar o imperialismo japonês e construir uma China nova de liberdade e igualdade — inseparável da política geral de perseverança na Guerra de Resistência e na Frente Única, inseparável da mobilização de todo o povo e dos princípios políticos de unidade entre oficiais e soldados, de unidade entre o exército e o povo e de desintegração das forças inimigas, inseparável da aplicação efetiva da política de frente única, da mobilização na frente cultural, e dos esforços para conquistar o apoio internacional e o apoio do povo do próprio Japão. Numa palavra, a guerra não deve, nem por um só momento, ser separada da política. É errada e deve portanto ser corrigida toda a tendência, porventura existente entre as forças armadas anti-japonesas, para minimizar a política, isolando a guerra da política e defendendo a ideia da guerra como uma realidade absoluta.

64. Todavia, a guerra tem caraterísticas que lhe são próprias e, nesse sentido, não é idêntica a política em geral. “A guerra é uma continuação da política por outros meios”(15). Quando a política se desenvolve até uma certa etapa para além da qual já não pode prosseguir segundo os meios habituais, a guerra estala para remover da estrada política os obstáculos. Por exemplo, a situação de semi-independência da China é um obstáculo a política expansionista do imperialismo japonês, daí que o Japão tenha desencadeado uma guerra de agressão para varrer tal obstáculo. E com relação a China? De há muito que a opressão imperialista tem constituído um obstáculo para a revolução democrático-burguesa da China, daí que tenham sido desencadeadas diversas guerras de libertação para remover do caminho tal obstáculo. Atualmente, o Japão faz a guerra com o fim de oprimir a China e bloquear inteiramente o avanço da revolução chinesa, em consequência do que a China vê-se obrigada a fazer a Guerra de Resistência, determinada como está em remover do caminho tal obstáculo. Quando os obstáculos são removidos e o objetivo político atingido, a guerra termina. Mas, se os obstáculos não são completamente removidos, a guerra tem ainda que continuar, até que o objetivo seja completamente realizado. Portanto, todo aquele que deseja o compromisso antes da conclusão das tarefas da Guerra Anti-Japonesa está condenado a derrota, pois, mesmo que se verifique um compromisso por esta ou aquela razão, a guerra rebentará de novo, uma vez que as grandes massas do povo jamais o aceitarão, mas antes continuarão a guerra até que o seu objetivo político seja alcançado. Pode portanto dizer-se que a política é guerra sem derramamento de sangue, e a guerra, política sangrenta.

65. As caraterísticas específicas da guerra dão lugar a todo um conjunto de organizações específicas, a toda uma série de métodos específicos e a todo um processo particular próprios a guerra. Tais organizações são as forças armadas e tudo o que com isso se relaciona; os métodos são a estratégia e as táticas para dirigir a guerra, enquanto que o processo é a forma específica de atividade social cm que as forças armadas hostis se atacam mutuamente ou se defendem uma da outra, empregando estratégias e táticas favoráveis a si mesmas e desfavoráveis ao inimigo. É por isso que a experiência da guerra é uma experiência específica. Todos os que participam na guerra de vem renunciar aos seus hábitos do tempo de paz e acostumar-se a guerra, pois só assim se pode conquistar a vitória.

A Mobilização Política na Guerra de Resistência

66. Uma guerra nacional revolucionária assim grandiosa como a nossa não pode ser ganha sem uma mobilização política extensa e profunda. Antes da Guerra Anti-japonesa, a mobilização política para a resistência ao Japão não se fez, o que constituiu uma grande desvantagem para nós, com o resultado de que a China se atrasou um passo relativamente ao inimigo. Depois que a guerra estalou, a mobilização política revelou-se longe de ser extensa, isto para nem falar da sua falta de profundidade. Foram o fogo de artilharia e os bombardeamentos aéreos do inimigo que levaram as novas da guerra a grande maioria do povo. Claro que isso foi também uma forma de mobilização, simplesmente foi uma forma de mobilização feita para nós pelo inimigo, não fomos nós que a fizemos para nós próprios. Mesmo presentemente, as populações que se encontram em regiões muito distanciadas, onde não chega o troar dos canhões, continuam a viver na tranquilidade usual. Uma tal situação deve mudar, pois doutro modo não poderemos vencer esta guerra que é para nós uma questão de vida ou morte. É inadmissível que atrasemos mais um passo em relação ao inimigo; pelo contrário, devemos dar a fundo esse passo para vencê-lo. Essa ação é crucial; ela é duma importância primordial, enquanto que a nossa inferioridade em armas e demais aspetos é apenas secundária. A mobilÍ2ação das populações a escala nacional criará um imenso oceano que tragará o inimigo, criará as condições que preencherão as nossas lacunas em armas e noutros domínios, assim como criará os requisitos prévios para que possam ser vencidas todas as dificuldades da guerra. Para alcançarmos a vitória devemos perseverar na Guerra de Resistência, na Frente Única e na guerra prolongada. Ora, tudo isso está inseparavelmente ligado a mobilização do povo. Querer a vitória e descurar a mobilização política é como querer “ir para o sul e orientar o carro para o norte”, caso em que o resultado terá necessariamente de ser a exclusão dessa vitória.

67. O que é a mobilização política? Primeiro que tudo ela consiste em explicar ao exército e ao povo o objetivo político da guerra. É necessário que cada soldado, cada cidadão, veja a razão por que a guerra deve ser feita e como tal guerra lhe diz respeito. O objetivo político da guerra é “expulsar o imperialismo japonês e construir uma China nova de liberdade e igualdade”; nós devemos proclamar esse objetivo ante toda a gente, ante todos os soldados e cidadãos, para podermos levantar uma onda anti-japonesa e unir como um só homem as centenas de milhões de homens, de maneira que tudo contribua para a guerra. Segundo, uma pura explicação dos objetivos da guerra não basta; há que apresentar ainda as medidas e a linha política necessárias à sua realização, isto é, torna-se necessário um programa político. Nós já dispomos do “Programa em Dez Pontos para a Resistência ao Japão e Salvação da Pátria”, assim como dispomos do “Programa de Resistência ao Japão e Reconstrução da Pátria”; devemos popularizá-los no seio do exército e entre a população, mobilizando todos para a respetiva execução. Sem um programa político preciso e concreto, é impossível mobilizar o conjunto do exército e do povo para levar até ao fim a Guerra de Resistência. Terceiro, como devemos realizar essa mobilização? Pela palavra, por meio de folhas volantes e avisos, por meio de jornais, livros e panfletos, por meio do teatro e cinema, através das escolas, das organizações de massas e por meio dos nossos quadros. O que se faz atualmente nas regiões controladas pelo Kuomintang é apenas uma gota de água no oceano e, além disso, faz-se duma maneira que não é do gosto das massas, dentro dum espírito que lhes é estranho. Com efeito, há que modificar tudo isso. Quarto, apenas uma só campanha de mobilização não basta; a mobilização política para a Guerra de Resistência deve seguir sem interrupção. A nossa tarefa não é recitar mecanicamente para o povo o nosso programa político, pois desse modo ninguém escutará; nós devemos ligar a mobilização política para a guerra com o desenvolvimento da própria guerra, com a vida dos soldados e do povo, e fazer disso um movimento contínuo. Trata-se pois duma questão de imensa importância, de que depende fundamentalmente a nossa vitória na guerra.

O Objetivo da Guerra

68. Aqui, nós não nos ocuparemos do objetivo político da guerra; esse objetivo da Guerra de Resistência contra o Japão já foi definido mais atrás e é “expulsar o imperialismo japonês e construir uma China nova de liberdade e igualdade”. Nós trataremos aqui dos objetivos fundamentais da guerra, da guerra como política sangrenta, como destruição mútua de dois exércitos hostis. O objetivo da guerra não é outro senão “conservar as próprias forças e destruir o inimigo” (destruir o inimigo significa desarmá-lo ou “privá-lo da capacidade de resistir”, e não, destruir fisicamente todas as suas forças). Nas guerras antigas usava-se a lança e o escudo: a primeira, para atacar e destruir o inimigo, e o segundo, para defender e conservar as próprias forças. Até hoje, todas as armas continuam ainda a ser uma extensão da lança e do escudo. Os bombardeiros, as metralhadoras, os canhões de longo alcance e os gases tóxicos são desenvolvimentos da lança, enquanto que os abrigos anti-aéreos, os capacetes de aço, as fortificações em betão e as máscaras de gás são desenvolvimentos do escudo. Os tanques são uma arma nova que combina as funções da lança e do escudo. O ataque é o meio principal para destruir o inimigo, mas a defesa não pode ser posta de lado. O ataque tem como objetivo imediato a destruição do inimigo mas, ao mesmo tempo, representa uma auto-conservação, na medida em que se o inimigo não for destruído os destruídos seremos nós. A defesa tem como objetivo imediato a conservação das próprias forças mas, ao mesmo tempo, ela é um meio complementar do ataque ou uma preparação para o ataque. A retirada respeita a defesa e é uma continuação desta, enquanto que a perseguição é uma continuação do ataque. Contudo, deve salientar-se que a destruição do inimigo é o objetivo primordial da guerra, enquanto que a conservação das forças próprias é o objetivo secundário, pois só destruindo em massa o inimigo se podem, efetivamente, conservar as próprias forças. Por consequência, o ataque, como meio fundamental para a destruição do inimigo, desempenha o papel principal, enquanto que a defesa, como meio suplementar para a destruição do inimigo e um dos meios de conservação das próprias forças, desempenha o papel secundário. Na prática da guerra, o papel principal é desempenhado pela defesa em muitas ocasiões e pelo ataque no resto do tempo, contudo, se tomamos a guerra como um todo, o ataque continua sendo o primordial.

69. Como se justifica pois o encorajamento ao sacrifício heroico na guerra? Não estará isso em contradição com a exigência de “conservar as próprias forças”? Não, de maneira nenhuma. O sacrifício e a preservação das próprias forças são contrários que se completam mutuamente. A guerra é política com derramamento de sangue e exige o pagamento dum preço, o qual é extremamente elevado algumas vezes. O sacrifício parcial e temporário (não preservação) é exigido pela conservação geral e permanente das forças próprias. É precisamente por isso que dizemos que o ataque, fundamentalmente um meio de destruir o inimigo, desempenha também a função de meio de preservar as forças próprias. É também por essa razão que a defesa deve acompanhar-se do ataque, e não ser apenas uma defesa pura e simples.

70. A conservação das forças próprias e a destruição do inimigo, como objetivo da guerra, constituem a própria essência da guerra e o fundamento de todo e qualquer ato de guerra. Essa essência da guerra está presente em todas as atividades, desde o domínio da técnica ao domínio da estratégia. O objetivo da guerra constitui o princípio básico desta, não havendo conceito ou princípio de ordem técnica, tática, operacional ou estratégica que possa separar-se dele. No tiro, por exemplo, o que é que significa a regra de “cobrir-se e explorar a sua própria potência de fogo”? A primeira parte é necessária para a conservação das forças próprias, enquanto que a segunda respeita a destruição do inimigo. A primeira dá lugar ao aparecimento de métodos tais como o aproveitamento do relevo e outros acidentes do terreno, a progressão por saltos, a disposição das tropas em ordem dispersa, enquanto que a segunda dá lugar a métodos como a desobstrução do campo de tiro, como a organização do sistema de fogo. Quanto às forças de choque, às forças de contenção e às forças de reserva nas operações táticas, as primeiras destinam-se a destruição do inimigo, as segundas a preservação das forças próprias e as terceiras a qualquer dos dois fins, de acordo com as circunstâncias — ou a destruição das forças do inimigo (caso em que elas reforçam as unidades de choque ou funcionam como força de perseguição) ou a preservação das forças próprias (caso em que reforçam as unidades de contenção ou servem como força de cobertura). Assim, nenhum princípio ou ação de ordem técnica, tática, operacional ou estratégica pode, seja no que for, afastar-se dos objetivos da guerra, os quais regem a guerra no seu conjunto e orientam-lhe o curso, desde o começo até ao fim.

71. Ao dirigirem a Guerra Anti-japonesa, os comandantes, em todos os escalões, não devem perder de vista nem o contraste entre os fatores fundamentais existentes em cada um dos campos em presença, nem o objetivo próprio de tal guerra. No decorrer das ações militares, esses fatores fundamentais e reciprocamente contraditórios manifestam-se na luta que cada parte trava para conservar as forças próprias e destruir as do inimigo. Na nossa guerra, em cada um dos combates nós fazemos os nossos maiores esforços por conquistar a vitória, grande ou pequena, por desarmar uma parte das forças inimigas e destruir parte dos seus homens e material. Nós devemos acumular os resultados de todas essas destruições parciais do inimigo, transformando-os numa grande vitória estratégica, de maneira a atingirmos o objetivo político final de expulsão do inimigo, defesa da pátria e construção duma China nova.

A Ofensiva na Defensiva, A Decisão Rápida na Guerra Prolongada e as Linhas Exteriores nas Linhas Interiores

72. Passemos agora ao exame da estratégia específica da Guerra de Resistência contra o Japão. Já dissemos que a nossa estratégia de resistência ao Japão é a da guerra prolongada, o que está absolutamente certo. Essa definição da nossa estratégia, porém, é geral e não concreta. Concretamente, como se deve conduzir a guerra prolongada? Examinemos pois essa questão. A nossa resposta é como se segue: na primeira e na segunda fase da guerra, isto é, na fase da ofensiva inimiga e na fase em que o inimigo consolida os territórios conquistados, devemos realizar combates e campanhas ofensivos durante a defensiva estratégica, campanhas e combates de decisão rápida ao longo da guerra estratégicamente prolongada, bem como campanhas e combates no exterior das linhas, muito embora nos encontremos, do ponto de vista estratégico, nas linhas interiores. Na terceira fase, nós devemos passar a contra-ofensiva estratégica.

73. Pelo fato de ser uma forte potência imperialista e nós um país fraco semi-colonial e semi-feudal, o Japão adotou a ofensiva estratégica, enquanto que nós nos encontramos na defensiva estratégica. O Japão está tentando executar uma estratégia de guerra de decisão rápida, devendo nós, conscienciosamente, executar uma estratégia de guerra prolongada. O Japão está a servir-se de dezenas de divisões do seu exército de terra, as quais apresentam uma capacidade de combate bastante forte (atualmente as divisões orçam por uma trintena), bem como duma parte da sua frota de guerra, para cercar e bloquear a China por terra e por mar, servindo-se também da sua força aérea para bombardear o nosso país. O seu exército conseguiu já estabelecer uma larga frente que vai de Paotou a Handjou e a sua marinha já toca as costas do Fuquiem e do Cuantum; assim, a sua ação no exterior das linhas atingiu grandes proporções. Quanto a nós, estamos numa situação em que operamos no interior das linhas. Tudo isso se deve ao fato de o inimigo ser forte e nós fracos. É um aspeto da situação.

