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A sua maneira, a experiência cubana confirma as abordagens marxistas, ratifica a validade do marxismo-leninismo-trotskismo.
Mais uma vez, descobre-se que o "socialismo num único país" não é possível e que apenas em escala internacional uma sociedade sem classes pode ser constituída. A política contra-revolucionária da burocracia estalinista não pode deixar de servir aos interesses da burguesia internacional e o castrismo - impulsionado polas suas necessidades materiais - se juntou a ela.
Observamos o Movimento 26 de Julho passando duma postura democratizante inconfundivelmente burguesa para a esquerda marxista e depois do maoísmo para a política do Kremlin.
Por um momento estava na posição certa para trabalhar pola revolução internacional e latino-americana como a única forma de defender e empoderar Cuba, mas o método que usou - o foco capaz de atear fogo a um país e um continente - estava errado, pois a lógica por trás disso foi concebida e desenvolvida de costas para as massas. O enfoque - desenhado e alimentado no meio pequeno-burguês - é contrário à revolução proletária, única forma que pode permitir a materialização da libertação nacional e social. Foi demonstrado que o foco leva à derrota do movimento revolucionário e que não basta alimentá-lo.
Em certo momento - quando o movimento liderado por Che Guevara estava no auge - o POR propôs aos castristas transformar o foco num movimento de massa e transferir a sua liderança política das montanhas para os centros proletários. O assunto não chegou a ser discutido.
O fracasso continental do foquismo acabou isolando Cuba e obrigando-a a se abandonar nos braços da burocracia estalinista contra-revolucionária. É então que se estabelecem as premissas da sua dramática situação atual, pois corre o sério risco de ser destruída polas pressões e manobras do imperialismo -particularmente do norte-americano-, em cumplicidade com a equipe estalinista persuadida por Gorbachev e Ieltsin.
A análise autocrítica do comportamento do castrismo leva-nos à conclusão de que este não assimilou devidamente o marxismo-leninismo, o que o levou a seguir uma linha empírico-oportunista. Os seus aplausos à política internacional do estalinismo, subordinada aos interesses da burguesia e, por isso mesmo, obrigada a constituir um obstáculo no caminho do socialismo não se explicam de outra forma.
Cuba aparece como o último bastião do socialismo, da revolução. As massas horrorizadas com o avanço da restauração capitalista na URSS e nos países do Leste europeu consideram o castrismo como a última referência revolucionária, como a força capaz de conter e derrotar o imperialismo. A política de Fidel Castro carece de tal esperança, o que pode terminar em frustração dramática.
A afirmação de Castro de que o socialismo persiste na URSS, onde já prevalece a economia de mercado e a política de constituição de sociedades mistas com transnacionais, não pode deixar de surpreender, orientação que tenta se materializar também em Cuba.
Como explicar o abraço de Castro ao fascista Fraga? Apenas por uma perda total da referência revolucionária e socialista.
Não tenta retomar a luita internacional contra o imperialismo, contra a burguesia, mas antes a Havana busca fortalecer-se com o apoio e a solidariedade dos governos burgueses da América Latina. Nada é feito para que a ajuda venha do movimento operário mundial.
Há um facto capital — que ainda não foi devidamente explicado —, apesar do tempo decorrido, o proletariado não controla o Estado e o aparelho produtivo, continua se dissolvendo nas organizações populares, não é uma direção política. Parece-nos que este facto constitui um grande obstáculo ao avanço do processo de transformação em Cuba.
O castrismo tem se afastado do materialismo dialético. Esta é a única maneira de explicar a entrada no Partido Comunista Cubano da prática de tendências religiosas. O idealismo acabará arrastando o castrismo para posições conservadoras e reacionárias.
No Quarto Congresso começaram a adotar posições que são concessões à pressão contra-revolucionária do imperialismo.
No entanto, persistimos na nossa posição de defesa de Cuba contra o ataque imperialista e gorbachovista e afirmamos que esta defesa obriga o Partido Mundial da Revolução Socialista, a Quarta Internacional, a se levantar.
Reiteramos que o nosso trabalho em prol do avanço do processo revolucionário no nosso país constitui a melhor forma de contribuir para a defesa e consolidação de Cuba. Fazemos esta defesa usando os métodos da revolução proletária e não capitulando aos governos e às tendências políticas burguesas.
Bush e Gorbachev esperam que a oposição interna, alimentada pola pobreza crescente, acabe “democraticamente” com o castrismo, seguindo o caminho eleitoral.
As notas anteriores foram escritas em novembro de 1991, a fim de complementar a análise central que foi feita em "Lição Cubana".