Lição cubana

Guillermo Lora


Algumas Consequências do Estalinismo


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O activo processo de restauração capitalista e o colapso do estalinismo naqueles que eram estados operários degenerados confirmam a validade do marxismo-leninismo-trotskista e ensinam quais caminhos errados não deveriam ser seguidos no processo de revolução social, que é parte do doloroso nascimento duma nova sociedade, da comunista. É isso que deve ser analisado e assimilado.

A seguir, nos referimos ao caso particular e sugestivo de Cuba e também à influência decisiva e destrutiva do fenómeno de deslocamento e dissolução do estalinismo sobre os partidos comunistas, particularmente na América Latina.

Reiteração da defesa incondicional de Cuba

Nunca escondemos as nossas críticas ao processo cubano e sabemos que o destino da ilha caribenha é determinado polo seu isolamento do movimento revolucionário mundial e por ter aderido - empiricamente e oportunisticamente - à política internacional estalinista contra-revolucionária, primeiro de Pequim e depois do Kremlin. Tudo isso explica a nossa crítica permanente à política de Fidel Castro. Assinalamos repetidamente a ausência dum verdadeiro partido revolucionário, a dissolução do proletariado nos Comitês de Defesa da Revolução, a falta de direção proletária em todo o processo, etc.

No momento estamos diante duma realidade concreta: o gorbachevismo está sendo pressionado polas pressões imperialistas para rifar Cuba e conseguir a sua própria sobrevivência. Repete-se a venda suja da revolução espanhola ao imperialismo por Moscovo, isto nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, um acto condenável que tanto influenciou o desenvolvimento deste importante acontecimento.

Colocamos numa caixa a nossa posição atual sobre o problema cubano e que não se desvia um milímetro do nosso comportamento tradicional:

Defesa incondicional de Cuba - não dizemos que defendamos isto e repudiamos aquilo - contra a política contra-revolucionária da burocracia estalinista encabeçada por Gorbachev e Ieltsin e a agressão colonialista do imperialismo norte-americano.

Realizamos esta defesa de Cuba com os métodos da revolução proletária, fortalecendo a nossa luita contra a burguesia crioula e o imperialismo no nosso próprio país. Sabemos que a vitória da revolução boliviana - trabalhamos de forma sistemática e incansável para materializar este objectivo estratégico - enfraquecerá o imperialismo opressor e saqueador e fortalecerá processos de transformação social como o de Cuba.

Algumas características de Cuba explicam os seus flancos fracos — bastante reforçados agora polo seu isolamento global —:

Sua área territorial de 110.860 Km2; a sua população de 10.300.000 habitantes. Ocupa o extremo norte do Mar do Caribe e é a maior e mais ocidental das ilhas Antilhas, o que a coloca às portas do imperialismo norte-americano, que a aprisiona cada vez mais por todos os lados.

Guantánamo é a base militar ianque no meio do território cubano, promovida como uma realidade ameaçadora diante da decisão de Moscovo de retirar as tropas soviéticas da ilha. Alcançou uma renda anual por pessoa de 2.650 $; reduziu o analfabetismo a 4% da população, etc.

Não alcançou ampla diversificação econômica, o que agrava a sua dependência do exterior. A ajuda econômica soviética foi diminuída ou grandemente diminuída e o COMECON suprimido.

O IV Congresso do Partido Comunista Cubano visa responder a muitos desses problemas e na sua agenda encontramos, entre outros pontos, os seguintes aspectos: solução de importantes problemas sociais (habitação, educação, saúde), que são agravados pola acentuação de isolamento de Cuba; diversificação das relações externas, em resposta ao isolamento em relação aos países da Europa de Leste (turismo, biotecnologia, indústria farmacêutica, alimentação, promoção de joint ventures(1) com capital estrangeiro); resposta ao desafio de aumentar o consumo de bens e melhorar os serviços para a população; papel do mercado, descentralização da gestão; planejamento central; incentivos materiais; converter o Partido Comunista Cubano de partido de vanguarda num que integre o projecto nacional (democracia interna, mecanismos de consenso, hegemonia ativa, respeito às diferentes correntes de opinião, entrada de diferentes confissões religiosas); acentuar o debate interno, buscando a identidade nacional enraizada no pensamento latino-americano e universal, ressurreição das ciências humanas e sociais, reavaliação do papel dos intelectuais e aprimoramento da política de informação; a revisão da questão da democracia, os defeitos do Controle Popular, a insuficiente participação das massas no debate sobre as definições e decisões, aumentam a capacidade de mobilização e representação das organizações políticas e de massa; revisão abrangente dos métodos, mecanismo e estilo das instituições do sistema político; fortalecer o controle do povo sobre o governo; maior autoridade para delegados de base (eleitos por voto direto e secreto) e assembleias municipais; controle do Estado pola Assembleia Nacional do Poder Popular; continuidade do processo revolucionário na perspectiva socialista, etc.

Há uma tendência de fazer concessões às pressões capitalistas do exterior.

Castro busca apoio internacional em todos os países e tendências, incluindo a burguesia.

Surpreendeu o mundo com o abraço ao espanhol Fraga, que foi ministro do ditador fascista Franco, e com a afirmação de que sempre tratou bem Cuba. Não existe luita de classes para Castro?


Nota do tradutor:

(1) Pode se traducir para portugués como “emprendimento conjunto”. Trata-se dum modelo de parceria comercial visando uma colaboração para fins tecnológicos, científicos ou comerciais. (retornar ao texto)

Inclusão: 28/06/2021