74. Todavia, há um outro aspeto que é exatamente o contrário deste. Embora forte, o Japão não dispõe de efetivos suficientes. A China, embora fraca, possui um vasto território, uma imensa população e um exército numeroso. Daí decorrem duas consequências importantes. Primeiramente, empregando as suas pequenas forças contra um país vasto, o inimigo só pode ocupar parte das grandes cidades, parte das principais vias de comunicação e parte das nossas planícies. Assim, há extensas áreas no território ocupado pelo inimigo que este tem de deixar desguarnecidas e que constituirão uma vasta arena para a nossa guerra de guerrilhas. Tomando a China como um conjunto, mesmo no caso de o inimigo conseguir ocupar a linha que liga Cantão, Vuhan e Landjou e as respetivas regiões adjacentes, muito dificilmente ele poderá dominar as regiões situadas para lá dessa linha, o que deixará a China uma retaguarda geral e umas bases vitais a partir das quais ela prosseguirá na guerra prolongada até a vitória final. Segundo, ao opor as suas reduzidas forças aos nossos grandes efetivos, o inimigo encontrar-se-á necessariamente cercado. O inimigo ataca-nos de várias direções, encontra-se estratégicamente no exterior das linhas, enquanto que nós estamos no interior das linhas; ele faz uma guerra ofensiva enquanto nós fazemos a guerra defensiva. Tudo isso pode aparecer como uma grande desvantagem para nós. Contudo, podemos aproveitar-nos das nossas duas vantagens, isto é, do nosso imenso território e dos nossos grandes efetivos e, em vez de realizarmos obstinadamente uma guerra de posições, fazer uma guerra de movimento flexível, empregar várias divisões contra cada uma das divisões inimigas, várias dezenas de milhares de homens contra cada dez mil dos seus soldados, várias colunas contra cada uma das suas colunas, e cercar e atacar subitamente uma só das suas colunas a partir das linhas exteriores do campo de batalha. Desse modo, muito embora o inimigo se encontre estratégicamente nas linhas exteriores e faça a guerra ofensiva, ele será forçado, nas campanhas e nos combates, a bater-se nas linhas interiores e a adotar a defensiva. Para nós, portanto, as linhas interiores e a defensiva, no plano estratégico, transformar-se-ão em linhas exteriores e em ofensiva, nas campanhas e nos combates. É esse o método para enfrentar uma só, ou mesmo todas as colunas inimigas que avancem contra nós. Ambas as consequências examinadas acima decorrem do fato de o inimigo ser pequeno e nós grandes. Além disso, embora reduzidas, as forças inimigas são fortes (em armamento e preparação), enquanto que as nossas forças, embora numerosas, são fracas (em armamento e preparação, não no moral), donde resulta que, nas campanhas e nos combates, nós não só devemos empregar forças numerosas contra forças reduzidas e operar a partir do exterior contra o interior das linhas, mas também seguir o princípio de procurar uma decisão rápida. Em geral, para conseguir uma decisão rápida, nós devemos atacar um inimigo em marcha e não um inimigo acantonado num ponto. Nós devemos concentrar secretamente, e de antemão, forças poderosas sobre os dois lados da rota seguida por este e lançar-nos bruscamente sobre ele, enquanto marcha, cercando-o e atacando-o sem dar-lhe tempo para refazer-se, e terminar o combate rapida-mente. Se pelejamos bem, podemos destruir a totalidade, uma grande parte, ou pelo menos algumas das suas forças. E mesmo no caso de não pelejarmos tão bem, podemos, de todas as maneiras, infligir ao inimigo pesadas perdas em mortos e feridos. O que se disse aplica-se a todo e qualquer dos nossos combates. Se em cada mês pudéssemos alcançar uma vitória relativamente grande como a de Pinsinquan ou Teltchuam, isto para não ser muito exigente, essas vitórias enfraqueceriam consideravelmente o moral do inimigo e exaltariam o moral das nossas próprias forças, despertando para nós o apoio do mundo inteiro. Desse modo, a nossa guerra, estrategicamente prolongada, traduzir-se-ia, no terreno, por combates de decisão rápida, enquanto que a guerra do inimigo, estratefetivamente-gicamente de decisão rápida, estaria condenada a converter-se numa guerra prolongada, uma vez que este fosse derrotado em repetidas campanhas e combates.

75. Numa palavra, o princípio de ação para as campanhas e combates que acabámos de definir pode resumir-se na fórmula seguinte: “ações ofensivas de decisão rápida no exterior das linhas”. É precisamente o contrário do nosso princípio estratégico de “guerra defensiva prolongada no interior das linhas” e constitui um princípio indispensável para levar a cabo essa estratégia. O usarmos igualmente a “guerra defensiva prolongada no interior das linhas” como princípio para as campanhas e os combates, como fizemos no começo da Guerra de Resistência, seria não responder inteiramente a dupla circunstância de as forças inimigas serem reduzidas e as nossas numerosas, e de o inimigo ser forte e nós fracos; nesse caso, nós nunca poderíamos atingir o nosso objetivo estratégico nem fazer a guerra prolongada, e seríamos derrotados pelo inimigo. Eis a razão por que defendemos sempre a organização das forças do país num certo número de grandes formações de campanha, cada uma fazendo frente a uma das formações inimigas, mas apresentando-se sempre com um efetivo duas, três ou quatro vezes superior ao inimigo, de maneira a empenhá-lo sobre vastos teatros de guerra, e em ações segundo o princípio exposto acima. Tal princípio de “ações ofensivas de decisão rápida no exterior das linhas” pode e deve ser aplicado tanto na guerra de guerrilhas como na guerra regular. Ele aplica-se não apenas a uma fase da guerra mas sim ao longo de todo o curso desta. Na fase da contra-ofensiva estratégica, quando estivermos tefetivamentecnicamente melhor equipados e não nos encontrarmos mais na situação de combater do fraco ao forte, se continuarmos a realizar, com forças superiores, combates ofensivos de decisão rápida no exterior das linhas, ficaremos com uma possibilidade ainda maior de capturar em grande escala prisioneiros e material. Por exemplo, se empregamos duas, três ou quatro divisões mecanizadas contra uma divisão mecanizada inimiga, ficamos mais seguramente capazes de destruí-la. Vários homens valorosos podem facilmente dominar um só homem. Isso é uma questão de simples bom-senso.

76. Se realizamos resolutamente sobre os campos de batalha “ações ofensivas de decisão rápida no exterior das linhas”, não só modificamos a correlação de forças e de superioridades no campo de batalha mas ainda modificamos gradualmente a situação geral. No campo de batalha, nós adotamos a ofensiva e o inimigo a defensiva, empregamos forças superiores nas linhas exteriores e o inimigo forças inferiores nas linhas interiores, buscamos a decisão rápida enquanto o inimigo, por mais que faça, não é capaz de alongar o combate na expetativa de reforços; por todas essas razões, a posição do inimigo modificar-se-á de forte para fraca, de superior para inferior, enquanto que a situação das nossas forças se modificará de fraca para forte, de inferior para superior. Uma vez travados vitoriosamente muitos desses combates, a situação geral entre nós e o inimigo modificar-se-á. Isso significa que através da acumulação de muitas vitórias nos campos de batalha, graças as ações ofensivas de decisão rápida nas linhas exteriores, passo a passo acabamos por reforçar-nos e por enfraquecer o inimigo, o que afetará necessariamente a correlação geral de forças e de superioridades, provocando-lhe modificações. Quando isso acontecer, essas modificações, juntamente com outros fatores da nossa própria situação, as modificações no campo inimigo e uma situação internacional favorável, converterão a relação geral entre nós e o inimigo, primeiramente numa relação de equilíbrio e, depois, numa relação de superioridade em nosso favor. Será então chegado o momento para desencadearmos a contra-ofensiva e expulsarmos o inimigo do nosso país.

77. A guerra é uma competição de forças que, no próprio decorrer da guerra, se vão modificando com relação ao que eram no início. Aqui, o fator decisivo são os esforços subjetivos — alcançar maior número de vitórias e cometer menos erros. Os fatores objetivos fornecem a possibilidade de tais modificações, mas para converter essa possibilidade em realidade é necessária uma orientação justa e esforços subjetivos. É aí que o subjetivo desempenha o papel decisivo.

Iniciativa, Flexibilidade e Plano

78. Nas campanhas e nos combates ofensivos de decisão rápida no exterior das linhas, tal como se definiu mais atrás, o ponto central é a “ofensiva”; o “exterior das linhas” designa a esfera da ofensiva, e a “decisão rápida”, a respetiva duração. Daí a expressão “ações ofensivas de decisão rápida no exterior das linhas”. É o melhor princípio para a realização duma guerra prolongada, assim como é também o princípio para aquilo a que se chama guerra de movimento. Todavia, tal principio não pode ser posto em prática sem iniciativa, flexibilidade e plano. Examinemos pois essas três questões.

79. Nós já tratámos do papel dinâmico consciente do homem, por que razão pois falar de novo na iniciativa? Por papel dinâmico consciente nós entendemos a ação e o esforço conscientes, uma caraterística que distingue o homem de todos os outros seres, uma caraterística que se manifesta com maior força na guerra. Tudo isso já foi examinado. Agora, iniciativa significa liberdade de ação das. tropas, por oposição a situação em que estas se encontram privadas dessa liberdade. A liberdade de ação é uma necessidade vital para o exército, de tal maneira que, uma vez perdida, o exército fica imediatamente a beira da derrota ou da destruição. O fato de um soldado ser desarmado é um resultado do fato de ter perdido a liberdade de ação, de ter sido portanto forçado a passividade. E o mesmo é válido pelo que respeita a derrota dum exército. Por essa razão, as duas partes numa guerra fazem, cada uma, o seu máximo por conseguir a iniciativa e evitar a redução a passividade. Pode dizer-se que as ações ofensivas de decisão rápida no exterior das linhas que nós defendemos e a flexibilidade e o plano necessários a respetiva execução, visam a conquista da iniciativa e a redução do inimigo a passividade, a fim de preservar as nossas forças e destruir as do inimigo. Todavia, a iniciativa e a passividade são inseparáveis da superioridade ou da inferioridade de forças e, por consequência, inseparáveis duma direção subjetiva correta ou incorreta. Além disso, ainda, existe a possibilidade de explorar os erros de apreciação e a inadvertência do inimigo, de maneira a conquistar a iniciativa e reduzi-lo a passividade. Vamos analisar em seguida todas essas questões.

80. A iniciativa é inseparável da superioridade de forças, enquanto que a passividade está condicionada pela inferioridade de forças. Essa superioridade ou essa inferioridade constituem a base objetiva da iniciativa ou da passividade. É claro que a iniciativa estratégica pode ser mais facilmente mantida e exercida através da ofensiva estratégica, contudo, para manter e exercer a iniciativa em todos os momentos e em todos os pontos, isto é, para que se detenha uma iniciativa absoluta, é imprescindível dispor duma superioridade absoluta de forças sobre o inimigo. Quando um homem forte e saudável se bate contra um inválido, é evidente que a iniciativa absoluta lhe pertence. Se o Japão não estivesse a braços com tantas contradições insolúveis, se pudesse, por exemplo, pôr em pé de guerra um exército imenso de vários milhões de homens, algo como uma dezena de milhões de homens, se os seus recursos financeiros fossem várias vezes aquilo que são atualmente, se não sofresse a oposição do seu próprio povo e dos povos doutros países e, enfim, se não praticasse uma política bárbara que incita o povo chinês a fazer-lhe uma luta de morte, ele poderia assegurar-se duma superioridade absoluta de forças e dispor da iniciativa absoluta no decurso de toda a guerra e ao longo de todas as frentes. Na história, tal superioridade absoluta só muito raramente se verifica nos primeiros momentos da guerra ou das campanhas, registando-se apenas por alturas do fim do conflito. Por exemplo, nas vésperas da capitulação da Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, os países da Entente conquistaram a superioridade absoluta, ficando a Alemanha numa posição de absoluta inferioridade, do que resultou a derrota da Alemanha e a vitória de tais países. Aí está um exemplo de superioridade e inferioridade absolutas no final duma guerra. Outro exemplo: nas vésperas da vitória chinesa em Teltchuam, as tropas japonesas que aí se encontravam em situação de isolamento foram reduzidas, depois de duros combates, a uma absoluta inferioridade, enquanto as nossas forças conquistavam a superioridade absoluta, de tal maneira que o inimigo foi derrotado e nós vencemos. Esse é um exemplo de superioridade e inferioridade absolutas no final duma campanha. Também pode acontecer que uma guerra ou campanha termine numa situação de superioridade e inferioridade relativas, ou de equilíbrio, caso em que a guerra conduz a um compromisso e a campanha a uma estabilização da frente. Mas na maior parte dos casos, são a superioridade e a inferioridade absolutas que decidem da vitória e da derrota. Tudo isso respeita ao período final da guerra ou da campanha, e não ao seu começo. Pode dizer-se de antemão que, no final da Guerra Sino-Japonesa, o Japão sofrerá uma derrota em consequência da sua inferioridade absoluta de forças e a China vencerá graças a sua superioridade absoluta. No momento presente, porém, a superioridade e a inferioridade não são absolutas em qualquer dos lados, mas sim relativas. Com as vantagens que lhe proporciona a sua potência militar, económica e de organização política, o Japão goza de superioridade com relação a nós, que dispomos dum fraco potencial militar, económico e de organização política, o que constitui a base para a sua iniciativa. Mas como a quantidade do seu potencial militar e não-militar não é grande, sofrendo ele ainda de muitas outras desvantagens, essa superioridade encontra-se reduzida pelas suas próprias contradições. Depois da invasão da China, a superioridade japonesa ficou ainda mais reduzida, na medida em que teve de fazer face a fatores tais como a vastidão do nosso território, a imensidão da nossa população, a importância numérica do nosso exército e a resistência encarniçada de toda a nação. Assim, a superioridade do Japão tomou, no seu conjunto, um caráter simplesmente relativo, e a sua aptidão para exercer e manter a iniciativa, aptidão que já não pode portanto manifestar-se senão dentro de certos limites, tornou-se também relativa. Quanto a China, embora se encontre estratégicamente numa posição de certo modo passiva, em virtude da sua inferioridade de forças, ela é no entanto quantitativamente superior em território, população e tropas, sendo igualmente superior quanto ao moral das suas forças e do seu povo, bem como quanto ao ódio patriótico pelo inimigo; tal superioridade, juntamente com outros fatores vantajosos, reduz o grau da sua inferioridade em potencial militar, económico, etc., transformando-a numa inferioridade relativa no plano estratégico. Isso também reduz o grau de passividade da China, dando a sua posição estratégica um caráter de simples passividade relativa. Como a passividade, seja ela qual for, constitui sempre uma desvantagem, importa fazer todos os esforços para sair-se dela. No domínio militar, o meio de conseguir sair dela é desenvolver com resolução ações ofensivas de decisão rápida nas linhas exteriores, desencadear a guerra de guerrilhas na retaguarda do inimigo, garantindo assim uma esmagadora superioridade local, bem como a iniciativa ao longo das numerosas campanhas da guerra de movimento e da guerra de guerrilhas. Por meio dessa superioridade e dessa iniciativa locais nas várias campanhas, nós podemos conseguir, passo a passo, uma superioridade e uma iniciativa estratégicas, desembaraçando-nos da nossa inferioridade e passividade no plano estratégico. Tal é a relação entre a iniciativa e a passividade, entre a superioridade e a inferioridade de forças.

