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Os esforços desesperados das forças da reacção feudal na Europa para asfixiar as forças sociais que iam nascendo e estabelecer o absolutismo feudal eterno iam ser vãos. Nem a Santa Aliança, nem as monarquias restauradas da Europa, nem Nicolau I, o poderoso czar do Império Russo, estavam em condições de deter os profundos processos do desenvolvimento capitalista que avançavam a passos cada vez mais rápidos.
A revolução industrial, que começara na segunda metade do século XVIII na Grã-Bretanha e depois, no início do século XIX, se tinha espalhado pelo resto da Europa — França, Estados Alemães e Italianos, Áustria e Rússia — também tinha avançado na jovem república do outro lado do Atlântico — os Estados Unidos. As máquinas começavam a substituir o trabalho manual em toda a parte. Os novos inventos e aperfeiçoamentos nas indústrias têxteis, na metalurgia e na construção de motores, e o aparecimento da engenharia industrial (isto é, a construção de máquinas para produzir outras máquinas) provocaram uma aceleração rápida dos processos de produção. A revolução tecnológica na esfera dos transportes, que começou no século XIX, teria também um enorme impacto em todos os ramos da indústria.
Em 1814 George Stephenson, engenheiro autodidacta inglês, oriundo da classe operária, construiu a primeira máquina a vapor. Movia-se à velocidade de quatro milhas por hora e, mesmo depois de terem sido introduzidos alguns melhoramentos, era ainda prática comum, quinze anos depois, organizar corridas entre máquinas a vapor e cavalos. Contudo este desajeitado e enorme engenho, com a sua grande caldeira e a sua enorme chaminé, tinha um grande futuro à sua frente. Em 1829 foi aberto o primeiro caminho de ferro, que funcionava só com máquinas a vapor, entre Manchester e Liverpool, numa distância de sessenta kms. Em 1831 a construção dos caminhos de ferro começou nos Estados Unidos, em 1832 em França e em 1837 na Rússia. Em 1840 os caminhos de ferro do mundo já tinham um comprimento total de oito mil quilómetros e as décadas seguintes assistiram a um crescimento extremamente rápido: cinquenta mil quilómetros em 1850, cem mil em 1860 e duzentos e dez mil em 1870.
Esta extraordinária expansão dos transportes ferroviários teve um enorme significado: incrementou o crescimento do comércio interno e externo, aumentou muito a procura de metais e combustíveis, promovendo deste modo o desenvolvimento das indústrias correspondentes e finalmente serviu para acelerar a industrialização de grande número de países.
Quase simultaneamente a invenção do barco a vapor teria como resultado outra revolução nos transportes. O primeiro barco a vapor, o Clermont, foi construído em 1807 por Robert Fulton. Fez a sua primeira viagem pelo rio Hudson a uma velocidade de cinco milhas à hora. No entanto, o barco a vapor seria desde logo aperfeiçoado e preparado de maneira a poder empreender viagens longas. A primeira travessia do Atlântico em barco a vapor foi feita em 1818 pelo Savannah que fez a viagem dos Estados Unidos a Liverpool em vinte e sete dias. Vinte anos mais tarde, era 1838, o Great Western fez a travessia apenas em catorze dias. Mais tarde levavam apenas metade deste tempo.
À medida que as inovações técnicas eram aperfeiçoadas, particularmente o barco a vapor, as grandes extensões de água que antes constituíam grandes barreiras para as comunicações, contribuíram para as facilitar.
