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Primeira Edição: Escritos na segunda metade de 1899, estes artigos permaneceriam inéditos até 1925. Foram escritos por Lênin no exílio para publicação na Rabochaia Gazete (Gazeta Operária), que havia sido adotada como órgão oficial do Partido Operário Social-Democrata Russo após seu Primeiro Congresso. Contudo, o fechamento da gráfica em Kiev pela repressão czarista impediu a continuidade da publicação deste jornal e, com isso, dos artigos de Lênin em questão.
Fonte: LavraPalavra - https://lavrapalavra.com/2020/11/17/artigos-para-a-gazeta-operaria-nossa-tarefa-imediata/
Tradução: Gustavo Fernandes - da versão disponível em https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1899/articles/arg3oit.htm#v04pp64h-215
HTML: Fernando Araújo.
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O movimento operário russo está hoje passando por um período de transição. O começo esplêndido alcançado pelas organizações social-democratas de operários nas áreas ocidentais, São Petesburgo, Moscou, Kiev e outras cidades, foi consumado na fundação do Partido Operário Social-Democrata Russo (primavera de 1898). A social-democracia russa parece ter exaurido suas forças, pelo momento, ao dar esse tremendo passo a frente, e voltou a seu antigo funcionamento isolado de organizações locais. O Partido não parou de existir, somente recuou em si mesmo de forma a acumular forças e unificar todos os social-democratas russos em uma base única. Efetivar essa unificação, para desenvolver uma forma adequada para ela e eliminar de uma vez por todas o isolamento local – essa é a tarefa imediata e mais urgente dos social-democratas russos.
Todos concordamos que nossa tarefa é a organização da luta da classe proletária. Mas o que é essa luta de classe? Quando operários de uma única fábrica, de um único ramo da indústria conduzem uma luta contra seu empregador ou seus empregadores, isso é luta de classes? Não, isso é um fraco embrião dela. A luta dos operários se torna uma luta de classes somente quando todos os principais representantes de toda a classe operária de todo o país estão conscientes de si mesmos como parte de uma única classe operária e lançam uma luta direcionada, não contra empregadores específicos, mas contra toda a classe dos capitalistas e contra o governo que a sustenta. Somente quando o operário individual percebe que ele é membro de toda uma classe operária, somente quando ele percebe que sua pequena luta contra empregadores específicos ou oficiais específicos é uma luta contra toda a classe burguesa e todo o governo que isso se torna em uma luta de classes. “Toda luta de classes é uma luta política” – essas famosas palavras de Marx não devem ser interpretadas como se toda luta dos operários contra seus patrões sempre fosse uma luta política. Deve-se entender dessas palavras o significado de que toda luta dos operários contra os capitalistas inevitavelmente se transforma em luta política conquanto se torne uma luta de classes. É tarefa dos social-democratas, pela organização dos operários, pela propaganda e agitação entre eles, transformar sua luta espontânea contra seus opressores em uma luta de toda a classe, em uma luta de um partido político definido por ideais políticos e socialistas definidos. Isso é algo que não pode ser atingido somente através de atividades locais.
A atividade social-democrata local atingiu um nível consideravelmente alto em nosso país. As sementes do ideal social-democrata foram espalhadas por toda a Rússia; panfletos operários – a forma primitiva de literatura social-democrata – são conhecidos por todos operários de São Petesburgo à Krasnoyarsk, do Cáucaso aos Urais. O que falta agora é unificar esses trabalhos locais no trabalho de um único partido. Nosso principal obstáculo, cuja superação exigirá nossa devoção total, é o raso caráter “amador” do trabalho local. Por causa desse caráter amador muitas manifestações do movimento operário permanecem puramente como eventos locais e perdem consideravelmente sua importância como exemplos para o todo da social-democracia russa, como palco de todo o movimento operário russo. Por causa desse comportamento amador, a consciência da comunhão de interesses ao redor da Rússia não está suficientemente inculcado na cabeça dos operários, eles não ligam suficientemente suas lutas ao socialismo russo e à democracia russa. Por causa desse comportamento amador as diferentes visões dos camaradas sobre questões práticas e teóricas não são abertamente discutidas em um jornal central, elas não servem para elaborar um programa comum e desenvolver táticas comuns para o Partido, eles estão perdidos em uma vida rasa de grupos de estudo ou caem no exagero despropositado de peculiaridades locais e da sorte. Basta do nosso amadorismo! Nós amadurecemos o suficiente para partirmos para a ação comum, para a elaboração de um programa comum do Partido, para a discussão conjunta da organização e tática de nosso Partido.
A social-democracia russa fez muitas críticas a teorias revolucionárias e socialistas; não se limitou ao criticismo e a teorização; mostrou que seu programa não paira no ar, mas vai ao encontro de extensivos movimentos espontâneos em meio ao povo, isto é, em meio ao proletariado das fábricas. Deve, agora, dar o seguinte, muito difícil, mas muito importante, passo – elaborar uma organização do movimento adaptada às nossas condições. A social-democracia não se limita simplesmente a servir ao movimento operário: ela representa “a combinação do socialismo com o movimento operário” (para usar a definição de Karl Kautsky, que ecoa as ideias essenciais do Manifesto Comunista); a tarefa da social-democracia é trazer ideais socialistas definidos ao movimento espontâneo da classe operária, conectar esse movimento com convicções socialistas, que devem atingir o nível da ciência contemporânea, conectá-lo com a luta regular pela democracia como meio para atingir o socialismo – em poucas palavras, fundir esse movimento espontâneo em um todo indestrutível através da atividade do partido revolucionário. A história do socialismo e da democracia na Europa Ocidental, a história do movimento revolucionário russo, a experiência do nosso movimento operário – esse é o material que devemos dominar para que possamos elaborar uma organização pertinente e táticas pertinentes para nosso Partido. “A análise” desse material deve, no entanto, ser feita independentemente, já que não existem modelos prontos em nenhum lugar. Por outro lado, o movimento operário russo existe sob condições um tanto distintas daquelas da Europa Ocidental. Seria muito perigoso ter ilusões nessa empreitada. Por sua vez, a social-democracia russa se distingue substancialmente dos partidos revolucionários russos anteriores, então a necessidade de aprender as técnicas revolucionárias e a organização secreta dos velhos mestres russos (não hesitamos em admitir essa necessidade) não nos alivia do dever de julgá-las criticamente e de elaborar nossa própria organização independentemente.
