Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro primeiro: O Valor Regulador do Regime de Produção de Mercadorias
Capítulo I - O trabalho, base do valor
5. Balanço: o trabalho, base do valor. O valor, expressão das relações sociais.


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Se fizermos agora o balanço do que ficou dito, podemos retirar as seguintes conclusões:

1. Todos os produtos criados pelo trabalho social, num regime baseado na troca, tomam a forma de mercadorias, isto é, de produtos cujo destino não é o próprio consumo, mas sim a troca.

Para que a mercadoria possa ser trocada no mercado tem de satisfazer certas necessidades ou, empregando a linguagem da economia política, que tenha um valor de uso. O produto que não tenha valor de uso não será comprado por ninguém e não chegará a ser mercadoria.

2. Qualquer mercadoria nas condições de um sistema de troca mais ou menos desenvolvido é trocada no mercado por uma determinada quantidade de outros produtos através do dinheiro. Cada mercadoria adquire, portanto, um determinado preço expresso em dinheiro.

O preço da mercadoria define-se espontaneamente no processo de luta entre produtores individuais de mercadorias e entre compradores e vendedores. O movimento dos preços no mercado determina a actividade das empresas isoladas e estabelece um certo equilíbrio entre tal actividade e a necessidade dos homens.

3. O valor de uso de uma mercadoria, a sua utilidade, depende das suas propriedades naturais, físicas, químicas, mecânicas, e constitui a condição indispensável da venda, mas não pode, como vimos, explicar a essência do preço, porque o preço estabelece-se no mercado em consequência das relações entre os membros da sociedade baseada na troca; temos de investigar os factores que o determinam, não nas propriedades naturais da mercadoria, mas sim nas relações entre os homens.

4. Ao considerar as relações entre os homens, vemos que o preço da mercadoria pode variar segundo a oferta e a procura. Mas a oferta e a procura não explicam o nível em torno do qual oscilam os preços. Desde logo, este nível só pode explicar-se pelos gastos de trabalho necessários para a criação de uma mercadoria. Chama-se-lhe valor trabalho ou valor intrínseco e é a razão porque dizemos que o valor trabalho é a base do preço de qualquer mercadoria.

O nosso raciocínio levou-nos das propriedades naturais da mercadoria, do mercado e da troca até ao trabalho humano.

Todos devem entender que este trabalho humano é a base de toda a vida social. Fazem falta objectos materiais para satisfazer todas as necessidades dos homens, das mais sublimes às mais elementares. Estes objectos não aparecem caídos do céu, é o homem que os produz à custa de um trabalho esforçado.

Mas o homem não trabalha nem vive só no mundo; vive e trabalha em sociedade. No processo de trabalho os homens são dependentes uns dos outros; estabelecem-se entre eles relações de produção (de trabalho).

O trabalho de um indivíduo (ou de uma empresa) acaba por ser deste modo uma parcela do trabalho social. E estas relações têm de assegurar uma tal repartição das partes do trabalho social que a sociedade inteira possa, em conjunto, satisfazer as suas necessidades. A economia baseada na troca caracteriza-se precisamente, como vimos, por uma repartição dos gastos de trabalho, que resulta da troca das mercadorias entre as empresas individuais no mercado, em proporções definidas. A troca das mercadorias não é mais que o processo regulador das relações de trabalho entre os homens, e, como vimos, de uma regulação espontânea, que se efectua pelo movimento dos preços abaixo do seu valor. Durante esta regulação espontânea não é habitual que o preço de um produto corresponda exactamente ao seu valor.

O equilíbrio das relações de produção neste tipo de economia, realizado pela tal regulação espontânea, não é de modo nenhum estável nem definitivo, mas sim extraordinariamente instável e móvel. A lei do valor não deixa, pois, de cumprir a sua função reguladora.

A economia baseada na troca só precisa do valor regulador espontâneo, porque é anárquica e desorganizada.

Portanto, a raiz do valor afunda-se nas relações sociais específicas, tais como as que se criam na economia que analisámos. Ao desaparecerem estas relações, as relações de produção dos homens entre si são submetidas a uma regulação consciente, e a necessidade do valor desaparece.

Nesta perspectiva, o valor intrínseco é bastante diferente do valor de uso. A alteração das relações sociais não modifica o valor de uso. O açúcar fabricado num regime capitalista não perde nenhuma das suas propriedades em consequência da revolução e do estabelecimento de um regime socialista.

continua>>>


Inclusão 26/06/2018