81. Agora já podemos compreender a relação existente entre a iniciativa ou a passividade e a direção subjetiva da guerra. Como dissemos, é possível escapar a nossa posição de relativa inferioridade e passividade estratégicas, sendo o método a criação da superioridade e da iniciativa locais nas diversas campanhas, de maneira a privar o inimigo da superioridade e da iniciativa locais e levá-lo a uma situação de inferioridade e passividade. O conjunto desses sucessos locais conduzir-nos-á a superioridade e iniciativa estratégicas, reduzindo o inimigo a inferioridade e passividade no plano estratégico. Uma tal viragem depende da correta direção subjetiva da guerra. Como? Porque, assim como nós, o inimigo também busca a superioridade e a iniciativa estratégicas; nesse sentido, a guerra é uma competição de capacidade subjetiva entre os comandos dos dois exércitos em conflito, na sua luta pela superioridade e pela iniciativa, na base de condições materiais, tais como forças militares e recursos financeiros. Dessa competição, uma das partes sai vencedora e a outra vencida. Pondo de parte as condições objetivas materiais, o vencedor deve sempre o seu sucesso a uma direção subjetiva correta, enquanto que o vencido deve a sua derrota a uma direção subjetiva errada. Nós admitimos que o fenómeno da guerra é mais difícil de compreender e carateriza-se por um maior grau de incerteza do que qualquer outro fenómeno social, por outras palavras, mais do que qualquer outro, é uma questão de “probabilidade”. De todos os modos, porém, a guerra não é uma questão sobrenatural, mas antes um acontecimento da vida submetido a leis definidas. É por isso que a regra formulada por Suen Tse, “conhece o teu adversário e conhece-te a ti próprio que poderás, sem riscos, travar um cento de batalhas”(16), permanece uma verdade científica. Os erros resultam da ignorância sobre o inimigo e sobre nós próprios; em muitos casos, aliás, é o próprio caráter específico da guerra que torna impossível um conhecimento perfeito do inimigo e de nós próprios, donde a incerteza acerca das situações e ações militares, donde as faltas e as derrotas. Mas quaisquer que sejam as situações e as ações na guerra, é possível conhecerem-se os seus aspetos gerais e os seus pontos essenciais. Para um comandante, é sempre possível reduzir os erros e realizar uma direção geralmente correta, primeiro, graças aos reconhecimentos e, segundo, graças as suas deduções e apreciações inteligentes. Equipados com a arma que é uma “direção geralmente correta”, nós podemos vencer mais combates e transformar a nossa inferioridade em superioridade e a nossa passividade em iniciativa. Tal é a relação entre a iniciativa ou a passividade e uma correta ou incorreta direção subjetiva da guerra.

82. A tese de que uma direção subjetiva incorreta pode transformar a superioridade e a iniciativa em inferioridade e passividade, e de que uma direção subjetiva correta pode produzir a modificação inversa, torna-se tanto mais convincente quanto mais analisamos o registo de derrotas sofridas por exércitos grandes e poderosos e de vitórias obtidas por exércitos pequenos e fracos. Há muitos exemplos desses na história da China e dos países estrangeiros. Como exemplos na China, temos a batalha de Tchempu entre os Estados de Tzin e Tchu(17), a batalha de Tchengao entre os Estados de Tchu e Han, a batalha em que Han Sin derrotou os exércitos de Tchao(18), a batalha de Cuen-iam entre os Estados de Sin e Han, a batalha de Cuantu entre Iuan Chao e Tsao Tsao, a batalha de Tchipi entre os Estados de Vu e Vei, a batalha de Ilim entre os Estados de Vu e Chu, a batalha da ribeira Fei entre os Estados de Tchin e Tzin, etc. Entre os exemplos a citar no estrangeiro, contam-se a maior parte das campanhas de Napoleão(19) e a guerra civil na União Soviética após a Revolução de Outubro. Em todos esses casos, a vitória foi conquistada por forças reduzidas contra grandes forças, por forças inferiores contra forças superiores. Em todos os casos, a força mais fraca soube explorar num ponto dado a superioridade e a iniciativa contra a inferioridade e a passividade do inimigo, começando por infligir-lhe aí uma primeira derrota e, voltando-se depois para as restantes forças inimigas, soube esmagá-las uma a uma, transformando assim a situação geral numa situação de superioridade e iniciativa. O caso era precisamente o contrário para o inimigo, inicialmente detentor da superioridade e da iniciativa, mas que, em consequência dos erros subjetivos cometidos pela respetiva direção, e em resultado das suas contradições internas, pôde perder por completo a sua superioridade e iniciativa absolutas ou relativas, convertendo-se numa espécie de general sem exército ou rei sem reino. De tudo isso se conclui que, embora a superioridade ou inferioridade na guerra sejam a base objetiva de que depende a iniciativa ou a passividade, essa superioridade ou inferioridade não são de si mesmo iniciativa ou passividade reais; a iniciativa e a passividade só se tornam efetivas a-través da luta, através da competição dos esforços subjetivos. Na luta, uma direção subjetiva correta pode transformar a inferioridade em superioridade e a passividade em iniciativa, assim como uma direção subjetiva incorreta pode provocar precisamente o contrário. O fato de cada dinastia reinante ter sido derrotada pelos exércitos revolucionários mostra que, por si só, a superioridade em certos aspetos não basta para assegurar a iniciativa, e muito menos para garantir a vitória final. A parte que se encontra em situação de inferioridade e passividade pode arrancar a iniciativa e a vitória ao inimigo que detém a superioridade e a iniciativa, desde que crie certas condições por meio dum grande esforço subjetivo, de acordo com as circunstâncias de fato existentes.

83. Fazer apreciações erradas ou ser apanhado de surpresa pode significar a perda da superioridade e da iniciativa. Daí resulta que o fazer sistematicamente com que o inimigo realize apreciações erradas, bem como o atacá-lo de surpresa, constituem dois processos muito importantes, aliás, de conseguir-se a superioridade e arrancar-lhe a iniciativa. E o que é uma apreciação errada? É, por exemplo, “tomar os arbustos e as árvores do monte Pacum por soldados inimigos”(20). Um processo de provocar apreciações erradas por parte do inimigo é, por exemplo, “fazer uma finta a leste para atacar a oeste”. Quando o apoio das massas é suficientemente grande para evitar a fuga de informações para o campo inimigo, torna-se muitas vezes possível, por meio de diversos ardis, levar o inimigo a um labirinto de falsas apreciações e ações, de tal maneira que ele acaba por perder a sua superioridade e iniciativa. O ditado que diz que “na guerra a astúcia nunca é de mais”, significa precisamente isso. O que é ser apanhado de surpresa? É estar sem preparação. Sem preparação, a superioridade não é realmente superioridade e não pode haver iniciativa. Uma vez compreendido esse ponto, uma força inferior, mas preparada, pode muitas vezes derrotar, num ataque de surpresa, forças inimigas superiores. Nós dizemos que um inimigo em marcha pode mais facilmente ser atacado justamente porque, em tais circunstâncias, ele é apanhado de surpresa, quer dizer, ele não está preparado. Esses dois pontos — provocar apreciações erradas no seio do inimigo e realizar ataques de surpresa contra ele — significam transferir a incerteza da guerra para o inimigo e assegurarmo-nos, nós próprios, do máximo de certeza possível, o que nos permite uma realização da superioridade, da iniciativa, e a conquista da vitória. Uma excelente organização das massas é o requisito prévio para a obtenção de tudo isso. Por consequência, é extremamente importante despertar as massas que são contra o inimigo, armá-las até ao último homem, para realizar por toda a parte ataques de surpresa contra o inimigo e, simultaneamente, impedir toda a fuga de informações e garantir uma cobertura para o nosso próprio exército. Desse modo, o inimigo permanecerá na incerteza sobre o ponto e o momento em que as nossas forças vão realizar os seus ataques, criando-se assim uma base objetiva para que o inimigo proceda a apreciações falsas e se mantenha desprevenido. Em grande parte, foi devido ao fato de as massas estarem organizadas e armadas que as forças do Exército Vermelho chinês, fracas e reduzidas, conseguiram ganhar tantas batalhas no período da nossa Guerra Revolucionária Agrária. Logicamente, uma guerra nacional deve obter um maior apoio por parte das massas do que a Guerra Revolucionária Agrária, mas por causa dos erros cometidos no passado(21), o povo encontra-se num estado de falta de organização, não pode ser prontamente levado a servir a causa, acontecendo até que, algumas vezes, chega a ser utilizado pelo próprio inimigo. A mobilização firme e em grande escala do povo é o único processo de assegurar uma fonte inesgotável de recursos para responder a todas as exigências da guerra. Além disso, tal mobilização desempenhará um grande papel na aplicação das nossas táticas de desorientar o inimigo e derrotá-lo por meio de ataques de surpresa. Nós não somos o Duque Siam de Som, nós não seguimos de maneira alguma a sua ética estúpida(22). Para alcançarmos a vitória nós devemos, tanto quanto possível, cegar e ensurdecer o inimigo, tapando-lhe os olhos e os ouvidos e desviando as atenções do seu comando por meio dum lançar da confusão no seu espírito, o que o enlouquece. Tal é a relação existente entre a ausência ou a presença da iniciativa e a direção subjetiva da guerra. Sem essa direção subjetiva da guerra é impossível vencer o Japão.

84. Dum modo geral, o Japão detém a iniciativa na fase da sua ofensiva em razão do seu poderio militar e da exploração a que procedeu dos nossos erros subjetivos presentes e passados. Todavia, a sua iniciativa começa a diminuir em certa medida, já como resultado dos muitos fatores desvantajosos que lhe são inerentes, já como resultado dos erros subjetivos que ele também cometeu durante a guerra (o que examinaremos mais adiante), e ainda em virtude dos vários fatores que também nos são vantajosos. A derrota sofrida pelo inimigo em Tel-tchuam e as dificuldades em que se encontra na província de Xansi constituem uma prova clara de tudo isso. O desenvolvimento em grande escala da guerra de guerrilhas na retaguarda do inimigo colocou as suas guarnições, acantonadas nas áreas ocupadas, numa situação de completa passividade. Embora o inimigo ainda se encontre estratégicamente na ofensiva e ainda detenha a iniciativa, essa iniciativa perder-se-á quando cessar a sua ofensiva estratégica. A primeira razão que torna o inimigo incapaz de manter a iniciativa é a sua escassez de efetivos que o impossibilita de continuar indefinidamente na ofensiva. A nossa ofensiva nas campanhas e a nossa guerra de guerrilhas por detrás das linhas inimigas, acrescentadas a outros fatores, constituem a segunda razão que leva o inimigo a cessar a sua ofensiva uma vez atingido certo limite, e o torna incapaz de continuar a deter a iniciativa. A existência da União Soviética e as modificações da situação internacional constituem a terceira razão. Sendo assim, a iniciativa do inimigo está limitada e pode ser reduzida a nada. Se, na ação militar, a China for capaz de persistir com as suas forças principais numa guerra ofensiva nas campanhas e nos combates, desenvolver vigorosamente a guerra de guerrilhas na retaguarda do inimigo e mobilizar politicamente o povo em grande escala, nós poderemos conquistar gradualmente uma posição de iniciativa estratégica.

85. Examinemos agora a questão da flexibilidade. O que é a flexibilidade? A flexibilidade é a realização concreta da iniciativa na ação militar. É o emprego elástico das forças armadas. A utilização flexível das forças armadas é a tarefa central na direção da guerra, a tarefa mais difícil de executar com perfeição. Além da organização e preparação do exército e do povo, a direção da guerra não é mais do que o emprego das tropas no combate, e tudo isso faz-se para ganhar o combate. Claro que é difícil organizar um exército, etc., etc., todavia ainda é mais difícil empregá-lo, sobretudo quando se combate do fraco ao forte. Para isso é necessária uma capacidade subjetiva muito elevada, sendo exigida ainda uma eliminação da confusão, da obscuridade e da incerteza caraterísticas da guerra, importando descobrir a ordem, a clareza e a certeza nela existentes. Só assim se afigura possível conseguir uma flexibilidade de comando.

86. O princípio fundamental das ações de combate na Guerra de Resistência consiste em realizar ações ofensivas de decisão rápida nas linhas exteriores. Existem várias táticas ou métodos para aplicar esse princípio: por exemplo, a dispersão e a concentração das forças, a progressão em ordem dispersa e o ataque convergente, a ofensiva e a defensiva, o assalto e a fixação, o cerco e o movimento torneante, o avanço e a retirada. É fácil compreender todas essas táticas, mas não é nada fácil empregá-las e variá-las com flexibilidade. Aqui, as três questões-chave são o tempo, o lugar e as unidades combatentes. Enquanto não se resolvem corretamente essas questões de tempo, lugar e unidades combatentes, a vitória é impossível. Por exemplo, quando se ataca uma força inimiga em movimento, se golpeamos muito cedo, descobrimo-nos e damos ao adversário uma possibilidade de defesa; se golpeamos muito tarde, o inimigo tem tempo para deter-se e concentrar as suas forças, apresentando-se como um osso duro de roer. Isso quanto ao tempo. Se escolhemos o ponto de assalto no flanco esquerdo do inimigo e se, justamente, esse é o seu ponto fraco, a vitória é fácil; mas se nós escolhemos o seu flanco direito e, por consequência, embatemos contra uma verdadeira muralha, então não ganhamos coisa alguma. Isso quanto ao lugar. Se empregamos uma certa e determinada unidade para a realização duma dada tarefa, a vitória pode ser alcançada com facilidade; mas se empregamos uma outra unidade para a mesma tarefa, pode ser difícil conseguir o que se deseja. Isso quanto as unidades combatentes. Nós devemos saber não apenas como empregar as táticas mas ainda como variá-las. Com efeito, na flexibilidade de comando, a tarefa importante consiste em realizar mudanças, como a passagem da ofensiva a defensiva ou da defensiva a ofensiva, do avanço a retirada ou da retirada ao avanço, da fixação ao assalto ou do assalto a fixação, do cerco ao movimento torneante ou do movimento torneante ao cerco, fazendo tudo isso corretamente, em tempo oportuno e de acordo com as condições das unidades e do terreno, no nosso campo e no campo inimigo. É assim tanto para o comando dos combates e das campanhas como ainda para o comando estratégico.

