Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro nono: O imperialismo e a queda do capitalismo
Capítulo XXVI - Contradições entre as forças produtivas e as relações de produção na época imperialista - Decomposição interior e queda do capitalismo
134. A situação da classe operária e a luta de classes na época imperialista


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A época do capitalismo de monopólios devia modificar profundamente a situação da classe operária e a luta de classes.

Já sabemos que o desenvolvimento da técnica está estreitamente ligado, na sociedade capitalista, a agravação da exploração do operário: a diminuição da jornada de trabalho, que pode advir em consequência do desenvolvimento da técnica, é grandemente contrabalançada pelo aumento da intensidade do trabalho.

A intensidade do trabalho atinge seu ponto culminante na época do imperialismo, que está baseado numa técnica formidável. O sistema Taylor e a “racionalização” capitalista da produção são frutos desta época.

A exploração acentuada da classe operária é facilitada pela existência de um imenso exército industrial de reserva dos sem-trabalho e de operários que a mecanização elimina da indústria; os exércitos dos sem-trabalho, saídos das fábricas durante as crises, não desaparecem nos anos de florescimento.

A agravação da exploração da classe operária na época imperialista leva o proletariado a uma pauperização absoluta e relativa ao mesmo tempo. O salário que, em princípios do século XX, não baixará na maior parte dos países da Europa, em comparação com o crescimento do rendimento nacional, nos últimos dez anos antes da guerra baixou, em números absolutos — isto é, fora de qualquer comparação com o rendimento nacional — em vários países da Europa.

Este movimento de baixa dos salários continuou depois da guerra, e os salários não voltaram ainda, em diversos países, aos seus níveis de 1913.

A baixa dos salários e o aumento da intensidade do trabalho desde 1918 explica-se, em grande parte, pelo desejo dos capitalistas de recuperar os prejuízos do tempo da guerra e da crise de após-guerra.

A luta econômica do proletariado pela melhora de suas condições de vida tornou-se extremamente difícil. Outrora, no tempo da livre concorrência, os operários organizados em sindicatos e em partidos políticos não precisavam, o mais das vezes, senão enfrentar capitalistas desunidos pela concorrência; hoje, os assalariados estão em presença de associações capitalistas providas de um poderoso aparelho econômico e político.

Outrora, o capitalista isolado temia a greve, que lhe causava grandes prejuízos, diminuindo-lhe a freguesia e dando vantagens a seus concorrentes. Agora, o capitalista está munido contra a concorrência. Os trustes (ou sindicatos) frequentemente se comprometem a indenizar seus membros dos danos causados pelas greves. O capitalista associado está agora mais seguro para a luta.

As associações capitalistas dispõem, contra as greves e reivindicações operárias, de uma poderosa arma, o lock-out (paralisação do trabalho em todas as empresas associadas); a extensão do lock-out priva os operários de uma empresa da ajuda que lhes poderiam prestar os camaradas das empresas vizinhas e não permite ao sindicato sustentar eficazmente a massa dos operários despedidos. Os capitalistas podem, assim, constranger os assalariados a se sujeitarem às suas exigências.

Não é necessário dizer que o Estado capitalista, estreitamente unido ao capital financeiro, sustenta o patronato em toda espécie de luta.

Toda greve, todo conflito abrange grandes massas de operários. À luta por pequenos grupos tornou-se impossível. Os conflitos estendem-se a países inteiros, e tornam-se, às vezes, internacionais. A luta de classe torna-se, por consequência, cada vez mais encarniçada.

Os operários começam a convencer-se da necessidade de passar à ação organizada, afim de destruir o próprio sistema do capitalismo de monopólios.

Observa-se, entretanto, simultaneamente com a pauperização da classe operária com a agravação da luta de classes, um outro fenômeno de extraordinária importância: o aparecimento e desenvolvimento de uma aristocracia operária, nos países capitalistas dominantes.

Os capitalistas destes países, recebendo enormes super-lucros tanto do seu próprio país como das colônias, podem destinar uma parte mínima aos operários de melhor instrução profissional. A burguesia divide assim a classe operária numa minoria de privilegiados, relativamente pouco numerosas (desde então interessados na política colonial de seus amos), e uma massa de milhões de proletários explorados impiedosamente. A burguesia não deixa por isto de se apoiar na sua fiel aristocracia operária.

