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Allan Kardec foi o coordenador da mais conseqüente filosofia espiritualista, em face da qual as religiões e as demais doutrinas da imortalidade do espírito pecam, por falta de lógica documental.
A falsidade da teoria espírita dos fenômenos psíquicos importaria no afundamento de todos os espiritualismos.
Mas, também é certo que, dadas as novas descobertas da Ciência, as obras de Kardec não podem ser interpretadas por declarações isoladas, suas ou dos seus reveladores, mas pelo seu conjunto, combinado com o espírito evolutivo da doutrina, a que ele dedicou os últimos anos de sua vida modelar.
Pois bem. Segundo a filosofia espírita, a vida terrena – ou encarnação – é a escola obrigatória do aperfeiçoamento espiritual (resp. 132 do “Livro dos Espíritos”).
Mas, o processo educativo (resp. 813, id.), nos longos períodos da História, relaciona-se com a origem e o destino da produção alimentar, (resp. 718 – 723, id.), isto é, desenvolve-se pari passu com a natureza das relações sociais da economia reinante. Ou, como se depreende das respostas 930, 781 e 793 do “Livro dos Espíritos”: esse desenvolvimento determinará uma “organização social, criteriosa e previdente”, ou uma civilização, onde “ninguém morrerá de fome”, e o trabalho cooperativo, por força do conhecimento prático das leis naturais da Economia Política, assegurará um clima estável de fraternidade, de paz e de cultura (comentário à resp. 717).
Quer dizer, então, que o progresso do Espírito começa pelos cuidados da existência material, como se pode verificar nos “Prolegômenos” do “Livro dos Espíritos”, que, nisso, são explícitos : “só mediante o trabalho do corpo, o espírito adquire conhecimentos”, — CORPO, que está sujeito à produção dos bens materiais ou “à posse do necessário”, de que “o solo é a fonte primacial” (resp. 922, 706 e 711, combinadas, do citado “Livro dos Espíritos”. Razão por que o nível da Humanidade espiritual (“população oculta”) decorre do da Humanidade terrena (“costumes dos povos”), conforme o ajuste das palavras finais do comentário de Kardec à.resp. 521 do seu aludido livro. Eis como, até certo ponto, se explica a estreiteza filosófica, em geral, dos “comunicados” das nossas costumeiras sessões espíritas, onde, em regra, só há manifestações sobre assuntos de ordem pessoal e religiosa; reflexo ambiental da assistência, educada no individualismo.
Ora, o Socialismo, ou Comunismo, fundamentado, com "lógica assombrosa", pelos gênios de Marx e Engels, é o único sistema, precisamente por ser científico, capaz de preparar aquela “organização social, criteriosa e previdente”, àque se referiu Kardec. Isso, porque, acabando não só com a “exploração do homem pelo homem”, mas com a concorrência de classes entredevorantes, o Socialismo, à Marx, liquida com o egoísmo e possibilita, inelutavelmente, o aprimoramento da inteligência e do coração humano (resp. 913 - 916, id.). E, por isso mesmo, abrirá ilimitadas perspectivas à liberdade das investigações psíquicas.
Assim, a doutrina materialista do Marxismo, paradoxalmente, por seu amor à Paz e à Ciência, nos assegura, através do Socialismo, que é o seu campo de luta proletária, o mais propício ambiente ao estudo do verdadeiro espiritualismo, com resultados definitivos para o secular problema da imortalidade do espírito.
Eis a tese que procuramos sustentar nas cartas trocadas com o nosso prezado amigo Leopoldo Machado, e, aliás, em outros escritos nossos.
Daí o termos colocado, depois do título deste livro – Os Espiritualistas perante a Paz e o Marxismo – o subtítulo: A perfectibilidade do Espírito, pelo Socialismo, e o parêntese: (Interpretação progressista do Livro dos Espíritos).
Tanto para os materialistas – segundo os quais o homem, unitariamente, se confunde com o espírito – como para os espiritualistas que, dualisticamente, distinguem do homem o espírito imperecível – a verdade é que a doutrina política do Socialismo unifica as aspirações do progresso humano, sem distinção de crenças e filosofias, porque repousa numa base comum e imutável, que é o direito de viver (Resp. 880, Liv. Esp).
Bahia, 25 de dezembro de 1954.
EUSÍNIO LAVIGNE
Inclusão | 15/08/2018 |