87. Os antigos diziam: “O segredo duma hábil execução está na cabeça”. Esse “segredo”, a que nós chamamos flexibilidade, é o fruto do talento dum comando inteligente. A flexibilidade não significa leviandade. A leviandade deve ser rejeitada. A flexibilidade consiste na capacidade própria dum comando inteligente para tomar medidas oportunas e apropriadas, na base das condições objetivas, depois de ter “apreciado a questão do tempo e apanhado o essencial da situação” (a situação inclui a situação do inimigo, a nossa, o terreno, etc.). É nisso que consiste “o segredo duma hábil execução”. Apoiando-nos nesse segredo, é possível conquistarmos mais vitórias nas nossas ações ofensivas de decisão rápida nas linhas exteriores, modificar em nosso proveito a correlação de forças, ganhar a iniciativa sobre o inimigo e destroçá-lo e esmagá-lo, de tal maneira que a vitória final venha a pertencer-nos.

88. Passemos agora a questão do plano. Em consequência da incerteza caraterística da guerra, é muito mais difícil aplicar nela um plano do que em qualquer outra atividade. Mas dado que “a preparação garante o sucesso e a falta de preparação implica a derrota”, não pode haver vitória na guerra sem que prefetivamenteviamente se elabore um plano e se faça uma preparação. Na guerra não há uma certeza absoluta, mas isso não quer dizer que ela não apresente um certo grau de certeza relativa. Comparativamente, nós estamos seguros sobre a nossa própria situação, mas temos muitas dúvidas sobre a situação do inimigo. Não obstante, há sinais que podem ser interpretados, indícios que podem guiar-nos, séries de fatos que nos ajudam a refletir sobre essa situação. Tudo isso forma aquilo a que nós chamamos um certo grau de certeza relativa, a qual pode fornecer uma base objetiva para a elaboração dos nossos planos na guerra. O progresso da técnica moderna (telegrafia, rádio, aeroplanos, veículos a motor, caminhos de ferro, barcos a vapor, etc.) aumentaram as possibilidades de estabelecer planos na guerra. Todavia, uma elaboração de planos completos e estáveis é difícil porque a certeza na guerra é de fato muito limitada e momentânea. Tais planos têm de modificar-se segundo o desenrolar da guerra (a sua mobilidade ou a sua evolução), e sendo o grau dessas modificações dependente da escala da guerra. Em muitos casos, os planos táticos, como por exemplo os planos de ataque ou de defesa para as pequenas formações ou unidades, têm de ser modificados várias vezes num mesmo dia. Geralmente, o plano duma campanha, quer dizer, o plano de ação para as grandes formações, pode manter-se até a conclusão da campanha, muito embora, no decurso desta, ele seja várias vezes modificado, na parte e até no todo, em alguns casos. Quanto aos planos estratégicos, como eles são elaborados com base na situação global das duas partes em luta, são ainda mais estáveis, sendo no entanto apenas aplicáveis a uma certa e determinada fase estratégica, e devendo por consequência ser modificados sempre que a guerra passa a uma nova fase. A elaboração e a modificação dos planos táticos, dos planos para as campanhas e dos planos estratégicos, segundo a escala respetiva e as circunstâncias, é um fator-chave na direção duma guerra; eis a expressão concreta da flexibilidade na guerra, ou, por outras palavras, eis o segredo duma hábil execução. Os comandantes da Guerra de Resistência contra o Japão devem, em todos os escalões, prestar a esse assunto uma atenção particular.

89. Em virtude da fluidez da guerra, algumas pessoas negam categoricamente a estabilidade relativa dos planos e das diretivas de guerra, descrevendo-os como “mecânicos”. Essa maneira de ver é errada. Na secção anterior nós reconhecemos inteiramente que, dado o fato de as circunstâncias da guerra serem apenas relativamente certas e o seu curso (movimento ou evolução) ser rápido, os planos e as diretivas não podem deixar de ser relativamente estáveis, necessitando ser modificados ou revistos a tempo, de acordo com a alteração das circunstâncias e segundo o decorrer da própria guerra. A não ser assim, transformamo-nos em mecanistas. Contudo, não se pode negar a necessidade dum plano e diretivas de guerra relativamente fixos para um período certo e determinado. Negar isso significa negar tudo, incluindo o negar a própria guerra e o negar-se a si mesmo. Uma vez que a situação e as ações de guerra são duma estabilidade relativa, temos de admitir a relativa estabilidade dos planos e diretivas que delas resultam. Por exemplo, uma vez que a situação da guerra no Norte da China e a natureza dispersa das ações realizadas pelo VIII Exército têm, num período determinado, um caráter relativamente estável, torna-se absolutamente necessário, durante esse período, reconhecer a relativa estabilidade da seguinte diretiva estratégica para as ações desse exército: “a guerra de guerrilhas é o essencial, mas não se deve perder qualquer oportunidade de fazer a guerra de movimento, desde que as circunstâncias sejam favoráveis”. O período de validade das diretivas para uma campanha é mais curto que o da diretiva estratégica acima mencionada, e o das diretivas táticas é-o ainda mais, mas umas e outras são estáveis para um período dado. Negá-lo é chegar a um ponto em que se não sabe mais como fazer a guerra, é tornar-se um relativista nas questões da guerra, sem ideias claras, vogando ao sabor das ondas. Ninguém nega que uma diretiva, embora válida para um período determinado, não deva sofrer certas modificações, pois, se pensássemos assim, uma diretiva nunca poderia ser substituída por outra. Simplesmente, essas modificações têm limites, elas não ultrapassam o quadro das diversas ações de guerra empreendidas para executar a própria diretiva, não modificando portanto a respetiva essência. Por outras palavras, a diretiva só sofre modificações quantitativas e não qualitativas. Dentro do período de tempo dado, a essência da diretiva de maneira nenhuma é fluida. É justamente isso que nós entendemos por estabilidade relativa dentro dum dado período de tempo. Na marcha geral da guerra, onde a modificação é absoluta, existe uma estabilidade relativa de cada etapa. Eis o essencial do nosso ponto de vista com respeito aos planos e as diretivas de guerra.

90. Uma vez examinada a guerra defensiva prolongada no interior das linhas no plano estratégico, as ações ofensivas de decisão rápida no exterior das linhas durante as campanhas e os combates, e ainda a questão da iniciativa, flexibilidade e plano, podemos resumir em breves palavras tudo quanto dissemos. A Guerra Anti-japonesa necessita dum plano. Os planos de guerra, que são uma aplicação concreta da estratégia e das táticas, devem ser de tal maneira flexíveis que possam ser adaptados as circunstâncias da guerra. Devemos tentar constantemente transformar a nossa inferioridade em superioridade e a nossa passividade em iniciativa, de modo a modificarmos a situação existente entre nós e o inimigo. Tudo isso se manifesta nas ações ofensivas de decisão rápida no exterior das linhas nas campanhas e nos combates, e na guerra defensiva prolongada no interior das linhas no plano estratégico.

Guerra de Movimento, Guerra de Guerrilhas e Guerra de Posições

91. A guerra tomará a forma de guerra de movimento já que o seu conteúdo é uma ofensiva de decisão rápida nas linhas exteriores durante as campanhas e os combates, no quadro duma estratégia de guerra defensiva prolongada nas linhas interiores. A guerra de movimento é a forma de guerra em que os exércitos regulares realizam campanhas e combates ofensivos de decisão rápida nas linhas exteriores, ao longo de grandes frentes e sobre grandes teatros de guerra. Ao mesmo tempo, ela inclui a “defesa móvel”, praticada quando seja necessária para facilitar tais ações ofensivas, incluindo ainda o ataque e a defesa de posições, os quais desempenham aí um papel auxiliar. As suas caraterísticas são a utilização de exércitos regulares, o emprego de forças superiores nas campanhas e nos combates, o caráter ofensivo das ações e a mobilidade.

92. A China dispõe dum vasto território e dum exército imenso, embora insuficientemente treinado e equipado. Do lado contrário, as forças inimigas são insuficientes em soldados mas melhor equipadas e treinadas. Em tal situação, não restam dúvidas de que devemos adotar a guerra ofensiva de movimento como forma principal de guerra, funcionando as outras formas como auxiliares, e de maneira que o conjunto de todas elas forme uma guerra de movimento. Nós devemos combater o princípio de “retirar constantemente e nunca avançar”, que é a atitude dos fujões, opondo-nos igualmente ao princípio de “apenas avançar e nunca retirar”, caraterística da mentalidade de arrisca-tudo.

93. Uma das caraterísticas da guerra de movimento é a sua mobilidade, a qual não só permite mas também exige que um exército de campanha avance e retire a passos de gigante. De maneira nenhuma, porém, isso tem qualquer relação com a atitude de fujão dum Han Fu-tsiu(23). A exigência fundamental da guerra é destruir as forças do inimigo e, por outro lado, conservar as próprias forças. O fim da preservação das nossas próprias forças é a destruição das do inimigo, e a destruição das forças do inimigo é, por seu turno, o meio mais efetivo de conservar as próprias forças. Sendo assim, a guerra de movimento não pode de maneira alguma servir de escusa para as pessoas que são como Han Fu-tsiu, jamais podendo ser considerada como um movimento sempre para trás e nunca para diante; essa espécie de “movimento” que nega o caráter ofensivo básico da guerra de movimento poderia, na prática, “mover” a China para a perda do seu território, a despeito de toda a sua vastidão.

94. Todavia, o outro ponto de vista, que nós chamamos mentalidade de arrisca-tudo e que só admite a marcha para diante e nunca a retirada, é igualmente falso. A guerra de movimento que nós defendemos, e cujo conteúdo é a ofensiva de decisão rápida nas linhas exteriores durante as campanhas e os combates, inclui a guerra de posições como um fator auxiliar, a “defesa móvel” e a retirada, sem o que a guerra de movimento não pode ser inteiramente levada a efeito. A mentalidade de arrisca-tudo é um caso de miopia militar, frequentemente provocada pelo medo de perder território. Aquele que age segundo tal mentalidade é um indivíduo que ainda não compreendeu que a mobilidade é uma das caraterísticas da guerra de movimento, uma caraterística que não só permite mas exige que um exército de campanha avance e retire a passos de gigante. No plano positivo, a fim de levar o inimigo a um combate que lhe seja desfavorável e favorável as nossas forças, torna-se geralmente necessário que ele esteja em movimento e que nós nos tenhamos assegurado dum certo número de vantagens, como por exemplo um terreno favorável, um adversário vulnerável, uma população local que saiba impedir a fuga de informações, o cansaço do inimigo e o fato de ele estar desprevenido. É preciso pois que o inimigo avance, razão por que não devemos lamentar a perda temporária e parcial do nosso território. Com efeito, a perda temporária de parte do nosso território é o preço que nós pagamos pela preservação definitiva de todo o nosso território, incluída a reconquista dos territórios que tivermos perdido. No plano negativo, cada vez que somos reduzidos a uma posição desfavorável que ameaça sefetivamenteriamente a conservação das nossas forças, devemos ter a coragem de retirar para conservar as próprias forças e vibrar novos golpes sobre o inimigo, no momento mais oportuno. Como ignoram esse princípio, os “arrisca-tudo” continuam a bater-se por uma cidade ou por cada palmo de terreno, mesmo quando a situação em que se encontram é clara e definitivamente desfavorável, acabando não só por perderem a cidade e o palmo de terreno, mas ainda por falharem na conservação das suas próprias forças. Nós defendemos sempre a política de “levar o inimigo a penetrar profundamente no nosso território”, precisamente porque é essa a política militar mais eficiente a ser empregada contra um exército forte por um exército fraco que se encontre estratefetivamentegi-camente na defensiva.

95. Entre as formas de guerra a adotar na Guerra Anti-japonesa a guerra de movimento vem em primeiro lugar e a guerra de guerrilhas em segundo. Quando nós dizemos que, no conjunto da guerra, a guerra de movimento é o essencial e a guerra de guerrilhas o suplementar, queremos dizer que o resultado final da guerra depende principalmente da guerra regular, sobretudo na sua forma de guerra de movimento, enquanto que a guerra de guerrilhas não pode arcar com a maior responsabilidade relativamente ao resultado final. Mas isso não quer de maneira alguma dizer que o papel da guerra de guerrilhas é um papel sem importância na estratégia da Guerra de Resistência. Na estratégia dessa guerra considerada como um todo, o papel da guerra de guerrilhas é secundário apenas em comparação com o papel da guerra de movimento, pois sem o apoio da guerra de guerrilhas nós não podemos derrotar o inimigo. Ao falarmos assim, nós também temos no espírito a tarefa estratégica de desenvolver a guerra de guerrilhas em guerra de movimento. A guerra de guerrilhas não permanecerá imutável no decorrer da nossa guerra longa e cruel; ela atingirá um nível mais elevado, transformando-se em guerra de movimento. Desse modo, o papel estratégico da guerra de guerrilhas é duplo: apoiar a guerra regular e transformar-se em guerra regular. Dada a duração e extensão sem precedentes da guerra de guerrilhas no conjunto da Guerra de Resistência da China, é extremamente importante não subestimar o seu papel estratégico. Por consequência, a guerra de guerrilhas na China, além de problemas táticos, põe também problemas estratégicos particulares. Eu já examinei esse assunto no artigo intitulado “Problemas Estratégicos da Guerra de Guerrilhas contra o Japão”. Como se disse mais atrás, as formas da guerra nas três fases estratégicas são as seguintes: na primeira fase, a guerra de movimento é o essencial, enquanto que a guerra de guerrilhas e a guerra de posições são auxiliares; na segunda, a guerra de guerrilhas tomará o primeiro lugar, sendo auxiliada pela guerra de movimento e pela guerra de posições; na terceira, a guerra de movimento voltará a constituir a forma principal, sendo auxiliada pela guerra de posições e pela guerra de guerrilhas. Todavia, a guerra de movimento na terceira fase já não será realizada apenas pelas forças originariamente regulares; uma parte, e possivelmente uma parte importante, será realizada por forças que originariamente eram guerrilhas, mas que progrediram, passando da guerra de guerrilhas a guerra de movimento. O exame dessas três fases da Guerra de Resistência da China contra o Japão mostra que a guerra de guerrilhas é absolutamente indispensável. A nossa guerra de guerrilhas constituirá um espetáculo grandioso e sem paralelo nos anais das guerras. Por isso, dos milhões de soldados das forças regulares da China, é de todo necessário destinar pelo menos algumas centenas de milhar a dispersão no interior das áreas ocupadas pelo inimigo, a fim de mobilizarem as massas e levarem-nas a armar-se a si próprias, e fazerem em coordenação com estas uma guerra de guerrilhas. As forças regulares assim destacadas devem assumir com toda a consciência essa tarefa sagrada, e jamais pensar que o seu valor diminui pelo fato de terem de travar um número menor de grandes batalhas e não poderem, por um tempo, fazer figura de heróis nacionais. Um tal ponto de vista é errado. A guerra de guerrilhas não dá resultados tão rápidos nem tão grande renome como a guerra regular, mas “é numa grande viagem que se vê o vigor do corcel, e numa grande provação, o coração dos homens”. No decorrer da nossa guerra longa e encarniçada, a guerra de guerrilhas há-de mostrar as suas imensas potencialidades; de toda a certeza, não se trata duma empresa comum. Além disso, essas forças regulares podem fazer uma guerra de guerrilhas, dispersando-se, e uma guerra de movimento, concentrando-se, como tem feito o VIII Exército. Para o VIII Exército, o princípio é o que diz que “a guerra de guerrilhas é o essencial, mas não se deve perder qualquer oportunidade de fazer a guerra de movimento, desde que as circunstâncias sejam favoráveis”. Esse princípio é inteiramente justo; os pontos de vista que lhe são contrários é que estão errados.