O rápido desenvolvimento do capitalismo no século XIX levou ao crescimento de grandes cidades industriais na Europa e nos Estados Unidos. Massas de trabalhadores começavam a concentrar-se nas cidades onde se encontravam as grandes fábricas. Em Inglaterra, onde a industrialização tinha sido particularmente rápida e estava quase realizada na primeira metade do século XIX, as mudanças que a acompanharam eram claras e inequívocas. Apareceram então duas classes principais, a burguesia industrial e o proletariado industrial, enquanto as restantes classes — o campesinato, a nobreza e a pequena burguesia — passavam a desempenhar um papel pouco importante. A burguesia e o proletariado apareceriam como as duas principais classes sociais noutros países onde o capitalismo se estava a formar — tais como a França, a Alemanha e os Estados Unidos. Contudo, nesses países, o campesinato era ainda numericamente superior ao proletariado industrial e o poder continuou ainda nas mãos dos grupos pré-capitalistas: a nobreza e os proprietários de terras.
O rápido desenvolvimento do capitalismo no século XIX serviria para consolidar a riqueza e o poder da burguesia. Com um enorme capital e fundos à sua disposição, a burguesia não estava disposta a aceitar a sua relativa falta de direitos na maior parte das monarquias europeias, e começou a aspirar a um papel político decisivo ou pelo menos à participação na administração do Estado.
A burguesia, nesta fase, utilizava ainda uma táctica cautelosa. Enquanto submetia a classe operária a uma exploração impiedosa e acumulava lucros à custa dos trabalhadores mal pagos, a burguesia começava a temer os trabalhadores. E assim, a monarquia, apesar da sua presunçosa arrogância, começou a parecer menos perigosa para a burguesia do que os próprios trabalhadores, porque com a primeira ela podia sempre chegar a um acordo, enquanto não havia esperança de chegar a acordo com os trabalhadores explorados, porque as duas classes, exploradores e explorados, eram irreconciliáveis nos seus conflitos, com interesses de classes opostos.
Foi por isso que, na sua luta pelo poder neste período, a burguesia procurou evitar a revolução e usou toda a sua força, de preferência, no sentido de efectuar reformas de cúpula sem a participação do povo.
Mas a burguesia nem sempre foi bem sucedida nos seus esforços para evitar a revolução declarada, como se viu nos acontecimentos em França em Julho de 1830. Carlos X, que parece ter dito: «Antes queria partir lenha do que reinar à maneira do rei da Inglaterra», desprezando toda a oposição, fez quanto pôde para restaurar a ilimitada autocracia do passado, com uma série de leis reaccionárias que despertaram a indignação do povo. A burguesia não queria a revolução, mas o povo foi para as ruas e começou a levantar barricadas. Compreendendo que não tinha poder para aguentar a situação, Carlos X fugiu para Inglaterra, país que pouco antes tanto havia desprezado.
Logo que a velha ordem foi derrubada, os políticos burgueses depois de se terem escondido durante os três dias de luta nas barricadas, saíram para a rua e apressaram-se a tomar o poder. Assim, antes mesmo que o povo tivesse tempo de compreender o que se passava, foi imposto um novo regime ao país — outra monarquia, mas desta vez com um rei de uma nova dinastia — Luís Filipe de Orleães.
Este novo Rei, «o rei das barricadas» como o povo lhe chamou, ou o «burguês real» como propalavam os círculos abastados, era um antigo duque e parente próximo de Carlos X. Era considerado o homem mais rico e avaro de toda a França e a sua riqueza desafiava a imaginação. Ora, logo que subiu ao trono, Luís Filipe desprezou o velho costume pelo qual o Rei punha os seus haveres particulares no tesouro real como símbolo do «casamento» entre o rei e o seu reino, e tratou de garantir que a sua fortuna ficasse em mãos seguras, dividindo uma parte pelo seu filho e pondo o resto num banco. Estes actos tiveram desde logo a aprovação da alta burguesia. A monarquia de Julho (como foi depois chamado o reinado de Luís Filipe) tornar-se-ia uma monarquia burguesa. Entretanto, nem toda a burguesia estava no poder, e nem o seu sector industrial. Quem mandava era a aristocracia financeira — os financeiros, banqueiros e magnates, homens de grandes fortunas. Foi esta uma época em que dominava o pagamento a dinheiro, em que o ouro era o senhor supremo. Na sua famosa Comedie Humaine, o grande escritor francês Honoré Balzac (1799-1850) havia de pintar um soberbo quadro da vida e dos costumes desta sociedade onde tudo estava subordinado ao poder do dinheiro.