Ao apresentar essa tarefa, duas perguntas surgem com uma insistência particular: 1) Como a necessidade de completa independência da atividade local dos social-democratas será combinada com o estabelecimento de um partido único – e, consequentemente, centralista? A social-democracia tem suas forças a partir do movimento espontâneos da classe operária, que se manifesta de forma diferente e em momentos diferentes em diversos centros industriais; a atividade das organizações locais de social-democratas é a base de toda a atividade do Partido. Se, no entanto, isso é a atividade de “amadores” isolados, então não pode ser, rigorosamente falando, chamado de social-democracia, já que não será a organização e vanguarda da luta de classe do proletariado. 2) Como podemos combinar a vontade da social-democracia de se tornar um partido revolucionário que faz da luta pela liberdade política sua maior prioridade com a recusa categórica da social-democracia a organizar conspirações políticas, sua recusa enfática a “chamar os operários às trincheiras” (como corretamente notado por P. B. Axelrod), ou, em geral, a impor aos operários esse ou aquele “plano” para uma ataque ao governo, que foi pensado por uma companhia de revolucionários?
A social-democracia russa tem todo o direito de acreditar que forneceu a solução teórica para essas questões; se delongar nisso significaria repetir o que foi dito no artigo “Nosso Programa”. Agora é uma questão da solução prática dessas questões. Isso não é uma solução que pode ser adotada por um só pessoa ou grupo; só pode ser adotada pela atividade organizada da social-democracia como um todo. Acreditamos que a tarefa mais urgente do momento é se debruçar sobre a solução dessas questões, o sentido que devemos seguir como nosso objetivo é a fundação de um órgão que aparecerá regularmente e estará proximamente conectado com todos os grupos locais. Acreditamos que toda atividade social-democrata deve ser direcionada para esse fim durante todo o próximo período. Sem esse órgão o trabalho local se manterá estritamente “amador”. A formação do Partido – se a representação correta desse Partido em um certo jornal não for organizada – continuará, até certo ponto, sendo puramente palavras. Uma luta econômica que não está unida por um órgão central não se tornará na luta de classe de todo o proletariado russo. É impossível conduzir uma luta política se o Partido como um todo falha em formular declarações para todas as questões de políticas e a direcionar as várias manifestações da luta. A organização e disciplina das forças revolucionárias e o desenvolvimento da técnica revolucionária é impossível sem a discussão de todas essas questões em um órgão central, sem a elaboração de certas formas e regras de conduta dos assuntos, sem o estabelecimento – através do órgão central – da responsabilidade dos membros do Partido para com o Partido.
Ao falar da necessidade de concentrar todas as forças do Partido – todas as forças literárias, todas habilidades organizativas, todos os recursos materiais etc – na fundação e boa condução do órgão de todo o Partido, nós de forma alguma pensamos em deixar outras formas de atividades de lado – por exemplo, a agitação local, manifestações, boicotes, perseguição de espiões, as ácidas campanhas contra representantes individuais da burguesia e do governo, greves de protesto etc., etc. Pelo contrário, estamos convencidos que todas essa formas de atividade constituem a base para a atividade do Partido, mas, sem sua unificação por um órgão de todo o Partido, essas formas de luta revolucionária perdem nove décimos de sua importância; elas não culminam na criação de experiência comum do Partido, na criação de tradições e continuidade do Partido. O órgão do Partido, longe de competir com essas atividades, exercerá uma tremenda influência em sua extensão, consolidação e sistematização.
A necessidade de concentrar todas as forças em estabelecer um órgão regularmente presente e regularmente eficiente surge da peculiar situação da social-democracia russa quando comparada com a social-democracia em outros países europeus e com aquela dos velhos partidos revolucionários russos. Além de jornais, os operários da Alemanha, França etc., tem outros muitos meios de manifestar publicamente suas atividades, de organizar seu movimento – atividade parlamentar, agitação eleitoral, reuniões públicas, participação na administração pública local (rural e urbana), a condução não clandestina de sindicatos (profissionais, guildas) etc., etc. No lugar de tudo isso, sim, tudo isso, devemos nos servir – até que tenhamos conquistado a liberdade política – de um jornal revolucionário, sem o qual nenhuma ampla organização de todo o movimento operário é possível. Nós não acreditamos em conspirações, renunciamos empreitadas revolucionárias individuais para destruir o governo; as palavras de Liebknecht, veterano dos social-democratas alemães, servem como a máxima de nossas atividades: Studieren, propagandieren, organisieren – Estudar, propagandear, organizar – e o pivô dessa atividade pode e deve ser somente órgão do Partido.
Mas é possível o regular e mais ou menos estável estabelecimento desse órgão, e sob quais condições é possível? Trataremos dessa questão na próxima vez.
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