96. Dado o grau de desenvolvimento técnico da China, a guerra de posições, seja ela defensiva ou ofensiva, é geralmente impraticável, sendo precisamente aí onde se manifesta a nossa fraqueza. Além disso, o inimigo também explora a vastidão do nosso território para tornear as nossas posições fortificadas. Assim, a guerra de posições não pode ser um meio importante, e muito menos o meio principal de fazermos a guerra. Contudo, na primeira e na segunda fases da guerra, é possível e necessário, dentro do quadro da guerra de movimento, empregar como meio auxiliar nas campanhas uma guerra de posições localizada. A “defesa móvel” com caráter semi-posicional constitui uma parte ainda mais indispensável da guerra de movimento, usada com o fim de resistir passo a passo ao inimigo, de maneira a esgotá-lo e a ganhar um tempo suplementar. A China deve esforçar-se por aumentar as suas disponibilidades em armas modernas, de modo a poder realizar inteiramente as suas tarefas de ataque posicionai na fase da sua contra-ofensiva estratégica. Nessa terceira fase, a guerra de posições ganhará sem dúvida uma grande importância pois, na altura, o inimigo passará a defesa enérgica das suas posições, não podendo nós reconquistar os territórios perdidos enquanto não desencadearmos poderosos ataques de posições, em coordenação com a guerra de movimento. De todas as maneiras, porém, nós devemos, durante essa terceira fase, despender os nossos maiores esforços para fazer da guerra de movimento a nossa forma principal de guerra. Com efeito, numa guerra de posições, como por exemplo a que se desenrolou na Europa Ocidental na segunda metade da Primeira Guerra Mundial, a arte de dirigir a guerra e o papel ativo do homem perdem a maior parte do seu valor. Por isso é natural que “a guerra deva sair das trincheiras”, quando ela tenha de fazer-se sobre os vastos territórios da China e quando o nosso próprio campo tenha de permanecer, por muito tempo ainda, pobremente equipado. Mesmo na terceira fase, quando a situação técnica da China seja melhor, esta não estará segura de poder ultrapassar o inimigo nesse, domínio, pelo que teremos de concentrar-nos numa guerra de elevado grau de mobilidade, sem o que a vitória final não poderá ser alcançada. Daí se conclui que, ao longo da Guerra de Resistência, a China não poderá adotar a guerra de posições como forma principal. As formas principais ou as formas importantes serão a guerra de movimento e a guerra de guerrilhas. Essas duas formas de guerra fornecerão um grande campo de desenvolvimento a arte de dirigir a guerra e ao papel ativo do homem, o que constitui uma grande felicidade no meio da nossa desgraça!

Guerra de Desgaste e Guerra de Aniquilamento

97. Como dissemos anteriormente, a essência ou o objetivo da guerra é conservar as forças próprias e destruir as do inimigo. Uma vez que há três formas de guerra para atingir esse objetivo, as quais são a guerra de movimento, a guerra de posições e a guerra de guerrilhas, e uma vez que, na prática, essas formas de guerra diferem quanto ao grau de eficácia, há que, em geral, fazer uma distinção entre a guerra de desgaste e a guerra de aniquilamento.

98. Para já, podemos dizer que a Guerra Anti-Japonesa é ao mesmo tempo uma guerra de desgaste e uma guerra de aniquilamento. Por que razão? Porque o inimigo ainda pode explorar a sua força e detêm a superioridade e a iniciativa estratégicas e, por consequência, a menos que realizemos campanhas e combates de aniquilamento, não poderemos reduzir com eficácia e rapidez a força do inimigo e eliminar a sua superioridade e iniciativa. Nós somos ainda fracos e não conseguimos pelo momento sair da nossa inferioridade e passividade estratégicas. Consequentemente, a não ser que realizemos campanhas e combates de aniquilamento, não poderemos ganhar tempo para melhorar a nossa situação interna e internacional e transformar a situação desfavorável em que nos encontramos. Sendo assim, as campanhas de aniquilamento são o meio de atingir o objetivo estratégico da guerra de desgaste. Nesse sentido, guerra de aniquilamento significa guerra de desgaste. O principal meio que a China tem para prosseguir na guerra prolongada é desgastar o inimigo pelo aniquilamento das forças deste.

99. O objetivo de desgaste estratégico, porém, pode ser também atingido por meio de campanhas de desgaste. Dum modo geral, a guerra de movimento realiza a tarefa de aniquilamento, a guerra de posições cumpre a tarefa de desgaste e a guerra de guerrilhas executa as duas tarefas simultânea-mente. As três formas de guerra distinguem-se pois umas das outras a esse respeito. Nesse sentido, a guerra de aniquilamento é diferente da guerra de desgaste. As campanhas de desgaste são auxiliares, mas de todas as maneiras necessárias numa guerra prolongada.

100. Do ponto de vista teórico e do ponto de vista das necessidades da China, e a fim de atingir o objetivo estratégico de desgastar profundamente as forças do inimigo, a China, na sua fase defensiva, deve não somente explorar a função de aniquilamento, que é preenchida principalmente pela guerra de movimento e em parte pela guerra de guerrilhas, mas também explorar a função de desgaste, a qual é preenchida principalmente pela guerra de posições (que em si mesma é suplementar) e em parte pela guerra de guerrilhas. Na fase de equilíbrio, devemos continuar a explorar as funções de aniquilamento e desgaste próprias da guerra de guerrilhas e da guerra de movimento, a fim de conseguirmos um desgaste ainda maior das forças do inimigo. Tudo isso se dirige a prolongar a guerra, a modificar gradualmente a balança geral de forças e a preparar as condições para a contra-ofensiva. Durante a contra-ofensiva estratégica, devemos continuar a empregar o método de desgaste por meio do aniquilamento, de maneira a expulsarmos por fim o inimigo.

101. A experiência dos últimos dez meses de guerra, porém, mostrou que, em grande número de campanhas, e mesmo na maior parte das campanhas, a guerra de movimento transformou-se praticamente numa guerra de desgaste e, em certas regiões, a guerra de guerrilhas não cumpriu na medida exigida a tarefa que lhe cabe no aniquilamento do inimigo. O aspeto positivo está no fato de termos ao menos desgastado as forças do inimigo, o que é importante tanto para a guerra prolongada como para a nossa vitória final, não tendo por isso o nosso sangue sido vertido cm vão. Os aspetos negativos são: primeiro, o fato de não termos desgastado suficientemente o inimigo e, segundo, o fato de termos sido incapazes de evitar pesadas perdas e termos realizado uma pequena presa de guerra. Embora devamos reconhecer que tal situação se explica por causas objetivas, como seja a disparidade entre nós e o inimigo em equipamento técnico e preparação militar, torna-se em todo o caso necessário, tanto na teoria como na prática, apelar para que as nossas forças principais realizem vigorosos combates de aniquilamento sempre que as circunstâncias sejam favoráveis. E muito embora as nossas unidades de guerrilhas tenham de travar combates de puro desgaste quando realizam tarefas específicas, como as de sabotagem e hostilização, torna-se necessário propor e realizar vigorosas campanhas e combates de aniquilamento sempre que as circunstâncias sejam favoráveis, de maneira a desgastar enormemente as forças do inimigo e reforçar o mais possível as nossas.

102. Aquilo a que nós chamamos “linhas exteriores”, “decisão rápida” e “ofensiva” nas ações ofensivas de decisão rápida nas linhas exteriores, assim como o termo “mobilidade” na guerra de movimento, encontra a sua máxima expressão operacional no emprego das táticas de cerco e movimento torneante. Daí a necessidade da concentração de forças superiores. Assim, a concentração das forças e o emprego das táticas de cerco e movimento torneante constituem condições prévias para a guerra de movimento, quer dizer, para as ações ofensivas de decisão rápida nas linhas exteriores. Tudo isso está orientado no sentido do aniquilamento das forças inimigas.

103. A força do exército japonês não está somente nas armas de que dispõe, mas também na preparação dos seus oficiais e soldados — o seu grau de organização, a confiança em si mesmos, confiança que lhes advém do fato de nunca terem sido batidos, a sua crença supersticiosa no Micado e nas forças sobrenaturais, a sua arrogância, o seu desprezo pelo povo chinês e outras caraterísticas semelhantes, resultado de longos anos de doutrinação pelos caudilhos militares japoneses e da tradição nacional do Japão. Essa é a principal razão por que fizemos tão poucos prisioneiros, muito embora tenhamos morto e ferido um grande número de soldados inimigos. Muita gente subestimou esse aspeto no passado. A eliminação dessas caraterísticas no seio do inimigo será um processo longo. A primeira coisa a fazer é dispensar uma séria atenção ao assunto, e depois, paciente e sistematicamente, trabalhar essa questão no campo político e nos campos da propaganda internacional e do movimento popular no Japão. No domínio militar, a guerra de aniquilamento é, bem entendido, um dos métodos dessa ação. Os pessimistas podem apoiar-se nessas caraterísticas do inimigo para fazer valer a sua teoria da subjugação inelutável da China, enquanto os especialistas militares de espírito passivo poderão encontrar uma base para se oporem a guerra de aniquilamento. Pelo contrário, nós sustentamos que todos esses pontos fortes do exército japonês podem ser destruídos e, aliás, já começaram a sê-lo. O principal método de destruição é a conquista dos soldados japoneses no domínio político. Em vez de ferirmos o seu orgulho, nós devemos compreendê-lo e canalizá-lo para a boa direção e, através dum tratamento generoso dispensado aos prisioneiros de guerra, levar os soldados japoneses a ver o caráter anti-popular da agressão perpetrada pelos dirigentes do Japão. Por outro lado, há que demonstrar aos soldados japoneses o espírito indomável e a combatividade heroica e tenaz do exército e do povo chinês, quer dizer, devemos vibrar-lhes golpes destruidores nos vários combates de aniquilamento. A nossa experiência dos dez últimos meses de guerra prova que efetivamente possível aniquilar as forças inimigas, como teste munham as batalhas de Pinsinquan, Teltchuam e outras. O moral do exército japonês começa a oscilar, os seus soldados não compreendem o objetivo da guerra, são envolvidos pelos exércitos e pelo povo chinês, durante os assaltos dão provas de muito menor coragem que os soldados chineses, etc. Tudo isso são fatores objetivos favoráveis a realização de combates de aniquilamento, fatores que, além do mais, hão-de desenvolver-se constantemente, a medida que a guerra se for prolongando. Quanto a liquidação da altivez arrogante do inimigo através de combates de aniquilamento, temos a dizer que tais combates são uma das condições prévias para a abreviação da guerra e a aceleração da emancipação dos soldados e do povo japonês. Os gatos só se fazem amigos dos gatos; em nenhuma parte do mundo os gatos se fazem amigos dos ratos.

104. Por outro lado, há que admitir que, presentemente, nós somos inferiores ao inimigo em equipamento técnico e em preparação militar. Por consequência, é muitas vezes difícil obter um aniquilamento máximo, como seja a captura do conjunto ou da maior parte duma formação inimiga, especialmente quando se trava combate nas planícies. As exigências excessivas nesse sentido por parte dos defensores da teoria da vitória rápida são igualmente erradas. O que se deve justamente exigir as nossas forças na Guerra Anti-japonesa é que elas travem tantos combates de aniquilamento Quantos sejam possíveis. Em circunstâncias favoráveis, devemos concentrar forças superiores em cada combate, e empregar táticas de cerco e movimento torneante — cercar parte se não for possível cercar todas as forças inimigas, capturar parte se não for possível capturar todas as forças cercadas, e infligir pesadas perdas as tropas cercadas se não for possível capturá-las. Em circunstâncias desfavoráveis para combates de aniquilamento, devemos travar combates de desgaste. Em circunstâncias favoráveis ao primeiro tipo de combate, devemos empregar o princípio da concentração de forças, enquanto que, no segundo caso, devemos empregar o princípio da dispersão. Quanto ao comando das operações durante as campanhas, há que aplicar o princípio do comando centralizado no primeiro caso e o da descentralização no segundo. Tais são os princípios de base para as ações de combate na Guerra de Resistência contra o Japão.

A Possibilidade de Explorar os Erros do Inimigo

105. Mesmo no seio do comando inimigo nós podemos encontrar possibilidades de vitória sobre o Japão. A História nunca viu um general infalível. O inimigo comete erros, assim como nós próprios só muito dificilmente podemos deixar de cometê-los; daí a possibilidade de explorarmos os erros cometidos pelo inimigo. Nos dez meses da sua guerra de agressão, o inimigo cometeu muitos erros táticos e estratégicos. Vamos sublinhar apenas os cinco mais importantes.