Na Inglaterra, onde as classes dominantes eram particularmente experientes em manobras políticas, a revolução foi impedida de se realizar. No fim dos anos 20 e em particular depois da revolução de 1830 em França, quando o movimento democrático e revolucionário se tornou particularmente activo, o partido dominante — os Tories — que representava os interesses dos grandes proprietários compreendeu que tinha de chegar a um compromisso. Em 1832 fez-se uma reforma parlamentar, que foi aclamada como uma grande mercê a todo o povo inglês, mas na realidade serviu apenas para permitir aos membros da burguesia industrial desempenhar um papel mais incisivo nas questões parlamentares. Só a burguesia e o seu próprio partido — os Whigs — saíram beneficiados desta reforma. Os operários que tanto por ela lutaram acabaram por não beneficiar nada.
O rápido desenvolvimento capitalista e a ascensão cada vez maior da burguesia na política geral do país levaram a uma nova vaga de expansão colonial. A burguesia precisava de novas e baratas fontes de matérias-primas e de novos mercados. E todos sabiam que as guerras coloniais eram empreendimentos rentáveis.
Os mais desenvolvidos países capitalistas deram então início a um novo impulso expansionista liderado pela Grã-Bretanha. Em 1829, depois de uma guerra com Burma, os colonialistas britânicos capturaram Assam. Dez anos depois tomaram Aden. Durante os anos 30, houve guerras coloniais no Afeganistão e em várias partes na Índia. Em 1843 foi tomada Sinde, em 1846 caiu Caxemira e uma grande parte do Penjab. De 1839 a 1842 a Inglaterra envolveu-se na famosa «Guerra do Ópio», durante a qual conseguiu estabelecer uma fortaleza na China. Tomou Hong-Kong e a China foi obrigada a importar ópio, do que vieram grandes lucros aos comerciantes britânicos. A China foi obrigada ainda a assinar um acordo bilateral de comércio. Em 1840 a Inglaterra anexou a Nova Zelândia e entre 42 e 43 Saravak na ilha de Bornéu, e a colónia do Natal na África do Sul. Em 1830 a Franca deu início à ocupação da Argélia e aliou-se à Inglaterra nas guerras de pilhagem contra a China. Mais tarde, em 1846, eram os Estados Unidos que instigavam a guerra contra um vizinho, praticamente sem defesa, o México e anexaram-lhe uma boa parte do seu território, nomeadamente o Novo México e a Califórnia. Nesta altura podemos dizer que colonialismo e o capitalismo quase se confundiam.
Enquanto a burguesia ia ganhando e acumulando riquezas com as guerras coloniais de pilhagem, a situação dos operários durante esta primeira fase do capitalismo era extremamente dura. Já nesta altura os seus efectivos tinham aumentado muito, mas ainda não tinham experiência de luta política, estavam desorganizados e não tinham consciência da sua situação e mesmo do seu papel histórico. Os empresários daquela época exploravam a má situação dos operários, o seu trabalho barato, e faziam o possível para tirar o máximo de cada um no mais curto espaço de tempo. A exploração atingiu as raias do inacreditável. A jornada de trabalho variava entre as dezasseis e as dezoito horas por dia. Crianças e mulheres trabalhavam desde os seis anos de idade. Trabalho duro, condições desumanas de vida, sub-alimentação crónica, miséria, ameaçavam os trabalhadores de destruição física e espiritual.