Esta divisão da classe operária é, sobretudo, impressionante nos países capitalistas bem desenvolvidos, como Inglaterra e Estados Unidos.

Já pelo ano de 1850, Engels assinalava “o emburguesamento” da classe operária inglesa que “usufrui-a tranquilamente”, com sua burguesia nacional, o monopólio colonial e o monopólio do comércio internacional da Grã-Bretanha”.

Era suficiente, para se perceber este emburguesamento, comparar o salário dos operários ingleses com o salário nas colônias britânicas: o operário qualificado recebe em média, na metrópole, 2,5 dólares por dia, ao passo que um operário qualificado hindu, produzindo um trabalho análogo, recebe cinco vezes menos por uma jornada de trabalho muito mais longa. A relação é aproximadamente a mesma entre o salário dos trabalhadores (na Inglaterra 1,5 dólar e um quarto de dólar, aproximadamente, na Índia).

Naturalmente, não se conclue daí que toda a classe operária da Inglaterra se beneficie com uma parte do super-lucro dos capitalistas britânicos.

Lenine assinala n’O Imperialismo que “um autor burguês, tendo estudado o imperialismo britânico nos princípios do século XX, viu-se obrigado a fazer distinção sistematicamente entre as camadas superiores e as camadas inferiores propriamente proletárias da classe operária... Comumente, para embelezar a situação da classe operária inglesa, só se fala desta camada superior que não passa de uma minoria”. Exemplo: “O desemprego não atinge geralmente senão Londres e as camadas proletárias inferiores”.(1)

Quanto à América, sobrepujando a “velha” Inglaterra, se torna, cada vez mais, em consequência do crescimento do seu poderio econômico e sua influência no mundo, o país clássico da aristocracia operária.

O salário do operário americano é 2,2 vezes superior ao salário do operário inglês, três vezes superior do do operário francês, cinco vezes superior ao do operario italiano ou tcheco; é dez vezes superior ao salário do operário hindu, que, como sabemos, é mais bem pago que o operário egipcio ou chinês. Evidentemente, não se pode explicar esta superioridade dos salários dos operários americanos por seus hábitos e sua cultura mais elevada.

Também não se pode falar, nos Estados Unidos, de um “emburguesamento” geral da classe operária.

Sabe-se que certos sindicatos americanos só admitem operários americanos, e estes são, na realidade, os da aristocracia operária (Federação Americana do Trabalho). As vantagens que eles conseguem para seus membros são privilégios que não se estendem à “plebe proletária”, principalmente formada de imigrados russos, polacos, italianos, etc., quase sempre estabelecidos há muito tempo no país.

Nos Estados Unidos, diz Bukharine(2), o proletariado subdivide-se em diversas camadas... O ministro do trabalho de Washington, sr. Dawes, recentemente, declarava: “Não exageraremos nada dizendo que vários milhões de americanos fazem um trabalho penoso por salários baixos. Permito-me dizer que há entre nós, levando em conta as famílias, de dez a quinze milhões de homens privados do bem-estar de que goza o resto da população”. No Sul dos Estados Unidos e sobretudo na indústria têxtil, a jornada de dez-onze horas de trabalho ainda é frequente, com uma alta intensidade de trabalho e um salário mensal que varia entre dezoito e vinte e dois dólares.

Existe, portanto, nos Estados Unidos, uma aristocracia e uma plebe operárias, cuja condição própria lembra a dos escravos destinados ao embrutecimento.

O crescimento do capital financeiro, a diminuição do número de monopólios, a industrialização das colônias são acompanhados pela redução da aristocracia operária; o número de proletários de condição inferior, pelo contrário, aumenta e sua situação piora.

Paralelamente à aprovação da exploração da classe operária, vê-se piorar rapidamente. a situação das camadas intermediárias da população: camponeses, artesãos, pequenos proprietários em geral. Grande número deles tornam-se empregados, auxiliares, que fazem junto aos capitalistas, tarefas secundárias, e não se distinguem dos operários senão por uma independência aparente.


Notas de rodapé:

(1) V. LENINE: O imperialismo. (retornar ao texto)

(2) N. BUKHARINE: Relatório da delegação do Executivo da I. C. ao XV Congresso do P. C. da U. R. S. S. (retornar ao texto)

 

Inclusão 10/06/2023