Primeiramente, o reforço das suas tropas por pequenas quantidades. Isso é devido a subestimação da China por parte do inimigo, bem como a sua insuficiência de tropas. O inimigo olhou-nos sempre com desprezo. Depois de ter invadido sem grande dificuldade as quatro províncias do Nordeste, ele ocupou o Hopei oriental e o Tchahar setentrional, podendo considerar-se tudo isso como um simples reconhecimento estratégico da sua parte. A conclusão a que chegou foi a de que a China não era mais do que uma montanha de areia. Depois, pensando que a China cairia ao primeiro golpe, elaborou um plano de “decisão rápida”, esperando fazer-nos fugir de pânico com a simples utilização dumas quantas unidades. Ele não esperava encontrar uma tão grande união nem uma tão grande capacidade de resistência como a que a China tem demonstrado nestes dez meses de guerra, e esqueceu-se de que a China está atualmente numa era de progresso e já possui um partido político de vanguarda, um exército de vanguarda e um povo também de vanguarda. Uma vez que se viu em má situação, o inimigo passou a aumentar aos poucos as suas forças, fazendo-as passar de um pouco mais de dez a trinta divisões. Se ele quiser avançar, será obrigado a aumentar ainda mais as suas forças. Todavia, dado o seu antagonismo com a União Soviética e a insuficiência, natural nele, de recursos humanos e financeiros, há um limite máximo inevitável para o número de homens que o Japão pode pôr de pé, assim como para a extensão da sua ofensiva.

Em segundo lugar, a ausência duma direção principal de ataque. Antes da campanha de Teltchuam, o inimigo tinha distribuído as suas forças, mais ou menos igualmente, entre o Norte da China e a China Central, redistribuindo-as também igualmente no interior de cada uma dessas duas áreas. No Norte da China, por exemplo, ele dividiu as suas forças entre as linhas férreas de Tientsim-Pucou, Pepim-Hancou e Tatom-Pudjou, ao longo das quais sofreu perdas e fixou guarnições, com o que ficou sem tropas para prosseguir no avanço. Depois da derrota de Teltchuam, que lhe serviu de lição, ele concentrou as forças principais na direção de Siu-djou, corrigindo temporariamente o erro.

Em terceiro lugar, falta de coordenação estratégica. Dentro de cada um dos dois grupos de forças do inimigo, no Norte da China e na China Central, havia, é certo, uma dada coordenação, que não existia no entanto entre os dois grupos. Quando as suas forças do setor sul da linha férrea Tientsim-Pucou atacaram Siaopampu, as do setor norte não se mexeram, e quando as do setor norte atacaram Teltchuam, as do setor sul não fizeram qualquer movimento. Quando o inimigo sofreu graves derrotas nesses dois setores, o ministro do Exército do Japão apresentou-se a fazer uma inspeção, e o chefe do Estado-Maior Geral japonês acorreu para dirigir as operações, dando assim a impressão de que, no momento, havia uma coordenação. A classe dos senhores de terras, a burguesia e os caudilhos militares do Japão estão divididos por sérias contradições, entre si e internamente, contradições que se agravam cada vez mais, sendo a falta de coordenação militar uma das manifestações concretas desse fato.

Em quarto lugar, o fato de terem deixado passar certas oportunidades estratégicas. Essa falta foi claramente manifestada na pausa que o inimigo teve de fazer, depois da ocupação de Nanquim e Tai-iuan, principalmente em razão da sua insuficiência em tropas, e por falta duma força estratégica de perseguição.

Em quinto lugar, o cerco de grandes formações, mas o aniquilamento de poucos homens. Antes da batalha de Teltchuam, nas campanhas de Xangai, Nanquim, Tsandjou, Paotim, Nancou, Sincou e Linfen, muitas formações chinesas foram derrotadas, mas muito poucos soldados foram feitos prisioneiros, o que mostra a torpeza do comando inimigo.

Esses cinco erros — reforço por pequenas quantidades, ausência duma direção principal de ataque, falta de coordenação estratégica, não aproveitamento de oportunidades estratégicas e cerco de grandes formações mas aniquilamento de poucos soldados — testemunham todos da incompetência do comando japonês, anteriormente a batalha de Teltchuam. Muito embora o inimigo tenha, a partir de então, feito certas correções, ele não pode deixar de repetir as faltas em virtude da sua insuficiência de tropas, das suas contradições internas e demais fatores. Aliás, o que ganha num ponto perde noutro. Por exemplo, quando concentrou em Siudjou as suas forças do Norte da China, ele deixou um grande vazio nas áreas que ocupava no Norte, o que nos deu a oportunidade de ali desenvolver, livremente, a nossa guerra de guerrilhas. Esses erros foram todos cometidos por livre ação do inimigo, não foram provocados por nós. Por nossa vez, nós podemos, deliberadamente, fazer com que ele cometa erros, quer dizer, nós podemos enganá-lo e manobrá-lo até a posição que nos convenha, por meio de movimentos hábeis e eficazes, cobertos por uma população local bem organizada, como seja o “fazer uma finta a leste para atacar a oeste”. Essa possibilidade já foi analisada mais atrás. Tudo quanto se disse mostra que até no seio do comando inimigo podemos encontrar possibilidades de vitória. Claro que não devemos fazer disso uma base importante para os nossos planos estratégicos; pelo contrário, a via segura a adotar consiste em elaborar os nossos planos pensando que o inimigo apenas cometerá um número reduzido de erros. Além disso, o inimigo pode explorar os nossos erros tal como nós podemos explorar os que ele vai cometendo. Constitui pois tarefa do nosso comando fazer com que este não tenha mais do que um mínimo de oportunidades para isso. Efetivamente, o inimigo cometeu erros, há-de continuar a cometê-los no futuro, e pode ainda cometer mais em resultado dos nossos próprios esforços nesse sentido. «Todos esses erros podem ser explorados, razão por que os nossos comandantes da Guerra de Resistência devem fazer o seu máximo no sentido de aproveitar todas as oportunidades. Todavia, muito embora no plano estratégico e no plano das campanhas haja muitos defeitos no comando inimigo, este demonstra no entanto muita habilidade na direção dos combates, isto é, na tática de combate das unidades e das pequenas formações, havendo portanto muito que aprender com ele a esse respeito.

A Questão dos Combates Decisivos na Guerra Anti-japonesa

106. A questão dos combates decisivos na Guerra Anti-japonesa deve ser vista sob três aspetos: devemos procurar resolutamente a decisão em cada campanha ou combate sempre que estamos seguros da vitória; devemos evitar a decisão em cada campanha ou combate quando não estamos seguros da vitória; e devemos evitar em absoluto uma decisão estratégica quando a sorte do país está em jogo. As caraterísticas que diferenciam a nossa Guerra de Resistência contra o Japão das demais guerras manifestam-se igualmente nessa questão dos combates decisivos. Na primeira e na segunda fases da guerra, que se caraterizam pela força do inimigo e pela nossa fraqueza, o objetivo do adversário é fazer com que concentremos as nossas forças principais para um combate decisivo. O nosso objetivo é precisamente o contrário. Nós desejamos escolher condições que nos sejam favoráveis, concentrar forças superiores e realizar campanhas e combates decisivos apenas quando estamos seguros da vitória, como foi o caso em Pinsinquan, Teltchuam e outros combates. Desejamos evitar os combates decisivos em condições desfavoráveis, quando não estamos seguros de vencer; foi essa a política que adotámos em Tchante e outras campanhas. Quanto a travar um combate estratefetivamente-gicamente decisivo em que esteja em jogo o destino da nação, pura e simplesmente não o fazemos, como bem exemplifica a recente retirada de Siudjou. Assim, o plano inimigo para uma “decisão rápida” foi completamente arruinado, tendo-o nós obrigado a fazer uma guerra prolongada. Tais princípios são impraticáveis num país de pequeno território, e dificilmente realizáveis num país que seja muito atrasado do ponto de vista político. Eles são contudo aplicáveis na China, que é um vasto país e atravessa uma era de progresso. Se evitamos um combate estratégicamente decisivo é natural que venhamos a perder uma parte do nosso território, mas, como diz o provérbio, “enquanto existirem montanhas verdes, não há razão para recear faltas de lenha”, nós disporemos sempre dum vasto território para manobrar, podendo pois esperar e agir aceleradamente, de maneira que, com o tempo, o nosso país progrida, a ajuda internacional aumente e se produza a desagregação no interior do campo inimigo. Eis, para nós, a melhor política a seguir na Guerra de Resistência contra o Japão. Incapazes de aguentar a difícil provação duma guerra prolongada, ç ansiosos dum sucesso rápido, os impacientes defensores da teoria da vitória rápida reclamam a grandes gritos uma decisão estratégica sempre que a situação se apresenta de algum modo favorável. Agir como eles querem seria provocar um prejuízo incalculável ao conjunto da guerra, liquidar a guerra prolongada e cair em cheio na armadilha tecida pelo inimigo. Na realidade, esse seria o pior dos planos de guerra. Sem dúvida que se nós evitamos o combate decisivo temos de perder territórios, e devemos ter a coragem para fazê-lo quando (e só quando) isso se afigure inevitável. Em tais momentos, não devemos sentir o mínimo pesar, uma vez que abandonar territórios para ganhar tempo é uma política correta. A História ensina-nos que a Rússia procedeu a uma corajosa retirada para evitar uma batalha decisiva, acabando depois por vencer a Napoleão(24), o terror daquela época. A China deve agir da mesma maneira nos dias de hoje.

107. Acaso teremos nós medo de ser denunciados como defensores da “não resistência”? Não, não temos medo disso. Não combater em absoluto e realizar um compromisso com o inimigo é que é não resistência, a qual não só deve ser denunciada como ainda considerada inteiramente inadmissível. Nós devemos prosseguir enefetivamentergicamente a Guerra de Resistência, contudo, é absolutamente indispensável evitar as armadilhas que o inimigo nos prepara, e jamais expor o grosso das nossas forças a um golpe que se repercutiria sobre todo o curso ulterior da guerra, numa palavra, tudo para impedir a subjugação do país. Ter dúvidas sobre esse ponto é ser míope na questão da guerra, é caminhar seguramente para o campo dos defensores da subjugação inelutável da China. Nós criticámos a tese dos arrisca-tudo, que manda “apenas avançar e nunca retirar”, precisamente porque, se ela se generaliza, tornará impossível a continuação da Guerra de Resistência e conduzirá, no fim de contas, a subjugação nacional.

108. Nós somos pelos combates decisivos sempre que as condições são favoráveis, quer se trate de combates quer se trate de campanhas de maior ou menor importância, não se devendo de maneira alguma tolerar a passividade a esse respeito. Somente através de tais combates decisivos podemos atingir o objetivo do aniquilamento ou desgaste das forças inimigas, devendo cada combatente anti-japonês dar resolutamente a sua contribuição nesse sentido. Para atingir um tal objetivo são necessários consideráveis sacrifícios parciais; tentar evitar todo e qualquer sacrifício é uma atitude própria dos cobardes e dos que tremem com medo do Japão, o que deve ser firmemente combatido. A execução de Li Fu-im, Han Fu-tsiu e outros fujões é justa. Dentro do quadro duma correta planificação militar, é absolutamente indispensável exaltar a valentia e o sacrifício heroico de si próprio, sem o que a guerra prolongada e a vitória definitiva serão impossíveis. Nós condenámos enefetivamentergicamente a atitude dos fujões que consiste em “retirar constantemente e nunca avançar”, e somos por uma disciplina severa, precisamente porque não é possível vencer um poderoso inimigo a não ser buscando heroicamente a decisão segundo um plano coiyretamente elaborado. A atitude dos fujões não é mais do que um apoio direto a teoria da subjugação inelutável da China.

109. E não haverá acaso contradição entre o lutar .heroicamente e depois abandonar o território? Não estaremos a verter inutilmente o nosso sangue nesses combates heroicos? Postas assim, as perguntas são totalmente absurdas. Comer para depois evacuar, acaso não será comer em vão? Adormecer para depois acordar, não será adormecer em vão? Porventura será correto pôr assim os problemas? Eu penso que não. Pensar que uma vez que se come, deve-se comer sem parar, uma vez que se dorme, deve-se dormir sem parar, uma vez que se luta heroicamente, deve-se lutar sem parar até chegarmos ao rio Ialu, é uma ilusão própria dos subjetivistas e dos formalistas, pois, na vida real, as coisas não são assim. Como todos sabem, embora os combates sangrentos com vista a ganhar tempo e a preparar a contra-ofensiva não possam impedir que se abandone uma parte do nosso território, eles permitem-nos ganhar tempo, dão-nos a possibilidade de atingirmos o nosso objetivo que é aniquilamento e o desgaste das forças do inimigo, a possibilidade de ganharmos experiência militar, de levarmos ao combate as massas populares que ainda não estão envolvidas na luta, bem como de reforçarmos a nossa posição na arena internacional. Nessas circunstâncias acaso poderá dizer-se que o nosso sangue esteja a ser vertido em vão? Claro que não. O território é abandonado a fim de preservarmos as nossas forças militares e, portanto, a fim de conservarmos o território, na medida em que, se não abandonamos parte do território quando as condições são desfavoráveis, e travamos cegamente o combate decisivo, sem a menor garantia de vitória, acabamos por perder as nossas forças militares e, por consequência, ficamos incapazes de evitar a perda da totalidade do nosso território e, por maior razão ainda, ficamos incapazes de reconquistar os territórios perdidos. Um capitalista necessita de capitais para fazer marchar os seus negócios; se ele perde todo o capital que possui, deixa de ser capitalista. Até um jogador precisa de ter dinheiro para jogar, mas se ele arrisca tudo em uma só cartada, e se a sorte o abandona, não poderá continuar a jogar. Os acontecimentos seguem sempre uma linha sinuosa e nunca uma linha reta. Isso também é verdade para a guerra. Só os formalistas é que não podem compreender essa verdade.

110. Eu penso que o que se disse atrás vale também quanto a decisão na fase da contra-ofensiva estratégica. Muito embora nessa altura o inimigo esteja numa posição de inferioridade e nós em superioridade, o princípio de “travar os combates decisivos que nos são rendosos e evitar os que nos são prejudiciais” será ainda aplicável, e continuará a sê-lo até ao momento em que os nossos combates nos tenham levado ao rio Ialu. Esse é o processo de conservarmos a iniciativa desde o começo até ao fim. Quanto aos “desafios” do inimigo e os “ditos” de terceiras pessoas, nós devemos afastá-los com desdém, não prestar a tudo isso a menor atenção e manter-nos firmes. Na Guerra de Resistência só serão considerados valentes e sensatos os comandantes que derem provas duma tal firmeza. Esse não é o caso das pessoas que “se inflamam como a pólvora”, a primeira chispa. Embora estejamos estrategicamente numa posição mais ou menos passiva nesta primeira fase da guerra, devemos lutar para deter a iniciativa em cada campanha, assim como devemos lutar para guardá-la ao longo de todas as demais fases. Nós somos pela guerra prolongada e pela vitória final; não somos jogadores que arriscam tudo em uma só cartada.