O instinto de conservação levou os trabalhadores a empreenderem as primeiras lutas contra os empresários. Mas às primeiras gerações faltava a experiência que outras gerações já poderiam utilizar. De momento ainda não tinham consciência da origem dos males de que eram vítimas, de quem era responsável pelos seus sofrimentos físicos e provações. Chegaram mesmo a pensar que a sua situação intolerável tinha como causa o aparecimento da máquina. E assim, a primeira manifestação espontânea da luta de classes tomou a forma de destruição de maquinaria. Nas duas primeiras décadas do século XIX apareceu em Inglaterra o chamado movimento luddita. assim chamado porque se julgava ter sido começado por um aprendiz de nome Ned Ludd — cujos simpatizantes destruíram as máquinas. Entretanto não tardou que os trabalhadores compreendessem que não eram as máquinas a origem dos seus males e que, destruindo-as, não tornavam a vida mais fácil.
Em França a situação dos trabalhadores era tão má como na Inglaterra. Em 1831, os tecelões de Lião, centro industrial da seda, levantaram-se em protesto e tomaram a cidade. Daí partiram marchando com bandeiras que diziam: «Estamos preparados para morrer, lutando pelo direito a viver e a trabalhar». Este slogan mostra como eram modestas as exigências dos trabalhadores naquela época. Mesmo assim a manifestação foi selvaticamente esmagada por tropas ao serviço do governo.
Logo em 1834 os tecelões de Lião saíram de novo para a rua mas desta vez estavam mais bem organizados e além de exigirem novas condições de trabalho, exigiam mais: uma república. A revolta foi esmagada como a anterior.
Na Inglaterra muitos operários começaram a apoiar os democratas burgueses numa campanha por reformas parlamentares. Mas quando a Lei da Reforma de 1832 se promulgou e não trazia nenhuma melhoria à sua vida e condições de trabalho, que se iam deteriorando pouco a pouco, os operários ficaram desiludidos.
Uma vez perdida a fé na burguesia que os enganara, ainda pensavam que podiam confiar no parlamento. Em 1836-37, primeiro em Londres e depois noutras cidades desenvolveu-se uma campanha a favor do sufrágio universal. Os trabalhadores esperavam que uma vez decretado o sufrágio universal ficariam em maioria no Parlamento e mudariam a sua situação. Mas essa esperança era ilusória. Entretanto os trabalhadores ingleses daquela época por falta de experiência política acreditaram nestas ilusões e preocupavam-se sobretudo com o processo de persuadir o parlamento a fazer leis que instituíam o sufrágio universal. Foi em 1837 que os líderes dos trabalhadores elaboraram uma carta donde constavam as exigências a apresentar ao parlamento. E então começaram a recolher assinaturas para este efeito. Por três vezes, em 1839, 1842 e 1848, esta carta foi apresentada ao parlamento, cada vez com maior número de assinaturas. A primeira tinha um milhão e duzentas mil assinaturas, à segunda três milhões e trezentos mil e à terceira quase cinco milhões. As folhas das assinaturas eram tão grandes e tão pesadas que foram precisas mais de vinte pessoas para levar o caixote ao parlamento.
Esta recolha de assinaturas e a discussão das questões sociais e políticas inerentes trouxe um avanço sem precedentes ao movimento operário. À noite, à luz das candeias, os trabalhadores reuniam-se para ouvir os discursos políticos e para discutir a situação. Houve enormes manifestações de cartistas nas calmas cidades inglesas. Pela primeira vez os operários compreenderam a força que eram quando actuavam juntos e de maneira organizada. Em 1840 houve mesmo uma tentativa para fundar um partido cartista unido, o primeiro partido do trabalho desde sempre.
À medida que o movimento cartista crescia, ia obtendo apoios, tirava lições dos seus êxitos e dos seus fracassos e os trabalhadores começavam a compreender mais claramente o mundo que os rodeava e perderam muitas das suas ilusões.
A sua carta já continha exigências sociais e políticas — questões de «faca e garfo» como se dizia. Havia esperanças de se conseguir atingir os objectivos desejados através de uma greve geral.
O movimento cartista teve como chefes dedicados, líderes da causa do movimento operário: O’Brien, Feargus O’Connor, G. J. Harney e Ernest Jones. Contudo estes notáveis líderes operários não souberam orientar os seus companheiros pela via correcta. Os cartistas ainda não tinham compreendido claramente o papel dos operários como classe e a necessidade de uma organização coerente.
