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A emissão de papel-moeda em quantidade que ultrapasse as necessidades da circulação provoca o que se chama inflação, isto é, a superabundância de papel-moeda no mercado, a saturação monetária do mercado. Qual é sua influência na economia do país?
A necessidade em que se encontra o Estado de cobrir as despesas excessivas, que ultrapassam de muito suas posses, explica essas emissões.
O aumento da quantidade do papel-moeda e a baixa de seu poder aquisitivo acarretam uma alta geral de preços. Em casos de emissões abundantes de papel-moeda os preços podem literalmente aumentar de hora em hora. O cálculo exato dos preços de custo das mercadorias, cálculo cuja importância para o capitalismo nós conhecemos, torna-se impossível: o preço das matérias primas compradas hoje será diferente amanhã, quando forem transformadas em mercadorias e mais diferente ainda depois de amanhã, na ocasião em que o industrial tiver que renovar seu stock de matérias primas. Cada vendedor de mercadorias procura evitar os inconvenientes da baixa do poder aquisitivo do dinheiro que recebe, subindo seus preços (aumento do “risco”).
A baixa incessante do poder aquisitivo do dinheiro torna impossível a venda a crédito. Os pagamentos não podem ser diferidos, pois não se prevê o valor futuro do dinheiro. Os empréstimos de dinheiro perdem também sua razão de ser. O desaparecimento quase completo do crédito priva a economia de todas as vantagens relativas. Torna-se perigoso vender mercadorias a prazo e aceitar encomendas futuras pagáveis à entrega das mercadorias, pois um preço vantajoso no momento em que a encomenda é feita pode redundar em prejuízo na ocasião em que ela for entregue.
Todo possuidor de dinheiro procura livrar-se dele o mais depressa possível, transformando-o em mercadorias; todo possuidor de mercadorias procura guardá-las o maior espaço de tempo possível, na esperança de uma alta de preços.
A insegurança do dia seguinte, a alta fantástica e irregular de preços, o desejo de cada um de que outros lhe paguem o risco da depreciação do dinheiro, criam um terreno favorável à especulação e ao enriquecimento fácil dos especuladores.
A inflação não exerce a mesma influência sobre todas as classes da sociedade. As classes trabalhadoras sofrem naturalmente mais.
De todas as mercadorias, a que aumenta o preço mais lentamente é a força do trabalho. Os salários nominais podem subir; mas a regra é que eles sofram um atraso em relação aos preços dos produtos de primeira necessidade. Só esta circunstância já agrava brutalmente a situação da classe operaria. Constrangido a gastar seu salário, não de uma vez, mas pouco a pouco, de maneira que dure até o próximo pagamento, o operário perde mais que todos os outros com a baixa do poder aquisitivo de seu dinheiro.
A inflação cria também numerosas dificuldades para o capitalista (desaparecimento do crédito, impossibilidade do cálculo do preço de custo), mas há diversas maneiras de compensá-las; ele aumenta o preço de suas mercadorias; transforma, sempre que pode, o seu dinheiro em ouro, pedras preciosas, bens imóveis, etc.; se não é possível fazê-lo em seu país, transfere seus capitais para um país de câmbio firme. A exportação de mercadorias de um país em que há inflação para um país sem inflação pode oferecer ao capitalista grandes vantagens. As mercadorias pagas no estrangeiro em moeda ouro são melhor negócio para ele que para os capitalistas estrangeiros, pois o salário é mais baixo em seu país que no estrangeiro. Pode, pois, sustentar vitoriosamente a concorrência num mercado estrangeiro. Por outro lado, eles assim se precatam contra os efeitos da depreciação da moeda em seu próprio país.
Os grandes industriais agrários podem também lucrar com a inflação: a baixa dos salários lhes é mais vantajosa que aos outros patrões, pois os salários têm grande importância no custo da produção do trigo. Por isso, a inflação é particularmente lucrativa para os exportadores de trigo. A depreciação da moeda é, enfim, especialmente vantajosa para os numerosos agrários que receberam créditos hipotecários; a importância real das somas de que têm que reembolsar o banco, baixa com a mudança de câmbio. E isso para não falar dos especuladores.
Seria errado acreditar que os pequenos produtores de trigo ganhem como os grandes produtores. O contrário é que é verdadeiro. Todos os benefícios da exportação do trigo são reservados aos grandes produtores e aos grandes exportadores. O camponês médio e, principalmente, o pequeno agricultor, não ficam em melhor situação que o operário, com o qual sofrem o grande peso das mudanças da inflação.
A depreciação do papel-moeda acarreta a das pequenas economias dos camponeses, de certos operários de qualidade, da pequena e da média burguesia.
Milhares de pessoas, que viviam da renda de seus capitais e outros valores diversos, ficam arruinadas.
O Estado capitalista emite papel-moeda para cobrir suas despesas. Paga a população da qual ele recebe valores reais em papel; troca o papel contra valores reais. A emissão torna-se, por si mesma, uma fonte de renda e uma forma especial de imposto, um imposto previamente obtido da população toda e sobretudo das classes laboriosas.
Inclusão | 03/10/2018 |