O Exército e o Povo como Base da Vitória

111. O imperialismo japonês jamais relaxará a sua agressão e repressão contra a China revolucionária. E a sua própria natureza imperialista que faz com que isso se passe assim. Se a China não resiste, o Japão ocupará facilmente toda a China sem ter de disparar um único tiro, como aconteceu com relação as quatro províncias do Nordeste. Se a China resiste, é uma lei inexorável que o Japão tentará liquidar essa resistência até ao momento em que a sua força de repressão seja ultrapassada pela força de resistência da China. A classe dos senhores de terras e a burguesia do Japão são muito ambiciosas; elas adotaram a política de romper pelo centro, atacando primeiramente a China, a fim de se expandirem em direção do sul, as ilhas do arquipélago Malaio, e em direção do norte, a Sibéria. Os que pensam que o Japão sabe quando deve parar e que se contentará com a ocupação do Norte da China e das províncias de Quiansu e Tchequiam, não conseguiram de maneira alguma compreender que o imperialismo japonês, que já entrou numa nova fase e se aproxima da extinção, difere do Japão do passado. Quando dizemos que há um limite preciso para a quantidade de homens que o Japão pode pôr em pé de guerra, assim como para a extensão do seu avanço, nós queremos dizer que, com as forças de que dispõe, o Japão só pode usar contra a China uma parte das suas forças e só pode penetrar na China até onde a sua capacidade lho permitir, e isso porque ele pretende atacar em outras direções e tem também que defender-se contra outros inimigos. Quanto a China, como se encontra numa via de progresso e é capaz de resistir enefetivamentergica-mente, é inconcebível que os furiosos ataques desencadeados pelos japoneses não se deparem com a inevitável resistência por parte dela. O Japão não pode ocupar a totalidade da China, mas isso não quer dizer que ele não fará todos os esforços para liquidar a resistência desta em todas as regiões que lhe seja possível atingir, não parando senão no momento em que a evolução dos fatores internos e externos o empurrar diretamente para a crise que lhe será fatal. Só há duas saídas possíveis para a situação política interna do Japão. Ou se regista rapidamente a queda das classes dirigentes, o poder político passa para as mãos do povo e a guerra cessa, o que é impossível no momento, ou então a classe dos senhores de terras e a burguesia tornam-se cada vez mais fascistas e continuam a guerra até ao dia da sua queda final, o que é, no fundo, o caminho que o Japão está seguindo atualmente. Não pode haver outra saída. Os que esperam que os moderados no seio da burguesia japonesa tomem a dianteira e façam cessar a guerra, não alimentam mais do que vãs ilusões. Durante muitos anos a realidade da política japonesa tem sido tal que os burgueses moderados são prisioneiros dos senhores de terras e dos grandes da finança. Agora que o Japão passou a guerra de agressão contra a China, se a resistência não lhe vibrar um golpe mortal, se lhe restarem ainda forças suficientes, ele desencadeará de certeza uma ofensiva contra o Sudeste Asiático ou contra a Sibéria, ou até mesmo contra ambos. O Japão agirá assim logo que a guerra estale na Europa. Nos seus cálculos ambiciosos, os governantes do Japão planearam tudo isso em escala grandiosa. Claro que é possível que o Japão tenha de renunciar ao seu plano original de invasão da Sibéria, adotando uma atitude principalmente defensiva com relação a União Soviética, em consequência do poderio desta e do sério grau de debilidade em que ele se encontrará como resultado da guerra contra a China. Nesse caso, porém, longe de relaxar a agressão contra a China, ele intensificá-la-á, pois, nessa altura, o único caminho que lhe resta é o de tragar o país mais fraco. Então, a tarefa da China de perseverar na Guerra de Resistência, na Frente Única e na guerra prolongada tornar-se-á ainda mais importante, sendo mais do que nunca necessário não permitir a menor diminuição dos nossos esforços.

112. Nessas circunstâncias, a condição essencial da vitória da China sobre o Japão é a unidade da nação inteira e o progresso decuplicado ou centuplicado em todos os domínios. A China já se encontra numa era de progresso, tendo alcançado além disso uma esplêndida unidade; simplesmente esse progresso e essa unidade ainda não são suficientes. O fato de o Japão ter podido ocupar um território tão vasto é devido não apenas a sua força, mas também a fraqueza da China. No seu conjunto, essa fraqueza é o resultado dos efeitos acumulados de vários erros históricos cometidos nos últimos cem anos, especialmente nos últimos dez anos, os quais confinaram o progresso dentro dos limites atuais. Não é possível vencer um inimigo assim tão forte sem despender um esforço intenso e a longo prazo. Há muitas coisas que temos de a-prender a executar. Eu apenas falarei de dois aspetos fundamentais, que são o progresso do exército e o progresso do povo.

113. A reforma do nosso sistema militar requer a sua modernização, o melhoramento do seu equipamento técnico, sem o que não poderemos expulsar o inimigo para lá do rio Ialu. Na utilização das tropas nós necessitamos duma estratégia e duma tática progressistas e flexíveis, sem o que não poderemos igualmente conquistar a vitória. Todavia, os soldados são a base dum exército. Enquanto eles não estiverem imbuídos dum espírito político progressista, e enquanto esse espírito não lhes for inculcado através dum trabalho político progressista, torna-se impossível alcançar uma autêntica unidade entre oficiais e soldados, despertar-lhes um máximo de entusiasmo pela Guerra de Resistência, assim como se torna impossível garantir uma boa base para obter a máxima eficácia da nossa técnica e das nossas táticas. Quando dizemos que o Japão será finalmente derrotado a despeito da sua superioridade técnica, nós queremos dizer que os golpes que lhe assestaremos com os combates de aniquilamento e desgaste, além de lhe infligirem perdas, afetarão por fim o moral do exército inimigo, cujas armas não estão em mãos de soldados politicamente conscientes. Pelo nosso lado, ao contrário, oficiais e soldados estão unidos quanto ao objetivo político da Guerra de Resistência. Isso dá-nos uma base para o trabalho político no seio de todos os exércitos em luta contra os invasores japoneses. É necessário realizar uma certa democratização no exército; o essencial é abolir a prática feudal de bater e insultar, e conseguir que os oficiais e soldados compartilhem as penas e as alegrias na vida diária. Assim conseguir-se-á a unidade entre os oficiais e soldados, elevar-se-á extraordinariamente a capacidade de combate do exército e não haverá a menor dúvida quanto a possibilidade de sustentarmos uma guerra longa e cruel.

114. A maior fonte de energia para a guerra está nas massas populares. É principalmente por causa do estado de inorganização das massas populares chinesas que o Japão ousa violentar-nos. Assim que essa falha for eliminada, o agressor japonês, tal como um búfalo selvagem caído num anel de fogo, ver-se-á cercado pelas centenas de milhões de homens que constituem o nosso povo em pé, bastando que gritemos para que ele se lance em pânico na fogueira, e seguramente morrerá queimado. Os exércitos chineses necessitam duma corrente ininterrompida de reforços; há que acabar com o abuso da “caçada” e “compra”(25) de substitutos que atualmente se verifica nos escalões inferiores, e substituí-lo por uma ampla e ardente mobilização política. Assim, não será difícil chegar a poder alistar os homens aos milhões. Atualmente, nós temos dificuldades em conseguir os fundos necessários para Guerra de Resistência mas, uma vez que o povo seja mobilizado, as próprias finanças deixarão de constituir um problema. Como é que um país tão grande e com uma população tão numerosa pode sofrer de falta de fundos? O exército deve fundir-se com o povo, de maneira que este o veja como sendo o seu próprio exército. Um exército assim é invencível, e não será um país imperialista como o Japão que poderá medir-se com ele.

115. Muitos pensam que são os métodos errados que fazem com que não haja boas relações entre oficiais e soldados e entre exército e povo; quanto a mim, eu tenho sempre afirmado que se trata duma questão de atitude fundamental (ou de princípio fundamental), a qual consiste em ter respeito pelos soldados e pelo povo. É dessa atitude que decorrem as várias políticas, métodos e formas adequadas. Se nos afastamos de tal atitude, as políticas, os métodos e as formas serão seguramente errados e as relações entre os oficiais e soldados e entre o exército e o povo não poderão de modo algum ser boas. Os três grandes princípios para o trabalho político no exército são: primeiro, a unidade entre oficiais e soldados, segundo, a unidade entre o exército e o povo e, terceiro, a desintegração das forças inimigas. Para aplicar com eficácia esses princípios, devemos começar por essa atitude fundamental de respeito pelos soldados e pelo povo, e de respeito pela dignidade humana dos prisioneiros de guerra que tenham deposto as armas. Os que tomam tudo isso como sendo uma questão técnica e não como uma atitude fundamental estão efetivamente enganados e devem corrigir o seu erro.

116. Agora que a defesa de Vuhan e outros pontos se tornou urgente, constitui tarefa da máxima importância despertar a iniciativa e o entusiasmo da totalidade do exército e do povo, a fim de que apoiem a guerra. Não há dúvidas de que a tarefa de defesa de Vuhan e outros pontos deve ser sefetivamenteriamente apresentada e cumprida. Simplesmente, a questão de saber se poderemos de fato cumpri-la não depende da nossa vontade, mas sim das condições concretas. A mobilização política da totalidade do exército e do povo para a luta é uma das mais importantes dentre essas condições. Se não fazemos um esforço intenso para garantir todas essas condições, se nos falha uma só dessas condições, os desastres como a perda de Nanquim e outras localidades estão condenados a repetir-se. Onde será o Madrid chinês? Lá onde se criarem as mesmas condições que em Madrid. Até agora nós ainda não tivemos o nosso Madrid, mas temos de lutar por criar alguns Madrid. A possibilidade de fazê-lo, porém, depende das condições, sendo a mais importante dentre elas uma ampla mobilização política da totalidade do exército e do povo.

117. Em todo o nosso trabalho nós devemos perseverar na orientação geral de frente única nacional anti-japonesa. Com efeito, só com essa Política é que podemos perseverar na Guerra de Resistência e na guerra prolongada, conseguir uma melhoria geral e profunda das relações entre os oficiais e os soldados e entre o exército e o povo, despertar no máximo a iniciativa e o entusiasmo do exército e do povo inteiros, na luta pela defesa do território que ainda se encontra nas nossas mãos e pela reconquista do território que perdemos, conquistando finalmente a vitória.

118. Sem dúvida, essa questão da mobilização política da totalidade do exército e do povo é uma questão da máxima importância. Se nós voltamos tantas vezes a ela, mesmo com riscos de cair numa repetição, é precisamente porque, sem isso, a vitória é impossível. Claro que existem outras condições indispensáveis a vitória, mas a mobilização política é a fundamental. A Frente Única Nacional Anti-japonesa é a frente única de todo o exército e de todo o povo, e de maneira nenhuma uma frente única dos quartéis generais e dos membros de uns quantos partidos políticos. O nosso principal objetivo ao iniciarmos a criação da Frente Única Nacional Anti-japonesa é mobilizar a totalidade do exército e do povo, para que participem nela.

Conclusões

119. Quais são as nossas conclusões? Ei-las: “Em que condições poderá a China derrotar e destruir as forças do imperialismo japonês? Três condições são exigidas: primeiro, o estabelecimento duma frente única anti-japonesa na China; segundo, o estabelecimento no plano internacional duma frente única anti-japonesa; terceiro, o avanço do movimento revolucionário dos povos do Japão e das colónias japonesas. Do ponto de vista do povo chinês, dessas três condições a principal é a grande aliança do próprio povo chinês.” “Quanto tempo... a guerra pode durar? Isso depende da força da Frente Única Anti-japonesa da China e de muitos outros fatores decisivos que envolvem a China e o Japão.” “Se essas condições não são rapidamente realizadas, a guerra durará mais tempo. De todas as maneiras, porém, o resultado será sempre o mesmo: o Japão será necessariamente derrotado e a China alcançará, necessariamente, a vitória. Simplesmente o sacrifício será maior e haverá um período doloroso a atravessar.” “A nossa estratégia deve consistir no emprego das nossas forças principais para operar sobre uma frente vasta e instável. Para obterem êxito, as forças chinesas devem fazer uma guerra de alto grau de mobilidade, em amplos teatros de guerra.” “Além de empregarmos tropas treinadas para a guerra de movimento, devemos organizar numerosas unidades de guerrilhas entre os camponeses.” “No decorrer da guerra, a China ... reforçará gradualmente o equipamento das suas tropas. Em consequência, a China poderá fazer uma guerra de posições no último período da guerra e lançar ataques de posições nas áreas ocupadas pelos japoneses. Desse modo, a economia japonesa decompor-se-á em resultado da resistência prolongada da China, e o ®oral das suas tropas quebrar-se-á sob a pressão de incontáveis combates de desgaste. Do lado chinês, as potencialidades da resistência ao Japão entrarão cada vez mais em jogo, e grandes levas de revolucionários precipitar-se-ão ininterruptamente para a frente, lutando pela sua própria liberdade. A conjugação desses e doutros fatores tornar-nos-á capazes de lançar ataques finais decisivos contra as fortificações e as bases situadas nas áreas ocupadas pelo Japão, e rechaçar da China as forças japonesas de agressão.” (Extrato duma entrevista com Edgar Snow, em Julho de 1936). “Assim, a situação política da China entrou numa nova fase . .. Na fase atual, a tarefa central consiste em mobilizar todas as forças da nação para a vitória na Guerra de Resistência.” “A chave da vitória na guerra está em desenvolver a resistência que já começou numa guerra geral de toda a nação. A vitória final só pode ser ganha por meio dessa guerra geral de resistência de toda a nação.” “O fato de existirem sérias debilidades na Guerra de Resistência pode conduzir a muitos reveses, retiradas, cissões internas, traições, compromissos temporários e parciais, bem como a outras situações desfavoráveis no decurso dessa guerra. Assim, há que prever uma guerra árdua e prolongada. Todavia, nós confiamos em que, com os esforços do nosso Partido e do conjunto do povo do país, a resistência agora começada varrerá todos os obstáculos do seu caminho e continuará a avançar e a desenvolver-se.” (“Resolução sobre a Situação Atual e as Tarefas do Partido”, adotada pelo Comité Central do Partido Comunista da China, em Agosto de 1937). Eis as conclusões. Para os defensores da subjugação inelutável da China, os inimigos são super-homens e os chineses, bonecos de palha, enquanto que para os teóricos da vitória rápida os chineses são super-homens e os inimigos, bonecos de palha. Ambos estão errados. Nós adotamos um ponto de vista diferente: a Guerra de Resistência contra o Japão será uma guerra prolongada e a vitória final pertencerá a China. Essas são as nossas conclusões.