O movimento cartista que atingiu o seu ponto mais alto na Primavera de 1848, revelou não ser capaz de utilizar plenamente a sua ampla influência e começou logo a declinar. Isto não obsta a que não tenha servido de exemplo inspirador, como primeiro movimento de massas independente. Depois do movimento cartista a luta pela emancipação da classe operária ia entrar numa fase nova e mais avançada.
Os autores iluministas e a revolução francesa tinham prometido que havia de chegar uma idade de ouro, um reino da razão, da liberdade e da justiça. Mas o que aconteceu é que a opressão feudal foi substituída por uma impiedosa exploração capitalista e por um reinado absoluto do dinheiro. O tremendo contraste entre as aliciantes promessas e a dura realidade alimentou o pensamento de muitos progressistas daquela época.
É que, mesmo nesta altura do desenvolvimento capitalista, já iam aparecendo espíritos esclarecidos que conseguiam ver os vícios do sistema e anunciavam o aparecimento de uma ordem social nova, melhor e mais justa. Mais tarde haviam de chamar-lhes socialistas utópicos.
Entre estes homens avultam os nomes de Saint Simon (1760-1825), Fourier (1772-1837) e Robert Owen (1771-1858). Saint Simon provinha de uma família aristocrata e aristocrática era a sua educação. Durante a revolução dedicou-se ao comércio e chegou a ser amanuense de uma casa de penhores. Foi nesta casa que ele teve conhecimento das condições de vida e de trabalho de todos os estratos sociais e viu de perto o horror da nova ordem. Saint Simon. Fourier e Owen que viveram em países capitalistas avançados submeteram o seu próprio mundo a uma crítica dura e perfeitamente justificada e tentaram uma definição de uma nova sociedade futura. O grande significado das suas obras provém do facto de terem exortado o povo a libertar-se da servidão capitalista. Mas não conseguiram descobrir a maneira correcta de o fazer e de construir uma sociedade melhor. O que eles propunham era ingénuo e impraticável. Nem sequer compreendiam qual a classe, qual a força social que seria capaz de transformar o mundo, de destruir a opressão e de libertar a humanidade da exploração e dos males que lhe são inerentes.
Nos Estados alemães onde o desenvolvimento económico era lento e as contradições de classe ainda não tinham levado a uma luta revolucionária declarada, movimento sociais e descontentamentos iam exprimir-se sobretudo através da filosofia.
A idade do ouro da literatura alemã no final do século XVIII e no início do século XIX esteve ligada sobretudo aos nomes de dois grandes escritores — Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) e Friedrich Schiller (1759-1805). As figuras mais proeminentes entre os filósofos alemães daquele período foram Friedrich Schelling (1775-1854) e Georg Hegel (1770-1831). Embora Hegel fosse um idealista introduziu o método dialéctico no pensamento filosófico e foi imensa a influência que exerceu na vida intelectual do seu tempo.
Só depois do movimento operário ter adquirido razoável experiência e de a classe operária se ter organizado um pouco mais, foi possível o aparecimento duma teoria genuinamente científica, compatível com a missão histórica do proletariado. Esta teoria faria uma exposição sistemática das leis do desenvolvimento social e dos meios para conseguir a transição para uma ordem social superior, sem classes, a do comunismo. Os autores desta teoria foram os líderes dos trabalhadores, Karl Marx e Friedrich Engels.
