Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro nono: O imperialismo e a queda do capitalismo
Capítulo XXVI - Contradições entre as forças produtivas e as relações de produção na época imperialista - Decomposição interior e queda do capitalismo
133. O militarismo, a guerra e o desenvolvimento das forças produtivas


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A tendência à autarquia, em contradição com a amplitude mundial da técnica moderna, não é naturalmente o único resultado dos inevitáveis conflitos armados entre os imperialistas.

Somente os armamentos nos tempos de paz absorvem uma quantidade fabulosa das riquezas sociais. Estes gastos são completamente inúteis do ponto de vista da reprodução social e do desenvolvimento geral das forças produtivas.

As centenas de milhares de jovens arrancados cada ano, na maior parte dos países, para o serviço militar, são tirados entre os melhores elementos da mão-de-obra. Arrancados da massa das forças produtivas, seu sustento devora uma importante parte da riqueza social, parte esta que poderia, em outras condições, ser consagrada à produção.

Pode-se dizer o mesmo das empresas que trabalham para o exército: fabricação de canhões, de tanks, de munições. O produto de uma fábrica de tecidos empregado ma confecção de roupas para os operários contribuem para a reprodução da força de trabalho do operário e, portanto, para o processo geral de reprodução. Mas, se a mesma manufatura fabrica fazendas destinadas à confecção de capotes de soldados, e esses não tomam nenhuma parte no processo de produção, é evidente que a utilização deste tecido não será de nenhuma utilidade na reprodução social.

Os gastos inúteis e a destruição das forças produtivas atingem, no tempo de guerra, a proporções fabulosas; então, já não são centenas de milhares, mas milhões e dezenas de milhões de homens que são arrancados da produção por um tempo muito mais longo que no período de paz. Milhões de mortos estão sempre perdidos para a produção; milhões de sobreviventes, inválidos ou estropiados, perdem toda ou quase toda sua capacidade de trabalho, ficando a cargo da sociedade.

A produção de munições e de equipamentos, de canhões, de tanks, numa palavra, de meios de destruição, aumenta em proporções enormes. Na guerra moderna, a vitória depende em larga medida da técnica militar, o que acarreta a militarização da indústria e a transformação de grande parte de estabelecimentos industriais em fábricas de meios de destruição. Toda reprodução cessa, porque quanto mais se prolonga a guerra e quanto mais os produtos do trabalho social se dissipam em fumo, sem deixar vestígio na reprodução social, mais se contribue para a destruição das forças produtivas, pelo arrasamento dos edifícios, das máquinas, dos “stocks” de mercadorias, das habitações, e mesmo dos campos cultivados.

Durante a última guerra imperialista, a manutenção de exércitos colossais exigiu quantidades formidáveis de víveres e de roupas. Os países beligerantes viam suas reservas materiais diminuírem sem cessar. A ruptura das relações mundiais trazia a escassez de numerosos produtos. Era preciso economizar. A necessidade de uma rigorosa economia obrigou os países beligerantes a recorrer ao capitalismo de Estado. O Estado assumiu o controle das empresas capitalistas... O consumo do trigo e da carne foi estritamente racionalizado com a ajuda do sistema de cartas de consumo. As estradas de ferro, de uma importância decisiva para o transporte de tropas, para o abastecimento de víveres e munições para os exércitos, passaram a ser administradas pelo Estado nos países em que antes constituíam empresas particulares, como nos Estados Unidos.

A guerra moderna, formidável crise da economia capitalista, torna sobretudo difícil a situação das pequenas empresas. As grandes associações capitalistas sofrem menos com essas calamidades. Acontece mesmo. que enriquecem com os fornecimentos de material de guerra e com a venda de artigos de primeira necessidade no período da alta dos preços. Este enriquecimento faz-se em detrimento das pequenas empresas e das massas da população laboriosa, classe operária e camponesa em primeiro lugar, destinadas à miséria.

O fato de que certas empresas capitalistas(1) podem crescer e consolidarem-se durante a guerra, não quer dizer que toda a economia esteja então em vias de crescimento e que a reprodução social se amplie. No ponto de vista social, a guerra é, pelo contrário, caracterizada, reputamo-lo, por uma reprodução restringida e pela destruição das forças produtivas.

Não será esta destruição compensada por certas vantagens e por novas possibilidades de reprodução ampliada e de desenvolvimento que podem surgir em seguida para a sociedade? Não será a guerra moderna uma doença de crescimento, que não provoca as destruições no organismo senão para contribuir mais tarde para seu desenvolvimento?

A guerra, neste caso, deveria trazer uma solução para as contradições anteriores, ou pelo menos criar possibilidades de solução.

Não vemos, no entanto, nada de parecido. A luta pela influência no mercado mundial — pelos mercados de matérias primas e de escoamento de mercadorias — é, nós o sabemos, a causa essencial das guerras imperialistas.

Tendo o desenvolvimento gigantescos do capitalismo conduzido à partilha do mundo entre os agrupamentos capitalistas, a guerra só pode ter por efeito uma nova partilha da mesma presa. A situação de certos piratas melhora enquanto a de outros piora; a economia mundial não melhora absolutamente. A luta entre os capitalistas não pode, aliás, terminar depois da guerra, já que os vencidos, os prejudicados tentam recobrar o que perderam e os vencedores esforçam-se por aumentar ainda seu poderio. A tendência dos capitalistas em conquistar os países atrasados, onde as matérias primas são baratas e onde a taxa de lucro é mais elevada, traz em si uma contradição interna: quanto mais o país atrasado está submetido à influência de um país adiantado, tanto mais se desenvolvem nele as relações mercantis e a indústria. Consequentemente, a composição organica do capital modifica-se, a taxa de lucro baixa, os preços das matérias primas aumentam. Os capitalistas parecem assim serrar o ramo em que se instalaram, pois se privam da válvula de segurança que os salvou nas crises de superprodução no seu próprio país; perdem a possibilidade de recolher o super-lucro colonial. As rivalidades dos imperialistas em torno das colônias ainda não industrializadas, cujo número, aliás, diminue sem cessar, assumem um caráter feroz.


Nota de rodapé:

(1) Alguns países capitalistas podem enriquecer-se em tempo de guerra, em detrimento de outros. Os Estados Unidos e o Japão, que pouco combateram em 1914-18, aproveitaram-se grandemente da guerra, fornecendo a países beligerants, por enormes quantias em ouro, víveres, armas e munições. (retornar ao texto)

 

Inclusão 10/06/2023