120. O meu ciclo de conferências termina aqui. A grande Guerra de Resistência contra o Japão está a desenvolver-se e muita gente anseia por uma síntese da experiência adquirida, a fim de facilitar a conquista da vitória total. Tudo o que examinei é apenas a experiência geral dos dez meses que transcorreram; talvez isso possa servir como uma espécie de resumo. O problema da guerra prolongada é uma questão que merece a maior atenção e deve constituir objeto dum mais largo debate. Eu não apresentei aqui senão as linhas gerais da questão, e espero que os camaradas as examinem, as discutam, as emendem e as completem.


Notas:

(1) Lucouquiao encontra-se a um pouco mais de dez quilómetros a sudoeste de Pequim. No dia 7 de Julho de 1937, o exército invasor japonês lançou um ataque contra as forças armadas chinesas que aí estavam de guarnição, as quais, influenciadas pelo ardor anti-japonês da totalidade do povo do país, passaram à resistência. A partir desse momento, começou a heróica Guerra de Resistência do povo chinês, que iria durar oito anos. (retornar ao texto)

(2) A teoria da subjugação nacional traduzia os pontos de vista do Kuomintang, o qual não queria resistir a invasão japonesa, só o fazendo mais tarde, quando se viu constrangido a isso. Após o Incidente de Lucouquiao, o grupo de Tchiang Kai-chek foi obrigado a participar na Guerra de Resistência. A teoria da subjugação nacional tinha como representantes indivíduos tais como Uam Tsim-vei, os quais tinham a intenção de capitular diante do Japão, e acabaram por fazê-lo, afetivamente, mais tarde. Tal teoria não existia apenas no seio do Kuomintang; a sua influência fazia-se sentir igualmente no seio de algumas das camadas médias e até entre as camadas atrasadas de trabalhadores. Tudo isso se explica pelo fato da corrupção e incapacidade do governo do Kuomintang, e ainda pelas derrotas repetidas que este sofria na guerra, em contraste com a progressão rápida do exército japonês, o qual chegou as imediações de Vuhan ainda no decurso do primeiro ano da guerra. Tal situação provocou sentimentos marcadamente pessimistas nas camadas mais atrasadas da população. (retornar ao texto)

(3) Trata-se de opiniões que existiam nas fileiras do Partido Comunista da China. Nos seis primeiros meses da Guerra de Resistência contra o Japão, manifestou-se no seio do Partido uma tendência para subestimar as forças do inimigo. Alguns camaradas eram de opinião que o Japão sucumbiria ao primeiro golpe. Não é que estimassem demasiado grandes as nossas forças, pois eles sabiam que, ao contrário, nesse tempo, as tropas e as massas populares organizadas, dirigidas pelo Partido Comunista, eram ainda fracas. Eles partiam da ideia de que o Kuomintang participava na Guerra de Resistência e dispunha, ao que lhes parecia, de grandes forças capazes de derrotar os invasores japoneses, agindo em combinação com as forças do Partido Comunista. Eles não viam senão um aspeto das coisas, a participação temporária do Kuomintang na resistência, esquecendo o outro, o caráter reacionário e a corrupção que o caraterizavam. Assim se formou essa apreciação errada sobre a situação. (retornar ao texto)

(4) Tal era o ponto de vista de Tchiang Kai-chek e respetivo bando. Obrigado a prosseguir a Guerra de Resistência, o Kuomintang de Tchiang Kai-chek, que não tinha confiança nas suas próprias forças e muito menos ainda nas forças do povo, punha todas as esperanças na obtenção rápida duma ajuda exterior. (retornar ao texto)

(5) Teltchuam, vila situada na parte meridional da província de Xantum. Em Março de 1938, desenrolou-se uma batalha na região de Teltchuam, entre o exército chinês e as tropas de invasão japonesas. Forte de 400.000 homens, o exército chinês alcançou a vitória sobre o exército japonês, que não contava senão 70.000 a 80.000 homens. (retornar ao texto)

(6) Esse ponto de vista foi formulado num dos editoriais do Tacumpao, que era, na época, o órgão do Grupo de Ciências Políticas do Kuomintang. Os partidários desse ponto de vista baseavam as suas esperanças num feliz concurso de circunstâncias, pensando que, graças a um certo número de vitórias semelhantes a de Teltchuam, seria possível deter o avanço das tropas japonesas e evitar assim a mobilização das forças populares para uma guerra de longa duração, que constituiria uma ameaça para a segurança da sua própria classe. Nesse tempo, o Kuomintang estava totalmente penetrado da esperança dum feliz concurso de circunstâncias. (retornar ao texto)

(7) Trata-se dum movimento reformista surgido em 1898. Esse movimento representava os interesses da burguesia liberal e dos senhores de terras esclarecidos. Os seus dirigentes eram, entre outros, Cam Io-vei, Liam Tchi-tchao e Tan Se-tom; eles gozavam do apoio do imperador Cuam Siu, mas não dispunham duma base de massas. Iuan Chi-cai, que na altura controlava forças militares, revelou os segredos dos partidários da reforma a imperatriz-mãe Tsi Si, dirigente da camarilha recalcitrante, a qual retomou o poder, aprisionou o imperador Cuam Siu e condenou a morte Tan Se-tom e mais cinco dirigentes. Tal foi O fim trágico do movimento. (retornar ao texto)

(8) A 16 de Janeiro de 1938, o gabinete japonês publicou uma declaração em que anunciava a sua intenção de subjugar a China pelas armas. Ao mesmo tempo, esse gabinete passou a exercer uma pressão sobre o governo do Kuomintang para levá-lo a capitular, declarando que se o governo do Kuomintang “continuasse a inspirar a guerra de resistência”, o governo japonês criaria na China um novo poder fantoche e deixaria de considerar o governo do Kuomintang como “interlocutor válido” para as futuras negociações. (retornar ao texto)

(9) Trata-se principalmente dos EE.UU. (retornar ao texto)

(10) Trata-se dos governos dos países imperialistas, como a Inglaterra, Estados Unidos, França, etc. (retornar ao texto)

(11) A possibilidade, prevista pelo camarada Mao Tsetung, duma melhoria na situação da China na fase de equilíbrio das forças, durante a Guerra de Resistência, realizou-se inteiramente nas regiões libertadas que se encontravam sob a direção do Partido Comunista. Mas como a camarilha dominante de Tchiang Kai-chek se comportava passivamente na resistência e lutava ativamente contra os comunistas e o povo, a situação não melhorou nas regiões controladas pelo Kuomintang, antes pelo contrário, agravou-se, o que provocou a oposição das grandes massas populares e elevou a sua consciência política. Ver “Sobre o Governo de Coalizão”, Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo III. (retornar ao texto)

(12) Os partidários da “teoria da omnipotência das armas” consideravam que, sendo inferior ao Japão do ponto de vista do armamento, a China devia inevitavelmente sofrer uma derrota na guerra. Todos os chefes da camarilha reacionária do Kuomintang (incluído Tchiang Kai-chek) partilhavam esse mesmo ponto de vista. (retornar ao texto)

(13) Buda, Sakya-Muni, nomes pelos quais se designa habitualmente o fundador do budismo. Suen Vu-com, herói do romance fantástico chinês do século XVI, Si lou Qui (A Peregrinação a Oeste), era um macaco que tinha o poder de franquear, com uma só cambalhota, uma distância de cento e oito mil li. Todavia, quando caiu na palma da mão de Buda, por mais voltas que desse não conseguiu sair-se dela; Buda voltou a mão e os seus dedos transformaram-se em cinco montanhas ligadas umas as outras (as montanhas dos Cinco Elementos), ficando Suen Vu-com preso ao chão. (retornar ao texto)

(14) Em Agosto de 1935, no VII Congresso da Internacional Comunista, o camarada Dimitrov declarou: “O fascismo é o chauvinismo desenfreado e a guerra de rapina” (G. Dimitrov: “A Ofensiva do Fascismo e as Tarefas da Internacional Comunista na Luta pela Unidade da Classe Operária contra o Fascismo”). Em Julho de 1937, o camarada Dimitrov publicou um artigo intitulado: “O Fascismo é a Guerra”. (retornar ao texto)

(15) Ver V. I. Lénine: “O Socialismo e a Guerra”, capítulo I, e “A Falência da II Internacional”, secção III. (retornar ao texto)

(16) Ver “Plano de Ataque”, Suen Tse, capítulo III. (retornar ao texto)

(17) Em 632 A.C., em Tchempu (hoje, distrito de Pucien, província de Pin-iuan), desenrolou-se uma grande batalha entre as tropas dos principados de Tzin e Tchu. No início da guerra o exército de Tchu levava a melhor. Então, o exército de Tzin recuou noventa li e, tomando por alvo os pontos fracos do exército de Tchu, isto é, os seus flancos direito e esquerdo, vibrou-lhe terríveis golpes, impondo-lhe uma pesada derrota. (retornar ao texto)

(18) No ano 204 A.C., sob o comando de Han Sin, as tropas de Han deram batalha ao exército de Tchao Sie, em Tsinsin. O exército de Tchao Sie, que segundo se conta era de 200.000 homens, excedia várias vezes em número as tropas de Han. Dispondo as tropas encostadas a um curso de água que lhes cortava a retirada, Han Sin fê-las combater encarniçadamente, enviando ao mesmo tempo uma parte delas para um golpe de surpresa que lhe permitiu dominar a retaguarda mal protegida de Tchao Sie. O resultado foi que o exército de Tchao, atacado de frente e no dorso, acabou por sofrer uma pesada derrota. (retornar ao texto)

(19) No final do século XVIII e começos do XIX, Napoleão sustentou uma luta contra a Inglaterra, Prússia, Áustria, Rússia e vários outros países europeus. Em muitas das suas campanhas, muito embora inferiores numericamente, os exércitos de Napoleão obtiveram numerosas vitórias. (retornar ao texto)

(20) No ano 383, Fu Quien, chefe dos Tchin, subestimando a força dos Tzin, atacou-os. O exército dos Tzin começou por derrotar a vanguarda dos Tchin em Luotsian, distrito de Chouiam, província de Anghuei, e continuou na ofensiva por terra e por água. Do alto das muralhas da cidade de Chouiam, Fu Quien observou o inimigo e viu que o exército dos Tzin se encontrava inteiramente disposto em ordem de batalha; assim que olhou em direção do monte Pacum, porém, as árvores e os arbustos pareceram-lhe ser soldados dos Tzin, pelo que pensou ter diante de si um possante inimigo, e ficou cheio de medo. Ver, no Tomo I, a nota 27 ao artigo “Problemas Estratégicos da Guerra Revolucionária na China”. [Nota 27, tomo I: Em 383, Sie Siuan, general dos Tziri de Leste, infligiu sobre as margens da ribeira Pei (província do Anghuei) uma pesada derrota a Fu Quien, que reinava sobre os Tchin. Este último dispunha de mais de 600.000 peões, de 270.000 cavaleiros e duma guarda de mais de 30.000 homens, enquanto que as tropas dos Tzin de Leste (compreendida a frota) não excediam 80.000 homens. Os dois exércitos estavam separados pela ribeira Fei. Especulando sobre a arrogância e a suficiência do seu adversário, Sie Siuan pediu a Fu Quien que lhe concedesse um espaço sobre a margem norte, onde se encontrava o Exército de Tchin, para que as suas tropas pudessem desembarcar e dar a batalha decisiva. Fu Quien aceitou mas, desde que ele deu a ordem de retirar, as suas tropas foram tomadas de pânico e tornou-se impossível contê-las. Aproveitando a ocasião, as tropas de Sie Siuan atravessaram a ribeira e esmagaram o exército de Fu Quien.] (retornar ao texto)

(21) Em 1927, Tchiang Kai-chek, Uam Tsim-vei e os seus acólitos traíram a Primeira Frente Única Democrática Nacional entre o Kuomintang e o Partido Comunista, e prosseguiram durante dez anos uma guerra anti-popular, o que privou o povo chinês da possibilidade de se organizar em larga escala. É a camarilha reacionária do Kuomintang, dirigida por Tchiang Kai-chek, que cabe a responsabilidade dessa falta histórica. (retornar ao texto)

(22) O Duque Siam reinava no principado de Som na época de Tchuentsiu, no século VII antes da nossa era. Em 638 A.C., o principado de Som fazia a guerra ao poderoso principado de Tchu. As tropas de Som estavam já dispostas em ordem de batalha, enquanto que o exército de Tchu estava ainda a atravessar o rio que separava os dois contendores. Um dos dignitários de Som, sabendo que as tropas de Tchu eram muito superiores em número, propôs aproveitar o momento propício e atacá-las enquanto não tivessem terminado a travessia. Mas o Duque Siam respondeu: “Não, um homem de boa estirpe não ataca aqueles que estão em dificuldade.” Quando as tropas de Tchu atravessaram o rio, e antes que estivessem perfeitamente dispostas em ordem de batalha, o dignitário pediu outra vez que se atacasse o inimigo. O Duque Siam respondeu: “Não, um homem de boa estirpe não ataca um exército antes que este esteja em ordem de batalha.” Foi somente quando as tropas de Tchu se apresentaram perfeitamente preparadas para o combate que o Duque deu a ordem de atacar. O resultado foi uma pesada derrota para o principado de Som, ficando o próprio Duque ferido. Ver em Tsuo Tcbuan (Anais), na parte relativa ao ano XXII, o relato sobre o Duque Si. (retornar ao texto)

(23) Em 1937, o exército de agressão japonês que se tinha apoderado de Pepim e de Tientsim avançou sobre o Sul, ao longo da linha de caminho de ferro de Tientsim-Pucou, e lançou uma ofensiva contra a província de Xantum. O caudilho militar do Kuomintang, Han Fu-tsiu, que tinha governado durante longos anos a província de Xantum, fugiu para o Honan sem ter dado uma só batalha. (retornar ao texto)

(24) Em 1812, com um exército de 500.000 homens, Napoleão atacou a Rússia. O exército russo, ao retirar-se, incendiou Moscovo, votando o exército de Napoleão a fome, ao frio e a terríveis sofrimentos. Depois, desbaratando as linhas de comunicação na retaguarda dos invasores, colocou-os na situação insustentável de tropas cercadas, de tal maneira que Napoleão foi obrigado a retirar o seu exército. Aproveitando a situação, o exército russo passou a contra-ofensiva e, de todo o exército de Napoleão, somente uns 20.000 soldados puderam escapar. (retornar ao texto)

(25) O Kuomintang recompletava o seu exército da maneira seguinte: expedia para toda a parte tropas e polícia para submeterem os homens e incorporarem-nos a força no exército. Os futuros soldados eram amarrados com cordas, como se procedia com os criminosos. Os que dispunham de alguns meios subornavam os funcionários do Kuomintang e pagavam a outros homens, que os substituíam como soldados. (retornar ao texto)

Inclusão 14/07/2013