Karl Marx, filho de um advogado, nasceu em 5 de Maio de 1818 na cidade alemã de Trier. Quando estudante, Marx revelaria qualidades notáveis. Tinha o caminho aberto para uma carreira de investigador ilustre, carreira essa que lhe poderia trazer honras e dinheiro, mas não foi esse o caminho que escolheu. Desde jovem dedicou-se, de alma e coração, à luta revolucionária e ao estudo das leis do desenvolvimento social. Aos vinte e cinco anos deixou a Alemanha e foi viver sucessivamente para Paris e Bruxelas antes de se fixar na Inglaterra. As suas relações de amizade com Engels (1820-1895) datam do ano de 1844; Engels era filho do dono de uma fábrica e em vez de dedicar as suas energias, como o pai pretendia, a juntar riquezas, dedicou-se como Marx à luta revolucionária. Marx e Engels leram e estudaram muitas das obras que tinham sido escritas sobre Ciências Sociais pelos seus antecessores, submetendo-as a uma análise crítica. Fizeram também o estudo da história do movimento revolucionário e da teoria do socialismo com particular referência à Revolução Francesa, à filosofia clássica alemã e à economia política inglesa. Depois de analisarem as conquistas anteriores das Ciências Sociais, com referência directa à luta revolucionária do proletariado, Marx e Engels criaram uma teoria qualitativamente nova, a do socialismo científico, e elaboraram a táctica do proletariado.
Investigadores progressistas já tinham descoberto antes deles a existência da luta de classes no desenvolvimento da sociedade, mas foram Marx e Engels — depois de chegarem a uma interpretação materialista da história e de formularem as leis económicas inerentes à sociedade capitalista — os primeiros a compreender e a demonstrar que a classe destinada a transformar o mundo, a única verdadeiramente revolucionária, livre de interesses e egoísmos, era o proletariado. «Os proletários nada têm a perder senão as suas algemas». Como classe revolucionária o proletariado estava destinado a tornar-se líder e campeão de todos os oprimidos, das massas trabalhadoras, e a dirigi-las na luta para destruir a ordem capitalista.
O marxismo demonstraria que o proletariado usaria o poder uma vez conquistado, não apenas para promover os seus interesses de classe, mas os da sociedade como um todo. Depois de derrubar a burguesia, os trabalhadores estabeleceriam a sua própria ditadura, a ditadura do proletariado, que estaria no poder até à transição para a sociedade sem classes, até que o comunismo pudesse ser realizado. A nova teoria social, elaborada por Marx e Engels, em bases científicas, havia de ter um significado profundo no futuro da humanidade; essa teoria tornar-se-ia uma força poderosa uma vez que actuasse sobre as massas.
Antes de Marx e Engels, o movimento operário e o socialismo tinham tido desenvolvimentos diferentes. Em 1847 foi estabelecida a primeira organização proletária internacional, a Liga Comunista com a participação activa de Marx e Engels. Lado a lado com o então popular «slogan» de uma das organizações do socialismo utópico: «todos os homens são irmãos», surgiu um novo «slogan»: «Operários do mundo uni-vos». À primeira vista podia parecer bom «slogan» dos socialistas utópicos — era de carácter mais amplo e humanista — mas poderiam os donos das fábricas ser irmãos dos camponeses, ou os colonialistas serem irmãos dos africanos oprimidos? «Todos os homens são irmãos» é um «slogan» que serve para camuflar a situação real dourando-a com uma ilusão. O novo «slogan» adoptado pela Liga Comunista demonstrava que a solução do futuro está inextricavelmente ligada ao proletariado unido à escala mundial.
No segundo Congresso da Liga Comunista, realizado em Londres em 1847, Marx e Engels foram encarregados de redigir um telegrama para a Liga. No início do ano seguinte, saiu O Manifesto do Partido Comunista, no qual Marx e Engels esquematizavam os princípios básicos do comunismo científico. Este opúsculo tinha um grande futuro à sua frente: publicado há mais de cem anos teve mais de cem edições e foi traduzido em quase todas as línguas. Contudo, mesmo nesses tempos remotos, produziu um impacto enorme. O Manifesto significava que a partir de então, o Movimento Operário e o Socialismo não eram mais duas correntes separadas, fundiam-se e assim vieram a constituir uma força invencível.
Inclusão | 16/09/2016 |