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Na economia baseada na troca, as mercadorias trocam-se, em geral e na maior parte, segundo o valor trabalho, quer dizer, segundo a quantidade de trabalho necessário à sua produção.
Mas as mercadorias trocadas, longe de serem uniformes, são muito diferentes: ninguém troca sapatos iguais. Pois bem, se se trocam sapatos por pano, deve comparar-se o valor de trabalhos diferentes: o trabalho do sapateiro com o do tecelão. Estes dois trabalhos são totalmente diferentes. O sapateiro usou tesouras, martelo, agulhas, etc.; o tecelão trabalhou com o seu tear. As matérias- primas, os movimentos, tudo é diferente.
O trabalho de um e de outro revestiu formas diferentes, porque estiveram ocupados a produzir artigos de valor de uso diferente. Mas os sapatos e o pano, uma vez no mercado, tornam-se equivalentes; o trabalho do sapateiro compara-se, isto é, assimila-se ao do tecelão. Compreende-se, pois, que as diversas particularidades concretas das várias formas de trabalho tenham de ser eliminadas.
Os trabalhos dos diferentes ofícios, isto é, os trabalhos dos produtores de diferentes valores de uso, só se podem comparar entre si porque têm, do ponto de vista da economia de troca, algo em comum; todas as variedades de trabalho podem reduzir-se a um trabalho geral, a um gasto de energia humana, independentemente da forma que este gasto de energia tome em cada caso.
Esta regra é fácil de compreender, se recordarmos o que dissemos anteriormente acerca do grau mais ou menos vantajoso de tal ou tal ramo de trabalho.
Se doze horas de trabalho de um sapateiro valessem menos, no mercado, que doze horas de trabalho de um padeiro, uma parte dos sapateiros deixaria o seu ofício. Os jovens que se preparam para iniciar a aprendizagem de sapateiros prefeririam entrar para as padarias. Torna-se evidente que o sapateiro e o aprendiz não se interessam pelo trabalho concreto, nem pela produção dos sapatos em particular, mas sim pelo trabalho em geral, isto é, pelo trabalho produtor de valor que lhes permite trocar com os outros produtores de mercadorias e receber destes as mercadorias de que necessitam em condições vantajosas.
Esta igualdade das diferentes formas de trabalho só pode resultar da troca. Na sociedade pré-capitalista, quando as trocas estavam pouco desenvolvidas, diversas ocupações (formas de trabalho) eram consideradas vergonhosas e inconcebíveis. Mas hoje em dia o capitalista e o pequeno capitalista consideram qualquer trabalho digno de respeito, se permite ao homem «ganhar o seu pão honradamente». Esta apreciação considera o trabalho sob a forma geral, independentemente dos seus aspectos particulares, isto é, como criador de valor.
O trabalho considerado na economia de troca, sob o ponto de vista do gasto de energia humana, chama-se abstracto, o trabalho considerado sob o ponto de vista da forma como se gasta a energia chama-se concreto. O trabalho abstracto cria o valor, o trabalho concreto cria valor de uso.
É necessário observar que qualquer trabalho pode ser considerado sob estes dois aspectos. Assim, o trabalho do alfaiate é concreto e abstracto. Se não fosse concreto, não poderia produzir mercadorias com um determinado valor de uso. Ora bem, o valor de uso é necessário para fazer do produto do trabalho uma mercadoria. Além disso, para a troca é necessário que existam na sociedade várias formas concretas de trabalho, pois a troca só é possível entre valores de uso diferentes. Mas logo que o fato feito pelo alfaiate é trocado por sapatos, torna-se inevitável a comparação dos seus respectivos valores e o trabalho do alfaiate aparece então como trabalho geral, sob a forma abstracta. Pode dizer-se o mesmo do trabalho do escritor ou do pedagogo; tais formas de trabalho também podem ser tomadas sob o ponto de vista de trabalho abstracto, criador de valor intrínseco, ou, sob o ponto de vista de trabalho concreto, criador de valor de uso.
É necessário que nos compenetremos desta ideia, pois é frequente que os que iniciam o estudo da economia política pensem que só o trabalho que produz objectos materiais pode ser considerado concreto, enquanto que o trabalho intelectual seria trabalho abstracto.
Inclusão | 26/06/2018 |